Wild Heart







PARTE IV – Plástico Bolha [Ver letra e tradução]

O vento frio que soprava e chicoteava meu focinho era cortante. As temperaturas haviam caído drasticamente desde que anoitecera e se eu fosse um humano normal, não estaria resistindo a essas condições climatéricas. Esse pensamento me preocupou. Em que condições estaria essa tal de quando eu a encontrasse? Se eu a encontrasse

A preocupação tomou conta de mim e a raiva que antes sentira por essa garota começava se dissipando. Ela era um ser humano como outro qualquer, que nesse momento estava precisando da minha ajuda. Um protetor do povo, é o que eu sou.

Além do que Cassie tinha razão. Eu não podia culpar da dor de minha esposa sem saber os motivos, e nem julgá-la sem conhecê-la primeiro. E esse era um facto. Desde que chegara ainda não a vira. As típicas fotos de família, que deviam de haver pela casa, eram inexistentes e Cassie nunca me havia falado da existência de uma irmã. O que só baralhava mais minha cabeça. Que segredos Cassidy estava escondendo de mim?

Abanei o focinho afastando os pensamentos e perguntas que só ela me poderia responder. Precisava me concentrar ao máximo. Apurei meus sentidos lupinos. Minha visão nada via para além de mato e árvores. Meu olfato só captava o cheiro de pinheiro e eucalipto. E meus ouvidos escutavam o corujar da coruja, o cricri dos grilos e o relinchar de um cavalo.

Cavalo? Pensei. Um cavalo solto por essas bandas só pode indicar que estou perto. Concluí acelerando a corrida, cravando as unhas no solo e fazendo sulcos de terra, grama e pó voarem pelo ar.

Meus olhos tentavam sincronizar com o que eu ouvia, me encaminhando na direção certa. Em menos de cinco minutos estava alcançando o animal. Este se assustou com o meu porte e em um gesto defensivo começou recuando e erguendo as patas dianteiras, para tentar ficar maior que eu. Olhei no fundo dos olhos dele, de forma ameaçadora, mas respeitadora também. Ele tinha de perceber que eu não o iria atacar, mas que também não iria recuar por medo.

Segundos se passaram quando o cavalo parou de erguer as patas e de recuar, se ficando apenas pelos relinchos, que iam diminuindo de volume. Ele estava confiante, mas não gostava de ‘dar o braço a torcer’, figurativamente falando.

Depois que se acalmou, comecei recuando devagar, até chegar em uns arbustos altos para me destransformar. Senti um fogo percorrer o meu dorso e a sensação de meu corpo se contraindo e diminuindo até a forma humana. Desfiz o nó das roupas que havia feito no tornozelo e vesti rápidamente apenas minhas calças.
Caminhei de volta até o cavalo, lentamente, sempre olhando em seus olhos mel, em contraste com seu pelo escuro. Era o animal mais lindo que alguma vez havia visto. Uma beleza selvagem e fora do normal. O animal relinchou estranhando minha nova forma, mas havia me reconhecido.

-Ei, onde ela está? – Questionei em um quase sussurro.

O cavalo tornou a relinchar e recuou para trás, me dando uma visão privilegiada da lagoa, que só agora me havia apercebido que existia. A princípio não entendera o que ele estava tentando me mostrar, mas quando avistei o pequeno barco a remos entendi de imediato.
Não hesitei em despir as calças jeans em um ápice e me atirar nas águas geladas, nadando apressado. Quando alcancei o barco me empoleirei sobre ele para ver o estado da garota. Esta estava inconsciente e, se não estivesse tremendo de frio, diria que estava morta. Seu rosto pálido, os lábios roxos e o coração mal batia.
Então ela começou se debatendo, como se lutasse contra algo invisível. Talvez sonhando. Estiquei meu braço e toquei em seu ombro a abanando de leve. Ela abriu seus olhos verdes em um fraca fresta, como se ela realmente não me estivesse vendo, e uma enorme vontade de protegê-la e cuidar dela me acometeu.

-Vai ficar tudo bem. – Murmurei acariciando seus longos cabelos ondulados, com mechas mescladas de vários tons de castanho. Desde o mais claro ao mais escuro.

Apesar de estar em um meio-termo entre a consciência e a inconsciência, ela me escutou e se acalmou. Busquei pela corda do barco e o envolvi em uma espiral em torno do meu braço, nadando de volta até o dique. Prendi a corda num dos cabos de madeira do dique e subi na passadeira, retirando do barco com todo o cuidado. Ela estava muito sossegada, sossegada demais, e o som de seu coração era fraco, quase como um sopro do vento.

-Eu preciso aquecê-la. – Falei para mim, a pegando no colo e envolvendo seu corpo contra o meu, desnudo.

Aos poucos as tremedeiras diminuíram e o coração começou batendo mais forte, mas ainda não o suficiente. Me ergui do chão a carregando em meu colo e caminhando na direção do cavalo.

-Você me ajuda aqui? – Pedi olhando nos olhos dele.

O cavalo, entendendo meu pedido, fez uma curveta, se deitando no chão em seguida, me permitindo colocar sobre a sela. Desfiz o nó das rédeas e depois me virei para ele.

-Me espere que eu só vou vestir minhas roupas. – Pedi e ele permaneceu deitado sobre as patas enquanto eu completava a ação.

Em seguida subi na garupa, ajeitando em meus braços, e bati com as esporas do estribo no lombo, o fazendo se erguer e começar a trotar. Aconcheguei melhor em meus braços, a mantendo quente e incitando o cavalo a galopar quando bati as rédeas em seu dorso.


Em cerca de uma hora de viagem chegamos a casa. Tessa e Cassie correram até nós, me ajudando a descer do cavalo.
Depois de desmontar foi tudo muito rápido. Ele fugiu para longe, a galope, sem que eu o pudesse apanhar. Mas por hora não me preocupei com isso. Carreguei para dentro, subindo em direção ao quarto de Cassie.

-Precisamos aquecê-la. – Alertei e Cassie se colocou na cama, estendendo os braços, me pedindo a irmã de volta.

O desespero em seu rosto era cortante e quando teve em seus braços foi como se estivesse acordando de um pesadelo. Cassie embalava a irmã como se ela fosse um pequeno bebê, frágil e indefeso.
De repente a garota tornou a se debater e começou a chorar.

-Não, não! Cassie não! NÃO! – Gritou abrindo os olhos por fim.

-Calma, shhhhuuu. Foi só um mau sonho. Eu estou aqui. – Minha esposa a acalmou, controlando suas lágrimas e continuando a embalá-la.

se abraçou forte à irmã, chorando copiosamente. Aos poucos ia se acalmando e então seus olhos se encontraram com os meus, e de novo aquela sensação de proteção para com ela me assaltou. Como se o dever de cuidar dela e de proteger ela fossem maior que tudo o resto.
Tessa surgiu no quarto com um punhado incontável de comprimidos e os deu todos a Cassie.

-Eu não quero! Eu não quero tomar! – se recusava.

-Não vamos discutir esse assunto, ! – Cassie respingou, estendendo o punhado de comprimidos e o copo com água.

A garota os tomou a contragosto, me olhando de relance uma última vez. Eu me ergui do meu canto e saí do quarto, caminhando até um banheiro.
Precisava de uma ducha quente. Urgentemente!

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