Love Sucks Saga







2.4


Baixei o olhar timidamente quando o de Seth me encarou com certa malícia. Um sorriso inocente contradizia completamente suas intenções, mas ao mesmo tempo reforçava seu sentimento por mim.

Sorri lançando mais um olhar para ele, mas na verdade esse sorriso era de contentamento por estar fazendo Paul se morder de ciúmes.

Depois que eu e Seth fomos vistos nos beijando várias vezes, seus nervos ficaram à flor da pele, pela rejeição e ele vivia se irritando com os amigos da gangue, que o zuavam com toda a força apenas para o ver de cara feia.

Nesse mesmo momento ele estava recebendo risadas dos amigos que aplaudiam Seth por me ter “roubado” de Paul bem debaixo do nariz dele.





-Quem viu e quem vê é capaz de duvidar da veracidade dessa história. - Roxanne comentou admirada.





-O que quer dizer com isso? - Shannika perguntou em estado de alerta.





-Antes vivia suspirando e sonhando pelos cantos, destruindo quem se metesse no seu caminho apenas para conquistar Paul e o ter só para si, o qual nem lhe ligava muito. - Reprimi a vontade de esganar minha amiga por seu comentário infeliz. Só porque Paul se fazia de difícil não significava que ele não ligasse para mim. - Agora os papéis se inverteram completamente. Quem está por dentro da história é capaz de duvidar que isso é mesmo real. - Ela se explicou gesticulando exageradamente.





Shannika me lançou um olhar preocupado, mas eu sorri para a tranquilizar.





-Seth não para de olhar para cá. Que tal você ir lá ter com ele? - Nika incentivou sorridente.





-E me meter no meio daquela gangue? - Comentei olhando o “chefe”.





Pela primeira vez eu os via rodeando o cabecilha do grupo e o bajulando como um Deus. A palavra de Samuel Uley era ordem e havia um respeito latente no olhar e postura de todos quando ele falava ou se dirigia a eles com um único olhar. Era muito mais que respeito. Era obediência.





-Só gostaria de saber onde estão o restante deles. - Roxie apontou curiosa, denotando a falta de Embry, Quil e Leah, irmã de Seth, que ambas já tinham avistado com a gangue e usando uma tatoo igual a de todos, o que levantou várias questões sobre nós, afinal ela era a única garota a usando, sendo que Kim e Emily também faziam parte do grupo...





-E Jacob que desapareceu por completo. Dizem que é caso de desilusão amorosa. - Shannika comentou. - Se ele me conhecesse melhor não sofreria desse mal. - Sorriu convencida.





-Eu ouvi dizer que ele também faz parte da gangue. - Comentei a informação que mamãe me havia dado semanas atrás, antes da minha “perda de memória”, falando em um sussurro como se temesse ser ouvida, visto que Sam estava mais perto da gente do que a distância saudável para a nossa “segurança”.





-Mentira? Será que ele ficou tão gostoso como os restantes? - Os olhos de Shannika brilharam.





-Deixa de ser boba. - Roxie deu um tapa leve no braço dela e todas nós rimos.





-Vou pegar um salgadinho. Alguém quer? - Perguntei inocentemente.





-De dieta. - Ambas responderam em coro e eu revirei os olhos para as dietas das duas.





Eu era a única que não precisava disso, era daquelas garotas que come bem e não engorda.

Então eu não precisava me deter em usufruir dos petiscos do lual.

A First Beach estava muito bem decorada com tochas altas e balões de papel abrigando luzinhas extras, pendurados em cordas que atravessavam a praia quase de um lado ao outro.

Três fogueiras atiçadas em locais estratégicos faziam o dever de tornar o local num ambiente agradável e quente. O tempo estava ameno para um dia de outono e o céu estava limpo, deixado à vista a bela lua e as estrelas cintilantes.





Peguei num pratinho de plástico reciclável e o abasteci com todos os mais variados salgadinhos. Não queria ter que me distanciar das meninas tantas vezes quanto minha fome exigia. Estiquei a mão para alcançar uma fatia de quiche quando senti o choque térmico, extremamente quente, tocar a minha mão. Retirei rapidamente a mão por instinto e porque meu corpo reconhecia aquele toque e aquele cheiro antes mesmo de meus olhos lhe botarem a vista em cima.





-É engraçado como antes você ansiava por meu toque e hoje se afasta com repulsa. Será que seu sentimento por mim foi apagado junto com a sua memória? - Paul comentou forçando uma careta fingida de mágoa.





-Não sei do que você está falando. - Estremeci quando seu corpo ameaçou se aproximar do meu, passeando sua mão por meu braço com delicadeza.





-Claro que não sabe. E é isso que me atiça mais. Você não lembrar de nada. É como se você fosse uma nova pessoa...Uma nova conquista...





-Olha, eu não sei o que houve entre nós e eu nem quero saber, mas não vai se repetir! - Menti descaradamente, me afastando dele e esquecendo dos salgadinhos na mesa.





