Sussurros










Se apaixonar nunca foi tão fácil... ou tão mortal!
Para , romance não fazia parte do plano. Ela nunca esteve particularmente atraída aos garotos de sua escola, não importa o quanto sua melhor amiga, , a empurre em cima deles. Não até que Patch chegue.
Com aquele sorriso fácil e olhos que parecem ver dentro dela, fica atraída a ele contra sua vontade. Mas após uma série de aterrorizantes encontros, não tem certeza em quem confiar. Patch parece estar em todo o lugar que ela está, e saber mais sobre ela do que seus amigos mais próximos. Ela não consegue decidir se deve cair em seus braços ou correr e se esconder. E quando ela tenta buscar algumas respostas, ela se encontra perto de uma verdade que é mais perturbadora do que qualquer coisa que Patch a faça sentir.
Porque está bem no meio de uma antiga batalha entre os imortais e aqueles que sucumbiram - e, quando se trata de escolher lados, a escolha errada custará a sua vida.

...Deus não poupou a anjos quando pecaram,
Antes, precipitando-os no inferno,
Os entregou a abismos de trevas,
 Reservando-os para o juízo...
– 2 Pedro 2:4

Prólogo
Loire Valley1, França.
Novembro de 1565

Chauncey estava com a filha de um fazendeiro nos bancos relvados do rio Loire quando a tempestade começou, e tendo deixado seu cavalo castrado perambulando na clareira, foi deixado com seus dois próprios pés para levarem-no de volta ao Château. Ele arrancou uma fivela prateada de seu sapato, a colocou na palma da mão da garota, e a observou sair correndo, lama afundando em sua saia. Então ele colocou suas botas e começou o caminho para casa.
Chuva envolveu o campo escuro que cercava o Château de Langeais. Chauncey pisou sem dificuldade nas sepulturas e húmus submersos do cemitério; mesmo na espessa névoa ele conseguia encontrar seu caminho para casa daqui e não temia se perder. Não havia névoa nenhuma hoje a noite, mas a escuridão e o ataque da chuva eram enganadores o bastante.
Havia movimento na extremidade da visão de Chauncey, e ele virou instantaneamente sua cabeça para esquerda. Ao primeiro olhar, o que parecia ser um grande anjo no topo de um monumento próximo se levantou inteiramente. Nem pedra nem mármore, o garoto tinha braços e pernas. Seu torso estava nu, seus pés descalços, e uma calça de camponês pendia baixa em sua cintura. Ele pulou do monumento, as pontas de seu cabelo preto pingando da chuva. Ele escorregava no seu rosto, que era escuro como o de um espanhol.
A mão de Chauncey arrastou-se para o punho de sua espada. “Quem está aí?”
A boca do garoto deu um vestígio de sorriso.
“Não brinque com o Duc2 de Langeais,” Chauncey avisou. “Eu pedi o seu nome. Dê-o.”
“Duc?” O garoto se inclinou contra um salgueiro retorcido. “Ou bastardo?”
Chauncey desembainhou sua espada. “Retire o que disse! Meu pai era o Duc de Langeais. Eu sou o Duc de Langeais agora,” ele acrescentou desajeitadamente, e se amaldiçoou por isso.
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1 O Vale de Loire, o rio mais longo da França. Também conhecido como Jardim da França e Berço da Língua Francesa. Também é notável pela qualidade de sua herança arquitetural.
2 Do francês, duque.
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O garoto deu um chocalhar preguiçoso de sua cabeça. “Seu pai não era o antigo Duc.”
Chauncey ferveu com o afrontoso insulto. “E o seu pai?” Ele exigiu, estendendo sua espada. Ele ainda não conhecia todos os seus vassalos, mas ele estava aprendendo. Ele marcaria o nome da família desse garoto a ferro na memória. “Eu perguntarei mais uma vez,” ele disse em uma voz baixa, esfregando uma mão pelo seu rosto para afastar a chuva. “Quem é você?”
O garoto andou e empurrou de lado a espada. Ele de repente parecia mais velho do que Chauncey havia presumido, talvez até mesmo um ou dois anos mais velho do que Chauncey. “Um dos descendentes do Diabo,” ele respondeu.
Chauncey sentiu um aperto de medo em seu estômago. “Você é um lunático delirante,” ele disse entre os dentes. “Caia fora do meu caminho.”
O chão abaixo de Chauncey se inclinou. Explosões de dourado e vermelho estouraram atrás de seus olhos. Encurvado com suas unhas triturando suas coxas, ele olhou para o garoto, pestanejando e arfando, tentando achar sentido no que acontecia. Sua mente vacilava como se não fosse mais sua para comandar.
O garoto se agachou para nivelar seus olhos. “Escute cuidadosamente. Eu preciso de algo de você. Eu não irei embora até eu ter isso. Você entende?”
Cerrando seus dentes, Chauncey balançou sua cabeça para expressar sua descrença – seu desacato. Ele tentou cuspir no garoto, mas escorreu em seu queixo, sua língua recusando-se a obedecê-lo.
O garoto entrelaçou suas mãos ao redor das de Chauncey; o calor delas o queimou e ele soltou um grito.
“Eu preciso do seu juramento de lealdade,” o garoto disse. “Ajoelhe-se sobre um joelho e jure.”
Chauncey ordenou sua garganta a rir cruelmente, mas sua garganta constringiu e ele se afogou com o som. Seu joelho direito entortou como se tivesse sido chutado por trás, apesar de ninguém estar lá, e ele tropeçou para a frente na lama. Ele se curvou de lado e forçou vômito sem sucesso.
“Jure,” o garoto repetiu.
Calor fluiu no pescoço de Chauncey; precisou de toda a sua energia para curvar suas mãos em dois punhos fracos. Ele riu de si mesmo, mas não havia humor. Ele não fazia ideia de como, mas o garoto estava infligindo a náusea e a fraqueza dentro dele. Ela não seria suspensa até que ele prestasse o juramento. Ele diria o que tivesse que dizer, mas ele jurou em seu coração que destruiria o garoto por essa humilhação.
“Lorde, eu me torno seu homem,” Chauncey disse venenosamente.
O garoto levantou Chauncey de pé. “Me encontre aqui no começo do mês hebreu de Cheshvan3. Durante as duas semanas entre a lua nova e a cheia, eu precisarei de seu serviço.”
 “Uma... quinzena?” Toda a estrutura de Chauncey tremeu debaixo do peso de sua raiva. “Eu sou o Duc de Langeais!
“Você é um Nephil,” o garoto disse em uma fatia de sorriso.
Chauncey tinha uma réplica profana na ponta da língua, mas ele a engoliu. Suas próximas palavras foram ditas com gelado veneno. “O que você disse?”
“Você pertence a raça bíblica dos Nephilim4. Seu pai verdadeiro era um anjo que caiu do céu. Você é metade mortal.” Os olhos escuros do garoto se levantaram, encontrando os de Chauncey. “Metade anjo caído.”
A voz do tutor de Chauncey foi trazida dos recessos de sua mente, lendo passagens da Bíblia, contando de uma raça depravada criada quando anjos lançados do céu se acasalaram com mulheres mortais. Uma raça apavorante e poderosa. Um calafrio que não era repulsa total arrastou-se por Chauncey. “Quem é você?”
O garoto se virou, afastando-se, e embora Chauncey quisesse ir atrás dele, ele não conseguia ordenar suas pernas a suportar seu peso. Ajoelhado ali, pestanejando através da chuva, ele viu duas cicatrizes grossas nas costas do torso nu do garoto. Elas se estreitavam para formar um V de ponta-cabeça.
“Você é um – caído?” ele chamou. “Suas asas foram arrancadas, não foram?”
O garoto – anjo – quem quer que ele fosse, não se virou. Chauncey não precisou da confirmação.
“O serviço que eu vou prover,” ele gritou. “Eu exijo saber o que é!”
O ar ressoou com a baixa risada do garoto.

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3 Abreviação de Marcheshvan. É o oitavo mês do calendário hebraico, e geralmente cai entre Outubro/Novembro no calendário gregoriano.
4 Do hebraico, ‘aqueles que caíram’ (anjos).
  

