Wild Heart







PARTE III – Eu estou aqui [Ver letra e tradução]


Abri meus olhos depois de, sem me dar conta, ter adormecido no meio do barco, mas uma luz me cegou.
Teria já amanhecido? Me perguntei ao tempo que senti sendo transportada.
Meu barco estaria navegando?
Tentei erguer minha mão, para tapar parcialmente a luz que me cegava, mas algo prendia meus braços. Pressionei meus olhos para focá-los e quando olhei em volta percebi que não estava sozinha e muito menos que estava no meio da lagoa.
Homens de batas e máscaras cirúrgicas me rodeavam e eu estava sendo transportada por um corredor.
Baixei meus olhos e percebi que tanto minhas mãos quanto meus pés estava amarrados nas barras de ferro da maca.
Tentei puxar por eles, mas estavam completamente presos. Comecei me desesperando e me debatendo até que senti uma mão escaldante tocar meu ombro.

-Vai ficar tudo bem. – O anjo me segredou acariciando meus cabelos.

Aos poucos fui me acalmando e me sentindo fraca também. Muito fraca. Como se meus sentidos se estivessem desvanecendo.
Meu corpo estava dormente e minha visão começava ficando turva e os sons pareciam ficar cada vez mais afastados, como se eu estivesse no fundo de um poço. E meu coração parecia prestes a parar.
Comprimi meus olhos, me concentrando apenas no calor que o anjo emanava para mim. Isso me fazia querer lutar por mais um pouco de resistência e me manter acordada.
Entreabri um pouco meus olhos quando senti a maca bater contra algo e percebi que passávamos por umas portas giratórias e entrávamos em um bloco.
Os enfermeiros cortaram as cordas de linho, que prendiam meus membros, e me transferiram para uma outra maca.
Não conseguia perceber o significado daquilo. O que estava eu fazendo ali? O que teria acontecido comigo no meio tempo em que adormeci no barco no meio da lagoa? Quanto tempo teria passado? Onde estava minha irmã?

Olhei para o lado e vi uma cortina feita de material hospitalar me separar de uma outra maca, onde, eu percebi, estavam operando outra pessoa.

-Carga! – Escutei um médico vozear e um som parecido com o de um choque soar em seguida, junto com o som de um corpo batendo contra a maca.

-Aumentem a voltagem para 250 volts. – O médico pediu. – Afastem-se. Carga! – Os sons anteriores se repetiram.

-Continua a zero. – Uma enfermeira comentou.

-300. – Pediu o médico sem querer desistir. – Carga! – E de novo os sons.

Depois de uns minutos de silêncio a enfermeira informou: - Hora de morte: 22h15. – Sua voz soava seca e pesarosa. Como se não quisesse admitir que, quem quer que fosse, tivesse morrido.

Então a cortina foi afastada e os meus olhos perderam o foco ao ficarem embaçados pelas lágrimas que culminaram. O meu coração, que estava fraco, deu um forte solavanco em meu peito e os soluços presos na garganta se tornaram audíveis.

-Não, não! Cassie não! NÃO! – Gritei me debatendo contra alguém que me agarrava, acordando de um pesadelo.

-Calma, shhhhuuu. Foi só um mau sonho. Eu estou aqui. – Cassie sussurrou, me mantendo em seus braços e eu me agarrei a ela, a abraçando forte e chorando aos prantos.

Meu rosto permanecia colado no peito de Cassie, escutando seu coração bater forte e meus olhos encaravam aquele anjo que nem em sonhos me abandonou. Ele me olhava com confusão e dúvidas, além de compaixão e…pena. Engoli em seco. Eu não precisava de pena de ninguém.

Tessa se aproximou de mim com um copo de água e alguns daqueles malditos comprimidos. Depois de ter recusado e de ter sido repreendida por minha irmã, acabei os tomando a contragosto, voltando a deitar no colo de Cassie, soluçando, enquanto ela afagava meus cabelos.