Love Sucks Saga







2.1.

Meu corpo se ressentia em profunda dor. Não havia um centímetro sequer de músculo que não se retesasse de tensão e me fizesse silvar, seguida de guinadas agudas numa dor insuportável.
Minha cabeça pesava e latejava intensamente, me fazendo querer manter meus olhos bem fechados e meu corpo bem quieto debaixo da minha cama macia e aconchegante.

-Não faça esforços, querida. - Escutei a voz de mamãe soar preocupada. - O doutor disse que você precisa de repouso absoluto.

Escutar aquelas palavras fez com que flashes invadissem minha mente e me fizesse recordar de absolutamente tudo o que havia acontecido no dia anterior. No mesmo segundo, um plano se formou em minha mente movido a lava ácida, que era a raiva que eu estava sentindo pelo desprezo e humilhação que Paul me fez passar apenas para conseguir um pouco da sua atenção e carinho.
Eu daria minha vida por ele e tudo o que Paul precisava dar em troca, era seu coração. ERA ASSIM TÃO DIFÍCIL!?

-O que aconteceu? Onde eu estou? - Perguntei me fingindo de confusa. Mamãe me olhava alertada.

-Você não recorda, filha? - Perguntou se aproximando de mim e se sentando na beira da cama.

-Filha? Quem é você? Onde eu estou? - Continuei perguntando, me fingindo de assustada e olhando para mamãe com pura interrogação no rosto.

-Oh céus, ! Você não sabe quem eu sou? - Amelia clamou histérica, colocando uma mão no peito e me olhando atemorizada.

-Quem é ? Quem é você? - Perguntei me fingindo de histérica e transtornada.

-PETER! - Amelia gritou, saindo do meu quarto apressada e correndo em busca de meu pai.

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-Serão precisos exames mais detalhados. Estarei enviando uma carta para o hospital de Forks pedindo uma data de exames que só o hospital poderá providenciar. Mas tudo indica que sofreu uma perda de memoria traumática.

Foram estas as palavras do médico local de La Push, que mantinha um pequeno consultório nas traseiras da sua casa, tendo os materiais e equipamentos necessários para cuidar dos seus pacientes, mas não os necessários para exames mais específicos, como os neurológicos.
Estava nesse momento sentada em uma maca, balançando as pernas, vestindo uma bata hospitalar e olhando em volta impaciente.

-Olá senhora Powell, eu sou Michael Scotfield e sou do departamento neurológico. Recebi a carta do Dr. Bradstone, mas gostaria de saber de mais pormenores. Pode explicar o que aconteceu? - O médico de uma aparência cansada, rosto enrugado, mas de não mais de 50 anos, se apresentou.

-Eu... Eu realmente não sei o que aconteceu, como ela foi parar no meio da floresta. O rapaz que a achou disse que ela estava desacordada perto do rio, tremendo de frio, quase hipotérmica. Não havia sinais de ter batido com a cabeça. Não sinais visíveis a olho humanos... - Amelia desatou a explicar, nervosa e assombrada.

-Entendo. Realmente não há sinais visíveis, mas mesmo os exames não acusam nada. Está tudo normal! - Falou olhando para dentro da pasta em suas mãos e me olhando meio desconfiado. - Quantos dedos eu tenho na mão? - Perguntou mostrando quatro dedos na frente do meu rosto, os abanando intermitentemente.

-Cinco. - Respondi calmante e minha mãe fez uma cara de choro. - Você tem cinco dedos na mão, mas está mostrando apenas quatro. - Respondi em seguida, o fazendo bufar.

-Qual o seu nome? - O médico perguntou, pigarreando.

-.

-Onde nasceu?

-Em La Push.

-Quem são seus pais?

-Amelia e … Peter.

-Você está se lembrando de tudo, minha filha? - Mamãe perguntou esperançosa.

-Só estou respondendo àquilo que você já me informou. É tudo o que me lembro. - Menti, mas mantive meu olhar fixo no médico, que ainda desacreditava de mim.

-Quais são suas últimas lembranças antes de acordar sem memória? - Ele perguntou, puxando uma cadeira e se sentando nela pelo lado contrário,apoiando os braços e o queixo nas costas da cadeira e me fitando desafiadoramente.