Capítulo Um
Coldwater, Maine
Dias atuais

Eu entrei na aula de biologia e meu queixo caiu. Misteriosamente aderido ao quadro-negro estava uma boneca Barbie, com Ken ao seu lado. Eles foram forçados a dar os braços e estavam nus, exceto por folhas artificiais colocadas em alguns lugares específicos. Rabiscado acima de suas cabeças em giz grosso rosa estava a convocação:

BEM-VINDOS À REPRODUÇÃO HUMANA (SEXO)

Ao meu lado, disse, “É exatamente por isso que a escola proíbe câmeras de celular. Fotos disso no eZine seriam toda a evidência que eu precisaria para ir ao conselho da educação para remover biologia. E então teríamos essa hora para fazer algo produtivo – como receber monitoramento particular de veteranos gracinhas.”
“Ora, ,” eu disse, “Eu podia jurar que você estava esperando essa unidade o semestre todo.” abaixou os cílios e sorriu maliciosamente. “Essa aula não vai me ensinar nada que eu já não saiba.”
? Tipo, virgem?”
“Não tão alto.” Ela piscou bem quando o sino tocou, mandando nós duas a nossos lugares, que eram lado a lado na nossa mesa compartilhada.
O Treinador McConaughy agarrou o apito balançando de uma corrente ao redor de seu pescoço e o assoprou. “Assentos, time!” O Treinador considerava ensinar biologia do segundo ano uma missão secundária de seu trabalho como treinador de basquete escolar, e todos sabíamos disso.
“Vocês podem não ter percebido que sexo é mais do que uma viagem de quinze minutos ao banco traseiro do carro. É ciência. E o que é ciência?”
“Uma chatice,” algum garoto no fundo da sala gritou.
“A única aula que eu estou reprovando,” disse outro.
Os olhos do Treinador examinaram a fileira da frente, parando em mim. “?”
“O estudo de alguma coisa,” eu disse.
Ele andou até aqui e enfiou seu dedo indicador na mesa na minha frente. “O que mais?”
“Conhecimento ganho através de experimentos e observações.” Adorável. Eu soava como se estivesse fazendo um teste para um audiobook do nosso texto.
“Com suas próprias palavras.”
Eu toquei a ponta da minha língua com meu lábio superior e tentei um sinônimo. “Ciência é uma investigação.” Soava como uma pergunta.
“Ciência é uma investigação,” o Treinador disse, esfregando suas mãos juntas. “Ciência exigi que nós nos transformemos em espiões.”
Colocado desse jeito, ciência quase soa divertido. Mas eu estivera na aula do Treinador tempo suficiente para não ter muitas esperanças.
“Uma boa investigação precisa de prática,” ele continuou.
“Assim como sexo.” veio outro comentário do fundo da sala. Todos nós engolimos a risada enquanto o Treinador apontava um dedo acusador para o transgressor.
“Isso não será parte da lição de casa de hoje a noite.” O Treinador virou sua atenção de volta a mim. “, você está se sentando ao lado da desde o começo do ano.” Eu assenti, mas tinha um mau pressentimento sobre onde isso estava chegando. “Ambas estão no eZine da escola juntas.” Novamente eu assenti. “Aposto que conhecem bastante uma sobre a outra.”
chutou minha perna debaixo da nossa mesa. Eu sabia o que ela estava pensando. Que ele não fazia ideia do quanto conhecíamos uma sobre a outra. E eu não quero só dizer os segredos que enterramos em nossos diários. é minha des-gêmea. Ela tem olhos verdes, cabelos loiro-marta5, e alguns quilos acima de curvilínea. Eu sou uma morena de olhos esfumados com um volume de cabelo encaracolado que se mantém firme até mesmo contra a melhor chapinha. E sou só pernas, como um banquinho de bar. Mas há uma corda invisível que nos une; ambas juramos que esse laço começou bem antes do nascimento. Ambas juramos que continuará seguro pelo resto das nossas vidas.
O Treinador deu uma olhada na sala. “De fato, eu aposto que cada um de vocês conhece a pessoa sentando ao lado de você bem o bastante. Vocês escolheram os assentos que escolheram por uma razão, certo? Familiaridade. Que pena que os melhores detetives evitam familiaridade. Ela entorpece o instinto investigativo. E é por isso que, hoje, vamos criar um novo mapa de assentos.”

