Amanhecer-Novos Rumos








Desilusao
Devemos esperar tudo de uma relação:
Amor, carinho, amizade, cumplicidade
Ódio, repulsa, intrigas, deslealdade
Discussões e picardias
Mas principalmente, uma grande desilusão.
(BabySuhBR)

9 meses atrás

-, ! Eu passei! Eu passei! – Tom gritavam pulando na minha cama.

-Me deixa dormir! – Atirei uma almofada na cara dele, colocando a outra sobre os meus ouvidos, para abafar o som da sua euforia.

-Sai da hibernação, ursa ibérica! – Ele me insultou como sempre.

-Cala a boca, sua taquara rachada. – Devolvi o insulto com muito carinho *ironiamodeon*

-Se eu fosse taquara rachada eu não teria passado no teste. – Ele revidou.

-Se eu fosse ursa ibérica… - Parei no mesmo segundo em que FINALMENTE processei a sua frase. – VOCÊ PASSOU! AAAAAHHH, VOCÊ PASSOU! – Foi a minha vez de dar a louca e pular no seu colo, quase o estrangulando com o meu abraço.

-Isso é porque você é uma ursa ibérica. Olha só seus abraços? São de meter medo aos próprios ursos! – Ele falou tentando me parar e me afastando.

Dei um tapa no braço dele, botando a língua para fora e abrindo um sorriso enorme de seguida. Sim, eu era meio – completamente – bipolar.

-Tom, você passou! – Falei mais calma, mas com cara de alien contente. (Oi? Alien contente? Ignore)

-Vou ser um Dexter Boy! – Ele falou empolgado, fazendo um gesto com os braços, como se deslizasse os seus dedos pelas cordas de uma guitarra com violência.

-Não dá para mudarem o nome da banda não? É meio cafona. – Torci o nariz.

-Cafona é a senhora sua m…

-Ow ow, veja lá o que vai falar. Eu posso odiar ela e achá-la uma bruxa, mas só eu posso insultar minha mãe.

-Claro, papai só poderia acertar uma vez com a mulher certa para fazer filhos. Foi na terceira. – Se vangloriou me fazendo ferver de raiva.

-Seu abusado! – Gritei pegando em tudo quanto eram objetos e atirando na direção dele.

Thomas se desviava com perícia, já acostumado com esses meus ataques de violência, e fazia caras e bocas caçoando de mim.
Por fim ele abriu a porta do quarto e sumiu, gritando um “Te vejo mais tarde, maninha” no mesmo segundo em que eu atirava um frasco de perfume barato que mais um dos meus pretendentes me enviara, o estilhaçando por completo contra a porta.

-Merda. Agora esse fedor vai ficar entranhado nesse quarto. VOCÊ ME PAGA, THOMAS BRANDON!

-Ei, que gritaria é essa, mocinha. Isso aqui não é a casa da mãe Joana! E olhe-me só para esse chiqueiro? Trate de arrumar tudinho num instante, . – Mamãe foi logo reclamando de tudo como sempre fazia.

Oh mulherzinha insuportável.
Na minha história não havia madrasta-mocréia-bruxa-má não, era a mãe mesmo!
Bufando pelos cantos, fiz tudo como mamãe mandou e catei as coisas que atirara para Tom as arrumando nos seus devidos lugares, ou as jogando no lixo.

Em meia hora eu já estava correndo pela casa com metade das roupas por vestir e café da manhã por tomar. Iria chegar atrasada de novo.
Cacei uma maçã na fruteira e a prendi entre os dentre, sem a realmente trincar. Peguei em minhas botas cano baixo e as fui calçando ao mesmo tempo que andava e tentava alcançar minha bolsa da escola. Abri a porta de casa e me arrependi imediatamente de o ter feito pois havia esquecido do sobretudo castanho no cabide. Apressada, joguei tudo no chão e corri até o cabide retirando o casacão e vestindo uma das mangas, correndo de volta para a porta da entrada e pegando na bolsa da escola. Pelo caminho fui vestindo a outra manga e me ajeitando, tentando comer a maçã. Na verdade, tentando ENGOLIR a maçã, mas quando olhei o relógio de pulso desisti da batalha contra a maçã e a deitei fora.