Andei para trás, ainda encarando friamente Paul, quando meu corpo se chocou contra alguém, que segurou meus braços com duas mãos ferventes e suaves, que logo reconheci sendo as de Seth.

Me virei rapidamente para o abraçar e pelo canto do olho fitei Paul, que trincava o maxilar ante aquela imagem e murmurava algo que eu não consegui escutar, mas que deixou Seth nervoso.

Seu corpo começou a tremer violentamente e suas mãos apertavam minha cintura com certa raiva contida.

Senti um puxão forte no braço e uma voz de comando ecoar pela praia, cortando o som da música ambiente e estagnando todo o mundo.





-PARA A FLORESTA, OS DOIS! - Samuel ordenou, ainda segurando o meu braço e me mantendo atrás dele de forma protetora.





Nem Seth nem Paul olharam para mais nada nem ninguém depois daquele comando que não parecia de todo ser uma contrariedade para ambos. Parecia algo que eles realmente queriam e esperavam Samuel, o líder, ordenar.

Fiquei estática vendo os 3 partirem e um temor estranho tomou conta do meu coração. Quando dei por mim minhas pernas estavam se direcionando para a floresta, mas Sue Clearwater me impediu, ordenando com um só olhar que eu voltasse para a festa.

Indignada e preocupada a obedeci, mas ainda assim meu coração não deixou de povoar a minha garganta.


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A escuridão tomava conta do quarto juntamente com a insônia. Por mais que me revirasse na cama e fechasse os olhos forçando o sono, não havia meios de eu adormecer.

Bufei irritada puxando os fios de cabelo no meu couro cabeludo e fitei o teto vendo as sombras dos galhos das árvores se balanceando como um bailado sombrio, onde as folhas eram as personagens principais.

Minha mente era povoada com suposições descabidas que envolviam monstros de histórias infantis e se confundiam com a realidade.

O fato de não saber exatamente o que tinha acontecido na floresta no dia em que eu fora rejeitada por Paul me deixava num estado de nervos autêntico.





Uma parte de mim fingia acreditar na possibilidade de que as imagens que eu tinha visto fossem fruto da minha imaginação, outra parte indagava cheia de dúvidas se aquilo não teria sido real.

As imagens eram tão vívidas mesmo povoadas de borrões e falhas.

Eram dois lobos enormes, do tamanho de ursos quando andam sobre as quatro patas. Um negro como o ébano e o outro de um marrom avermelhado. Este último me chamava mais a atenção pela maneira como me olhava intensamente como se estivesse tentando falar comigo telepaticamente.

Essa simples lembrança deixava a minha pele agoniada. Aquele não era o olhar de um animal. Definitivamente.





Um uivo rompeu o silêncio da noite me fazendo sentar de imediato na cama e espreitar pela janela como quem busca algo. O vento forte não permitia distinguir as sombras. Mesmo assim minha mente continuou criando suposições sobre lobos gigantes.

Decidida a tirar essa história a limpo, me levantei da cama e vesti um conjunto moletom quente. Calcei minha pantufa e me agasalhei com um sobretudo cinza, descendo silenciosamente as escadas e saindo pelas traseiras da casa.

O vento soprava forte e barulhento, como quem assobia uma melodia funesta e agourenta.

Caminhei a passos contidos em direção à floresta, buscando com o olhar por alguma sombra suspeita.

Apesar da escuridão, a lua conseguia iluminar parte da entrada da floresta e quanto mais forçava os olhos, mais eu conseguia enxergar.

Escutei galhos se quebrando fazendo meu coração disparar; logo em seguida vi um vulto se misturando com as restantes sombras e eu tinha a certeza que não era uma pessoa.





Meio incerta fiquei tentada a adentrar a floresta e descobrir se o que eu vira tinha algum fundamento, mas estava frio e escuro demais para me aventurar.

Assim que me voltei senti meu ar ser roubado por um aperto forte e um cheiro agreste.





-Procurando o lobo mau? - Sua voz rouca e baixa soou ameaçadora.





Estremeci, me sacudindo para tentar me livrar do aperto de aço das suas mãos em torno da minha cintura.





-O que você está fazendo aqui? - Perguntei irritada.





Mesmo com aquele frio, Paul só vestia uma blusa de manga comprida e uma calça jeans e a temperatura do seu corpo permanecia extremamente alta.





-Passeando. - Olhou por cima do meu ombro, em direção à floresta. - Escuta, eu queria falar com você. - Falou num tom mais brando.





-Está tarde...





-Por favor. - Pediu com o seu olhar mais meloso.





Senti minhas pernas cederem juntamente com o restante do meu corpo, mas me mantive firme. Meus lábios secavam perigosamente ante a visão dos lábios dele, que se curvavam ligeiramente num sorriso sedutor.

Engoli em seco, comprimindo os meus olhos para afastar a tentação, e por fim me afastei.





-O que você quer? - Perguntei me mantendo a uma distância segura dele.





-Podemos ir para a varanda da sua casa? Lá ao menos estamos abrigados do vento. - Pediu com uma naturalidade desconhecida de si, como se ele fosse a pessoa mais calma, mais bondosa, mais correta do mundo, o que era um tanto irônico.





