Amanhecer-Novos Rumos







Revelações
As Nuvens não cobrem mais o Céu
A Lua se revela na Noite
As Estrelas gritam histórias
O Céu conta segredos
Todas as revelações são feitas ao Universo
E não há mais Nuvens que as possam encobrir
(BabySuhBR)


Tom me ajudou a descer do carro e logo eu estava rodeada de pessoas querendo me abraçar e cuidar de mim. Mas de entre todos o único que eu procurava e queria naquela altura era Embry.
Olhei para trás e o vi afastado. Mãos socadas nos bolsos, olhar vago e baixo, como que evitando qualquer contato visual.

-Eu acho que está na hora de contarmos a ela. – Henry falou e vi alguns assentindo.

Embry foi se aproximando aos poucos e eu senti meu coração se apertando, como se que o que eu fosse escutar não fosse nada bom.
Nos encaminhamos para dentro de casa, mas apenas alguns de nós.
Emily levou Tom para um passeio e outros rapazes também dispersaram. Dentro de casa ficamos apenas Sam, Leah, Henry eu e Embry que entrou bem no final, quando todos já estávamos acomodados. Mas ele não veio se sentar ao pé de mim, ficou apenas no batente da porta, escutando os outros iniciarem um diálogo.

-., o que vai ser dito aqui não pode ser revelado a ninguém. É um segredo que pertence a essa tribo e que nem todos os habitantes conhecem. Este segredo não deveria de estar sendo revelado a você, mas devido a determinadas circunstâncias que envolvem você, nós resolvemos abrir essa exceção. – Sam advertiu polidamente e de seguida se sentou num canto mais afastado do sofá.

-Filha, nós vamos precisar que você tenha a mente aberta ao máximo e que se mantenha calma. Não é algo fácil de acreditar, mas acredite em mim, é a mais pura das verdades. Eu sei disso porque eu vi com os meus próprios olhos e por isso te garanto também que estamos em segurança e nenhum perigo te ronda, ok? – Papai falou e eu fiquei um pouco apreensiva.

-Papai, falando assim você quase me assusta. Que segredo é esse? – Perguntei olhando todos em volta, incluindo Embry, que se mantinha afastado e calado.

Podia ver em seu rosto expressões de dor que eu não podia decifrar. Ele estava sofrendo e eu não entendia o motivo. Talvez se eu escutasse abertamente o que tinham para contar eu pudesse entender melhor.