Numa corridinha rápida cheguei até os portões da Secundária de Makah, entrando no preciso segundo em que eles começavam a fechar.

-Atrasada de novo, Senhorita Young. Da próxima vez não a deixamos entrar. – O zelador reclamou e eu tentei ao máximo não fazer uma careta desagradável para ele, mas não consegui deixar de responder à altura.

-Tecnicamente eu estou dentro dos limites do tempo. – Apontei para o relógio da torre principal que marcavam 9h09 minutos, sendo que o limite eram 9h10 minutos.

O zelador formou uma carranca irritada, mas eu nem dei tempo dele reclamar, pois só tinha 1 minuto para chegar na sala de aula antes de me proibirem de entrar e me mandarem para a detenção e a sala ainda ficava do outro lado da escola. Mamãe não iria gostar nadica de nada disso.

Minha sorte era eu ser uma atleta dedicada, adorar correr e nem me cansar quase nada, mas mesmo assim eu ainda não era nenhuma Flash Gordon da vida em versão feminina.

Estava eu virando abruptamente uma das esquinas quando meu corpo chocou violentamente contra algo bastante duro, mas não tanto quando uma parede ou um armário.
Caí para a frente sentindo meu corpo ser amparado por algo – que eu poderia até considerar dado o caso – fofo.
Ergui o rosto lentamente, protestando dolorosamente, vendo contra o quê - nesse caso quem – eu tinha trombado.
E lá estava ele. O famoso metidinho a cantor rock. Gabriel Dekker.
E poxa, ele tinha de ser isso tudo de lindo?
Se comporta, . Você não é como as peguetes dele!

-Não olha para onde anda não? – Reclamei começando a me erguer do chão e a me afastar dele, catando as coisas que tinham caído da minha bolsa aberta.

-Desculpa. Você está bem? – Ah não…ele não pode ser educado, né? Só pode ser zuação comigo.

-E porque você se importa? – Falei na defensiva, ajeitando a alça da bolsa no meu ombro.

-Porque você pode ter se machucado. – Falou como se fosse óbvio.

-Fui eu que caí em cima de você e não o contrário. – O relembrei de forma um pouco agressiva.

-Mas eu não sou completamente mole, né? – Revidou e eu olhei seu tronco malhado, exposto por um pólo meio justo demais para ele.

Sabia que tinha de haver um podre nesse menino. Convencido.
Ele se olhou também, entendendo o que eu examinava e sorriu, me fazendo ficar com raiva dele.
Irritada trombei meu ombro contra ele de propósito, andando apressada em direção à detenção. Já não adiantava de nada ir para a classe se o professor iria me mandar mesmo para a detenção.
Escutei passos atrás de mim, mas nem fiz questão de olhar para trás e reclamar de ele me estar seguindo. Obviamente ele havia chegado à mesma conclusão que eu de que não adiantava nada ir para a classe.

Droga, um período inteiro na detenção com aquele badboyzinho. Você está no top das sortudas da semana, calculando pelo critério das meninas do colégio.

Bati na porta da sala de detenção e fui logo entrando sem cerimónias. Meu sangue ferveu quando vi quem iria nos vigiar e eu só quis dar meia volta e telefonar para alguém plantar uma bomba nessa bosta de escola.

-Senhorita Young, eu sabia que você iria parar aqui. – O zelador comentou irónico, zombando da minha cara.

-Espero que ele saiba também que você está prestes a arrancar os olhos dele se não tirar aquele sorrisinho idiota da cara. – Dekker murmurou no meu ouvido, me acordando para a realidade. Ou talvez diria, me puxando para o inferno de volta!

