Wild Heart









O sótão dessa casa era a minha torre, o meu forte, o local onde me sentia mais…sozinha. Mas sozinha num bom sentido. Um sozinha diferente de solitária.
Era aqui, na torre, que eu gostava de me refugiar quando a culpa caia sobre mim. Aqui era o meu céu, onde todos os meus pecados eram absolvidos e as lembranças do passado eram boas e não dolorosas, como costumavam ser.

Escutava a melodia que tocava na caixinha de música de minha mãe. Era uma melodia linda e tocante.

-Masquerade! Paper faces on parade…Masquerade! Hide your face, so the world will never find you ! Masquerade! Every face a different shade…Masquerade! Look around – There´s another mask behind you! – Cantarolei a letra da música “Masquerade”.

(Tradução: Mascarado! Rostos de papel em desfile... Mascarado! Esconda seu rosto, então o mundo nunca irá encontrá-lo! Mascarado! Cada rosto uma nuance diferente... Mascarado! Olhe em volta - há outra máscara atrás de você!)

Essa era uma de minhas músicas preferidas. A que mais me compreendia e com a qual mais me identificava. Porque o mundo era uma grande máscara que escondia a verdadeira face das pessoas.

Minha cantoria foi interrompida pelo som de um carro se aproximando. Corri para a bay-window e avistei uma carrinha velha e vermelha se aproximar da casa, vinda da estrada de terra.
Estreitei meus olhos, tentando focá-los melhor, para perceber quem estava chegando.
Provavelmente Tessa já havia me dito, mas eu camuflava todos os sons que eu não queria escutar. Gostava de silêncio e tudo o resto era escusado para mim.

Quando a carrinha de caixa aberta - cheia de malas, por sinal – parou por fim e a primeira pessoa saiu do carro, senti meu corpo aquecer confortavelmente e um pequeno vazio em meu coração ser preenchido. Consequentemente um nó se formou em minha garganta e uma lágrima rolou por meu rosto.

-Cassie. – Murmurei acariciando o vidro e me permitindo a um pequeno sorriso.

Observei Cassie abraçar Tessa, que não parecia surpresa com sua visita. Talvez ela soubesse mesmo da vinda de minha irmã.
Me culpei por não ter captado e capturado a mensagem de aviso de Tessa sobre a vinda de minha irmã, mas logo me alheei dessa culpa. Cassie estava aqui e isso era tudo o que importava.

E então todo o meu mundo parou. Vindo de não sei onde, ele surgiu com um sorriso devastador.
Ele era surreal. Sua beleza, sua forma, seu sorriso…Ele parecia um Deus Grego ou um anjo, e mesmo assim nenhuma das comparações pareciam ser suficientes.
Um corpo master, adornado dos mais bem delineados músculos; uma pele morena que reluzia com a luz do sol; um olhar negro e profundo, que se rasgava em um sorriso de se fazer perder a respiração.
Ele parecia uma miragem.

Não sei quanto tempo passou desde que eu o começara admirando. Seguia todos os seus movimentos com extrema atenção; completamente hipnotizada e viciada.
O vi regressar à carrinha e isso me fez sentir um nó maior crescer em minha garganta, como sinal de medo que ele fosse embora. Mas não. Pelo contrário. O anjo, como eu o preferira intitula, se dirigiu à caixa do carro, abrindo a comporta traseira e descarregando todas as bagagens.
E num segundo de lucidez eu retornei à realidade. Ele tinha vindo com minha irmã.

- ! – A voz de Cassie ressoou atrás de mim como uma chamada de atenção ansiosa.

Eu me virei rapidamente, a olhando por alguns segundos – tempo o suficiente para ter certeza que ela era real – e corri em sua direção, a arremessando e sendo arremessada em um abraço carregado de saudade.

-Você voltou. – Solucei, me apercebendo que já chorava. Como eu era tão fraca

Cassie nada respondeu (e eu sabia bem o que isso significava), se ficando apenas pelo forte abraço, as carícias em meus cabelos e os cicios calmantes de sempre.
Quando por fim me acalmei e controlei o choro, Cassie se separou de mim, segurando meu rosto em suas mãos.

-Como você está? – Ela questionou enxugando as lágrimas que banharam o meu rosto.

-Com saudades. – Confessei, me permitindo a esse momento, mesmo que expor meus sentimentos fosse algo muito difícil para mim, mesmo se tratando de minha irmã.

-Eu também, minha pequena. Mas agora eu estou aqui. Vou cuidar de você, está bom?

-Não por muito tempo. – Murmurei para mim, baixando meu olhar.

-Ei. Olha pra mim. – Ela exigiu, pressionando meu rosto para cima em suas mãos. – Eu não quero voltar a escutar isso de você, OK? Não mais! – Exigiu convita. – Vamos parar com drama, ! Nada vai acontecer com você. Eu não vou deixar, mocinha! – Me repreendeu, se garantindo, em tom zangado, de que tudo ia ficar bem.

Eu não tinha tantas certezas, mas apenas baixei meu olhar de novo em um consentimento mudo e forçado.
Mas meu olhar captou algo a mais. Algo que brilhou em sua mão esquerda.
Meio surpresa, peguei em sua mão e olhei demoradamente para ela, tentando assimilar o significado daquelas duas alianças no dedo anelar. Uma continha um solitário e a outra era simples, muito parecida com as dos casamentos. Essa constatação me fez engolir uma pedra.

-Você casou? – Minha voz soou falha e as lágrimas voltaram a embaçar meus olhos.

- , eu posso explicar… - Tentou falar mas eu a cortei.

-Você casou e não me disse nada? Você casou e nem me mandou convite? Que tipo de irmã é você, Cassidy? Porque você insiste em fazer isso comigo? Porquê você insiste em me abandonar, me deixar pra trás como se eu nunca tivesse feito parte de sua vida? – Eu discutia com ela, nervosa, caminhando de um lado para o outro e gesticulando exageradamente.

-CHEGA! – Ela gritou me paralisando por completo. – Se você quer mesmo saber todos os porquês, eu digo, . – Agora era ela que estava nervosa, passando os dedos pelos cabelos, os puxando. – Cansei! Cansei de ver você destruindo sua vida e querendo destruir a minha! Eu precisava de sumir no mundo, me afastar de você pra ser feliz! E se quer saber. – Parou de caminhar e de puxar os cabelos e me olhou com os olhos vermelhos. – Eu estou muito feliz, mana. Finalmente. – Despejou sem comedimento.

-SAI DAQUI! VAI EMBORA! SAI DAQUI! – Eu gritava, empurrando Cassidy para fora do meu forte.

Eu não iria permitir que ela destruísse o meu lar. O único lugar onde me sentia segura.