Nos guiei até debaixo do toldo de madeira e me sentei no último degrau, dos três que existiam. Paul se manteve de pé, socando as mãos nos bolsos.





-O que você queria me falar? - Perguntei indiferente.





-Queria me desculpar pelas minhas últimas atitudes. Acho que não tenho sabido lidar muito bem com a sua preferência. Antes você me idolatrava e hoje parece que você tem medo de mim.





Me custou uns segundos para assimilar aquelas palavras à pessoa que as estava dizendo. Se não fosse por seu olhar caído e triste eu diria que ele estava querendo me enganar...Mas, nesse momento ele me parecia minimamente sincero. Mas, talvez fosse apenas impressão minha.





-Eu não tenho medo de você. - Falei mantendo um contato visual seguro com ele. - Na verdade, eu só não gosto das suas atitudes. Você acha que pode ter todas as garotas que quer quando quer, e em parte isso é verdade, mas só as conseguirá conquistar de verdade quando se mostrar ser de confiança. E você não me passa confiança nenhuma.





-Entendo... - Respondeu pensativo. - Eu lamento muito o que aconteceu com você, na floresta.





-Você fala como se tivesse culpa. - Franzi o cenho, me fingindo de desentendida.





-Em parte...Foi por minha causa que você se perdeu na floresta. - Admitiu em tom culpado. - E eu lamento muito você ter se machucado por minha causa. Agi de forma ciumenta e de ego ferido, mas eu nunca quis te magoar. - Falou em tom baixo e meigo, baixando seu tronco em minha direção e acariciando meu rosto com o polegar.





Meu corpo tremeu ante o toque dele me fazendo morder o lábio. Seu hálito batia diretamente em meu rosto, me inebriando e embebedando com seu cheiro viciante e delicioso. Tudo o que eu queria era puxar o colarinho da blusa dele e tascar um beijo naquela boca carnuda, mas não o fiz. Pelo contrário, me levantei de imediato e me afastei dele antes que não conseguisse mais resistir.





-Está tarde. Melhor eu entrar. - Falei desconcertada o vendo sorrir de canto e se despedir.





-Durma bem .


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Durante a semana a não presença de Seth na escola me preocupou. Não o vira mais nem escutara notícias dele desde a noite de lual na praia e eu ficava me perguntando se estava tudo bem.

Com a falta dele, consequentemente minha mente andava muito mais dispersa e meus olhares bem mais perdidos na mesa da gangue... E não era por causa de Seth.





A visita estranha de Paul naquela mesma noite me deixou tão atônita que custava acreditar que aquilo tinha sido real.

Mas, as recentes atitudes dele demonstravam totalmente o contrário daquilo que ele era.





-Parece um santinho, . Até dá vontade de rir. - Nika comentou sobre o novo comportamento contido e educado de Paul.





-Pura encenação. - Roxie cruzou os braços descrente.





-As pessoas mudam. - Afirmei convicta.





-Paul não. - Negou veemente.





-Eu mudei. - Insisti.





-Você perdeu a memória. - Contrapôs me silenciando.





-Ele está olhando fixamente para cá. - Shannika me cutucou, mas eu me mantive quieta, sem olhar na direção dele.





Não queria dar a entender que eu estava impressionada com o seu súbito interesse por mim. E muito menos, queria dar motivos para as pessoas desconfiarem da minha falsa falta de memória.





Logo o sinal tocou ditando o final do intervalo de almoço e uma enchente de alunos se aglomerou nos corredores se dirigindo para as suas respectivas aulas.





-. - Escutei a voz de Paul me chamar, me fazendo respirar fundo e esperar que ele me alcançasse colocando-se na minha frente. - Então... Antes de você perder a memória você me dava explicações de Química e eu realmente estava precisando delas de novo. - Falou com carinha pidona e inocente.





-Eu não me recordo das matérias... - Bufei me sentindo encurralada.





-A gente podia tentar. Se você não conseguir, não insistirei mais. - Jurou cruzando os dedos e os beijando.





Seus olhos penetraram os meus com tal intensidade que eu não consegui desviar. Aos poucos ele ia encurtando o espaço entre nós e o mundo à nossa volta ia se desvanecendo.

Meu coração bombeou mais rápido, falhando uma ou duas vezes, especialmente quando meus olhos não se decidiam entre fixar os dele ou seus lábios.





-Te vejo mais tarde em minha casa. - Falei recobrando o juízo para o perder mais tarde.





Eu não estava mais aguentando tanta pressão e tanta tentação. Os banhos frios, as auto satisfações, as reprimendas e cortes, nada disso estava aplacando o desejo. Nem mesmo Seth e seus pegas. Eu não queria só pegas inocentes de um menino que ainda não sabia o que era ser homem. Eu queria as pegadas de Paul, decididas, autoritárias, intensas...

E Deus me ajudasse a conseguir resistir mais, pois parecia que o destino estava conspirando contra mim...E estava gostando.