Espero que ele saiba também que eu não estou propriamente de bom humor para ele mexer comigo.” Pensei comigo, olhando de relance para Gabriel, que já se acomodava em uma carteira.

Inconformada, joguei minha bolsa numa das carteiras mais próximas à saída e mais longe da de Gabriel e me sentei junto, cruzando os braços.
Fitei o relógio fixamente, torcendo para que os ponteiros rodassem mais rápido, mas por pura implicância comigo, eles rodavam cada vez mais devagar. O tempo me odeia. #Fato

Meia hora depois eu já estava quase dormindo na carteira, mas meus olhos se mantinham fixos no relógio, ou nem tanto, pois as pálpebras estavam pesando cada vez mais e mais e mais…

-SENHORITA YOUNG! – Despertei num salto com o susto da voz esganiçada do zelador, me gritando quase no ouvido. – Aqui não é dormitório para a senhorita tirar um cochilo.

Estava prestes a insultar aquela abécula de tudo quanto eram nomes, me danando para a suspensão que eu fosse levar, quando a porta foi aberta e uma das funcionárias o chamou em particular.
Um minuto depois o zelador enfiou a cabeçorra entre a frecha da porta que ele abriu e nos olhou demoradamente.

-Vou ter de me ausentar por uns minutos. Não façam nada de imprudente ou direi ao Diretor para vos passar uma suspensão!

-Claro, claro, senhor zelador. Eu vou tentar não cometar suicídio por puro tédio! – Eu balbuciei forçando uma cara ensonada e deixando minha cabeça empurrar o braço que a sustentava contra a mesa.

-Eu estou falando sério, senhorita Young. – Ele formou uma carranca.

-Por quem me toma, senhor zelador. Eu também. – Falei de forma teatral e quase ofendida, colocando uma mão no peito e fazendo uma careta exagerada para a interpretação do meu papel.

Ele quis revidar, mas a funcionária o chamou mais uma vez e ele teve apenas de respirar fundo e me lançar um olhar ameaçador antes de fechar a porta e partir.
Escutei o riso abafado atrás de mim quando eu fiz uma vénia depois do zelador sair.

-Você é muito hilária, . – Gabriel ria à desbandada enquanto eu paralisava ante a sua frase.

Aquela coisa linda, gostosa e famosa sabia o meu nome. O meu nome. O de uma simples, excluída e entediante aluna da Secundária de Makah. Aquela que esteve metade de um semestre inteiro partilhando a mesma classe que ele sem que ambos trocássemos sequer uma única palavra, um único olhar.
Ok, eu sei, estou julgando o conteúdo pelo pacote. Mas veja bem. Ele é popular. Um intocável e inalcançável popular. Era suposto ele ser esnobe e metido e indiferente a garotas da minha categoria escolar, vulgo: escalão dois. Sim, porque essa maldita escola tinha escalões.

Interessada em saber sobre os escalões, leia a informação abaixo. Desinteressada, salte a informação chata.

O escalão zero era para os esquesitões. Aqueles que se vestiam de escuro e tinha vários furos e desenhos pelo corpo. Ou simplesmente os hippies e todos aqueles que se vestissem de forma DIFERENTE da das pessoas ditas NORMAIS. Tudo o que é diferente é tida como ANORMAL, ponto.

O escalão um era para os nerds e geeks e afins. Aqueles cabeções estudiosos e complexos. Só não estavam no escalão zero porque os de escalão mais alto precisavam da inteligência deles para passarem nas provas.

Depois vinha o meu escalão. O escalão dois. Era o escalão onde se enquadravam todos aqueles que não molhavam nem deixavam molhar. Aqueles sem interesse mas que não incomodam. Somos quase que invisíveis, entendem.

A seguir vinha o escalão três. O escalão dos semi populares. Aqueles que estavam alcançando aos poucos a sua própria popularidade, como o Tom – sim o meu querido irmão Tom fazia parte do escalão 3 – ou dos lambe botas dos populares e intocáveis.