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5 Marta é a denominação comum, dado aos mamíferos mustelídeos do gênero Martes. Esses animais têm uma pele muito apreciada.
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Eu abri minha boca para protestar, mas chegou antes. “Mas que porcaria? É Abril. Tipo, quase o final do ano6. Você não pode mexer nesse tipo de negócio agora.”
6 Nos EUA, o final do ano letivo é em Junho/Julho.
O Treinador deu um vestígio de sorriso. “Eu posso mexer nesse negócio até o último dia do semestre. E se você reprovar na minha aula, você estará de volta aqui no ano que vem, onde eu estarei mexendo nesse tipo de negócio novamente.”
fez uma carranca para ele. Ela é famosa por aquela carranca. É um olhar que faz tudo, exceto sibilar audivelmente. Aparentemente imune a ele, o Treinador trouxe seu apito aos lábios, e captamos a ideia.
“Cada parceiro sentado no lado esquerdo da mesa – a esquerda de vocês – mova-se um assento para frente. Aqueles na fileira da frente – sim, incluindo você, – movam-se para os fundos.”
enfiou seu caderno dentro de sua mochila e arrebentou o zíper ao fechar. Eu mordi meu lábio e acenei um pequeno adeus. Então eu me virei ligeiramente, checando a sala atrás de mim. Eu conhecia os nomes de todos os meus colegas de sala... exceto um. O transferido. O Treinador nunca o chamou, e ele parecia preferir desse jeito. Ele se sentava desleixadamente uma mesa atrás, gelados olhos negros encarando à frente firmemente. Exatamente como sempre. Eu nem por um momento acreditava que ele simplesmente sentava lá, dia após dia, encarando o vazio. Ele estava pensando algo, mas o instinto me dizia que eu provavelmente não queria saber o quê.
Ele assentou seu livro de biologia na mesa e deslizou na antiga cadeira da .
Eu sorri. “Oi. Eu sou a .”
Seus olhos negros me cortaram, e os cantos de sua boca inclinaram-se para cima. Meu coração errou uma batida e naquela pausa, um sentimento de triste escuridão pareceu deslizar como uma sombra sobre mim. Ele sumiu em um instante, mas eu ainda estava encarando-o. Seu sorriso não era amigável. Era um sorriso que soletrava encrenca. Como uma promessa.
Eu me foquei no quadro negro. A Barbie e o Ken encararam de volta com sorrisos estranhamente alegres.
O Treinador disse, “Reprodução humana pode ser um assunto pegajoso –”
“Uiii!” resmungou um coro de estudantes.
“É preciso um manuseamento maduro. E como toda ciência, a melhor abordagem é aprender a investigar. Pelo resto da aula, pratiquem essa técnica descobrindo o quanto puderem sobre seu novo parceiro. Amanhã, tragam em escrito suas descobertas, e acreditem em mim, eu vou checar a autenticidade. Isso é biologia, não inglês, então nem pensem em ficcionalizar suas respostas. Eu quero ver interação e trabalho em equipe reais.” Havia um Ou então implícito.
Eu me sentei perfeitamente imóvel. A bola estava no campo dele – eu tinha sorrido, e olha como isso ajudou. Eu enruguei meu nariz, tentando descobrir a que ele cheirava. Não a cigarros. Algo mais profundo, mais asqueroso.
Charutos.
Eu encontrei o relógio na parede e bati meu lápis na hora da segunda mão. Eu plantei meu cotovelo na mesa e apoiei meu queixo no meu punho. Eu soprei um suspiro.
Ótimo. A esse ponto eu iria falhar.
Eu estava com meus olhos fixos a frente, mas eu ouvi o suave deslizar de sua caneta. Ele estava escrevendo, e eu queria saber o quê. Dez minutos sentados juntos não o qualificava para fazer qualquer suposição sobre mim. Movendo um olhar lateral, eu vi que seu papel tinha várias linhas escritas e estava crescendo.
“O que você está escrevendo?” Eu perguntei.
“E ela fala inglês,” ele disse enquanto rabiscava, cada pincelada de sua mão suave e preguiçosa ao mesmo tempo.
Eu me inclinei o mais perto dele que eu ousava, tentando ler o que mais ele tinha escrito, mas ele dobrou o papel ao meio, escondendo a lista.
“O que você escreveu?” Eu exigi.
Ele esticou a mão para o meu papel não-usado, deslizando-o pela mesa na direção dele. Ele o amassou em uma bola. Antes que eu pudesse protestar, ele o jogou numa lata de lixo ao lado da mesa do Treinador. O arremesso caiu dentro.
Eu encarei a lata de lixo por um momento, presa entre a descrença e a raiva. Então eu abri meu caderno em uma página em branco. “Qual é o seu nome?” Eu perguntei, o lápis pronto para escrever.
Eu olhei para cima a tempo de captar outro sorriso sombrio. Esse parecia me desafiar a arrancar qualquer coisa dele.
“Seu nome?” Eu repeti, esperando que fosse minha imaginação minha voz ter vacilado.
“Me chama de Patch. Sério. Me chama.”
Ele piscou quando disse isso, e eu estava bem certa de que ele estava me zoando. “O que você faz nas suas horas de ócio?” Eu perguntei.
“Eu não tenho tempo livre.”
“Presumo que essa tarefa vale nota, então me faz um favor?”
Ele se reclinou em seu assento, dobrando seus braços atrás de sua cabeça. “Que tipo de favor?”
Eu tinha bastante certeza de que isso era uma indireta, e eu lutei por um jeito de mudar de assunto.
“Tempo livre,” ele repetiu pensativamente. “Eu tiro fotos.”
Eu copiei Fotografia no meu papel.
“Eu não terminei,” ele disse. “Eu tenho uma bela coleção de uma colunista de eZine que acredita que há verdade em comer organicamente, que escreve poesia em segredo, e que estremece ao pensar em ter que escolher entre Stanford, Yale, e... qual é aquela grandona com H?”
Eu o encarei por um momento, balançada por ele ter acertado na mosca. Eu não tinha o pressentimento de que era um chute. Ele sabia. E eu queria saber como – agora.
“Mas você não acabará indo para nenhuma delas.”
“Eu não irei?” Eu perguntei sem pensar.
Ele prendeu seus dedos debaixo do assento da minha cadeira, me arrastando para mais perto dele. Não certa se deveria escapar e mostrar medo, ou fazer nada e fingir tédio, eu escolhi o último.
Ele disse, “Embora você prosperasse nas três escolas, você as desdenha por serem um cliché em realização. Julgar é sua terceira maior fraqueza.”
“E minha segunda?” Eu disse com bastante raiva. Quem era esse cara? Essa era algum tipo de piada perturbadora?
“Você não sabe como confiar. Eu retiro o que disse. Você confia – só que nas pessoas erradas.”
“E o meu primeiro?” Eu exigi.
“Você mantém a vida numa coleira curta.”
“O que isso quer dizer?”
“Você tem medo do que não consegue controlar.”
O cabelo na minha nuca ficou de pé, e a temperatura na sala pareceu esfriar. Normalmente eu teria ido diretamente para a mesa do Treinador e pedido um novo mapa de assentos. Mas eu me recusava a deixar Patch pensar que ele podia me intimidar ou assustar. Eu senti uma necessidade irracional de me defender e decidi bem ali e agora que eu não recuaria até que ele recuasse.
“Você dorme pelada?” ele perguntou.
Minha boca ameaçou cair, mas eu a segurei no lugar. “Você está longe de ser a pessoa a quem eu contaria.”
“Já foi a um psiquiatra?”
“Não,” eu menti. A verdade era que eu tinha consulta com o psicólogo da escola, Dr. Hendrickson. Não era por escolha, e não era algo que eu gostasse de falar sobre.
“Fez algo ilegal?”
“Não.” Ocasionalmente passar do limite de velocidade não contaria. Não com ele. “Por que você não me pergunta algo normal? Como... meu tipo favorito de música?”
“Eu não vou perguntar o que eu posso adivinhar.”
“Você não sabe o tipo de música que eu escuto.”
“Barroco. Com você, tudo é ordem, controle. Eu aposto que você toca... violoncelo?” Ele disse isso como se tivesse chutado do nada.
“Errado.” Outra mentira, mas essa enviou um arrepio pela minha pele que deixou meus dedos formigando. Quem era ele, realmente? Se ele sabia que eu tocava violoncelo, o que mais ele sabia?
“O que é isso?” Patch deu um tapinha com sua caneta no interior do meu pulso. Instintivamente eu recuei.
“Uma marca de nascença.”
“Parece uma cicatriz. Você é suicida, ?” Seus olhos se conectaram com os meus, e eu pude sentir ele rindo. “Pais casados ou divorciados?”
“Eu moro com a minha mãe.”
“Onde está o pai?”
“Meu pai morreu ano passado.”
“Como ele morreu?”
Eu hesitei. “Ele foi – assassinado. Esse é um território meio pessoal, se não se importa.”
Houve uma contagem de silêncio e a beirada dos olhos de Patch pareceu suavizar um pouco. “Isso deve ser duro.” Ele soava sério.
O sino tocou e Patch estava de pé, caminhando em direção a porta.
“Espera,” eu chamei. Ele não se virou. “Com licença!” Ele tinha passado pela porta. “Patch! Eu não peguei nada sobre você.”
Ele se virou e andou na minha direção. Tomando minha mão, ele rabiscou algo nela antes de eu a puxar.
Eu olhei para baixo para os sete números em tinta vermelha na minha palma e fechei a mão ao redor deles. Eu queria dizer a ele que de jeito nenhum seu telefone tocaria hoje a noite. Eu queria dizer a ele que era culpa dele por tomar todo o tempo me questionando. Eu queria um monte de coisas, mas eu só fiquei parada lá parecendo como se não soubesse abrir minha boca.
Por fim eu disse, “Estou ocupada hoje a noite.”
“Assim como eu.” Ele sorriu e se foi.
Eu fiquei pregada no lugar, digerindo o que tinha acabado de acontecer. Ele tinha comido todo o tempo me questionando de propósito? Para que eu falhasse? Ele achava que um relampejo de sorriso o redimiria? Sim, eu pensei. Sim, ele achava.
“Eu não vou ligar!” Eu gritei depois dele. “Não – nunca!”
“Você terminou a sua coluna para o prazo de amanhã?” Era a . Ele apareceu ao meu lado, anotando no caderno que ela carregava para todo lugar. “Estou pensando em escrever a minha sobre a injustiça do mapa de assentos. Eu fiquei com uma garota que disse que tinha acabado um tratamento para piolho essa manhã.”
“Meu novo parceiro,” eu disse, apontando no corredor para as costas de Patch. Ele tinha um andar irritantemente confiante, do tipo que você acha combinado com camisetas desbotadas e um chapéu de cowboy. Patch não usava nenhum dos dois. Ele era um garoto do tipo Levi’s-escura-jaqueta-escura-botas-escuras.
“O veterano transferido? Acho que ele não estudou o bastante da primeira vez. Ou da segunda.” Ela me deu um olhar astucioso. “Na terceira ele tem sorte.”
“Ele me dá arrepios. Ele conhecia a minha música. Sem qualquer dica, ele disse, ‘Barroco’.” Eu fiz uma péssima imitação de sua voz baixa.
“Chute de sorte?”
“Ele sabia.... outras coisas.”
“Como o quê?”
Eu soltei um suspiro. Ele sabia mais do que eu queria contemplar confortavelmente. “Tipo como me enlouquecer,” eu disse por fim. “Eu vou dizer ao Treinador que ele tem que nos trocar de volta.”
“Vai nessa. Eu podia ter um gancho para o meu próximo artigo no eZine. ‘Segunda-anista Defende-se.’ Melhor ainda, ‘Mapa de Assento Leva um Tapa na Cara.’ Hmm. Eu gostei.”
No final do dia, fui eu quem levou um tapa na cara. O Treinador recusou meu pedido para repensar o mapa de assentos. Parecia que eu estava presa com o Patch.
Por ora.