Fechei os olhos e franzi o cenho fingindo tentar puxar pela memória. Fingi um gemido de dor e massageei as têmporas, abrindo os olhos cansados em seguida.

-Tudo o que consigo lembrar são meros borrões. Porque eu não consigo me lembrar de nada? - Indaguei chorosa e fiz minha maior cara de frustrada e amedrontada.

-Como têm sido as suas noites? - Perguntou numa última tentativa de me desmascarar.

-Um pouco turbulentas. - Mamãe respondeu por mim. Sinal que meu teatro estava resultando.

-Tem tido pesadelos? - O médico perguntou franzindo o cenho e eu assenti. - Consegue falar deles?

-São uns pesadelos estranhos... Sei que estou num descampado, deitada no chão e o céu está brilhando com um sol imenso e quente. Ele está ao meu lado...

-Ele? - O médico perguntou curioso.

-Pela descrição que ela me fez é Paul, o rapaz que minha filha estava apaixonada. - Mamãe respondeu e o médico lançou um olhar para eu prosseguir.

“O tempo começou a fechar e ele se afastou de mim dizendo que nunca mais queria me ver. Mas, eu não entendia porque ele estava indo embora e corri atrás dele.
O tempo rompeu numa tempestade violenta e nuvens grossas e escuras cobriram o céu e despejaram sobre a floresta um forte temporal.
Fui atrás dele para dentro da floresta, que se tornou cada vez mais densa a cada passo meu.
O cansaço já me dominava e a certa altura notei os ramos das árvores começarem se mexendo juntamente com sons estranhos ecoando e me assombrando. Gritei pelo nome dele, mas não obtive resposta.
Andei mais dois passos, mas acabei tropeçando em um galho e acabei caindo no chão.
Os sons estranhos se intensificaram e pareciam cada vez mais próximos e entre eles escutei algumas vozes falando de mim e brigando por mim, como se eu fosse a caça que não devia de ser partilhada e todos queriam posse, mas, do nada dois lobos gigantes surgiram e me cercaram, rosnando e arreganhando os dentes, para mim, eu supus, e com o susto e medo eu gritei com toda a força dos meus pulmões.”



-E foi com essa última visão que eu acordei. - Terminei meu discurso adaptado com um ar assombrado e perturbado, franzindo o meu cenho e forçando algumas lágrimas.
-Hum.

O médico olhou uma vez mais a pasta e se encaminhou até o seu gabinete, abrindo uma gaveta e puxando de lá um bloco, rabiscando lá algumas palavras, carimbando o papel e assinando por cima.

-Vai tomar 2 cápsulas por dia de Ergomemor depois das refeições, nunca ultrapasse a dosagem recomendada. Leia bem as indicações da bula e se tiver alguma dúvida me contate, ou ao Dr. Bradstone. Indico que acrescente às refeições de bastante beterraba, alecrim, cebola, frutos vermelhos, ovos, peixei com ómega 3, beber bastante água e líquidos e descansar bastante. Não vou passar nenhuns medicamentos para as noites turbulentas porque podem interferi com o Ergomemor ou até causar perdas de memória. - O médico indicou, aconselhando a minha mãe e lhe entregando a receita médica.

-E caso a perda de memória persista, doutor.

-Veja bem, senhora Powell, é difícil e quase impossível prever quando estes surtos de amnésia retrocedem. Principalmente quando é de foro psicológico. Tudo depende da paciente e de como ela leva a vida daqui por diante. Aos poucos vá puxando pela memória dela, fazendo jogos mentais, como o Sudoku ou palavras cruzadas e vá lhe relembrando sobre o seu passado. - Dr. Scotfield orientou e logo se despediu de mamãe e de mim.

O doutor saiu, fechando as cortinas para eu poder me vestir de novo. Mamãe falou algo como ir pagar a consulta e levantar o medicamento e pediu para eu a esperar na entrada do hospital.
Me vesti o mais lentamente possível e quando saí olhei em volta procurando sinal da saída.
Uma cortina ao meu lado se abriu e de lá saíram dois enfermeiros arrastando uma maca com um homem todo lascado. Em cima do balcão estava uma agulha, linha e outros utensílios médicos de corte. Vi uma bisturi no meio de tudo e meus olhos brilharam.
O bisturi tem um corte preciso e profundo. Raramente deixa marcas depois da pele cicatrizar. Era o ideal para mim.
Olhei de novo em volta e mais rápido que pude, peguei no bisturi e escondi dentro da manga do casaco sentindo roçar de leve na minha pele e abrir uma linha vermelha de sangue e me fazendo sorrir.