Por último vinha o escalão quatro. O dos populares. Vários tinham esse estatuto, por isso foi criado mais um escalão.
O escalão cinco, o dos intocáveis, e só a nata mais poderosa e popular fazia parte dela. Tipo, uns 3 ou 4.

E pelo que eu andava escutando, Gabriel Dekker estava conquistando seu posto no escalão 5.
Ah quem dê um duro para receber a sua “promoção”, há outros que já nascem com o escalão. Gabriel chegou sendo um zé-ninguém, mas em menos de um dia já alcançou o escalão 4. E da maneira como todas as garotas do escalão cinco babavam por ele, logo ele seria a nova mascote delas. Ou talvez fosse o contrário.

Fim de informação chata. Obrigada para quem leu minha explicação sobre escalões.

A minha “curta” tese teórica foi interrompida por uma sacudida em meu ombro.
Olhei para Gabriel tentando captar em meu cérebro o segundo em que ele se levantou e chegou até mim, mas isso era apenas um buraco negro impossível de desvendar. Acho que viajei aqui noutra dimensão.

-Garota, você foi abduzida? Estou te chamando faz mó tempão. – Ele falou visivelmente preocupado. – Será que a pancada que levou te deixou com sequelas? Melhor levar você na enfermaria. – Ele foi tagarelando enquanto eu voltava lentamente à realidade.

Desculpem se nasci com defeito de fabrico. Culpem os criadores do produto em questão. Beijo.

-Que enfermaria que o quê. Tenho nojo de tudo o que se relacione com medicina. – Falei, me tremelicando toda e sacudindo os braços teatralmente.

Eu acho que devia tentar uma vertente artística quando for para a faculdade.
Olha eu viajando de novo para outras terras, hein.

-Nojo, ou medo? – Gabriel provocou.

Fiquei sem resposta, claro. Estava óbvio que era medo, PAVOR. Mas se eu mentisse iria me dedurar, se eu falasse a verdade, iria me humilhar. E eu não quero descer de escalão porque eu não me enquadro DE TODO no mundo Geek e Nerd e por mais que eu pareça meio roqueira e alternativa na minha maneira de vestir, ainda tenho estilo e no tattoos or piercings.
Ok, minha mente deu agora para pensar estrangeiro.

-Que te interessa. Eu não quero ir e pronto. – Cruzei os braços feito criancinha que bate o pé para os pais.

-Tudo bem, você é que sabe. Mas depois não venha chorar no meu ombro se tiver uma convulsão em casa e sua mãe te internar num hospital. Ao menos na enfermaria da escola não tem aquele cheiro intenso e horrível dos hospitais. – Ele deu de ombros se sentando de novo na sua carteira, me aterrorizando ainda mais.

-É sério, eu estou bem. – Só sou um pouco alienada. Mas claro que não disse isso em voz alta, né? Era me condenar.

-Você é namorada do Thomas Brandon, certo? Eu te vejo várias vezes com ele. – Gabriel comentou, tentando puxar conversa, o que por si só já era de se admirar, mas eu nem tive maneira de responder pois me rompi numa gargalhada escandalosa.

-Eu…e o Tom…namorados…muito hilário. – Falei entre gargalhadas, batendo a mão na mesa.

-Eu não vejo qual é a piada. – Ele enrugou a testa visivelmente chateado com a minha reação exagerada.

-Isso seria impossível por vários motivos. Primeiro porque não somos do mesmo escalão. Depois porque somos os melhores amigos. E terceiro porque seria incesto. Ele é meu meio-irmão. – Esclareci e ele pareceu surpreso ante a última declaração. – Veja bem, se já é proibido pessoas dos escalões superiores se relacionarem com pessoas do escalão inferior, vergonha seria se admitissem ter parentes nos escalões inferiores. Tom não liga a isso, mas sei que ele se importa quando se toca nesse assunto de eu ser meia-irmã dele. Então todo mundo apenas finge que eu não existo. – Fui tagarelando e dando de ombros.

