Love Sucks Saga






2.2

Enchi meu tabuleiro com comida saudável, talheres e água e caminhei em direção às mesas, travando ao ver as mãos afoitas das minhas amigas me chamando para sentar com elas. Por outro lado via Seth me olhando fixamente, alugando uma cadeira do seu lado. Ele havia me dito mais cedo, no pátio, que se eu quisesse eu poderia ficar com ele tempo suficiente até me adaptar à escola e às pessoas que ainda me eram desconhecidas.

Sem hesitar caminhei na direção da mesa da gangue, lançando um último olhar de lamento a Shannika e Roxanne, que me olharam incrédulas e tristes.
Parei a poucos metros da mesa deles, fingindo hesitar, mas na verdade estava controlando meus batimentos cardíacos ao vislumbrar Paul tão sexy e tão desejável naquela calça jeans folgada caindo abaixo de seu rabo em um toque estiloso, e sua t-shirt justíssima, ou talvez fossem apenas seus músculos demasiado fortes para uma simples blusa.
O gesto de Seth, estendendo a mão na minha direção e me sorrindo confiante, me incentivou a dar os passos finais até sua mesa.
Baixei o olhar e corei quando todo o mundo olhou para mim com caras desconfiadas.

-Pessoal, eu chamei a para sentar com a gente, espero que não se importem. - Seth falou puxando a cadeira em que me sentei para o pé dele com uma facilidade estranha, como se eu nem estivesse sentada nela e o objeto fosse tão fácil de puxar.

Observei a tensão por parte dos rapazes, apenas Paul e Seth estavam descontraídos. Paul estava do lado direito de Seth e eu do esquerdo. Apenas uma cadeira nos separava e no entanto parecia tanto. Ele me olhava como se estivesse tentando me ler a alma e os restantes me analisavam minuciosamente.
Me mantive calada, sem sorrir, como se fosse a pessoa mais tímida e incomodada do mundo. Desviei várias vezes o olhar de Paul, fingindo que a simples alusão de ele me examinar, me causasse arrepios, o que não era totalmente mentira, visto que ele sempre me fazia arrepiar pela melhor e mais deliciosa das razões. Mas, eles não podiam distinguir isso, ou podiam?

-Você se lembra de mim, né? - Paul perguntou com um sorriso convencido no rosto.

Olhei para Seth confusa e depois fixei meu olhar em Paul, fingindo indiferença e desconhecimento. Ele formou uma careta indignada enquanto o resto do pessoal se ria alto.

-Gente, isso é sério. Parem de falar desse assunto, ok? - Seth comentou irritado com eles e todos concordaram, se mantendo em silêncio.

-Eu sou Paul. - Ele se apresentou com uma sobrancelha erguida e um sorriso torto.

Por seu olhar passavam inúmeras mensagens subliminares que me deixaram inquieta, mas no entanto fingi não ter qualquer reação à sua “tentativa” de sedução. Foi difícil conseguir isso – não suspirar, devolver o sorriso cheio de intenções maldosas, piscar o olho, ou simplesmente corar – mas, foi preciso apenas lembrar da forma desprezível com que ele me tratou dias atrás, antes de eu entrar na floresta e passar por um episódio transtornado de alucinação e desespero. Por pouco não tinha morrido e tudo por causa de Paul e dessa minha obsessão de o ter para mim mais uma vez.
Agora tê-lo, não se tratava apenas de desejo. Para mim tê-lo em minhas mãos seria uma forma de vingança. Eu o faria implorar por mim e pelo meu corpo. Custe o que custasse.

-Quem diria que ela iria te ignorar redondamente. - Jared comentou zombeteiro, em um tom baixo, mas não o suficiente para que eu não pudesse escutar.

No entanto preferi me manter alheia e fingir que realmente não havia escutado nada.
Paul deu um cascudo na nuca do colega e o olhou embravecido, me lançando um olhar tão profundo, capaz de perfurar meus olhos, cavar meu corpo e alcançar a minha alma. Estremeci. Tentei conter, mas foi inevitável. A forma como ele me olhava era intensa demais, era quase como se controlasse o meu corpo, o manipulasse às suas vontades.
Cortei contato visual com ele e comi de olhos postos no tabuleiro. Seria muita mais fácil evitá-lo se não o encarasse diretamente.

Assim que terminamos eu recolhi meu tabuleiro e fui botar no lixo. Vi Nika se aproximar de mim, mas ignorei ela. Seria muito mais fácil se a mantivesse fora dessa minha farsa. Conseguiria mantê-la por muito mais tempo.

-Escuta aqui – Nika pegou forte em meu braço me virando para ela. Olhei em volta para perceber onde estava a gangue e notei que eles já estavam no pátio, conversando num círculo fechado e restrito. Nem a namorada de Jared estava por perto. - Se você acha que consegue me enganar com essa farsa de estar sem memória, está muito enganada, Aly. Eu te conheço melhor que a palma da minha mão. - Ela sussurrou violentamente enquanto eu tentava soltar meu braço do aperto de sua mão, ou afastar-nos dos ouvidos e olhos curiosos do refeitório.

-Eu não sei do que você está falando. - Respondi, mentindo descaradamente quando chegamos a um canto isolado da cantina.

-Eu até entendo porque esteja mentindo para Roxanne. Ela é boba, ingênua e não sabe mentir, mas eu? Nós somos iguais! Eu conheço cada expressão sua, cada gesto, cada som da sua voz que te delata para uma situação. Eu sei quando você está triste, quando está irritada, quando está planejando algo. Eu sei que você se corta, mesmo que nunca tenha falado abertamente comigo sobre isso, e sei que você sabe que eu injeto droga, sem eu ter nunca precisado mencionar esse fato. Eu te conheço e você me conhece. Então porque mentir para mim, hein? - Nika terminou seu discurso eloquente, sempre me encarando nos olhos e me forçando a encarar os dela.