-Todas as tribos indígenas têm as suas lendas. Muitas delas foram esquecidas, mas aqui em La Push todas se mantiveram vividas e passadas de geração em geração, até porque a própria lenda em si, não permitia que a esquecêssemos. – Leah começou com um tom de voz erudito, como se o que falasse cobrasse o maior respeito dela. – Essa lenda se torna real por consequência da aproximação de seres que ativam essa lenda em nós. – Falou olhando para Sam e Embry e apontando para ela. – Diz a lenda que antes de Washington ser tomada pelos brancos ela era habitada por grandes guerreiros de origem Quileute. Havia outras tribos, mas nenhuma era mais importante que os Quileutes.
»Eles eram hábeis caçadores e grandes lideres e o seu chefe, Taha Aki, era um grande homem bastante sábio e respeitado por todos os outros chefes de outras tribos de Washington. Ele presava pela paz e harmonia entre todos e além disso era alguém bastante próximo aos Deuses. Tanto era que lhe foi concedida a honra de se comunicar com eles através do seu espírito e a eleger outros membros da tribo para fazerem parte do seu concelho e a ter também o privilégio de, através dos seus espíritos, se conetarem com os Deuses. Mas entre eles havia um membro ambicioso que queria usar essas habilidades ganhas para uso pessoal.
»Quando estavam em forma de espíritos, os guerreiros conseguiam escutar as mentes uns dos outros e assim Taha Aki descobriu um plano diabólico de possessão de Terras por parte de Utalapa e desse modo, inconformado com tais planos, expulsou o guerreiro da tribo para nunca mais voltar e condenado a nunca mais utilizar o seu espírito para se conetar aos Deuses.
»Prometendo se vingar, Utalapa esperou preciosamente o momento certo para bolar um plano e destruir Taha Aki. Sabendo que o Chefe Guerreiro ia muitas vezes para um local remoto meditar a sós com os Deuses, na sua forma de espírito, Utalapa o seguiu e esperou o espírito deste abandonar o corpo para se apossar do corpo do chefe e o fazer matar o seu corpo com as mãos de Taha Aki, cortando a garganta de Utalapa.
»Taha Aki assistiu impotente Utalapa dar ordens à sua tribo, usando o seu corpo como camuflagem, os ordenando e proibindo de voltar a tomar a forma de espírito para comunicar com os Deuses. Para além disso passou a exigir que lhe servissem, ao contrário do verdadeiro chefe que trabalhava com a sua tribo em conjunto, como iguais.
»O espírito do verdadeiro chefe tribal ficou vagando triste e enraivecido por não poder intervir, assistindo à desgraça a que Utalapa levou o seu povo. Agoniou por dias, procurando loucamente por uma solução, até que num momento de desespero ele se encontrou com lindo e enorme lobo com o qual se conseguia comunicar. Com uma ideia louca na cabeça, ele pediu permissão a este para usar o seu corpo, de forma a conseguir salvar a sua tribo. O lobo assentiu.
»Taha Aki correu na sua nova forma de lobo até à aldeia onde a sua tribo habitava e tentou de todas as formas avisar que Utalapa usurpara o seu corpo, mas todos os aldeões fugiam assustados do enorme lobo, pensando que ele os queria como refeição. Apenas o mais velho, Yut, conseguiu manter a calma e olhar o desespero naqueles olhos tão familiares do lobo e, desobedecendo à ordem do falso Taha Aki, saiu do seu corpo para comunicar com o lobo. Taha Aki fez o mesmo, saindo do corpo do lobo, e assim Yut o pode reconhecer.
»Utalapa, descobrindo que havia um infrator na tribo, correu até o seu corpo a fim de o destruir. Yut tentou voltar a tempo, mas foi tarde. Utalapa o degolou.
»A raiva de Taha Aki foi tão grande, por ver o seu povo sofrendo nas mãos do opressor, que não coube dentro do lobo. Foi ai que a mágica aconteceu. O lobo estremeceu, diante de um sentimento tão humano e aos olhos dos guerreiros se transformou em homem. O novo homem não era nada parecido com Taha Aki, mas muito mais glorioso. Os guerreiros o reconheceram e ele conseguiu se vingar de Utalapa, arrancando o espírito de seu corpo antes que pudesse fugir.
»Taha Aki teve muitos filhos, e alguns deles descobriram que, ao alcançar a maturidade também podiam se transformar em lobos e que só envelheciam quando quisessem. Os que não queriam mais ser lobos voltavam a envelhecer. E isso foi passando de geração em geração. – Leah terminou e eu fui trazida de volta para a realidade, depois de ver um filme real do que ela havia contado, passar em minha mente.

Aos poucos tentei assimilar onde essa lenda absurdamente fantástica tinha a ver com os segredos que eles queria revelar e aos poucos, outras frases ditas anteriormente começaram passando na minha frente como legendas embutidas.

“-[…]É um segredo que pertence a essa tribo e que nem todos os habitantes conhecem. […]

-[…]Não é algo fácil de acreditar, mas acredite em mim, é a mais pura das verdades. […]”

-Esperem, vocês estão querendo dizer que…essas lendas de espíritos guerreiros e lobos…vocês e essas lendas…elas são reais…e vocês são…vocês podem…se transformar…em…lobos? – Perguntei retoricamente tentando ver onde as peças soltas desse puzzle encaixavam.

Assisti Sam, Leah e Henry assentirem em silêncio e logo meu rosto se voltou para Embry, ele desviou o rosto de mim e vi uma lágrima escorregar pela sua bochecha.
Me levantei a custo e fui até ele pacificamente.

-Foi por isso que você se afastou de mim? Teve medo que eu o rejeitasse, que o chamasse de monstro? Hein? – Falei segurando o seu rosto com as minhas mãos e expressando apenas carinho e cuidado.

-Não apenas isso ... Tem mais algumas lendas que você precisa escutar. Uma delas é o verdadeiro motivo por eu ter me afastado de você. Só quero que saiba que eu te amo e que sempre vou estar aqui para você…mas não como antes. – Ele falou continuando a derramar gotas salgadas por seus olhos e saindo de seguida, beijando o topo da minha testa.

Meu coração se apertou. Porque esse beijo me soou como uma despedida? Porque eu sinto que eu perdi Embry para sempre?