Capítulo Dois

Minha mãe e eu vivíamos em uma fria casa de fazenda do século dezoito no limite de Coldwater. É a única casa na Alameda Hawthorne, e os vizinhos mais próximos estão há quase 1,6 quilômetros de distância. Às vezes me pergunto se o construtor original percebeu que de todos os pedaços de terra disponíveis, ele decidiu construir a casa no olho de uma misteriosa inversão atmosférica que parece sugar toda a névoa da costa do Maine e transplantá-la no nosso jardim. A casa estava nesse momento velada por uma melancolia que lembrava espíritos que escaparam e estão vagando.
Eu passei a noite plantada em um banquinho de bar na cozinha na companhia da lição de álgebra e Dorothea, nossa governanta. Minha mãe trabalha para a Empresa de Leilão Hugo Renaldi, coordenando leilões imobiliários e de antiguidades em toda a costa oeste. Essa semana ela estava em Charleston, Carolina do Sul. Seu trabalho requeria muitas viagens, e ela pagava Dorothea para cozinhar e limpar, mas eu estava bem certa de que as letras miúdas da descrição do trabalho da Dorothea incluíam manter um olho observador e parental em mim.
“Como foi a escola?” Dorothea perguntou com um ligeiro sotaque alemão. Ela estava de pé na cozinha, esfregando lasanha cozida demais de uma caçarola.
“Tenho um novo parceiro de biologia.”
“Isso é uma coisa boa, ou uma coisa ruim?”
era a minha antiga parceira.”
“Humph.” Mais esfregação vigorosa, e a carne na parte superior do braço de Dorothea sacolejou. “Uma coisa ruim, então.”
Eu suspirei em concordância.
“Me conte sobre a sua nova parceira. Essa garota, como ela é?”
“Ele é alto, moreno, e irritante.” E misteriosamente fechado. Os olhos de Patch eram órbitas negras. Retendo tudo e retornando nada. Não que eu quisesse saber mais sobre o Patch. Já que eu não tinha gostado do que eu tinha visto na superfície, eu duvidava de que eu gostaria do que estivesse espreitando lá no fundo.
Só que, isso não era exatamente verdade. Eu tinha gostado muito do que eu tinha visto. Músculos longos e magros em seus braços, ombros largos, mas relaxados, e um sorriso que era parcialmente brincalhão, parcialmente sedutor. Eu estava em uma aliança incômoda comigo mesma, tentando ignorar o que começara a parecer irresistível.
Às nove horas, Dorothea terminou o jantar e trancou a casa ao sair. Como forma de adeus, eu pisquei as luzes da varanda duas vezes; elas devem de ter penetrado a névoa, porque ela respondeu com uma buzina. Eu estava sozinha.
Eu fiz um inventário dos sentimentos brincando dentro de mim. Eu não estava com fome. Eu não estava cansada. Eu não estava nem mesmo tão solitária. Mas eu estava um pouco inquieta sobre a minha tarefa de biologia. Eu tinha dito ao Patch que eu não ligaria, e seis horas atrás eu tinha falado sério. Tudo em que eu podia pensar agora era que eu não queria falhar. Biologia era a minha matéria mais difícil. Minha nota oscilava problematicamente entre 9 e 8. Na minha mente, essa era a diferença entre uma bolsa de estudos integral e parcial no meu futuro.
Eu fui para a cozinha e peguei o telefone. Eu olhei para o que tinha sobrado dos sete números ainda tatuados na minha mão. Secretamente, eu esperava que o Patch não atendesse a minha ligação. Se ele não estivesse disponível ou cooperasse nas tarefas, era uma evidência que eu podia usar contra ele para convencer o Treinador a desfazer o mapa de assentos. Sentindo-me esperançosa, eu digitei seu número.
Patch respondeu no terceiro toque. “E aí?”
Em um tom prosaico, eu disse, “Estou ligando para ver se podemos nos encontrar hoje à noite. Eu sei que você disse que está ocupado, mas –”
.” Patch disse meu nome como se fosse a parte final de uma piada. “Achei que você não fosse ligar. Nunca.”
Eu odiava estar comendo as minhas palavras. Eu odiava o Patch por estar esfregando-as. Eu odiava o Treinador por suas tarefas enlouquecedoras. Eu abri minha boca, esperando que algo inteligente saísse. “Bem, podemos nos encontrar ou não?”
“Acontece que eu não posso.”
“Não pode ou não vai?”
“Estou no meio de um jogo de sinuca.” Eu ouvi o sorriso em sua voz. “Um jogo de sinuca importante.”
Pelo barulho de fundo que eu ouvi em sua linha, eu acreditava que ele estava dizendo a verdade – sobre o jogo de sinuca. Se isso era mais importante que a minha tarefa de biologia, era debatível.
“Onde você está?” eu perguntei.
“Bo's Arcade. Não é o seu tipo de lugar.”
“Então vamos fazer a entrevista no telefone. Eu tenho uma lista de perguntas bem –”
Ele desligou na minha cara.
Eu encarei o telefone em descrença, então arranquei uma folha de papel em branco do meu caderno. Eu rabisquei Babaca na primeira linha. Na linha abaixo dessa eu acrescentei Fuma charutos. Vai morrer de câncer de pulmão. Com sorte logo. Excelente forma física.
Eu imediatamente risquei a última observação até que ficasse ilegível.
O relógio do micro-ondas piscava 21:05. Da minha perspectiva, eu tinha duas escolhas. Ou eu inventava minha entrevista com o Patch, ou eu dirigia até a Bo's Arcade. A primeira opção podia ter sido tentadora, se ao menos pudesse bloquear a voz do Treinador alertando que ele checaria todas as respostas para autenticidade. Eu não conhecia o suficiente sobre Patch para blefar a entrevista inteira. E a segunda opção? Nem mesmo remotamente tentadora.
Eu atrasei tomar uma decisão tempo o bastante para ligar para minha mãe. Parte do nosso acordo para ela trabalhar e viajar tanto era que eu agisse responsavelmente e não fosse o tipo de filha que requisitasse supervisão constante. Eu gostava da minha liberdade, e eu não queria fazer nada para dar à minha mãe uma razão para cortar seu salário e pegar um trabalho local para ficar de olho em mim.
No quarto toque, seu correio de voz atendeu.
“Sou eu,” eu disse. “Só estou checando. Tenho lição de biologia para terminar, depois eu vou para a cama. Me ligue no almoço, se você quiser. Te amo.”
Depois de desligar, eu achei uma moeda de 25 centavos na gaveta da cozinha. É melhor deixar decisões complicadas para o destino.
“Cara eu vou,” eu disse ao perfil de George Washington. “Coroa eu fico.” Eu joguei a moeda de 25 centavos no ar, achatei-a nas costas da minha palma, e ousei dar uma espiada. Meu coração espremeu uma batida extra, e eu disse a mim mesma que eu não tinha certeza o que isso significava.
“Não está mais nas minhas mãos agora,” eu disse.
Determinada a acabar com isso o mais rápido possível, eu agarrei um mapa da geladeira, apanhei minhas chaves, e recuei meu Fiat Spider pela estrada. O carro provavelmente fora fofo em 1979, mas eu não era louca pela pintura marrom chocolate, pela ferrugem se espelhando desenfreada pelo pára-choques traseiro, ou pelos assentos arrebentados de couro branco.
A Bo's Arcade acabou sendo mais longe do que eu teria gostado, aninhada perto à costa, uma viagem de trinta minutos. Com o mapa esticado no volante, eu parei o Fiat em um estacionamento atrás de um amplo prédio de blocos cinzas com uma placa elétrica piscando BO'S ARCADE, MAD BLACK PAINTBALL & OZZ’S POOL HALL. Grafite salpicava as paredes, e butucas de cigarro pontuavam a calçada. Claramente o Bo's estaria cheio de futuros estudantes da Ivy League7 e cidadãos modelo. Eu tentei manter meus pensamentos altivos e indiferentes, mas meu estômago estava um pouco inquieto. Checando novamente se eu tinha trancado todas as portas, eu me dirigi para dentro.

