25 janeiro 2013
Parte
I
Tal
como todas as manhãs, acordei às 07h00 para ir trabalhar. Ensonada
eu peguei o primeiro ônibus e meia-hora depois saí em um outro
ponto onde eu teria de esperar por outro transporte. É, eu tinha de
pegar dois transportes para chegar no meu trabalho... Compensava que
eu adorava o que fazia, porque senão seria maior tédio.
Poucos
minutos se passaram até que meu segundo transporte chegou.
Como
sempre as minhas noites mal dormidas me faziam adormecer em pleno
ônibus, mas eu assim o permitia porque a viagem ainda era um pouco
longa e eu precisava de um descanso extra. Mas, por qualquer motivo,
nesse dia eu não estava conseguindo relaxar por completo e me dar ao
prazer de dormir mais alguns minutos, por mais escassos e
insignificantes que eles fossem.
Inconformada
peguei em meu MP4 e coloquei os fones nos ouvidos deixando que a
música me fizesse companhia pelo resto da viagem. Os sons me eram
indistintos naquele momento matutino, mas me deixavam mais relaxada.
Encostei
minha cabeça na janela e foquei meu olhar na paisagem desconexa,
deixando minha mente vagueando no vazio.
Não
sei por quanto tempo fiquei absorta, ou quantas músicas tocaram sem
que eu realmente as tivesse escutado, até que uma mão tocou meu
ombro me fazendo dar um pulo no banco, sobressaltada com o inesperado
contato. Tirei de imediato os fones dos ouvidos e foquei meu olhar no
parceiro de banco que me tirara do meu momento de pura brisa.
-Radiohead?
- O rapaz perguntou e eu franzi a testa, completamente alienada com a
pergunta. - A música que está escutando. - Apontou para os fones em
minhas mãos e eu olhei para os mesmo como uma retardada, ainda sem
ter processado por completo a conexão entre a pergunta e os fones.
-Aah,
sim, a música! - Exclamei estupidamente. - Na verdade... nem sei que
música está tocando. Estava distraída. - Expliquei me sentindo um
pouco envergonhada com a situação. O que ele iria pensar de mim,
que fumo droga? Que sou doente mental?
Mas
o rapaz não me olhou como se eu fosse uma aberração, pelo
contrário, ele riu. E, man, que sorriso! Quase perdi o ar
quando ele abriu aquela boca para mostrar seus dentes. E que dentes
tão imaculados, alinhados e perfeitos. Que lábios tão cheios e
avermelhados.
Subi
o olhar, meio hipnotizada e disposta a olhar com maior atenção a
pessoa que estava tentando manter uma conversa comigo. Por onde eu
deveria começar? Por seus olhos negros como uma noite sombria, mas
iluminados como uma lua cheia? Que braços eram aqueles, tão
inchados, apertados por uma camisa tão justa que a qualquer
movimento em falso parecia que iria se rasgar em pedaços? E os
peitorais, quase tão grandes quantos os meus...Dava para amassar pão
sobre eles. E as perna...quando é que elas terminavam? Deus, aquelas
coxas não podia ser mais grossas, senão eu acharia que ele escondia
um pernil em cada perna.
O
rapaz pigarreou, chamando a minha atenção e eu sorri constrangida,
focando de novo em seu rosto, que se contorcia em uma gargalhada
contida. Corei abrutamente.
Ok,
, você chegou no
fundo do poço do ridículo, você é a rainha do King Kong do
milénio, definitivamente!
-Desculpe.
- Pedi envergonhada.
-Eu
estava perguntando se podia escutar música com você. É que eu
esqueci de carregar o meu Ipode ontem à noite e agora eu não tenho
com que me entreter. - Ok, judia do pobre, vai, exibe seu Ipode
maravilhosamente caro e que alberga umas 973982163912634916 músicas
a mais do que meu simples MP4, com suas 198 músicas, porque sim, ele
tinha de ser mesquinho e não me deixar colocar 200, né? - E visto
que você tem um gosto musical semelhante ao meu... - Duvido! O dele
deve de ser bem melhor que minhas músicas meloso-depressivas.
Mesmo
assim ele interpretou meu silêncio como um sim e pegou um dos fones
enquanto eu observava atentamente sua reação ao meu péssimo (e
suicida) gosto musical.
