Wild Heart







Parte XII – Cama do Rei da Califórnia [Letra e Tradução]


Depois da consulta de ontem eu me tranquei em meu quarto. Cassie e Tessa passaram o dia batendo em minha porta, mas eu as ignorei. Apenas permaneci deitada em minha cama, abraçada a meu diário, passando em um filme lento e doloroso de todo o meu passado.
Entre essas imagens sempre surgia uma de Jake, me reconfortando e me trazendo paz. Sues olhos negros sempre invadiam minha mente como se espantando toda a minha escuridão e domando meu coração corroído pela dor e culpa.


Depois que reabri os olhos vi que um novo dia espreitava pela janela. Não hesitei em me levantar e sair logo daquela casa, sem dar uma única palavra a minha irmã.
Fui até a estrebaria e peguei em um cavalo manso para levar até a cidade. Diana não gostava de movimento nem de pessoas, não seria uma boa levá-la comigo.
Galopei apressada e em menos de 10 minutos cheguei ao consultório de Sam.
Ela me esperava na porta com uma caneca fumegante de café nas mãos e um sorriso doce nos lábios.
Corri para seus braços e me aconcheguei neles. Me senti em casa de novo.

-Vem, vamos entrar. – Indicou ternamente, me cedendo passagem.

Me acomodei no divã com o diário em mãos e nem hesitei em o abrir.

-Ei, ei, ei…não precisa de ter pressa. Tudo no seu ritmo. – Samantha me pediu.

-Quanto mais rápido eu me livrar desse pesadelo, mais rápido serei feliz. – Sussurrei, abrindo o diário em uma página marcada e preparando meus lábios para a soletrar.


Estou com ânsias de vômito. Queria ter podido evitar ver o que vi.
Depois de ter ficado de castigo por não usar sutiã por baixo das minhas blusas, eu resolvi pedir um emprestado a Cassie. Ela não estava no quarto quando lá cheguei e meus pais estavam fora.
Me enfiei dentro do closet vasculhando por um sutiã que me servisse quando escutei uns risinhos vindos do quarto. Fui até a porta do closet ver quem era e mal pude acreditar quando vi Max deitado por cima de Cassie, sem roupas. Nenhum dos dois.
De início não entendi o que aquilo significava, mas quando a escutei gritar eu me assustei. Max estava fazendo mal a ela e eu sem puder fazer nada. Porque simplesmente paralisei.
Fiquei assistindo Max machucar minha irmã até o fim, derramando lágrimas, mas no final fiquei ainda mais sem palavras.

-Eu te amo. – Escutei minha irmã dizer com um sorriso nos lábios, depois do que ele lhe tinha feito.

Max não pareceu muito satisfeito com essas três palavras porque se levantou e catou suas roupas. Cassie o agarrou, mas ele a enxotou. Os dois brigaram e ele acabou esbofeteando minha irmã.
Contive um gemido solidário e observei Max se desculpar e jogar as roupas de novo para um canto, tornando a fazer mal a minha irmã. Um mal que ela estava gostando.”

Desviei mais uma folha, procurando por um trecho mais explícito e por fim o achei.
Respirei fundo e engoli o bolo que se formava na minha garganta.

Cassie está furiosa comigo.
Estou escondida no sótão da casa, o local que mais me dá medo, porque sei que esse é o último lugar que ela me irá achar. Meu aniversário de 14 anos é amanhã e eu só quero poder cancelar tudo. Cassie me odeia!
Por mais que eu jure que não fiz nada ela não acredita em mim. O simples fato de me ter visto nua no quarto de Max, com ele por cima de mim, bastou a ela para acreditar que eu estava tentando roubar seu ‘namorado’ quando na verdade é ele que está querendo me fazer mal.
Me custa lembrar como fui tão burra em ter aceitado ir com Max até seu quarto, com o pretexto de pegar o presente de meus pais. Como se meus pais fossem guardar o presente no quarto de Max.
Quando ele trancou a porta percebi que não tinha saída. O medo me dominou e me fez obedecer a tudo o que ele pedia.
E logo nossas roupas estavam no chão.
Pensei que estava perdida de vez, meu corpo se retorcia de nojo de seu toque…mas Cassie apareceu. Ela tinha uma chave suplente do quarto de Max e nos apanhou em flagrante; como ela gritou. Sua fúria foi tão grande que ela saltou para cima de mim, me estapeando e puxando meus cabelos. Mas ela mal sabia que acabara de me salvar.”

Era difícil perceber que estava tão perto de toda a verdade. Sam tinha razão. Eu não conseguia me livrar desse pesadelo tão rápido assim. Sentia como se meu estômago estivesse levando socos consecutivos, me fazendo nausear e por fim correr para o banheiro e vomitar.

Sam me reconfortou, segurando meus cabelos e sussurrando palavras acalentadas de carinho.
O resto da manhã passamos na companhia uma da outra, falando banalidades e comendo bolinhos, como meio de me fazer distrair das palavras daquele diário.

Depois retornei a casa, com o coração mais destroçado que antes, se era possível. Estava abatida, mas quando entrei no hall e vi aquela figura tão imponente e que me dava tanta paz e segurança que julguei até que fosse miragem.
Mas assim que seu rosto se voltou e seus olhos cruzaram os meus, eu soube que ele era real. Corri ao alcanço de seus braços e me joguei neles, o abraçando forte, ignorando os olhares inconvenientes de Cassidy e Tessa.
Ele estava ali…de volta a mim.