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7 Grupo de oito universidades privadas do Nordeste dos Estados Unidos da América. O grupo é constituído pelas instituições de maior prestígio científico nos Estados Unidos e no mundo e, assim, atualmente a denominação tem conotação sobretudo de excelência acadêmica.
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Eu fiquei na fila, esperando passar pelas cordas. Enquanto o grupo à minha frente pagava, eu passei me espremendo, andando na direção do labirinto de sirenes estrondosas e das luzes piscantes.
“Acha que merece um passe grátis?” gritou uma voz rouca de fumaça.
Eu me virei e pestanejei para o caixa excepcionalmente tatuado. Eu disse, “Não estou aqui para brincar. Estou procurando por alguém.”
Ele resmungou. “Se quiser passar por mim, tem que pagar.” Ele colocou suas palmas sobre o balcão, onde uma tabela de preços tinha sido colada com durex, mostrando que eu devia quinze dólares. Somente dinheiro.
Eu não tinha dinheiro. E se eu tivesse, eu não o teria desperdiçado gastando uns poucos minutos interrogando o Patch sobre sua vida pessoal. Eu senti um fluxo de raiva pelo mapa de assentos e por ter que estar aqui em primeiro lugar. Eu só precisava achar o Patch, então poderíamos assegurar a entrevista do lado de fora. Eu não tinha dirigido até aqui para ir embora de mãos vazias.
“Se eu não voltar em dois minutos, eu pago os quinze dólares,” eu disse. Antes que eu pudesse exercitar um melhor julgamento ou reunir um rico mais de coragem, eu fiz algo totalmente fora do normal e me abaixei por debaixo das cordas. Eu não parei lá. Eu me apressei pela arcada, mantendo meus olhos abertos pelo Patch. Eu disse a mim mesma que não conseguia acreditar que estava fazendo isso, mas eu era como uma bola de neve rolante, ganhando velocidade e ímpeto. Nesse momento eu só queria achar o Patch e cair fora.
O caixa me seguiu, gritando, “Ei!”
Certa de que o Patch não estava no nível principal, eu corri escada abaixo, seguindo placas para o Ozz’ Pool Hall. Ao fim da escada, uma trilha de iluminação turva iluminava diversas mesas de pôquer, todas em uso. Fumaça de charuto quase tão grossa quanto à névoa envolvendo a minha casa escurecia o teto baixo. Aninhada entre as mesas de pôquer e o bar estava uma fileira de mesas de sinuca. Patch estava esticado na que ficava transversalmente a mim, tentando uma difícil tacada de mestre.
“Patch!” Eu chamei.
Bem quando eu falei, ele atirou seu taco de sinuca, impulsionando-o no topo da mesa. Sua cabeça levantou-se rapidamente. Ele me encarou com uma mistura de surpresa e curiosidade.
O caixa claudicou os passos atrás de mim, mirando no meu ombro com sua mão. “Para cima. Agora.”
A boca de Patch se deslocou em outro quase sorriso. Difícil dizer se era zombador ou amigável. “Ela está comigo.”
Isso pareceu ter alguma influência com o caixa, que relaxou seu aperto. Antes que ele pudesse mudar de ideia, eu retirei sua mão e contorci-me entre as mesas na direção de Patch. Eu andei os primeiros diversos passos a passos largos, mas descobri minha confiança escorregando quando mais perto eu chegava dele.
Eu fiquei imediatamente consciente de algo diferente nele. Eu não conseguia exatamente afirmar o que, mas eu podia sentir isso como eletricidade. Mais animosidade?
Mais confiança.
Mais liberdade de ser ele mesmo. E aqueles olhos negros estavam me incomodando. Eles eram como imãs, unindo-se a cada movimento meu. Eu engoli em seco discretamente e tentei ignorar o enjoativo sapateado no meu estômago. Eu não conseguia exatamente afirmar o que, mas algo em Patch não era correto. Algo nele não era normal. Algo não era... seguro.
“Desculpe por ter desligado,” Patch disse, vindo ao meu lado. “A recepção não é boa aqui embaixo.”
É, tá bom.
Com uma inclinação de sua cabeça, Patch gesticulou para que os outros fossem embora. Houve um silêncio inquietante antes que qualquer um se movesse. O primeiro cara a sair bateu no meu ombro enquanto passava. Eu dei um passo para trás para me equilibrar e olhei para cima bem em tempo de receber olhares frios de outros dois jogadores enquanto eles partiam.
Ótimo. Não era minha culpa que Patch era meu parceiro.
“Bola oito8?” Eu perguntei a ele, levantando minhas sobrancelhas e tentando soar completamente certa de mim mesma, dos meus arredores.