-Talvez devêssemos parar um pouco para você descansar. – Henry sugeriu mas eu neguei veemente.

-Eu quero continuar a escutar.

(POV Jacob)

Embry tinha chegado há poucas horas em sua forma lupina, a La Push expulsando todos de sua mente, mas sem querer soltando algumas imagens de chorando e de pessoas maldosas a maltratando, que fizeram meu sangue ferver. Mas entre essas imagens surgiu a de uma garota diferente a quem ele estava abraçado e assim que essa imagem apareceu ele tratou de imediato de a apagar e pensar em outra coisa até voltar à sua forma humana.

Eu queria saber o que aquelas imagens significavam e porque ele tinha vindo embora sem , a deixando lá desamparada no meio daquelas cobras. Então segui Embry e o parei, o importunando até que ele começasse a falar.
Eu só não esperava que o que ele escondia fosse aquilo.

-Como é que é? – Eu me vi gritando perante a revelação que Embry me tinha feito.

-Não me olhe desse jeito como se eu tivesse cometido o maior crime do mundo. Você acha que eu queria isso? Eu amo a mas…

-Você não vai lutar contra esse imprinting pois não? Vai deixar a sem mais explicações e que ela se dane com o seu sofrimento né? – Eu acusei enraivecido, gesticulando exageradamente.

-Eu pensei que você fosse ficar aliviado? – Embry falou displicente e eu engoli em seco, mantendo uma pose serena.

-O que você quer dizer com isso?

Embry baixou o olhar, suspirando.

-Eu vi o beijo de vocês…eu sei que ela te curou…eu só espero que não a machuque por causa da… - Sua frase foi interrompida por um eco de uivos arreliados.

Nos entreolhamos e corremos em direção à floresta, retirando no caminho nossas roupas e as atando à corda em nosso tornozelo, nos transformando e conetando as nossas mentes aos outros.

O que aconteceu? – Eu perguntei e de imediato a imagem de uma vampira em pose defensiva, mostrando os dentes enraivecida, apareceu em minha mente.

O seu rosto me era familiar, mas a voz afinada e aguda soou de seguida nos meus ouvidos lupinos me fazendo ficar em alerta.

-Eu só quero falar com Jake!

Todos os lobos uivavam pensamentos inconformados e cravavam as patas no solo, rosnando para a vampira.

O que essa Cullen quer? – Jared rosnou.

Vamos acabar com essa sanguessuga por ter entrado em nossas terras. – Paul salivou nervoso e ansioso por uma boa luta.

Deixem a Bella em paz, ela ainda é a mesma! – Seth defendeu.

Não se mete nessa, pirralho. – Quil o repreendeu.

Se acalmem! – Sam ordenou e todos obedeceram de imediato.

O que ela quer? – Embry perguntou.

Quer morrer…de vez! – Paul uivou.

-Saiam da frente! – A vampira, que não mais era a Bella que eu conhecera, rosnou de volta, dando um passo provocador em frente.

Paul e Jared pensaram em atacar, mas eu intervim antes.

Deixem! Eu falo com ela. – Avisei correndo apressado até o local onde eles estavam a cercando, perto de uma cachoeira a poucos metros da divisória das terras.

Jake! – Todos soltaram surpresos mas respeitaram a minha decisão.

(N/A: Sei que isso é proibido no nyah, mas para as meninas distraídas, repito mais uma vez, vamo lá: NÃO HAVERÁ RENESMEE nesse fic, porra! *momentoTPMon*)

Minha corrida parecia em câmera lenta mas o cheiro acre ardeu rápido em minhas narinas e garganta, pois o vento soprava na minha direção.
Reprimi uma careta e me concentrei apenas em chegar.
Logo avistei os lombos de Paul e Sam. Paul continuava rosnando para a vampira, mas Sam apenas ficava rondando ela, em uma distância considerável, andando de um lado para o outro.
Travei a corrida e mentalmente falei para Sam e Paul se manterem distantes enquanto eu me transformava de volta e falava com a vampira.

Era engraçado como eu não conseguia mais chamar ela pelo seu apelido e muito menos tratá-la como uma Cullen. Mas as lembranças de um passado em comum não tão distantes remexiam o meu subconsciente e consequentemente e minha capacidade de análise. Para mim aquela vampira ainda tinha uma parte da minha Bella.