-Eu não entendo isso dos escalões. – Ele fez cara de confuso.

-Ah, conta outra. – Eu falei descrente mas perante sua cara verdadeira eu arregalei os olhos. – Não deixe eles saberem que você é meio alienado se não você nunca vai chegar no topo do escalão e com certeza ainda irá descer um degrau! – Falei meio histérica.

Porque raios eu estava mesmo me importando? Aliás, porque eu estava mantendo uma conversa com um ser supostamente desprezível e antipático. Mais outra coisa que eu deveria avisar a ele. Ou ele se mostrava um da laia deles, ou se ele continuasse bonzinho com gente do meu escalão ou de escalão inferior ainda, ele estava danado. Iria para o sub-escalão num pulo.

Ah sim, porque ainda existe o sub-escalão. Aquele que todos temem falar, mas que não deixa de existir por isso mesmo. É o escalão para o qual todos aqueles que desafiam os escalões superiores ou são odiados por eles de forma OBCESSIVA, são enviados. Na história dos escalões só se registaram 3 casos em 50 anos – sim, isso vem do tempo da minha avó – e todos eles se suicidaram. Tensoooo.

Compadecida – ou até mesmo dopada. Talvez eu devesse escutar o Gabriel e ir na enfermaria, porque só uma pancada muito forte na cabeça explicaria o motivo de eu estar falando tranquilamente com Dekker e até lhe dando dicas para ele subir de escalão – eu expliquei o que eram os escalões e onde cada grupo se encaixava.

-Isso é ridículo. – Ele falou descrente. – Sério que isso existe aqui? Essa cidade é tão pacata.

-Não se deixe enganar pelas aparências. – Céus, a quem eu estava falando isso. Acho que era a mim mesma e não a ele. – Aliás, devido ao seu escalão, você nem deveria estar trocando sequer duas palavras comigo. Por isso, se quer manter seu estatuto, me esnoba. – Eu falei virando meu corpo totalmente para a frente.

-Eu não ligo para isso. Se quiserem me colocar no escalão zero, que me coloquem. Eu falo com quem eu quiser. – Meu rosto se virou lentamente para o lado, olhando boquiaberta para ele.

Acho que podia ver como reflexo em seus olhos o brilho intenso de admiração dos meus, mas isso poderia ser só impressão. Porque eu implorava mentalmente a mim mesma não estar a dar tanta bandeira.

.

A verdade é que Gabriel Dekker não estava tirando uma com a minha cara quando falou que não dava a mínima para os escalões e suas regras. Tanto que na hora do almoço ele veio sentar na minha mesa e na de Thomas.
O choque dos meus amigos foi total ao vê-lo se entrosar numa conversa comigo, então imaginem a careta horrível dos populares ante esse ultraje.
Eu estava amando só o fato de ele estar cagando direto na cara deles. Eu sempre quis fazer isso e só não o fiz antes não por medo mas sim por puro desinteresse.

Já nos intervalos não foi a mesma coisa. Os populares estava tentando ao máximo afastar Dekker dos escalões inferiores e estavam conseguindo. O monte de guria que o interpelava no caminho e arranjavam mil e uma desculpas para o levar para outro lugar. Mas eu não me importei. Ele tinha subido na minha consideração.

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-O que foi aquilo hoje, maninha? – Tom me questionou quando chegou em casa.

De tarde, depois das aulas, eu sempre ia para casa de Tom estudar com ele, mesmo que fossemos de anos diferentes. Ambos eramos meio crânios em certas matérias, independentemente do ano, e nos ajudávamos mutuamente.

-Aquilo o quê? – Fingi distração, mantendo a atenção nos livros e no exercício que estava realizando.

-Aquilo com o Gabe que todo mundo está comentando. Desde quando vocês são amiguinhos?

-A gente não é amiguinho. Apenas somos colegas de classe que não dão a mínima para os escalões. Você não deveria se surpreender tanto, Tom, afinal você não liga para os escalões também. – O olhei significativamente, mandando a indireta.