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8 Jogo de bilhar americano que se disputa com as bolas da 1 a 15. Se ganha embolsando a bola 8 (negra), depois de ter encaçapado o grupo de bolas que corresponde a cada jogador, o da 1 a 7 ou da 10 a 15. Deve-se anunciar a bola que se introduzirá em cada tacada e a bolsa em que se fará.
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Talvez ele estivesse certo e o Bo’s não fosse o meu tipo de lugar. Isso não queria dizer que eu ia correr em direção às portas. “Em quanto estão às apostas?”
Seu sorriso se alargou. Dessa vez eu estava bem certa de que ele estava zombando de mim. “Nós não jogamos por dinheiro.”
Eu coloquei minha bolsa de mão na ponta da mesa. “Que pena. Eu ia apostar tudo que eu tenho contra você.” Eu levantei minha tarefa, duas linhas já preenchidas. “Algumas rápidas perguntas e estou fora daqui.”
“Babaca?” Patch leu em voz alta, inclinando-se sobre seu taco de sinuca. “Câncer de pulmão? É pra isso ser profético?”
Eu ventilei a tarefa pelo ar. “Assumo que você contribuiu para a atmosfera. Quantos charutos por noite? Um? Dois?”
“Eu não fumo.” Ele soava sincero, mas eu não engolia.
“Mm-hmm,” eu disse, deixando o papel de lado entre a bola oito e a roxa sólida. Eu acidentalmente acotovelei a roxa sólida enquanto escrevia Charutos, definitivamente na linha três.
“Você está bagunçando o jogo,” Patch disse, ainda sorrindo.
Eu captei seu olhar e não pude evitar igualar seu sorriso – brevemente. “Com sorte não em seu favor. Maior sonho?” Eu estava orgulhosa dessa porque sabia que iria aturdi-lo. Ela requeria premeditação.
“Beijar você.”
“Isso não é engraçado,” eu disse, segurando seus olhos, grata por não ter gaguejado.
“Não, mas fez você corar.”
Eu me empurrei para o lado da mesa, tentando parecer apática enquanto fazia isso. Eu cruzei minhas pernas, usando meu joelho como uma tábua para escrever. “Você trabalha?”
“Eu sirvo mesas no Borderline. O melhor restaurante mexicano da cidade.”
“Religião?”
Ele não pareceu surpreso pela pergunta, mas ele não pareceu radiante com ela tampouco. “Eu pensei que você tivesse dito algumas rápidas perguntas. Você já está na número quatro.”
“Religião?” Eu perguntei mais firmemente.
Patch arrastou uma mão pensativamente pela linha de sua mandíbula. “Religião não...culto.”
“Você pertence a um culto?” Eu percebi tarde demais que, embora eu soasse surpresa, eu não deveria ter.
“Acontece que eu estou precisando de um sacrifício feminino saudável. Eu planejava seduzi-la para que confiasse em mim primeiro, mas se você está pronta agora...”
Qualquer sorriso restante no meu rosto desapareceu. “Você não está me impressionando.”
“Eu não comecei a tentar ainda.”
Eu me debrucei da mesa e fiquei de pé encarando-o. Ele era uma cabeça inteira mais alto. “ me disse que você é um veterano. Quantas vezes você reprovou em biologia do segundo ano? Uma vez? Duas vezes?”
não é minha porta-voz.”
“Está negando ter reprovado?”
“Estou te dizendo que eu não fui para a escola ano passado.” Seus olhos me zombaram... Isso só me deixou mais determinada.
“Você é uma cabuladora?”
Patch deitou seu taco de sinuca no topo da mesa e curvou um dedo para mim chegar mais perto. Eu não cheguei. “Um segredo?” ele disse em tons confidenciais. “Eu nunca fui pra escola antes. Outro segredo? Não é tão chato quando eu esperava.”
Ele estava mentindo. Todos iam para a escola. Havia leis. Ele estava mentindo para tirar alguma resposta de mim.
“Você acha que eu estou mentindo,” ele disse em volta de um sorriso.
“Você nunca foi para a escola, nunca? Se isso for verdade – e você está certo, eu não acho que seja – o que fez você decidir vir esse ano?”
“Você.”
O impulso de me sentir assustada golpeou-me, mas eu disse a mim mesma que era exatamente isso que Patch queria. Marcando meu território, eu tentei agir irritada, ao invés. Ainda assim, levei um momento para achar minha voz. “Essa não é uma resposta de verdade.”
Ele deve ter dado um passo para mais perto, porque de repente nossos corpos estavam separados por nada mais do que uma superficial margem de ar. “Seus olhos, . Esses olhos cinzas frios e pálidos são surpreendentemente irresistíveis.” Ele curvou sua cabeça de lado, como se para me estudar de um novo ângulo. “E essa boca curvilínea assassina.”
Espantada não tanto pelo comentário dele, mas pela parte de mim que respondeu positivamente a ele, eu recuei. “Já chega. Vou cair fora daqui.”
Mas assim que as palavras saíram da minha boca, eu sabia que elas não eram verdadeiras. Eu senti o desejo de dizer algo mais. Selecionando os pensamentos emaranhados na minha cabeça, eu tentei achar o que era que eu sentia que devia dizer. Por que ele era tão irrisório, e por que ele agia como se eu tivesse feito algo para merecer isso?
“Você parece saber muito sobre mim,” eu disse, fazendo a atenuação do ano. “Mais do que você deveria. Você parece saber exatamente o que dizer para me deixar desconfortável.”
“Você facilita.”
Uma faísca de raiva disparou por mim. “Você admite que está fazendo isso de propósito?”
“Isso?”
“Isso – me provocando.”
“Diga ‘provocando’ novamente. Sua boca fica provocativa quando você faz isso.”
“Acabamos aqui. Termine seu jogo de sinuca.” Eu agarrei seu taco de sinuca da mesa e empurrei para ele. Ele não pegou-o.
“Eu não gosto de sentar do seu lado,” eu disse. “Eu não gosto de ser sua parceira. Eu não gosto do seu sorriso condescendente.” Minha mandíbula tremeu – algo que tipicamente acontecia quando eu mentia. Eu me perguntei se eu estava mentindo agora. Se eu estivesse, eu queria me chutar. “Eu não gosto de você,” eu disse o mais convincentemente que consegui, e enfiei o taco contra seu peito.
“Estou feliz pelo Treinador nos ter colocado juntos,” ele disse. Eu detectei uma leve ironia na palavra “Treinador”, mas eu não consegui descobrir nenhum significado escondido. Dessa vez ele pegou o taco de sinuca.
“Estou trabalhando para mudar isso,” eu reagi.
Patch achou que isso era tão engraçado que seus dentes apareceram em seu sorriso. Ele se esticou até mim, e antes que eu pudesse me afastar, ele desembaraçou algo do meu cabelo.
“Pedaço de papel,” ele explicou, jogando-o no chão. Enquanto ele esticava sua mão, eu notei uma marca na parte interna do seu pulso. De primeira eu presumi que fosse uma tatuagem, mas um segundo olhar revelou um marrom rubicundo, uma marca de nascença ligeiramente levantada. Era da forma de um pingo de tinta esparramado.
“Que lugar infeliz para uma marca de nascença,” eu disse, mais do que um pouco enervada por estar tão similarmente posicionada à minha própria cicatriz.
Patch casual e notavelmente deslizou sua manga sobre seu pulso. “Você preferiria em algum lugar mais privado?”
“Eu não a preferiria em qualquer outro lugar.” Eu não estava certa de como isso soava e tentei novamente. “Eu não ligaria se você nem ao menos a tivesse.” Eu tentei uma terceira vez. “Eu não ligo para a sua marca de nascença, ponto.”
“Mais perguntas?” Ele perguntou. “Comentários?”
“Não.”
“Então te vejo na aula de biologia.”
Eu pensei em dizer a ele que ele nunca me veria novamente. Mas eu não ia comer minhas palavras duas vezes em um dia.
Mais tarde naquela noite um crack! me puxou do sono. Com meu rosto esmagado contra meu travesseiro, eu fiquei imóvel, todos os meus sentidos em alerta total. Minha mãe ficava fora da cidade pelo menos uma vez por mês por causa do trabalho, então eu estava acostumada a dormir sozinha, e fazia meses desde que eu tinha imaginado o som de passos rastejando pelo corredor na direção do meu quarto. A verdade era que eu nunca me sentia completamente sozinha. Logo depois do meu pai ter sido atirado até a morte em Portland enquanto comprava um presente de aniversário para a minha mãe, uma presença estranha entrou na minha vida. Como se alguém estivesse orbitando meu mundo, observando de longe. De primeira a presença fantasmagórica tinha me apavorado, mas quando nada de ruim sucedeu disso, minha ansiedade perdeu sua animação. Eu comecei a me perguntar se havia um propósito cósmico para a maneira como eu estava me sentindo. Talvez o espírito do meu pai estivesse por perto. O pensamento era geralmente confortante, mas hoje a noite era diferente. A presença parecia gelo na pele.
Virando a minha cabeça uma fração, eu vi uma forma sombreada se esticando pelo meu chão. Eu girei para ver um rosto na janela, o raio de luz transparente do luar a única luz no quarto capaz de jogar sombras. Mas nada estava lá. Eu apertei meu travesseiro contra mim e disse a mim mesma que era uma nuvem passando sobre a lua. Ou um pedaço de lixo soprando no vento. Ainda assim, eu passei os próximos minutos esperando minha pulsação se acalmar.
Na hora que eu reuni coragem para sair da cama, o jardim abaixo da minha janela estava silencioso e imóvel. O único barulho vinha dos gravetos de árvore arranhando a casa, e do meu próprio coração batendo debaixo da minha pele. 