-Jake! – Ela exclamou animada mas eu me mantive sério enquanto me aproximava já com as minhas roupas vestidas.

-Foi arriscar muito o seu couro vindo até aqui como vampira, Bella. Tem de ter uma boa razão. – Tentei soar imparcial.

-Eu precisava te ver. É uma boa razão. – Ela soou melosa tentando se aproximar, mas os lobos atrás de mim rosnaram alto. – Pode pedir para esses cachorros recuarem? Eu não vou fazer nada de errado! – Ela rosnou de volta para eles.

-Cachorros? Rosalie está mesmo te moldando. – Comentei numa careta irónica, torcendo a boca.

-Oh, desculpe…não foi minha intenção ofender. É que…esses sentimentos…são muito fortes. Não consigo controlar. – Ela tentou se explicar e eu ainda pude ver um resquício da humana nela.

-Há quanto tempo foi transformada? – Perguntei casual.

-Três dias. Acordei hoje. – Aquelas palavras fizeram despertar em mim uma raiva antiga.

Memórias não tão distantes do casamento de Bella entorpeceram minha mente naquele preciso segundo.

“Eu não quero passar a minha lua-de-mel ardendo em chamas.”
“Eu vou consumar.”

Respirei fundo três vezes quando de seguida surgiu a imagem de . defendndo Bella no casamento. Na altura eu estava fora de controle, mas agora recordando aquela maluca, de barrigão, se armando em Jackie Chan de Makah eu só consegui rir.
Bella ficou me olhando estranho e eu lhe devolvi o olhar.

-Você está diferente. – Ela anotou e eu sorri, sincero dessa vez.

-As coisas mudaram não só para você. – Eu dei de ombros e soquei os bolsos da minha jeans rasgada na borda no joelho.

-Você imprintou? – Ela perguntou meio sem reacção/emoção.

-Não! Claro que não. Não é preciso imprintar para eu ultrapassar você. Outro tipo de amor basta. – Me vi dizendo, rápido demais para me travar.

-Amor? Vocês está apaixonado por outra garota? – Ela pareceu ultrajada, mas eu ignorei essa reação.

-Não existe só um tipo de amor, Bella. – Foi o suficiente para me justificar.

Não estava mentindo, mas também não estava falando a verdade. Olhei de relance para trás, mirando brevemente o lobo de Embry e voltei a olhar Bella.

-O que você realmente queria aqui? – Perguntei impaciente.

Ela tinha chegado, enrolado e enrolado, mas ainda não tinha chegado ao ponto em que a fez quebrar um tratado e pular dentro de Terras Quileutes sabendo que seria caçada.

-Eu preciso de você, Jacob, é só isso. A vida que tenho com Edward é perfeita, tudo o que eu sempre sonhei, mas está incompleta. Está sem você… - Ri irónico mais uma vez e lambi o lábio inferior, bafejando outra risada.

-A vida nem sempre é como você quer, Bella! – Explodi num tom raivoso. – Durante esses anos todos tudo sempre foi em torno de você. Eu, Edward, esse mundo sobrenatural...mas agora você escolheu um lado da moeda e você não pode mais ficar no limbo como fazia antes. Eu te dei uma escolha Bella, mas você nem sequer a cogitou…

-Eu cogitei sim! – Ela me interrompeu. – Quando Edward me abandonou e você me trouxe de volta à vida. Na batalha contra os recém-nascidos. No meu próprio casamento, Jacob.

-Mas parece que isso não foi suficiente. – Abanei a cabeça negativamente, passando a mão pelos fios curtos e colocando a outra mão na cintura.

-O motivo para eu estar aqui agora, te procurando, é porque eu percebi que me precipitei. Me agarrei a um amor platónico e me forcei a ser tudo o que eu precisava ser para ficar com Edward. Eu te tomei por garantido, Jacob, eu achei que você fosse continuar do meu lado independentemente das minhas decisões. – Ela passou a mão pelos cabelos, mantendo os dedos entre os fios castanho fogo.

-Nós somos inimigos sobrenaturais agora, Bella. Não dá para sermos mais amigos e fingir que nada está entre nós. Mas isso não significa que não possamos conviver dentro dos limites possíveis em que nós, lobos, já convivemos com os Cullen. Mas apenas isso. E agora corra Bella, senão terei de permitir que Sam e os outros te cacem por ter quebrado as leis do tratado. E por favor, peça ao seu marido para te manter controlada por não haverá um próximo deslize.