Tom suspirou e se jogou na cadeira ao lado da minha, me fazendo voltar toda para ele e o escutar com atenção.

-É claro que eu não dou a mínima para os escalões, mas eu dou a mínima – a máxima, até – para você, . Eu te amo, irmã, e não quero que você se machuque de qualquer jeito.

-Você ainda está falando dos escalões, certo? – Questionei meio suspeita da mensagem subentendida que ele passava naquela frase.

-Claro, claro. – Ele se levantou meio incomodado.

-Tem certeza? É que de repente pareceu que você estava dando um ciuminho básico de irmão em relação ao Gabriel. – Cruzei os braços, examinando a sua expressão, mas ele foi muito mais arteiro na sua resposta.

-Tenho motivos para isso? – Questionou, sorrindo matreiro

Deitei a língua para fora e enfiei a cara de novo nos estudos. Por sorte Tom não era daquelas pessoas chatas e insistentes que fica te puxando a verdade até você confessar, mas meu simples silêncio já era uma mera confissão.
Mas confissão exatamante do quê? Nem eu tinha bem a noção disso e acho que nem queria ter.

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As semanas foram se passando calmas. Isto porque Gabriel não causou polêmica novamente.
A verdade é que ele e os Dexter Boys – sim, ele era o vocalista principal dos DB e o que fizera a convocatória para novos membros – estavam muito entrosados em criar músicas novas para O Baile da Primavera que ocorreria dali a dois meses. E além da criação das letras e melodias, eles ainda teriam de treinar bastante até acertarem nos tons certos e entrarem todos em sintonia.

Por várias vezes eu ia assistir eles ensaiando – bem como a maioria das garotas da escola, fãs exclusivas e privilegiadas da banda – mas eu ia apenas para ver e torcer por Tom. Ele finalmente havia conseguido subir para o escalão quatro, afinal estava bastante próximo do Gabe e não podia ser menos que um escalão 4.

Gabe? Eu o chamei em pensamento de Gabe?
Sei que estão admiradas, mas a verdade é que meio “escondido” a gente se esbarrava e ia se falando. Estávamos nos dando bem e virando meio que…amigos. E meio que pintava um clima da minha parte, mas eu tentava ao máximo esconder. Quantas mais outras garotas muito mais interessantes estariam tão ou mais afim dele que eu?

Muitas das vezes a banda estava toda em casa de Tom – ele era o único que morava sozinho – enquanto eu também estudava. Lá eles compunham as músicas e apesar da confusão e barulheira que faziam com os vocais e os acordes das violas, eu conseguia me concentrar.

Hoje era um desses dias. Tom se dividia entre estudar comigo e compor músicas, mas estava difícil para ele. Decidi então estudar sozinha. Peguei nas minhas coisas e fui para o quarto do meu irmão. La dentro, de porta fechada, abafava melhor o som confuso que se dava na sala.
Não deu nem dois minutos para a porta do quarto ressoar três batidas.

-Eu não estou nua, pode entrar. – Falei, porque só podia ser esse o motivo para o meu irmão bater na porta do próprio quarto.

-Obrigada por avisar antes de eu entrar. – Escutei Gabe falar.

-Oh, desculpa, pensei que fosse o Tom. – Falei envergonhada pelo que dissera anteriormente. - Precisa de alguma coisa? – Perguntei, arrumando o cabelo atrás da orelha.

-Bom, eu estou aqui com uma música na cabeça e gostaria que você escutasse. – Ele falou me pegando de surpresa.

-Não deveria de mostrar para os meninos primeiro? – Perguntei confusa e nervosa. Eu estava tremendo e nem entendia porquê.

-Eu prefiro mostrá-la para você antes. – Comentou puxando uma cadeira e se ajeitando.

-Porquê? – Minha voz quase falhou.

-Porque ela é sobre você. – Falou me olhando nos olhos.