Capítulo Três

O treinador Mcconaughty ficou de pé no quadro-negro falando com monotonia sem parar sobre algo, mas a minha mente estava distante das complexidades da ciência.
Eu estava ocupada formulando razões para o porque Patch e eu não deveríamos mais ser parceiros, fazendo uma lista delas atrás de um teste velho. Assim que a aula acabasse, eu apresentaria meus argumentos para o Treinador. Não coopera em tarefas, eu escrevi. Mostra pouco interesse em trabalhos de equipe.
Mas eram as coisas que não estavam listadas que me incomodavam. Eu achava a localização da marca de nascença de Patch estranha, e eu fiquei assustada com o acidente na minha janela na noite passada. Eu não suspeitei de imediato de Patch me espionando, mas eu não conseguia ignorar a coincidência de que eu tinha quase certeza de ter visto alguém olhando na minha janela só horas depois de tê-lo conhecido.
Ao pensar em Patch me espionando, eu alcancei o compartimento dianteiro da minha mochila e chocalhei duas pílulas de ferro de uma garrafa, engolindo-as inteiro. Elas prenderam na minha garganta por um instante, então acharam seu caminho na descida.
De canto de olho, eu capturei as sobrancelhas erguidas de Patch.
Eu considerei explicar que eu era anêmica e que tinha que tomar ferro algumas vezes por dia, especialmente quando estava estressada, mas eu pensei melhor. A anemia não era uma questão de vida ou morte... contanto que eu tomasse doses regulares de ferro. Eu não era paranóica ao ponto de pensar que Patch queria me ferir, mas de algum modo, minha condição médica era uma vulnerabilidade que parecia melhor guardada em segredo.
?”
O Treinador ficou de pé na frente da sala, sua mão esticada em um gesto que mostrava que ele estava esperando por uma coisa – minha resposta. Uma queimação vagarosa achou seu caminho até as minhas bochechas.
“Você poderia repetir a pergunta?” eu perguntei.
A sala deu risinhos.
O Treinador disse, com uma leve irritação, “Quais as qualidades que te atraem em um parceiro em potencial?”
“Parceiro em potencial?”
“Vamos lá, não temos a tarde toda.”
Eu conseguia ouvir a rindo atrás de mim.
Minha garganta pareceu se contrair. “Você quer que eu liste características de um...?”
“Parceiro em potencial, sim, isso seria prestativo.”
Sem querer fazê-lo, eu olhei de lado para Patch. Ele estava relaxado em seu assento, quase preguiçosamente, estudando-me com satisfação. Ele deu um relampejo de seu sorriso de pirata e balbuciou, Estamos esperando.
Eu empilhei minhas mãos na mesa, esperando parecer mais contida do que eu me sentia. “Eu nunca pensei nisso antes.”
“Bem, pense rápido.”
“Você poderia chamar outra pessoa primeiro?”
O Treinador gesticulou impacientemente para a minha esquerda. “É com você, Patch.”
Ao contrário de mim, Patch falou com confiança. Ele se posicionou para que seu corpo ficasse virado ligeiramente na direção do meu, nossos joelhos a meros centímetros de distância.
“Inteligente. Atraente. Vulnerável.”
O Treinador estava ocupado listando os adjetivos no quadro. “Vulnerável?” Ele perguntou. “Como assim?”
falou. “Isso tem alguma coisa a ver com a unidade que estamos estudando? Porque eu não consigo achar nada sobre características desejadas em um parceiro em lugar alguma do nosso texto.”
O Treinador parou de escrever tempo o bastante para olhar sobre seu ombro. “Todos os animais no planeta atraem parceiros com o objetivo de reproduzir. Sapos incham seus corpos. Gorilas machos batem em seus peitos. Você já observou uma lagosta macho subir nas pontas dos pés e estalar suas garras, exigindo a atenção da fêmea? Atração é o primeiro elemento de toda a reprodução animal, incluindo os humanos. Por que não nos dá a sua lista, Srta. ?”
levantou cinco dedos. “Lindo, rico, indulgente, ferozmente protetor, e só um pouquinho perigoso.” Um dedo descia com cada descrição.
Patch riu baixinho. “O problema com a atração humana é não saber se ela será retornada.”
“Excelente argumento,” o Treinador disse.
“Humanos são vulneráveis,” Patch continuou, “porque são capazes de se magoar.” Com isso o joelho de Patch bateu contra o meu. Eu me afastei, não ousando me deixar perguntar o que ele queria dizer com o gesto.
O Treinador acenou. “A complexidade da atração humana – e da reprodução – é uma das características que nos diferenciam das outras espécies.”
Eu pensei ter ouvido Patch bufar com isso, mas foi um som muito suave, e eu não consegui ter certeza.
O Treinador continuou, “Desde o começo dos tempos as mulheres se atraíram por parceiros com habilidades de sobrevivência fortes – como inteligência e proeza física – porque homens com essas qualidades tem mais chances de trazer a janta para casa no final do dia.” Ele levantou dois dedões no ar e sorriu. “Janta equivale a sobrevivência, time.”
Ninguém riu.
“Igualmente,” ele continuou, “os homens são atraídos pela beleza porque indica saúde e juventude – não há razão para se acasalar com uma mulher doente que não estará por perto para criar as crianças.” O Treinador empurrou seu óculos até a ponte do nariz e deu risada.
“Isso é tão sexista,” protestou. “Me conte alguma coisa que se relacione a uma mulher no século vinte e um.”
“Se você abordar a reprodução aos olhos da ciência, Senhoria , você verá que as crianças são a chave para a sobrevivência da nossa espécie. E quanto mais filhos você tem, maior a sua contribuição para o patrimônio genético.”
Eu praticamente escutei os olhos da girando. “Eu acho que finalmente estamos chegando perto do tópico de hoje. Sexo.”
“Quase,” disse o Treinador, levantando um dedo. “Antes do sexo vem a atração, mas depois da atração vem a linguagem corporal. Você tem que comunicar ‘Estou interessado’ para um parceiro em potencial, só que não em tantas palavras.”
O Treinador apontou para o meu lado. “Certo, Patch. Digamos que você está numa festa. A sala está cheia de meninas de todas as formas e tamanhos diferentes. Você vê loiras, morenas, ruivas, algumas meninas de cabelo preto. Algumas são extrovertidas, enquanto outras aparentam ser tímidas. Você achou uma garota que encaixe no seu perfil – atraente, inteligente, e vulnerável. Como você a deixa saber que está interessado?”
“Escolho-a. Falo com ela.”
“Bom. Agora para a pergunta principal – como você sabe se ela está na sua ou se ela quer que você continue andando?”
“Eu a estudo,” Patch diz. “Eu descubro o que ela está pensando e sentindo. Ela não vai vir de supetão e me contar, e é por isso que eu tenho de prestar atenção. Ela vira seu corpo em direção ao meu? Ela olha nos meus olhos, então
desvia o olhar? Ela morde seu lábio e brinca com seu cabelo, como a está fazendo agora?”
Risadas cresceram na sala. Eu derrubei minhas mãos em meu colo.
“Ela está na minha,” disse Patch, batendo na minha perna novamente. De todas as coisas, eu corei.
“Muito bem! Muito bem!” o Treinador disse, sua voz carregada, sorrindo amplamente para a nossa atenção.
“As veias de sangue no rosto da estão se alargando e a pele dela está esquentando,” Patch disse. “Ela sabe que está sendo avaliada. Ela gosta da atenção, mas ela não tem certeza de como lidar com isso.”
“Eu não estou corando.”
“Ela está nervosa,” Patch disse. “Ela está acariciando seu braço para tirar a atenção de seu rosto para seu corpo, ou talvez para a pele dela. Ambos são pontos vencedores fortes.”
Eu quase engasguei. Ele está brincando, eu disse a mim mesma. Não, ele é insano. Eu não tenho experiência em lidar com lunáticos, e aparecia. Eu sentia que eu passava a maior parte do nosso tempo juntos encarando Patch, de boca aberta. Se eu tinha qualquer ilusão sobre ficar no mesmo nível dele, eu ia ter que bolar uma nova abordagem.
Eu coloquei minhas mãos contra a mesa, levantei meu queixo, e tentei parecer como se eu ainda possuísse alguma dignidade. “Isso é ridículo.”
Esticando seu braço ao seu lado com uma dissimulação exagerada, Patch o pendurou nas costas da minha cadeira. Eu tinha o estranho pressentimento que isso era uma ameaça mirada diretamente a mim, e que ele estava alheio e indiferente de como a turma recebia isso. Eles riam, mas ele não parecia ouvir, segurando os meus olhos tão unicamente com os seus próprios que eu quase acreditava que ele tinha esculpido um mundo pequeno e privado para nós que ninguém mais podia alcançar.
Vulnerável, ele balbuciou.
Eu travei meus tornozelos ao redor das pernas da minha cadeira e dei um solavanco para frente, sentindo o peso do braço dele cair das costas do assento. Eu não era vulnerável.
“E aí está!” o Treinador disse. “Biologia em ação.”
“Podemos por favor falar sobre sexo agora?” perguntou .
“Amanhã. Leiam o capítulo sete e estejam prontos para uma discussão imediata.”
O sinal tocou, e Patch rangeu sua cadeira. “Isso foi divertido. Vamos fazer de novo algum dia.” Antes que eu pudesse bolar algo mais incisivo do que não, obrigada, ele se debruçou atrás de mim e desapareceu para fora da porta.
“Eu vou começar uma petição para despedirem o Treinador,” disse, vindo até a minha mesa. “O que foi a aula hoje? Foi um pornô aguado. Ele praticamente colocou você e Patch em cima da sua mesa, na horizontal, sem suas roupas, fazendo A Coisa –”