-Eu não queria que fosse assim Jake. – Ela fez uma cara de dor e partiu.

(Fim POV Jacob)

Engoli em seco sentindo meu rosto encharcado. Eu havia aceitado perfeitamente o fato de Embry e os meninos serem seres sobrenaturais que se transformavam em lobos, mas isso era duro demais de engolir.

-Aconteceu comigo, .. Eu estava feliz com Samuel, noivos, mas quando seus olhos cruzaram com os de Emily, não havia volta a dar. Eu pensei que não ia superar nunca isso, que meu coração ia ficar uma pedra difícil de derrubar, que iria continuar amarga para sempre…mas você apareceu com seu jeito doce, sapeca e louco e revirou o meu mundo. Você foi realmente uma pulga na minha carapaça, mas daquelas que a gente não se quer livrar. – Ela riu e meu pai a acompanhou, pegando em suas mãos.

Eu quis rir ao lembrar do trocadilho que eu havia feito sobre Sam, referindo pulga e cachorro, sendo que eles eram lobos, mas eu ainda estava em estado de choque para isso.

-Eu imprintei seu pai. Achei que seria impossível para mim, que sou a única mulher do bando, mas de novo e involuntariamente, você me trouxe uma nova vida para eu recomeçar. Se você não tivesse vindo, eu não teria conhecido o seu pai e não estaria tão feliz como estou agora. – Os observei se olharem embevecidos e agora eu conseguia entender um pouco desse imprinting.

Eu lembrava do modo que Sam e Emily se olhavam. Jared e Kim. Paul e Rachel. Um olhar que eu nunca iria receber de Embry…
Olhei para trás vasculhando através da porta aberta a silhueta de Embry. Ele estava no limbo entre a aldeia e a floresta, sentando em um tronco d árvore caído, cutucando um graveto no chão, como se desenhasse coisas sem sentido.

Me ergui do sofá um pouco a custo e me arrastei pelo caminho terroso até onde ele estava.
Meu coração palpitava inconstante e as palavras se embolavam na minha mente. Meu sentimento por Embry era grande e forte.
Ele foi meu porto seguro, meu abrigo. Alguém em quem eu depositei minha segurança, felicidade e coração e em nenhum ponto ele me desiludiu.
Eu não perdera um amor, porque eu não chegara a amá-lo como eu cheguei a amar Gabriel, mas o amei como a gente merecia. Me entreguei a um sentimento nobre e puro que renovou os meus sentimentos obscuros de infelicidade.

O que eu poderia desejar mais para ele? Não é como se ele tivesse morrido, ou como se ele fosse sumir para sempre da face da Terra. Ele ainda iria continuar ali, sendo meu amigo. Talvez não para todas as horas e ocasiões, mas para as mais importantes. Porque não é a proximidade física que faz a amizade e sim o quão próximos os nossos corações estão.
E os nossos nunca irão se separar.

-Ei. – Chamei a sua atenção e me sentei do seu lado. – Que carinha triste é essa? – Perguntei o empurrando com o ombro.

-Leah te contou tudo? Tudo mesmo? – Ele perguntou meio surpreso meio confuso.

-Sim. – Eu confirmei, mas ele pareceu não acreditar muito. – Veja bem, não é o fim do mundo. Não é como se você me tivesse largado grávida e depois morrido. E não é como se você fosse o amor da minha vida que eu não poderia viver sem…eu ainda não sou loba para imprintar. – Sorri sapeca e ele me olhou pasmo. – Ah, não me olha assim. Eu não posso levar tudo para o drama, Emb. Eu já estou grávida, solteira, o pai do meu filho morreu, estou com uma gravidez de risco, beijei o seu melhor amigo… - Me travei quando vi o que havia falado.

O olhei cautelosamente e engoli em seco. Ele fitava o horizonte.

-Fui muito puta, não fui? Mas sabe, eu nem sei como aconteceu. Num momento eu tava chorando e no seguinte eu tava com os lábios grudados no dele. – Falei tudo muito depressa, quase me perdendo no meio das palavras. - Talvez seja só uma desculpa, mas acho que foi carência…ou talvez eu esteja mentindo para mim mesma. – Mordi o lábio o olhando.