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-O que você precisar é só me ligar, ok? - Mamãe falou, me deixando no portão do colégio e partindo com algum receio. Caminhei em direção à entrada, engolindo um sorriso e fazendo a minha cara mais deslocada e desolada.

Todos paravam seus afazeres para me olhar e cochichar sobre o que aconteceu comigo na floresta. Havia algumas teorias, mas ninguém desconfiava que eu estava mentindo.
Vi Nika e Roxie se aproximarem apressadas e me arremessando em um abraço.
Me custou ter de mentir para elas, mas mantive meu plano e me encolhi assustada com a recepção delas, as olhando perturbada.

-Ela não está nos reconhecendo! - Shannika gritou em pânico, colocando as mãos na boca e reprimindo algumas lágrimas.

-Vocês devem de ser as minhas melhores amigas. - Falei em tom de pergunta, olhando de uma para a outra.

-É, somos. Eu sou a Roxanne, ou Roxie, como você me costumava chamar, e ela é a Shannika, ou só Nika. - Roxie fez as apresentações. - Vem, vamos te acompanhar até à sua sala.

Eu assenti e olhei para Nika pelo canto do olho, notando o quão transtornada ela estava com a situação.
Engoli em seco a vontade tremenda de lhes contar toda a verdade e caminhei ao lado de Roxie, fingindo estar olhando tudo pela primeira vez. Ao longe no pátio eu pude ver o grupinho da Gangue toda reunida e junta, me encarando fixamente. Estremeci quando percebi que o olhar de Paul era um deles, mas logo tratei de desviar e me concentrar em manter a farsa.
Nika e Roxie sentaram do meu lado, me enchendo de perguntas e contando um monte de histórias sobre nossa amizade. Claro que a aula passou em claro e melhor é que nenhuma de nós levou reprimenda devido ao acontecido.

No bloco de aulas seguinte, eu inventei a desculpa de que estava me sentindo um pouco zonza e consegui dispensa daquela aula. Caminhei em direção à enfermaria apenas para que me assinassem o passe livre pela escola e fingir tomar qualquer coisa.

-Você deveria ficar aqui descansando. - A enfermeira alegou, tentando me fazer deitar na maca.

-Eu estou também com um pouco de fraqueza. Eu irei no bar comer alguma coisa e depois fico no pátio sossegada tomando algum ar. - Falei com meu ar mais inocente, mas a enfermeira me olhou desconfiada.

Eu sempre aprontara tantas com ela que pra ela era difícil confiar em mim. Mas, com uma declaração médica, ninguém poderia contestar minha verdade.
A enfermeira assentiu com a cabeça a permissão para me ausentar da enfermaria e assinou o passe livre. Ainda me fingindo de frágil, desci da maca bem devagar e caminhei o mais lenta que pude.

-Não quer que te acompanhe? - Ela perguntou, mas logo dois garotos entraram apressados na enfermaria, um deles com a mão queimada. - Outro acidente na aula de Química, Jonas. Você não tem sorte alguma. -Ela lamuriou abanando a cabeça em negativa e tirando a concentração de mim.

Saí da enfermaria olhando para todos os lados pra ver se estava sozinha e comecei acelerando o passo até o bar da escola. Lá pedi uma água com gás sabor de limão e uma barra de Snickers e saí para o pátio, me encaminhando para um canto mais reservado.
Me encostei na parede, escondida atrás de uma árvore, e puxei do maço de cigarros que tinha no bolso do blusão, acendendo um cigarro e tragando uma nuvem de nicotina, sentindo os efeitos calmantes imediatos no meu sistema nervoso. Mentir daquela forma para TODO o mundo era árduo e isso deixava uma pressão colossal sobre meus ombros e mantendo meus músculos rígidos.
Bebi um gole da água e trinquei um pedaço do chocolate, saboreando lentamente aquele gosto, juntamente com o da nicotina na minha boca; era uma junção deliciosa, tanto que eu mastigava de olhos fechados para apurar os sabores.

