Love Sucks Saga






1.4 




Tomei um banho demorado para limpar meu corpo do sangue que escorria por ele. Dessa vez eu fizera cortes longos abaixo dos seios e nas coxas na parte interior. Me arrependi de ter cortado as coxas porque da próxima vez que estivesse com Paul, não poderia expor minhas pernas, mas no momento me caiu tão bem...

Me cortar era uma forma de alívio sexual imediata e também uma forma de suprir minhas dores emocionais. Não que eu vivesse sofrendo pelos cantos, mas de um certo modo eu curtia a dor física. Talvez fosse masoquismo, mas eu me sentia bem mais leve de minhas tensões e pressões psicológicas e emocionais.




Assim que saí do banho, fui até ao armário dos primeiros socorros pegar o necessário para fazer curativos nos locais onde havia me cortado e em seguida me enxuguei e me vesti com uma calça moletom justa e uma camisola de lã. O tempo estava bem frio e eu suspeitava que fosse rebentar uma tempestade. Mesmo assim me sentei na cadeira de verga, na sacada do meu quarto, e fiquei aí fitando a floresta enquanto penteava e entrançava meu cabelo.

Minha visão estava meio dispersa, não tomando sentido a nada específico, apenas admirando a natureza verde e castanha e o céu azul e cinzento. Mas logo algo chamou minha atenção. Um vulto enorme parecia se mover por entre as árvores, inquieto, como se quisesse se mostrar. Eu podia supor que fosse o vento, era mais lógico, mas o vulto se mexia para o lado contrário ao que o vento soprava.

Temi que fosse um animal selvagem, pelo tamanho. Talvez um leão… ou um urso… Tentei focar melhor minha visão, mas era inútil. A floresta densa e o céu coberto de nuvens escuras, não me permitiam um melhor enfoque.




Acabei por desistir de tentar perceber o que era, quando o vulto sumiu e não mais se fez notar. Terminei de fazer tranças em meus cabelos e pousei a escova em cima do criado mudo, que ficava do lado da sacada, posterior à direção da cama. Ao mesmo tempo meu celular tocou na ponta contrário do criado mudo e eu me estiquei para alcançá-lo.

Estranhei a ligação de um número desconhecido e estava prestes a rejeitar a chamada quando decidi arriscar e saber quem me ligava. Precisava de um pouco de conversa para afastar esse tédio.




-Alô?




-? – Uma voz masculina, grave, questionou do outro lado da linha.




-Quem fala? – Inquiri quando reconheci aquela voz, mas não identifiquei de imediato.




-Emmett. – Respondeu de prontidão quase me fazendo engasgar.




-Emmett? Emmett Cullen? Como você conseguiu meu número? – Perguntei sentindo meu coração bater a mil, mas não de emoção.




-Hoje cruzei com as suas amigas aqui em Forks e elas me deram seu número. Depois do nosso encontro ontem, pensei que ficasse mais animada para vir mais vezes a Forks. – Ele falou e eu tracei um plano mental de como matar minhas amigas o mais lenta e dolorosamente possível.




-Er… tive uns assuntos para tratar. – Menti.




-Ué, elas me falaram que você estava doente. – Comentou desconfiado.




-Exato! Foram esses os assuntos que eu fui tratar. Fui ao médico. Estou com uma gripe terrível. Cof cof. – Enrolei, forçando e fingindo um tossido que muito provavelmente ele não comprou.




-Espero que você melhore logo para podermos nos ver em breve. – Ele desejou e eu baixei o olhar em direção à floresta, engolindo em seco quando a silhueta de Paul surgiu no meu campo de visão, estagnado a meio fio entre a floresta e o meu quintal.




-Claro. Emmett, eu… eu vou ter de desligar. Surgiu aqui uma visita. Nos falamos depois. Beijos. – Falei de uma vez, desligando seguido ao escutar um “beijo” dele.




Fixei meu olhar no de Paul e meu corpo arrepiou. E não foi um arrepio bom, foi um bem ruim. A maneira como ele me olhava era enraivecida e desapontada.

Fiquei uns bons minutos sem reação, apenas mantendo nosso contato visual, mas cedo ele o cortou e fez menção de voltar para de onde quer que ele tenha surgido.




-ESPERE! – Gritei para que ele me escutasse e mais rápido que minhas pernas podiam, corri para fora do meu quarto, pulando degraus inteiros nas escadas e saindo pelas traseiras, apenas tendo tempo para calçar umas botas de chuva e o meu casaco.




-Paul, espera. – Pedi quase ofegante, chegando por fim ao pé dele, que se mantinha de costas voltadas para mim. – Você veio me ver? – Falei em tom de pergunta.




-Você foi a Forks! Você foi se encontrar com um Cullen. – Paul acusou cuspindo o apelido com nojo e raiva.




-Eu não entendo qual o mal…




-Você está fedendo a um deles! – Ele torceu o nariz depois de se inclinar na minha direção.




Notei que eu estava vestindo o casaco que usara no dia anterior, mas me espantei por ele conseguir sentir o cheiro do perfume de Emmett se eu nem cheguei tão perto assim dele.