-Você não foi…esse palavrão que você acabou de falar. – Ele falou zangado comigo. – Você foi humana, susceptível a sentimentos reais e recíprocos. E não é o fim do mundo. Não é como se você fosse um ser sobrenatural que fica em quatro patas e carrega um monte de pêlo incómodo. Nem como se você fosse suscetível ao universo e servo das suas decisões. Não é como se você fosse ficar amarrado para sempre a uma pessoa que você não escolheu, mas que foi escolhida por você. Eu não posso levar tudo no drama. Eu já sou um lobo, a minha garota foi beijada pelo meu melhor amigo e agora eu amo outra, do dia para a noite. – Ele deu de ombros e logo começamos a rir.

-Só me promete uma coisa! – Eu pedi e ele passou o braço por meus ombros, me abraçando de lado, murmurando um “hum” de incentivo. – Promete que vai ser padrinho do meu neném? É o únci jeito de te atar a mim para sempre de alguma forma! – Eu falei rindo e ele riu junto.

-É claro que aceito. Será meu maior prazer ficar atado a Vossa Maluquisse…- Ele fez uma vénia e depois me abraçou carinhosamente e beijou minha bochecha. – Eu nunca vou querer me afastar de você, viu, sua peste. – Cutucou meu nariz e eu fiz careta.

-Mas me conta, como ela reagiu? Porque pela forma como ela olhou para mim no outro dia que nos cruzamos, ela já sabia.

Embry foi me contando tudo tim-tim por tim-tim sobre a forma como ela reagiu a tudo. Rebekah ficou em choque e depois pulou no pescoço dele achando que estava vivendo um conto de fadas, já que a garota era 3 anos mais nova que eu, ou seja, 15 anos de pura pirralhisse.
Embry falou que iria ser paciente, mas que ela não parecia tão a fim. Mas, apesar de ela ser bonitinha e uma tentação – palavras dele, né? - meu amigo realmente não queria ser um pedófilo. Ele já era de maior.

Oh destino cruel, porque fizeste tamanha façanha com nossas pobres almas. Tinhas mesmo que juntar a minha ex-cunhada, tia do meu filho, ao meu ex-namorado, futuro padrinho do Gabe Jr.?
Ok, momento filosofia literária de quinta off.

Espera aí…recapitula aí um cadinho…EU TÔ QUASE FAZENDO 18 ANOS! Daqui a uma semana. Ai céus, isso é o fim do mundo, só pode.

-ISSO É UM ERRO. UMA COISA DO PASSADO QUE EM NADA MAIS TEM A VER COM A SUA IRMÃ! – Escutamos meu pai gritar assim que começamos nos aproximando da casa dos Uley.

Travamos os dois e nos entre olhamos. Meu coração palpitou mas eu tentei manter a calma. Precisava saber o que mais estavam escondendo de mim. Eu estava FARTA desses segredos.
Me aproximei um pouco mais para escutar a voz de meu irmão, sussurrando enraivecido e ultrajado.

-Ah, agora você acha que eu sou uma aberração? Você sempre soube quem eu era e nunca teve problemas, agora decidiu que era errado e que eu preciso de um tratamento.

-Você sabe que não é nada disso, Thomas. Eu sempre te aceitei e sempre vou te aceitar como você é, mas não vou permitir  que isso machuque a tua irmã de novo! – Papai falou mais calmo mas ainda determinado

-Acredite papai, se eu pudesse voltar atrás eu tinha feito tudo diferente. Eu me precipitei colocando os meus sentimentos na frente e isso destruiu a minha irmã. Mas eu prometi a ela que contava tudo. – Tom falou e eu me enchi de só ficar escutando na sucapa e me precipitei casa adentro antes que Henry o obrigasse a prometer que não me contaria nada.

-Me contar o quê, Tom? – Inquiri quase autoritária, me impondo entre os dois e olhando de um para o outro.

Papai viu que não poderia mais intervir e bufou em descontentamento, fechando os olhos e se jogando no sofá ao tempo que bagunçava seus fios longos.

