O Amor Acontece







Parte IV

Queria enterrar minha cabeça na terra como as avestruzes. Ou dar minhas entranhas para os abutres comerem. Ou servir de espantalho para os debiques dos corvos. Queria algum tipo de tortura que me punisse pela estupidez tamanha que havia cometido contra Jacob com meus julgamentos precipitados. Mas isso seria bom demais para mim. Eu tinha era de tomar vergonha na cara e corrigir minha burrice.
Bom, nesse momento era o que eu estava fazendo. Apanhando o ônibus que me levaria de volta a casa, mas saindo no ponto de ônibus do colégio onde ele trabalhava.
Rezava para que ele ainda estivesse aí porque senão teria de de esperar até a manhã seguinte e com os nervos que estava era bem capaz de eu não sobreviver até lá.

-Boa tarde. - Cumprimentei a senhora por trás do balcão da secretaria, assim que cheguei lá. - Gostaria de falar com o Jacob. - Falei assim que ela me olhou e me deu permissão silenciosa para falar.

-Jacob quê? Ele é o quê aqui? - Perguntou revirando os olhos e murmurando algo como “esperam que eu saiba de tudo nesse lugar”, que eu tratei de ignorar.

Torci o nariz. Eu realmente não sabia NADA acerca de Jacob. Como eu iria explicar? Como uma luz e última chance, optei por outros métodos.

-Ele trabalha aqui. É alto, pele morena, cabelos e olhos negros, bem novo...

-Está procurando por Jacob Black? - Um cara que estava ao balcão, preenchendo uns papéis, perguntou. O olhei com mais atenção e me deparei com um homem bem parecido, loiro e de olhos verdes água. - Espera. - Ele estreitou os olhos e sorriu torto, apontando o dedo para mim. - Você deve de ser a .

Assenti, surpresa por aquele estranho saber quem eu era. Ele abriu um largo e pensativo sorriso e me olhou de alto abaixo, mas não de uma forma sedutora, apenas de uma maneira perscrutadora e atenta.

-Ele me fala muito de você. - Ergui os sobrolhos ante aquela afirmação. O cara deu um tchau na secretária e me estendeu a mão. - Vem, eu te levo até ele.

Olhei desconfiada para a sua mão, pensando no seu convite, e depois olhei a mulher atrás do balcão, sorrindo abertamente para ele e se despedindo com um “até mais professor”.

-Agradecia imenso se fizesse isso. - Falei, me referindo ao seu convite de me levar até Jacob.

Segui o professor pelo colégio, sentindo meu coração pular tão rápido em meu peito que chegava a ser doloroso.

-Sabe, é uma novidade Jake falar tanto de uma garota. Ele nunca se interessou por ninguém antes. Acho que é a primeira vez que ele está apaixonado. - Arregalei os olhos ante aquela informação. - Não se acanhe, eu sei que você corresponde. Não são precisas palavras para se nomear um sentimento. - Me sorriu de leve me dando a entender que talvez Jacob não tivesse dito com todas as palavras aquilo que ele estava afirmando. Se bem que ele tinha acertado no seu julgamento comigo.

-Não é propriamente amor … - Estreitei os olhos tentando me lembrar no nome do professor, mas acho que ele nem sequer me tinha dito ainda.

-Que cabeça a minha. Nem me apresentei. - Sorriu, batendo com a mão na testa. - Sou Jasper Hale. - Estendeu a sua mão para mim e eu a peguei e apertei num cumprimento rápido.

-Bom, você já sabe meu nome... - Sorri encabulada. Que mais ele deveria saber de mim?

-Verdade. - Ele gargalhou e eu o olhei confusa. - Ele falava tanto e tão bem de você que eu realmente cheguei a crer que ele tinha apenas sonhado com você. - Gargalhou, jogando os ombros para cima e para baixo.

Saímos em outra ponta do edifício do colégio e entramos num estacionamento ao ar livre, provavelmente um parque privativo para os professores.

-Jake está perto? - Indaguei olhando para Jasper atentamente.

-Na verdade ele não está aqui no colégio, mas eu sei onde ele está. Se importa se eu te levar de carro até lá? Prometo que não sou nenhum psicopata. - Ergueu as mãos na defensiva e sorriu sincero. - Se estiver em dúvida pode ligar para ele e confirmar que eu sou de boa índole. - Falou, me estendendo o seu celular e discando um número, que supus ser de Jacob.

-Não precisa. Eu confio em você. - Sorri de volta e ele me piscou o olho, tirando do bolso da sua calça social a chaves do seu carro e o acionando com o comando remoto.

Arregalei os olhos para o Porshe preto reluzente, de 3 portas, desportivo, em qual Jasper entrou. Aquilo era uma belezura e eu amava velocidade.
Saltei de imediato para o banco dos passageiros e sorri animada feito uma criança na Disneylândia.

-Se você gostou desse, vai amar o meu Audi. - Ele se gabou, arrancando com velocidade do recinto.

-Esculacha o pobre, vai! - Fiz um muxoxo e Jasper riu.

Durante a viagem iniciamos uma conversa afincada e bem animada sobre carros e isso me distraiu momentaneamente do meu propósito. Mas assim que ele desligou o carro e me olhou com as sobrancelhas arqueadas meu coração voltou a bater descompassadamente.
Olhei de cenho franzido para o local onde estávamos. Um Pub. Me preocupei com Jacob. Estaria ele bebendo por minha causa?

-Ele está aí? - Perguntei preocupada.