Meu coração falhou uma batida e a garganta se fechou impedindo a passagem do ar por meros segundos. Apenas quando escutei os primeiros acordes da viola relaxei.

(http://youtu.be/C2FxIjtndsQ - Colocar a música a tocar e acompanhar o som com a letra)

I feel it everyday it's all the same (Eu sinto que todos os dias são iguais)
It brings me down but I'm the one to blame (Isso me bota para baixo, mas sou o único a quem culpar)
I've tried everything to get away ( Eu tentei de tudo para me manter distante)
So here I go again (Mas aqui estou eu de novo)
Chasing you down again (Te perseguindo mais uma vez)
Why do I do this? (Porque eu faço isso?)

Over and over, over and over (De novo e de novo)
I fall for you (Eu me apaixono por você)
Over and over, over and over (De novo e de novo)
I try not to (Eu tento não…)

It feels like everyday stays the same (Eu sinto que todos os dias continuam iguais)
It's dragging me down and I can't pull away (Está me deitando abaixo e eu não consigo escapar)
So here I go again (Então aqui estou eu de novo)
Chasing you down again (Te perseguindo mais uma vez)
Why do I do this? (Porque eu faço isso?)

Over and over, over and over (De novo e de novo)
I fall for you (Eu me apaixono por você)
Over and over, over and over (De novo e de novo)
I try not to (Eu tento não…)
Over and over, over and over (De novo e de novo)
You make me fall for you (Você me faz apaixonar por você)
Over and over, over and over (De novo e de novo)
You don't even try (Você nem mesmo tentou)

So many thoughts that I can't get out of my head (Tantos pensamntos que não consigo tirar da minha cabeça)
I try to live without you, (Eu tentei viver sem você)
Every time I do I feel dead (Toda a vez que tento eu me sinto morto)
I know what's best for me (Eu sei o que é melhor para mim)
But I want you instead (Mas eu quero você invés)
I'll keep on wasting all my time (Eu continuarei perdendo meu tempo)

Over and over, over and over (De novo e de novo)
I fall for you (Eu me apaixono por você)
Over and over, over and over (De novo e de novo)
I try not to (Eu tento não…)
Over and over, over and over (De novo e de novo)
You make me fall for you (Você me faz apaixonar por você)
Over and over, over and over (De novo e de novo)
You don't even try (Você nem mesmo tentou)

Assim que ele terminou de cantar, um impulso me fez ir em direção dele, feito um fuguetão, e atacar seus lábios com os meus. Eu sabia que estava errado e que eu iria me dar mal, mas ele conseguira. Eu estava completamente apaixonada por Gabriel Dekker.

Atualidade

Daí até eu ficar grávida foram dois passos. O namoro e a transa.
Eu não era fácil, nunca fui. Não só por minha personalidade, mas porque eu ainda era virgem. Mas meu instinto estava avariado e eu achei que ele fosse o cara certo para eu entregar a minha primeira vez.

Dois meses depois, o Baile de Primavera chegou e a atuação dos Dexter Boys foi um sucesso. A fama deles começou se espalhando por toda a Washington e daí foi só um passo para eles começarem uma digressão de férias por todo o Estado.
As vezes em que nos víamos se tornavam cada vez mais escassas e a última vez que estivemos juntos fora pouco depois do Baile e antes da digressão da banda.

Eu tentei contar antes da confusão toda começar, eu tentei acreditar que ele não tinha mudado e que ainda gostava de mim, mas ainda assim eu lutei contra o meu próprio senso e fui escorraçada como um cão sarnento sem piedade nenhuma.

Eu ainda podia reviver em minha mente aquele dia como se fosse ontem. O monstro que falou comigo, não era de todo o Gabe que eu conhecia.

-Fala logo, , o que você quer que não podia esperar o show terminar.

-Se ele ainda vai demorar a começar, porque não pode me dar um minutinho de atenção? – Perguntei chateada. Na verdade magoada, com o coração despedaçado. Aterrorizada com a verdade que crescia dentro de mim.

