Wild Heart







PARTE IV – Garota do coração partido [Ver letra e tradução]

-Agora você devia tomar um banho e depois comer alguma coisa. – Cassie me falava mas eu pouco prestava atenção.

Me focava apenas no anjo que havia saído há pouco mais de um minuto. Ele parecia incomodado com algo…comigo.
O jeito que ele me olhava era um misto de raiva e preocupação que eu não conseguia bem entender. Como se ele tivesse vontade de me desprezar mas algo mais forte o compelisse a se preocupar comigo. Algo inexplicável.


Ou talvez não. Talvez ele sentisse pena de mim e isso o obrigasse, moralmente, a se sentir preocupado. Mas porque razão ele sentiria raiva de mim? Foi alguma coisa que eu fiz? Algo que eu disse? Nós mal nos conhecemos!
Não. Simplesmente sou eu. Eu sou o problema. Essa é a razão de tudo.

-! Você está me escutando? – Cassidy me chamou à atenção e eu assenti em silêncio a olhando de relance. – Coma esse prato de guisado que a Tessa acabou de trazer. - Ela suspirou me estendendo um tabuleiro com um apetitoso jantar.

Mas por mais gostoso que me parecesse, eu não tinha vontade alguma de o comer. Meu estômago estava embrulhado. Só que sabendo bem como minha irmã era, preferi comer o prato por minha própria vontade.
Ao fim de umas sete garfadas eu empurrei o prato e fiz uma careta, passando a mão na barriga, insinuando que estava satisfeita.
Cassie não insistiu e saiu em seguida com o tabuleiro, me deixando sozinha no quarto. Olhei em volta e notei um porta-retratos no criado mudo do outro lado da cama. Me deitei sobre ela e estiquei o braço, alcançando o retrato e olhando para ele como se mais nada em minha volta existisse, sentindo uma pontada anormal no peito.
O olhar de ambos era tão apaixonado que chegava a doer. E a felicidade de estarem juntos…não podia ser mais explícita. Era invejável o relacionamento de ambos e eu me sentia uma intrusa perto dos dois.

-Desculpe não ter convidado você. – Cassie lamentou me olhando do batente da porta. Eu apenas lhe sorri.

-Tessa já deve ter preparado meu banho. – Desviei de assunto, pousando o retrato no criado mudo e saindo da cama para voltar para o meu quarto.

Cassie me acompanhou em silêncio. Subimos as escadas para o sótão e entramos em meu quarto, onde a um canto estava uma enorme banheira redonda, feita de madeira, como as da idade média. Eu tinha um enorme apreço por aquela banheira, que pertencera um dia a uma tatara-tatara avó minha, que havia sido amante de um rei que eu nem decorei o nome.

Sempre que eu tomava banho naquela banheira, Tessa fervia litros de água perfumada com pétalas de rosas, alfazema e eucalipto, e depois me banhava, como se fazia antigamente. Nessas alturas eu me sentia amada, querida…me sentia uma princesa.

Cassie me ajudou a despir minha roupa e a entrar na enorme bacia e se sentou na borda para me banhar. Pegou na jarra de porcelana e a encheu de água, a despejando sobre mim em seguida.

-Lembra quando eu te banhava quando você era pequena? – Ela questionou com um sorriso saudoso.

-Hunhum. – Assenti sem vontade alguma de recordar o passado.

-Você só gostava que eu te banhasse. Nem mamãe nem Tessa o podiam fazer. – Riu de suas lembranças me fazendo engolir em seco. – Você odiava esse sótão. Sempre teve medo de subir aqui e agora ele é o seu lugar preferido. – Comentou casualmente, me fazendo apertar os punhos e cravar as unhas na carne das pernas.

-Pare. Por. Favor. - Pedi em um sussurro, comprimindo os olhos por breves segundos e inspirando fundo, sentindo meu peito se corroer pela dor das recordações.

-Me perdoe. Eu sei que ainda lhe custa falar sobre nossos pais… - Ela interrompeu seu discurso, tornando a me banhar depois de ter feito o processo automático de me ensaboar com sabão de aloé vera enquanto tagarelava.

Eu queria gritar, dizer que ela não sabia de nada do que eu sentia. Que ela não estava cá, nem nunca esteve! Que ela não passou tudo o que eu passei! Ela dizia que lamentava, mas ela não sabia o quanto EU lamentava por ela não ter estado cá e sentido na pele o que eu senti.
Respirei fundo afastando esses pensamentos maldosos e desejos que eu não devia de querer nem para o meu pior inimigo.

-Me deixe só. – Pedi a fazendo parar suas ações.

Cassie hesitou em sair, mas poucos minutos depois se encaminhou para a saída, parando na porta.

-Me perdoe por ser uma má irmã. – Murmurou quase para si e eu fingi nem escutar, esperando apenas que ela saísse de uma vez.

Seus lamentos me eram indiferentes pois ela sempre teria algo bom para recordar em sua vida. Seu passado, seu presente, seu futuro e, principalmente, seu marido. O meu anjo.