Suspirei
de alívio quando ele começou abanando a perna e estalando os dedos
ao som da música que estava tocando. Por sorte deveria de ser uma
das raras músicas que tinha alguma qualidade e fugiam do padrão
meloso-depressivo.
Coloquei
o outro fone no meu ouvido e meu coração ameaçou parar em um
ataque cardíaco quando o som fluiu pelo meu tímpano e chegou ao
centro de reconhecimento do meu cérebro.
Porque
raios eu tinha de ter uma playlist tão...feminina?
Não
era como se eu contasse compartilhar meu MP4 com um completo estranho
que, diga-se de passagem, estava curtindo ao som de All the Single
Ladies da Beyoncé. Pior, ele estava fazendo playback!
Pior, sua voz estava começando a ganhar vida!!
-"All
the single ladies, all the single ladies (x2) Oh, oh oh oh (x3) Now
put your hands up". - Ele cantava de acordo com mais um dos
tantos refrões que a música repetia, de forma nada discreta,
fazendo o ônibus inteiro – mesmo que quase vazio – rir
acesamente da sua figura cômica imitando a coreografia do
videoclipe.
Mesmo
com uma vontade tremenda de rir, me coloquei na situação dele e fiz
o que achava certo. Então comecei cantando e dançando como ele.
Sim, eu sei. Era de se esperar que eu chamasse a sua atenção ou que
desse pause na música, mas não foi isso que meu cérebro me
comandou.
Só
então ele se deu conta do papelão que estava fazendo e, sem
interromper, me olhou admirado e agradecido pelo apoio. Eu olhei com
mais intensidade, apreciando aquele momento único, como nos filmes
lamechas em que o cenário onde os apaixonados se encontram
desvanece, dando lugar a um wallpaper cor-de-rosa com estrelinhas e
coraçõezinhos caindo e tudo isso em câmera lenta. Mas, para
cumprimentar a minha falta de sorte – porque eu nunca usa a outra
palavra começada por -a – ele olhou em frente e se levantou de
supetão, tocando o sinal de paragem e se encaminhando até a porta
de saída, aguardando a paragem do ônibus no ponto que se seguia.
Antes
de sair ele sorriu para mim de forma tímida e acenou em despedida.
Fiquei
vendo-o partir sem reparar onde ele estava descendo. Sequer sabia
onde estava passando, porque, nas outras vezes, não dava para gravar
todas as paragens pois eu sempre adormecia pela viagem inteira.
Quando
o ônibus virou uma rua e eu deixei de o ver, suspirei pesadamente
fechando os olhos e mantendo em mente a sua imagem, esperando que ela
não desaparecesse tão rápido quanto eu lamentava.
4 comentários:
show muito engraçadoo
Omg!! E vamos de All the single ladies, rsrsrsrsrs
Muito bom Baby, que garota de sorte é a PP, ganhou de companhia um homem e tanto ao seu lado, foi uma pena ela não ter nem perguntado o nome, tamanha a sua concentração no tórax do rapaz. rsrsrsrs
Adorandoooooo demais e me acabando de rir com a dança no ônibus, a PP certamente ganhou bons pontos com o rapaz por ajudá-lo nesse king kong.
Bjssssss!!!!
HAHAHAAHHAHAHAHAH . All the Single Ladies (8 kkkkkkkkkkkkk . Adoreei isso .. kkkkkkk Fiqueei imaginando um homem grande daquele jeito dançando essa musica . E ainda mais sentado ao meu lado . kkkkkkkkkkkkk . Muito bom Baby, adoreei esse primeiro encontro .. kkkk To curiosa pra saber quem eh esse homem, Hum .. imaginação fertil akii .. kkkkkk
Beijooos :*
Toda vez que escuto ou lembro da Single Ladies vem a imagem da minha mãe dançando essa musica na cozinha (é de dar medo sério o.O) kkkkkkkkkkkk rachei de rir imaginando essa cena (pra tentar apagar a outra da mente tambem)... Meu pai que homem é esse? Pena que a PP nao perguntou o nome dele (raciocinio lento hein minha filha ¬¬)...
Ah Baby quero mais!!!! To adorando e rindo muito ( o que nao é novidade né)... Bjos Flor!!!!
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