O texto que se segue é imaginário, mas é realmente aquilo que eu imaginei para o tema proposto.


Ela estava lavada em lágrimas esperando ansiosa que ele chegasse. Não, ela não devia de estar ansiosa. Se o tempo passasse mais rápido, menos ela teria para viver o que lhe restava. Mas ela estava ansiosa sim. Ansiosa por passar as últimas horas da sua vida com quem realmente valesse a pena.


Sentimental. Ela era sentimental. Sempre esperara um grande amor, um príncipe encantado num cavalo branco. Ele não chegara. Mas algo melhor sim. Algo real. 


Talvez o drama que ela estivesse fazendo fosse exagerado, mas ela não queria fazer sofrer mais ninguém. Seria errado guardar para si algo tão ruim quanto o sofrimento, a perda, a dor? Quereria poupá-los, ou adiar um pouco mais o inevitável?


Então ele chegou. A segurou e abraçou por trás, inconsciente do que se passava na vida e na cabeça dela naqueles minutos incontáveis em que ela passou sozinha entre o ter aberto aquela maldita carta e o ter pedido que ele a encontrasse.


-Porque choras? Foi alguma coisa que eu fiz? Diz-me meu Anjo. - Um sorriso brotou em seus lábios enquanto lágrimas cruéis teimavam em deslizar por seu rosto pálido.


Quando ele a chamava de Anjo ela se sentia realmente bem e feliz. Se sentia importante e amada. E era exatamente assim que ela queria passar o tempo que lhe restava.


-Nada, meu amor. Só estava a pensar em como a vida nos trama. - Ela falou tentando dar firmeza à voz e limpando as teimosas gotas salgadas que seus olhos produziam.


-E no que ela te tramou? - Ele pergunta preocupado, querendo dissipar daquele triste olhar todos os problemas que a atormentavam.


-A mim? A mim só não. A todos! À Natureza. A Natureza dá vida às coisas mais belas do mundo e e a Vida desiste de ser bela.É algo complicado de entender. Ou talvez eu não me saiba explicar. - Ela sorri mais uma vez.


Perto dele sorrir fluía fácil. Tal como um sopro do vento acariciando uma flor.


-Hoje estás filosófica. É por isso que também estás melancôlica? - Ele perguntou um pouco mais calmo, conhecendo os acessos repentinos de melancolia da amada.


-É. Digamos que sim. - Ela assentiu fitando o nada. - O que farias se eu morresse? - Pergunta repentinamente, assustando o companheiro.


-Mas o que estás falando? - Ele perguntou alerta.


-Só me responde, apenas. Por favor. - Ela pediu e ele pensou entender, pois relaxou.


-Morreria junto, meu amor. Porque sem você eu não sei mais quem sou.


-Não. Você não morreria. - Ela o interrompe sem um pingo de desilusão no rosto. - Você sofreria perdidamente por uns anos mas logo estaria refazendo sua vida e encontrando um novo amor.


-Não! Eu nunca amaria ninguém mais do que eu te amei. - Ele nega e ela sorri acariciando o rosto dele.


-Não quero que ames ninguém com a mesma intensidade com que você me ama. Quero que você ame alguém com outra intensidade. Sei que o amor que sente por mim irá comigo na hora do meu último suspiro. Mas quero que você siga em frente. Me promete que você vai seguir em frente? - Ela pede encarecidamente.


-Porque você está falando isso?


-Promete?  -Ela torna a pedir, chorando um pouco mais.


Ele engole em seco, sentindo seu peito mirrar. A dor que ela está sentindo há muito que é a sua, mas ele luta para não o demonstrar. Quer devolver o sorriso aos lábios dela. O sorriso que ele tanto ama. O sorriso pelo qual ele se apaixonou. Se ceder à tristeza que sente, não o conseguirá ver mais uma vez. Pela última vez.


-Prometo. - Ele força um sorriso que acaba sendo sincero e ela o abraça.


-Eu te amo. - Revela pela primeira vez aquilo que ela tanto lutou contra.


-Eu também te amo. - Confessa aquilo que ele tanto guardou com medo de a machucar.


A vida corre contra o tempo mas o tempo ganha e a vida cede. O último suspiro flutua até a bola de luz branca que paira no céu em meio a uma negritude calmante e aos vagalumes do Universo. Então, uma estrela brilha mais forte e mais alto e sorri para os que outrora a amaram.


Nossa, Tava inspirada! Acho que ficou LINDO! Deu vontade até de chorar, né?
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