-Fale então. – Cruzou os braços, impaciente.

-Gabe…você me ama? – Perguntei. Eu só precisava de me sentir segura para contar.

Ele me analisou demoradamente com uma expressão indecifrável e baixou o rosto inquieto ao tempo que respondia.

-Sim, eu gosto de você.

-Mas você me ama? – Tornei a insistir naquela resposta, sentindo meus olhos arderem e meu coração palpitar amedrontado.

-Para quê isso agora, ? Você está com medo que eu te traia, é isso? Se quer saber eu nem teria tempo, se quisesse… - Ele barafustou uma desculpa me deixando incrédula.

-Quer dizer que se você tivesse tempo você pegava a primeira que aparecesse? – Acusei, cruzando os braços na defensiva.

-Não foi isso que eu quis dizer… - Tentou se desculpar se aproximando de mim e segurando meu rosto com ambas as mãos. – Eu gosto de você. – Falou, mas aquilo me soou mais a uma desculpa.

Desviei o olhar e mordi o lábio, tentando segurar as lágrimas. Eu não estava mais insegura. Eu estava destruída. Gabe não me amava e nem se importava mais comigo ou com nosso namoro. E eu estava grávida.
Me afastei dele com brusquidão Minhas guardas estavam no máximo, mas eu não iria morrer com essa bomba sozinha.

-Gabe, eu estou grávida. – Despejei de uma vez, nem olhando para a sua cara.

O silêncio nos corroeu como ratos num esgoto.
Aquele beco nunca pareceu tão escuro, tão frio e tão sujo como pareceu naquela noite. O som abafado de música rock ressoava dentro do bar do qual acabáramos de sair.

-E o que você quer que eu faça? – Ele gritou puxando seus longos fios loiros.

-Que tal me ajudar! É um começo. – Gritei de volta em tom irônico.

-Eu sei bem o que você quer, . – Ele apontou o dedo para mim e estreitou os olhos, me dardejando com sua fúria.

-Ah sabe? Então me diga. – Cruzei os braços.

-Você quer arruinar minha carreira. Você quer que eu fracasse. Mas se você acha que eu vou ceder fácil aos seus joguinhos, pode ir enganar outro troxa! – Barafustou me virando costas no final do seu discurso.

-Gabe! Volta aqui! O que eu vou fazer? – Gritei começando a me desesperar.

Ele continuou caminhando apressado e apenas gritou um: “Se vira!” antes de cruzar a esquina do beco.
A onda eletrizante de solidão me atacou com pujança me fazendo perder as forças e ir ao chão.
A ardência em meus olhos e o bolo nodoso em minha garganta fizeram lágrimas rolarem por meu rosto enquanto a voz sumida de mim lutava para sair em um grito de desespero.
E então eu gritei. Mesmo que ninguém me pudesse escutar.

N/A: Sim, esse capítulo demorou a sair para cacete, mas eu já estive mais perto de deletar a fic, do que de dar continuidade nela.
Isso mesmo que você estão lendo. Se não fosse a alma bondosa e a mente criativa da Déh me ajudando com suas ideias mirabolantes e instigadoras, eu não teria conseguido mais continuar a fanfic e muito menos postar esse capítulo gigantesco. Por isso vamos dar um grande SALVE de palmas à Déh e um muito obrigada, querida.


Mas falando do capítulo. Grande flashback sobre o passado da . Tudo relacionado com o Gabe, o pai do filho da PP. O que vocês acharam? Gostaram de saber mais sobre ele e sobre o Tom, o irmão da ? O que acharam da relação deles? E dessa reação do Gabe ante a gravidez dela? Me digam tudo sobre vossa opinião sobre esse cap.

O tamanho do cap não foi apenas para compensar a minha tremenda demora, mas sim porque foi necessário expor tudo sobre o passado de nesse cap, sem deixar nenhuma brecha.

COMENTEM, por favor, é muito importante.

Kisses da Baby