Olhei por cima do ombro dela e fixei em Paul. Ela seguiu meu olhar e não foram precisas palavras para ela entender mais nada.

-Só nunca mais minta para mim, tá? - Falou, suspirando e se afastando rapidamente.

Inspirei fundo como se tivesse ficado um bom tempo sem respirar, sem receber ar em meus pulmões. Contive as lágrimas que caiam e enchi o peito de coragem e caminhei em direção aos corredores da escola.

-Você está bem? - Seth questionou assim que me alcançou.

-Sim. - Respondi abanando a cabeça em afirmativa, de forma sutil e quase impercetível.

-Seus olhos estão inchados e vermelhos. Esteve chorando. - Afirmou convicto, passando um braço por meus ombros.

-Só me tira daqui... - Pedi num sussurro e ele assentiu, me guiando pela escola velozmente, tentando evitar que o diretor ou algum funcionário nos visse sair e nos detivesse.
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Escalamos mais algumas rochas em direção ao cume de uma pequena montanha, lateral à First Beach - o litoral mais visitado de Washington pela sua paisagem lúgubre, dividida entre o cinzento do céu e o verde da floresta.
Apesar de ser uma vista bastante tétrica e penosa, tinha o seu quê de encanto. Como uma pintura artística; muito profunda para se compreender, mas bastante eloquente para não se deixar impressionar. Talvez fosse o local que mais me atraia em toda a península de Olímpia. Me identificava completamente com a paisagem.

-Nunca tinha vindo aqui em cima. - Murmurei maravilhada, analisando a vista, envolvendo meus braços e esfregando as mãos neles para os aquecer do vento glacial que soprava naquela direção.

-E você está gostando do que vê? - Seth perguntou incerto da minha avaliação.

-Demais. - Sorri para ele.

-São poucos os admiradores da vista daqui. Os turistas preferem as praias mais quentes, a areia mais suave, a água mais calma. Aqui é tudo turbulento, rochoso, desconfortável... Mas, é a nossa casa. - Ele sorriu saudoso.

-Concordo com você.

-Está se sentindo melhor? - Perguntou me analisando cuidadoso.

-Bastante. Aqui é bem calmo. - Concordei andando até o precipício e olhando lá para baixo, onde o mar rebentava contra as rochas de forma bastante violenta.

-E que tal saltar? - Seth me perguntou e eu arregalei os olhos.

-Você é doido? É morte na certa! - Falei meio histérica, mas bem curiosa com a possibilidade de saltar, de sentir aquela adrenalina, de encarar a morte de perto.

-Que nada. Basta saber onde saltar. - Falou dando passos largos para trás e retirando os tênis.

-O que você vai fazer? - Perguntei pasma quando o vi retirar a blusa de frio e dar impulso para correr.

Ele passou por mim sorrindo e pulou no precipício me fazendo prender a respiração e correr até a orla e espreitar no mar, vendo Seth emergir todo divertido e acenando feliz para mim, me chamando para ir ter com ele. Fiz que não com a cabeça e ele fez um muchocho tristonho, mas não insistiu mais. Seth mergulhou mais uma vez e nadou até à praia. Ainda eram algumas léguas, mas ele parecia bem rápido.
Peguei seus tênis e blusa e desci a montanha com cuidado indo me encontrar com um Seth encharcado, mas super animado, saindo da água.

-Você é louco, garoto. - Meneei a cabeça em negativa, mas mantendo um sorriso nos lábios.

-Que nada. Aquilo parece assustador, mas é só fachada. A única coisa que pode correr mal são as marés fortes que te empurram contra as roxas, mas é só mergulhar que o mar fica mais calmo embaixo e você consegue se safar. E claro, tem de saber nadar muito bem. - Ele se vangloriou piscando o olho e eu dei um tapa no seu ombro.

-Bobo.

-Sou bobo, mas consegui fazer você sorrir. - Falou triunfante.

-Com você rir é muito fácil. Você é doce e puro e faz a gente se sentir de igual modo. - Falei com uma carranca mais pensativa.

Em minha mente meus planos voltaram a se materializar mais vívidos que nunca. Quando estava perto de Seth era como se nada de mal existisse e pudesse me atingir. Não havia mágoas, rancor, vingança...E isso não era bom.

-Preciso voltar para casa. Meus pais vão se preocupar caso o diretor ligue e fale que eu sumi. - Falei tristonha e ele concordou.

O resto do caminho que fizemos foi falando bobagens. Falava mais ele do que eu, pois minha cabeça viajava longe, perdida em esquemas e táticas para conseguir minha vingança.
Fingir essa amnésia estava me servindo de ajuda numa coisa. Despertar novamente a atenção de Paul. Talvez fosse por culpa por, em parte, ele ter sido o culpado pela “amnésia” ou então, na mente deturpada dele, fosse como se eu fosse um novo desafio. Como se a que ele usou nunca tivesse existido e precisasse jogar de novo no meu campo.


-Sempre que precisar, não hesite em me chamar, ok? - Seth se despediu prestativo e eu sorri agradecida.

-Eu sei disso. - Assenti me inclinando para depositar um beijo inocente em seus lábios.

Seth se afastou surpreso e sorridente e um brilhozinho se expandia e resplandecia em seu olhar.
Eu sei que meu maior objetivo nesse momento era me afastar das influências boas e positivas demais de Seth, mas esse beijo tinha sido pura estratégia.
Pelo canto do olho eu tinha avistado Paul, na orla da floresta, exatamente como eu o tinha visto da última vez. Tronco desnudo, mãos socadas nos bolsos da bermuda e olhar fatal.