Wild Heart







Parte VI – Estou com você [Letra e Tradução]

Sem nem saber como, iniciei uma conversa boba com Jacob. Me espantava de verdade a forma natural com que ele dizia que Diana era mansa e que o tinha deixado montá-la, mas no final eu consegui compreender. Eu e Diana tínhamos uma conexão muito forte. A minha história com ela era de pura amizade e compreensão.
Foi ela que me salvou da morte no dia em que meus pais morreram e desde então ela tem sido minha fiel companheira. Preferiu permanecer do meu lado e me proteger sempre, a voltar para a sua manada de cavalos selvagens.

Mas de repente, sem nem eu bem entender porquê, Jacob se afastou apressado de mim, como se fugisse e por mais que eu quisesse apartar a sensação de que era eu quem o repelia, isso me era impossível.
Muito havia mudado desde que ele chegara. Eu ganhara uma força interior que eu pensava nem existir dentro de mim e conseguira erguer uma camada, ainda que muito ténue, de confiança e segurança em torno de mim, mas ela era muito fina e qualquer coisa a abalava. Essa atitude de Jacob abalou essa minha camada e eu senti de novo um vazio dilacerante no peito.

Diana relinchou, chamando a minha atenção, e eu olhei-a com pesar. Ela abanou o focinho na minha direção, fungando sobre o meu rosto, como se tentasse me reconfortar. Lhe sorri de leve e continuei acarinhando seu focinho.


-Ele é especial, não é? – Perguntei num sussurro e ela relinchou baixinho, batendo com um dos cascos sobre a terra batida. – O que está acontecendo comigo, Di? Porque eu me sinto desse jeito quando estou perto dele? Porque eu só consigo pensar nele quando ele não está por perto? Porque eu sinto uma fagulha de felicidade querendo atear em meu peito? Ele me deixa tão bem só com um simples olhar…e o seu sorriso de sol, nossa, parece iluminar um caminho em meio a toda a minha escuridão. Seria prudente deixá-lo entrar? – Iniciei uma redoma de questões que apenas o silêncio me poderia responder. E à última questão, coloquei a mão no peito, suspirando pesadamente e sentindo uma pequena gota cair de meu olho. – Não seria justo com ele. Mas…e se ele já souber de tudo? – Me questionei em pânico. – Ele deve me odiar! – Exclamei desesperada, inundando o rosto de lágrimas de aflição.

Diana relinchou e bafejou sobre o meu rosto, como se quisesse me acalmar e como se tentasse me dizer alguma coisa que eu não poderia entender. Diana se agitou e começou dando coices no ar, se afastando de mim e relinchando cada vez mais alto, como se chorasse junto comigo.
Trepou a cerca e tentei me aproximar da Di, com o máximo cuidado.

-Calma, Di, calma. Está tudo bem. Eu estou bem. – Tentei lhe garantir, mesmo que meu coração estivesse desfeito em pedaços.

Ela tornou a se aproximar, se colocando sobre as patas e deitando no chão. Me sentei perto dela, deitando a cabeça em seu lombo e me deixei ficar assim, no conforto e calor da minha égua.


Não sei quanto tempo passou até que eu fui acordada. O alvorecer do dia já despontava no horizonte e Tessa fazia sombra na minha frente, me cutucando o ombro.

-Está ficando tarde. Venha para dentro. – Ela solicitou.

-Está bem, mas se afaste da Di. – Pedi, percebendo a atenção com que Diana olhava para Tessa e bafejava arreliada.

Tessa assim obedeceu e saiu da cerca e voltou para dentro de casa. Encaminhei Diana de volta para o estábulo e a coloquei no seu resguardo.

-Volto logo, eu prometo. – Garanti, a beijando de leve e me afastando.

Assim que entrei dentro de casa, fui até o banheiro comum que havia ali perto da sala de estar e de seguida fui para a sala de jantar, onde todos já me esperavam.
Sentei no lugar em frente a Jacob, que estava cabisbaixo e calado, evitando me olhar. Cassie não estava também com a melhor das caras e, de igual forma, se recusou a olhar pra mim.
De novo a sensação de que eu havia feito algo de errado me corrompeu a membrana de segurança e paz que ainda me restava. Sentia a todos os segundos um bolo doloso se formando em minha garganta, me impossibilitando de engolir direito o que comia e me tirando toda e qualquer fome.

Tessa, a certa altura do jantar, trouxe meus remédios e percebi um olhar condescendente e curto de Jake sobre os incontáveis comprimidos dispostos sobre o meu guardanapo.
A custo os engoli um a um, mas uma questão então se formou em minha mente. Porque eu tomava esses comprimidos? Eu já não tinha mais pesadelos, não tinha mais surtos, não tentava suicídio, não agredia ninguém…talvez só precisasse dos comprimidos para a depressão.
Tomei então a decisão de que esta seria a minha última vez que tomava todos aqueles comprimidos. E resolvi dizê-lo em voz alta.

-Tessa, eu não preciso mais tomar todos esses comprimidos. Há meses que eu estou bem. – Falei firmemente, olhando o rosto de Tessa, que olhou para Cassie.

-O Dr. Scott indicou a toma de todos eles, sem exceção, . – Cassie respondeu.

-O Dr. Scott não me examina há meses. – Rebati.

-Mas ele prescreveu receita para 6 meses. – Ela insistiu.

-Então está na hora de ele voltar a me examinar. Eu não preciso mais desses comprimidos.

-O Dr. Scott está fora da cidade. – Tessa se manifestou.

-E quando ele volta? – Questionei.

-Daqui a 4 meses. – Informou.

-Se eu precisasse desses comprimidos todos, com certeza ele não me deixaria dois meses sem eles e teria prescrito as receitas para 8 meses, ao invés de 6…ou será que é você que os está prescrevendo, Cassie? Afinal você é médica. – Ataquei minha irmã que me olhou escandalizada.

-Sou pediatra. Não estou autorizada a prescrever esses remédios! , você está querendo me acusar de alguma coisa? Porque é melhor você ter provas! – Elevou seu tom de voz.

-Não estou te acusando de nada. Apenas pensei que você me pudesse prescrever as receitas enquanto o Dr. Scott não estivesse mais cá. – Mudei minha tática.

-Lamento mas não poderei fazer isso. Teremos de procurar outro médico. – Pigarreou, baixando o olhar para o prato e tornando a jantar.

-Então poderei ser examinada por outro médico e ele verá que eu não preciso mais desses remédios todos. – Sorri triunfante e Cassie se engasgou.

-Eu…eu…c-claro. – Ela afirmou gaguejando.

-Ótimo. Amanhã mesmo procurarei outro médico. – Determinei.

Percebi Jacob olhando de forma desconfiada para Cassie, que se recusava olhar para qualquer um de nós. Tessa já se havia retirado da sala, bem no início da nossa pequena discussão.
As coisas começavam ficando cada vez mais claras para mim e mais cedo ou mais tarde eu perceberia o que estava se passando nas minhas costas.
O jantar logo terminou e cada um tomou o seu rumo.
Subi para meu quarto e troquei de roupa para uma mais quente. Iria dormir junto de Diana essa noite.