-Paul, eu dispensei e dispenso qualquer um que queira se aproximar de mim com segundas intenções, porque o único que eu quero está aqui. - Eu falei tentando soar calma e lhe fazendo ver meus sentimentos por ele.




-Você podia ter conseguido o que tanto queria, . Mas agora você está contaminada por aqueles vermes. Me desiludiu bastante. – Ele falou enojado, dando um passo para trás.




-Paul, eu recusei e recusarei qualquer investida de Emmett. Eu nem sei porque me apresentei a ele. Acho que foi um ato inconsequente. Achei que não… - Tentei me explicar, detonando todo o meu plano de conquistar Paul e o fazer cair aos meus pés, mas ele me interrompeu com um 'Shuush', colocando os dedos perto dos meus lábios, sem ao menos os tocar.




Senti meus olhos marejarem. Mesmo nada nessa conversa fazendo sentido, era como se nossos olhos conversassem e eu soubesse exatamente o que viria em seguida. Todo o repúdio de Paul estava me atingido como raios impiedosos. O ódio por esses Cullens era tão grande que só o simples fato de eu ter falado com um deles, deitou por terra todas as minhas chances com Paul. Nesse momento era apenas eu que estava rastejando aos pés dele, implorando em silêncio que ele me desse mais uma chance e que me perdoasse, mesmo sem eu saber o que havia para ser perdoado. Eu apenas sabia que tinha atingido Paul em seu ego e que eu estava em maus lençóis.




-Só… só esquece que eu existo, tá? – Ele falou comprimindo os olhos; como se dizer aquilo realmente lhe custasse.




Segurei seu braço quando ele se voltou para ir embora, mas ele se soltou bem rápido, me jogando no chão e me fazendo rastejar literalmente atrás dele. Agarrei em uma perna sua implorando e me envergonhando, me colocando abaixo de um cão sarnento apenas para ter seu perdão. Mas ele me chutou como uma lata de lixo e sumiu por entre a floresta mais rápido que eu pudesse acompanhar com o meu olhar.




Desesperada, enlameada, dolorida e ferida por dentro, eu me ergui e corri floresta adentro, atrás dele, bem no momento em que um trovão explodiu no céu e partiu as nuvens em mil pedacinhos de água. Já havia o perdido de vista mas ainda assim não desisti.

Não sei por quando tempo caminhei, corri ou vagueei pela floresta, algumas vezes eu achava que estava andando em círculos, outras eu parecia caminhar por entre labirintos, mas sei que nunca parei um segundo sequer de buscar por algum sinal de Paul.




A proximidade da noite e a chuva toldavam a minha visão praticamente a nada e logo eu precisei parar, sôfrega e encharcada até aos ossos. Cada orgão do meu corpo tremia em espasmos desconfortáveis e dolorosos, me obrigando a encolher meu corpo para conseguir o aquecer, mas aquela roupa não ajudava.

Minhas pernas fraquejaram mas não permiti que me derrubassem. Rastejei por mais alguns metros, avistando um rio não muito longe de onde eu estava. Talvez eu achasse algum campista ou aventureiro, que me pudesse ajudar a regressar a casa, mas meu corpo começou pesando cada vez mais e minha visão se tornou turva.




Minha cabeça rodava sem parar, fazendo meu estômago embrulhar com uma sensação de náusea tremenda que quase me fez vomitar. Me deixei cair de joelhos no chão e em seguida meu tronco.

De repente era só o som do meu coração que eu escutava. Tudo o resto eram sons abafados, praticamente inexistentes.

Julguei ter escutado meu nome, mas por onde quer que olhasse não via ninguém.




-Eu preciso ajudá-la. Eu vou atravessar! - Escutei uma voz conhecida falar, mas minha mente estava muito cansada para reconhecer e identificar.




-Você sentenciará nossa família por aquela humana fedendo a cachorro molhado? - Uma voz histérica e estridente gritou para a voz anterior.




Meus olhos pesaram cada vez mais e a sensação de um vórtice puxando meu corpo e minha mente para o vazio se fez sentir ao mesmo tempo que meus sentidos se esvaiam.

Mas uma vibração forte na terra fez meu corpo despertar os sentidos aos poucos, mesmo assim não me permiti abrir os olhos, estava cansada demais.




Rosnados altos explodiram no céu me fazendo abrir os olhos por meros segundos, captando uma visão impossível e mesmo assim bem real. Dois lobos em tamanho gigante surgiram, caminhando em minha direção e parando a poucos metros de mim. Notei que um deles tomou a frente e rosnou bem alto para o outro lado do rio, de onde vinham as vozes de antes, e o outro se manteve em posição de defesa ao meu lado, olhando para mim como se lesse a minha alma.




Mesmo com meus olhos pesando, eu não consegui quebrar o contato visual entre o monstro e eu, e várias sensações prazerosas e calmantes invadiram o meu corpo, me deixando mais relaxada.

De novo os sons se tornaram apenas ecos abafados e meus olhos se fecharam me fazendo mergulhar num mar negro, calmo e aconchegante.