Tom olhou para Embry, que se prostrava protector atrás de mim e eu o olhei também, lançando um pedido silencioso que ele logo atendeu, se retirando e nos deixando nessa reunião familiar.
Nos distribuímos em assentos de forma a ficarmos todos cara a cara. Me sentei colocando as mãos sobre a barriga e sentindo um leve peso por toda a coluna. O estresse desses últimos dias estavam me esgotando fisicamente, mas emocionalmente eu ainda tinha uma barreira firme que eu acabara de erguer depois do funeral de Gabriel. Não havia porque permitir que a gravidez me enfraquecesse emocionalmente sendo que eu podia controlar isso. Derramar umas lágrimas não fazia mal nenhum, mas ser a rainha do drama já era outra história.

Tom começou contando a sua história sobre como ele descobriu que era gay e o quanto ele sofreu por isso. Sabia como as pessoas de Makah eram preconceituosas e por isso sempre manteve discretos seus sentimentos e seus relacionamentos, sempre com rapazes de fora da Reserva. Nunca se iludiu com o fato de tentar namorar uma garota, porque ele tinha convição de quem ele era. Não havia porque tentar colocar uma dúvida numa certeza.
Ouvi tudo atentamente, silenciosa, esperando a surpresa em toda aquela história, porque tanto eu como papai sabíamos das suas opções sexuais desde muito cedo, mesmo que ele nunca tenha falado abertamente, não era como se fosse um segredo, era algo que respeitávamos, compreendíamos e aceitávamos, afinal ele era meu irmão e filho de Henry. A mesma pessoa, com a mesma alma e o mesmo coração. O nosso amor não mudava em nada sendo que ele fosse negro, branco, muçulmano, católico, gay ou heterossexual. Ele ainda era o mesmo Tom desde que nasceu.

-As coisas estavam normais comigo porque eu tinha confiança em mim e não me subjugava a uma sociedade preconceituosa, mas sociedade e sentimentos são tabelas à parte. Eu podia “controlar” os mal-dizeres do povo, mas não podia controlar o que eu sentia por dentro. – Ele falou esfregando a mão no peito e me olhando intensamente.

Meu coração palpitou e uma intuição me abateu, mas eu precisei esperar pela confirmação.

-Vocês eram felizes um com o outro e se gostavam de verdade, mas quando estávamos juntos…era incrível. A forma como nos olhávamos, nos falávamos, riamos um com o outro…era mágica. – Comecei derramando as primeiras lágrimas ao som daquelas palavras, mas respirei fundo para as controlar e assenti para ele continuar. – Eu já sabia o que sentia e não tentava negar, pois sabia que ele também sentia o mesmo, só que estava confuso. Era tudo novo para ele, esse sentimento, essa descoberta. Quando ele percebeu que o que ele sentia era forte demais, ele se afastou de você. Eu vi como você ficou triste e não fiz nada. Eu estava feliz. Fui tão egoísta que só quis esse amor todo para mim porque era algo que eu nunca tinha sentido antes. Ao tempo que eu tentava fugir por respeito a você, eu não conseguia resistir e cedia ao que eu sentia. Mas tudo acabou quando eu soube que você estava grávida dele, .. Eu juro! Ele tentou me reconquistar, tentou apelar ao que sentíamos um pelo outro, mas meu amor por você foi maior. Eu fiquei com tanta raiva pela forma como ele te tratou que a gente saiu no murro. Desde esse dia as coisas entre nós, a nível profissional e de amizade, azedaram. Ele passou a beber, a se meter em drogas e por mais que eu fingisse que não me importava, eu tentei intervir. – Ele puxou os fios com raiva, como se culpasse de algo. – Eu fiz tudo errado e tudo acabou nisso aqui. – Ele apontou ao redor. – Ele morto e você grávida, sofrendo. – Por fim vi uma tímida lágrima querer fugir de seus olhos, mas que ele tratou de limpar.

Logo outras tantas se sobrepuseram a ele, mais rápidas do que ele as conseguiu apanhar e eu me coloquei de joelhos no chão, ao pé dele, o puxando para um abraço e chorando junto. Assim que me escutou chorar ele se libertou dessa amarra que ele próprio tinha feito e se permitiu chorar também, livremente.

-Eu te perdoo. Eu te perdoo. – Eu continuava dizendo, o abraçando forte, beijando seu rosto e limpando suas lágrimas.

Olhei para Henry e ele também chorava em silêncio, então eu estiquei a mão e ele veio se juntar ao abraço, se ajoelhando ao pé de nós.

Agora que todos os segredos haviam sido revelados, eu esperava sinceramente poder começar de novo.