-Pertence à família dele. - Falou apontando para o enorme letreiro no topo do edifício de dois andares, piscando em neon: Black's. - Tem algum plano? - Perguntou curioso e compreensivo. Saberia ele do meu barraco? - Pela maneira como hoje saiu do colégio para ir atrás de você e da maneira que voltou, deduzi que vocês tivessem discutido ou algo assim. - Claro, Jasper e sua dedução dos nossos sentimentos...

-Tem música ao vivo? - Perguntei torcendo para que esse fosse como tantos outros Pub's para que meu plano, recém formulado, pudesse ser posto em prática.


Seria impensável que eu fosse mesmo fazer isso, mas aqui estava eu, na backstage do palco dando instruções à banda local sobre a música que eu queria que eles tocassem.
Com a ajuda de Jasper a gente tinha entrado pelas traseiras. Quem nos tinha aberto a porta fora Rachel Black, irmã de Jacob e namorada de Jasper. Ela ficara imensamente feliz por finalmente me conhecer e eu me perguntava o que tanto Jacob falava sobre mim.

-É a sua vez. - Rachel anunciou, passando a mão no meu braço e me passando força, erguendo os polegares para cima e sorrindo largamente.

A banda subiu primeiro enquanto eu respirava fundo. Espreitei pela cortina e quase tive um ataque de pânico.
Eu mal conseguia acreditar que ia cantar para uma multidão. Ok, 15 pessoas não é uma multidão. O Pub nem está no horário de pico! Mas em comparação ao público que eu tenho quando canto no chuveiro, minha gata Jella, isso é definitivamente uma multidão.

-Calma , você é expert em micos, esse vai ser biscoito perto dos bolos que você pagou hoje! - Tentei me encorajar e em seguida subi no palco.


Jacob estava no bar, bebendo até que Jasper apareceu do seu lado e apontou para o palco, pedindo para ele olhar. Jacob abriu um enorme sorriso e logo comecei a cantar.

Estou puxando meu cabelo
Estou rasgando minhas roupas
Estou tentando manter a calma
Eu sei, dá para perceber
Estou olhando para os meus pés
Minhas bochechas estão ficando vermelhas
Estou procurando pelas palavras dentro da minha cabeça

Estou me sentindo nervosa
Tentando ser tão perfeita
Porque eu sei que você vale a pena
Você vale a pena

Se eu pudesse dizer o que queria dizer
Diria que quero ir com você para longe
Estar com você todas as noites
Estou te pressionando muito?
Se eu pudesse dizer o que eu quero ver
Eu quero ver você se abaixar em um joelho
"Case comigo hoje?"
Acho que estou desejando minha vida longe
Com essas coisas que nunca vou dizer

Isso não me faz bem algum
É só perda de tempo
De que te serve isso?
O que está em minha mente?
Se isso não está vindo a tona
Não estamos indo a lugar algum
Então, por que não posso apenas te contar que eu me importo?

Porque estou me sentido nervosa
Tentando ser tão perfeita
Porque eu sei que você vale a pena
Você vale a pena

Se eu pudesse dizer o que queria dizer
Diria que quero ir com você para longe
Estar com você todas as noites
Estou te pressionando muito?
Se eu pudesse dizer o que eu quero ver
Eu quero ver você se abaixar em um joelho
"Case comigo hoje?"
Acho que estou desejando minha vida longe
Ah, essas coisas nunca vou dizer

O que há de errado com a minha língua?
Essas palavras continuam escapando
Eu gaguejo, eu tropeço
Como se eu não tivesse nada para dizer

Porque estou me sentido nervosa
Tentando ser tão perfeita
Porque eu sei que você vale a pena
Você vale a pena

Jacob saiu do lugar onde estava sentado, caminhando lentamente até mim. Parecia que estávamos no final de uma comédia romântica, onde depois de todas as trapalhadas da personagen principal, ela estava conseguindo tomar controle de novo sobre a sua vida e dizendo para o rapaz que gostava o que sentia por ele.

Acho que estou desejando minha vida longe
Essas coisas nunca vou dizer

Se eu pudesse dizer o que queria dizer
Diria que quero ir com você para longe
Estar com você todas as noites
Estou te pressionando muito?
Se eu pudesse dizer o que eu quero ver
Eu quero ver você se abaixar em um joelho
"Case comigo hoje?"
Acho que estou desejando minha vida longe
Mas essas coisas nunca vou dizer

Essas coisas nunca vou dizer

Jacob subiu no palco assim que a música terminou e parou à minha frente, me encarando em silêncio. Minhas mãos suavam nervosamente e as palavras que eu tinha preparado em minha cabeça para lhe dizer, tinham simplesmente se evaporado...

-Olá. - Ele me cumprimentou.

-Olá. - Respondi de volta, minha voz falhando.

-Sou Jacob Black.

Sorri, meus olhos provavelmente brilhando. Aquilo era a minha segunda chance. Minha segunda oportunidade de fazer tudo certo, dessa vez. De não pagar mico e de conhecer o homem mais maravilhoso do mundo.

-Pessoal, eu se fosse a vocês descongelava e saia de cima do palco. Os clientes já estão reclamando de vocês estarem atrapalhando o espetáculo . - Jasper anunciou nos fazendo rir e sair do palco rapidamente, nos juntado a ele e Rachel no balcão, onde começamos uma conversa banal e animada, sempre entre troca de olhares e sorrisos, entre mim e Jake, me fazendo sentir a mulher mais sortuda do mundo por ter atenção dele só para mim.

Porque o amor acontece nas alturas mais inesperadas, nos locais mais inóspitos e nas situações mais invulgares. Ele pode surgir do nada ou pode progredir lentamente, começando com uma situação banal e se tornando em algo especial. De qualquer das formas é inevitável. E todos merecem amar e ser amados.


FIM