O Amor Acontece






Parte II

Depois da manhã de ontem, o meu quotidiano não foi mais o mesmo. Quer dizer, a minha cabeça não era mais a mesma. Ele não me saia dos pensamentos e isso afetava a forma com que eu lidava com tudo. Ou seja, deixava de prestar atenção nas coisas que fazia, acabando por fazer tudo errado.
A Sra Osbourn reparara em como eu estava distraída e chegou a comentar com o marido que eu estava apaixonada. Nesse momento arregalei os olhos e cuspi o suco que estava tomando, fazendo Lizzie e Dan rirem de mim. Claro que as pestinhas iam rir da minha desgraça, mesmo sem entender o motivo, por isso que amava tanto crianças. Era tão fácil lidar com elas e fazê-las rir por tão pouco.

Ao fim da tarde, quando peguei o ônibus de volta, ansiei em cada ponto que ele aparecesse, mas isso nunca aconteceu. Logo estava em casa e por mais uma noite eu fiquei em claro, mas dessa vez foi por um bom motivo, pensando no misterioso estranho do ônibus.

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Hoje estava totalmente exausta. A noite mal dormida parecia ter duplicado o meu cansaço e mesmo que eu tentasse manter os olhos abertos, eles pesavam como se eu tivesse chumbo nas pálpebras e acabei adormecendo de imediato.

Meu nariz começou a coçar cada vez mais, me despertando aos poucos. Por mais que eu tentasse me coçar, a comichão continuava lá. Logo percebi que alguém estava me cutucando e quando abri os olhos para insultar o/a infeliz me deparei com o lindo e sorridente rapaz do dia anterior, com uma mecha dos meus cabelos em seus dedos, passando eles na ponta do meu nariz.

-Boa dia, dorminhoca. - Me cumprimentou sorridente.

Não soube como responder, estava envergonhada com o flagra, mas, ao mesmo tempo, feliz por ele estar ali. Essa, com certeza, foi a melhor forma de ser acordada.
Esfreguei os olhos e sorri tímida, dando um bom dia rouco e me ajeitando no banco.

-Ontem fui embora apressado e nem perguntei o seu nome. Estava tão distraído me divertindo com você que acabei deixando o meu ponto passar. A propósito, me chamo Jacob. - Ele tagarelou, estendendo a mão para mim, em forma de um cumprimento formal que eu estranhei mas acabei por nem comentar.

Unir minha mão à sua estava de bom tamanho. Um choque percorreu a palma da minha mão quando entrou em contato com a sua e tão rápido estavam juntas, quanto estava se afastando. Rimos da situação e deixamos o cumprimento para outra altura.

-Me chamo . Mas eu prefiro que me chamem apenas de . - Pedi, encontrando minha voz nem sei onde.

-, condiz com você. - Sorriu aquele sorriso sol que me fez brisar por completo. - Hoje fui eu que trouxe a playlist. - Falou animado, buscando o aparelhinho de som em seus bolsos e me estendendo um fone.

O Ipode, super moderno, começou tocando algumas músicas indistintas pois Jacob as passava à frente com uma rapidez absurda. Assim que achou a música que queria a deixou fluir pelos fones me surpreendendo com a escolha.

-Beegees, sério? - Perguntei em um tom descrente, mas com uma expressão divertida no rosto.

-I know your eyes in the morning sun. I feel you touch me in the pouring rain. And the moment that you wander far from me, I wanna feel you in my arms again. And you come to me on a summer breeze, keep me warm in your love then you softly leave. And it's me you need to show how deep is your love. - Ele cantarolava me fazendo revirar os olhos, divertida, quando ele tentou atingir a nota aguda de um dos cantores.

-Jacob páre, por favor. - Pedi envergonhando quando os mesmos passageiros riam da gente, mais uma vez.

Jacob continuou cantando por mais um pouco, apenas me provocando e apenas parou quando eu puxei o fone do seu ouvido e o olhei com uma careta feia.

-Qual é, eu não sou tão mau cantor assim. - Ele pegou comigo, mantendo um sorriso traquina no rosto, desmanchando minha careta.

-Claro que não. Só está fazendo nossos ouvidos sangrarem. - Respondi irônica, apontando os outros ocupantes dos ônibus, alguns mantinham os dedos nos ouvidos por brincadeira.

-Ok, você me convenceu. - Cedeu, dando um leve empurrão em meu ombro, me fazendo estremecer com a proximidade de nossos rostos.

Já estava de novo hipnotizada por sua beleza, quando escutei o princípio da minha música favorita, mas que logo foi passada à frente por Jacob, que tinha colocado de novo o seu fone no ouvido e estava escolhendo outra música para me surpreender.

-Volte atrás! - Dei um gritinho que quase assustou o motorista. - Não é pra você, desculpe. - Falei para o condutor que montou carranca e ficou bufando por um bom tempo. - Volte a trás. - Pedi a Jacob, quase arrancando o Ipode da sua mão. - Mais. - Pedindo pra ele recuar ainda mais até eu achar os acordes da minha música. - Páre.

-Extreme, sério? - Ele repetiu as palavras em tom jocoso e eu revirei os olhos. - Julguei que não gostasse desse tipo de músicas, afinal recusou Beegees. - Ele comentou presunçoso e eu joguei a língua de fora.

-Não é isso. Eu apenas fiquei surpresa pela escolha da sua playlist. - Expliquei, vendo ele me olhar com intensidade e aproximando lentamente nossos rostos.

Acabei corando com aquela proximidade e Jacob deslizou um de seus dedos por minha bochecha e sorriu calorosamente.

-Você fica linda quando cora. - Comentou me deixando ainda mais encabulada e vermelha.

Desviei o rosto continuando a curtir a minha música até que ela deixou de dar e eu me apercebi que Jacob estava desligando o aparelhinho e arrumando o seu fone.

-Saio nessa. - Justificou, tocando o sinal para fazer paragem.

Fiz um muxoxo, tanto por ele ter interrompido minha música como por ele ter de ir embora já.

-Nos vemos por aí. - Sorri, me despedindo dele com um aceno e ele fez o mesmo, retribuindo com aquele sorriso lindo e iluminado, saindo no seu ponto.

Fiquei olhando ele partir e ir cumprimentar um grupo. Nesse momento eu me foquei melhor onde ele tinha saído e quem ele estava cumprimentando. Meus olhos se arregalaram e um desespero começou me consumindo.

-Ah não. Não, não, não. - Falava, espalmando minhas mãos no vidro, enquanto via o edifício sendo rodeado por jovens de mochilas, divididos em grupos, se divertindo e me apercebendo que aquilo era um colégio.

Meu coração palpitou rápido e eu já começava choramingando a minha falta de sorte.
Isso não podia ser verdade! Jacob era um estudante. Pior! Ele era um adolescente. PIOR AINDA! Eu estava me apaixonando por uma criança!
Porra, o que eu fiz para merecer essa desilusão? Porque isso me aconteceu a mim? Porquê meu Deus!?