-Fugir da classe para fumar é feio. - Abri os olhos num rompante tamanho quanto meu susto por aquela voz repentina ter soado em meus ouvidos, de sobressalto.

-Eu não fugi, tive permissão do professor. - Falei analisando aquele rosto estranhamente conhecido. - E você?

-Tive uma consulta no médico, vacina. - Falou esfregando o braço esquerdo e quando olhei, notei o final de um círculo preto com outras curvas por dentro, debaixo do tecido da manga da t-shirt azul marinho que ele usava. Uma tatuagem tão conhecida por mim, num rosto que eu nunca antes tinha visto na gangue.

-Você não se lembra de mim, claro. - Ele falou mais para si do que para mim, ao ver meu olhar analítico. - Seth Clearwater. Você foi minha babá quando eu era mais novo.

-Babá? Você parece ser mais velho que eu! - Comentei lembrando dele claramente e me admirando por seu porte musculado, mas ainda assim magro, e bem mais alto do que eu me lembrava há umas semanas atrás.

-Claro. - Ele sorriu se analisando. - Acho que estou em fase de crescimento acelerado. - Sorriu tímido e divertido, coçando a nuca com a outra mão socada no bolso da bermuda bege.

-Mas, você está falando sério sobre eu ter sido sua babá, ou só está aproveitando minha amnésia para dar em cima de mim? - Perguntei em tom de brincadeira.

-Porque pensa isso? - Perguntou meio assustado com minhas insinuações. Ele não havia perdido um pingo da sua inocência.

-Ah, porque se for a última opção, só pode ter sido porque eu te dei bolo antes e você está querendo se vingar. - Expliquei jogando meu cigarro fora ao perceber que ele tinha queimado todo durante nossa conversa. - Mas se for, pode aproveitar e abusar, porque só sendo muito burra para te dispensar. - Sorri sapeca e piscando um olho pra ele, o vendo corar tanto que seu rosto mais se assemelhou a um pimentão. - Quer? - Perguntei, estendendo o Snickers e a água com gás.

-Vou aceitar o chocolate. Deixei meu dinheiro no bolso do casaco. - Falou pegando o chocolate e o olhando como uma criança aguando por um doce.

Ri da sua expressão trincando o chocolate quase inteiro e mastigando com sofreguidão, como se não comesse há muito tempo, ou como se fosse a primeira vez que comesse um doce e estivesse descobrindo o quanto era bom.

-Será que você me deixa só um pouquinho? - Pedi apenas para caçoar dele.

-Me desculpe. - Falou estendendo o naco de chocolate que sobrou e fazendo cara de cachorro que caiu das mudanças.

-Pode comer o resto. - Sorri amigável e ele abriu um enorme sorriso iluminado. - Primeira vez que me sinto bem comigo mesma desde...Desde que acordei sem nenhuma memória das pessoas que amava na minha cabeça. - Menti formando um plano maquiavélico em minha cabeça. Outro.

-Sério? E suas amigas? - Perguntou compadecido.

-Perfeitas estranhas para mim. - Menti descaradamente, fazendo uma careta triste, mesmo que meu olhar transmitisse outra mensagem, mais vingativa. - Eu realmente não sei como vou lidar com tudo daqui para a frente. Não quero fingir sentir amizade ou afeição por pessoas que não me dizem absolutamente nada e muito menos quero ter de andar atrelada a elas para tentar obter uma memória que seja de um passado que para mim, agora, simplesmente não existe. Não quero! - Terminei meu discurso eloquente, derramando algumas lágrimas e fazendo a expressão mais amedrontada que pude.

Seth me puxou para seus braços e me abraçou apertado. Sua temperatura era quente, quase fervente, e de imediato me lembrei de Paul e sua pele. Um fogo ardeu em mim. E não era somente de desejo. Pousei meu queixo no seu ombro e funguei algumas vezes, mas meu olhar permanecia perdido em planos sendo traçados como batalhas navais.
Consciência versus vingança. Bem versus mal. Deus versus Diabo. Peças brancas versus peças pretas. Obviamente eu era o lado negro e isso se refletia no meu olhar e no sorriso diabólico que se formava em meus lábios.