Eu a focalizei com um olhar que dizia, Parece que eu quero uma repetição?
“Noossa,” disse, recuando.
“Eu preciso falar com o Treinador. Te encontro no armário em dez minutos.”
“Sem dúvida.”
Eu caminhei até a mesa do Treinador, onde ele estava sentado encurvado sobre um livro de jogadas de basquete. Ao primeiro olhar, todos os Xs e Os faziam parecer que ele estava jogando jogo da velha.
“Oi, ,” ele disse em olhar para cima. “O que posso fazer por você?”
“Estou aqui para te dizer que seu novo mapa de assento e plano de aula está me deixando desconfortável.”
O Treinador relaxou em sua cadeira e dobrou suas mãos atrás de sua cabeça. “Eu gosto do mapa de assentos. Quase tanto quanto eu gosto desse jogo de homem-a-homem em que estou trabalhando para o jogo de sábado.”
Eu coloco uma cópia do código de conduta e direitos estudantis da escola bem no topo dele. “Por lei, nenhum estudante deveria se sentir ameaçado nas propriedades escolares.”
“Você se sente ameaçada?”
“Eu me sinto desconfortável. E eu gostaria de propor uma solução.” Quando o Treinador não me cortou, eu inspirei um sopro de confiança. “Eu monitorarei qualquer estudante das suas aulas de biologia – se você me sentar ao lado da novamente.”
“Patch podia ser monitorado.”
Eu resisti cerrar meus dentes. “Isso acaba com o propósito.”
“Você o viu hoje? Ele estava envolvido na discussão. Eu não o ouvi dizer uma palavra o ano todo, mas eu coloco ele ao seu lado e – bingo. A nota dele aqui vai melhorar.”
“E a da vai cair.”
“Isso acontece quando você não pode olhar para o lado pra pegar a resposta certa,” ele disse secamente.
“O problema da é falta de dedicação. Eu monitorarei ela.”
“Nada feito.” Olhando para seu relógio, ele disse, “Estou atrasado para uma reunião. Acabamos aqui?”
Eu fiquei parada com a minha boca entreaberta, espremendo o meu cérebro para cuspir mais um argumento. Mas parecia que eu estava sem inspiração.
“Vamos dar ao mapa de assento mais algumas semanas. Ah, e eu falei sério sobre monitorar Patch. Vou considerar você dentro.” O Treinador não esperou pela minha resposta; ele assobiou a música tema de Jeopardy e mergulhou para fora da porta.
Às sete horas o céu tinha escurecido para um azul enegrecido, e eu fechei meu casaco para me aquecer. e eu estávamos a caminho do cinema para o estacionamento, tendo acabado de assistir O Sacrifício.
Era meu trabalho resenhar filmes para o eZine, e já que eu já tinha visto todos os outros filmes passando no cinema, tínhamos nos resignado ao último suspense urbano.
“Esse,” disse, “foi o filme mais bizarro que eu já vi. Como regra, não temos mais permissão de ver nada que sugira horror.
Por mim tudo bem. Levando em consideração que alguém estivera espreitando do lado de fora da janela do meu quarto na noite passada e combinando isso com um filme totalmente desenvolvido sobre um perseguidor essa noite, e eu estava começando a me sentir um tantinho paranóica.
“Consegue imaginar?” disse. “Viver sua vida toda não tendo uma pista de que a única razão para que você é mantida viva é para ser usada como um sacrifício?”
Ambas estremecemos.
“E qual era a daquele altar?” ela continuou, irritantemente alheia que eu teria preferido falar sobre o círculo da vida de um fungo do que sobre o filme. “Por que aquele cara mau tocou fogo na pedra antes de amarrá-la? Quando eu escutei a carne dela chiar –”
“Está certo!” Eu praticamente gritei. “Para onde agora?”
“E posso só dizer que se um cara alguma vez me beijar desse jeito, eu vou começar a vomitar. Repulsivo não consegue descrever o que acontecia com a boca dele. Aquilo era maquiagem, certo? Quero dizer, ninguém realmente tem uma boca como aquela na vida real –”
“Minha resenha é para a meia-noite,” eu disse, cortando-a.
“Ah. Certo. Para a biblioteca, então?” destrancou as portas de seu Dodge Neon roxo 1995. “Você está sendo terrivelmente sensível, sabe.”
Eu deslizei para o assento do passageiro. “Culpa do filme.” Culpa do pervertido na minha janela ontem a noite.
“Não estou falando só sobre hoje a noite. Eu notei,” ela disse com uma travessa curva de sua boca, “que você ficou excepcionalmente mal-humorada por uma boa meia hora no final da aula de biologia nos últimos dois dias.”
“Fácil também. Culpe o Patch.”
Os olhos da moveram-se rapidamente para o espelho retrovisor. Ela o ajustou para olhar melhor seus dentes. Ela os lambeu, dando um sorriso praticado.
“Eu tenho que admitir, o lado obscuro dele me atrai.”
Eu não tinha desejo algum de admitir isso, mas não estava sozinha. Eu me sentia atraída por Patch de uma maneira que eu nunca me senti atraída por ninguém. Havia um magnetismo obscuro entre nós. Perto dele, eu me sentia atraída pelos precipícios do perigo. A qualquer momento, parecia que ele podia me empurrar do precipício.
“Ouvir você dizer isso me fazer querer –” eu parei, tentando pensar exatamente no que a nossa atração pelo Patch me fazia querer fazer. Algo desagradável.
“Me diga que você não acha que ele é bonito,” disse, “e eu prometo que nunca trarei o nome dele a tona novamente.”
Eu estiquei meu braço para ligar o rádio. De tudo, devia haver algo melhor a fazer do que arruinar a nossa noite convidando Patch, mesmo que de forma abstrata, para ela. Sentar ao lado dele por uma hora todo dia, cinco dias por semana, era muito mais do que eu podia aguentar. Eu não lhe daria minhas noites também.
“Bem?” pressionou.
“Ele pode ser bonito. Mas eu seria a última a saber. Eu sou uma jurada maculada nessa questão, desculpa.”
“O que isso quer dizer?”
“Quer dizer que eu não consigo passar pela personalidade dele. Nenhuma quantidade de beleza pode compensá-la.”
“Beleza não. Ele é... ousado. Sexy.”
Eu girei meus olhos.
buzinou e bateu em seu freio enquanto um carro parava na frente dela.
“O quê? Você discorda, ou rude-e-diabólico não é o seu tipo?”
“Eu não tenho um tipo,” eu disse. “Não sou tão restrita.”
riu. “Você, querida, é mais do que restrita – você é confinada. Limitada. Seu espectro é tão largo quanto um dos micro-organismos do Treinador. Há muitos poucos, se há algum, garotos na escola por quem você ficaria caída.”
“Isso não é verdade.” Eu disse as palavras automaticamente. Não foi até eu tê-las dito que eu me perguntei o quanto eram acuradas. Eu nunca estive seriamente interessada em ninguém. Como eu era estranha. “Não tem a ver com garotos, tem a ver com... amor. Eu não o achei.”
“Não tem a ver com amor,” disse. “Tem a ver com diversão.”
Eu levantei minhas sobrancelhas, duvidosa. “Beijar um cara que eu não conheço – que eu não gosto – é divertido?”
“Você não esteve prestando atenção na aula de biologia? É muito mais do que beijar.”
“Ah,” eu disse em uma voz iluminada. “O patrimônio genético está deturpado o bastante sem eu contribuir com ele.”
“Quer saber quem eu acho que seria realmente bom?”
“Bom?”
Bom?” ela repetiu com um sorriso indecente.
“Não particularmente.”
“O seu parceiro.”
“Não chame ele disso,” eu disse. “Parceiro tem uma conotação positiva.”
espremeu-se em uma vaga próxima das portas da biblioteca e deixou o motor morrer. “Você já fantasiou sobre beijá-lo? Você já deu uma espiadinha de lado e imaginou se jogar no Patch e comprimir sua boca contra a dele?”
Eu encarei ela com um olhar que esperava transmitir um choque alarmado. “Você já deu?”
sorriu.
Eu tentei imaginar o que Patch faria se fosse apresentado a essa informação. Do pouco que eu sabia sobre ele, eu sentia sua aversão pela como se fosse concreta o bastante para tocar.
“Ele não é bom o bastante para você,” eu disse.
Ela gemeu. “Cuidado, você só vai fazer eu querer ele ainda mais.”
Dentro da biblioteca nós pegamos uma mesa no térreo, perto de ficção adulta. Eu abri meu laptop e digitei: O Sacrifício, duas estrelas e meia. Duas e meia provavelmente era baixo. Mas eu tinha muito na minha mente e não estava me sentindo particularmente justa.
abriu um saco de chips de maça seca. “Quer um pouco?”
“Não, obrigada.”
Ela espiou dentro do saco. “Se você não vai comê-las, eu terei que. E eu realmente não quero.”
estava na dieta da fruta roleta-da-cor. Três frutas vermelhas por dia, duas azuis, um punhado de verdes...
Ela levantou um chip de maça, examinando-o de frente e de costas.
“Que cor?” eu perguntei.
“Verde-maça-de-fazer-vomitar-ovas-de-peixe. Eu acho.”
Bem então Marcie Millar, a única estudante do segundo ano do time de líderes de torcida na história da Coldwater High, tomou um assento na beirada de nossa mesa. Seu cabelo loiro morango estava penteado em marias-chiquinhas baixas, e como sempre, sua pele estava oculta debaixo de meio tubo de base. Eu estava positivamente certa de que tinha acertado a quantidade certa, já que não havia um traço de suas sardas a vista. Eu não via as sardas da Marcie desde a sétima série, o mesmo ano em que ela descobriu Mary Kay9. Havia três quartos de dois centímetros entre a bainha de sua saia e o começo de sua calcinha... se ela estava ao menos usando uma.
“Oi, Gigante,” Marcie disse para .
“Oi, Aberração,” disse de volta.
“Minha mãe está procurando por modelos esse final de semana. O pagamento é nove dólares por hora. Pensei que você poderia estar interessada.”
A mãe da Marcie gerencía a JCPenney10 local, e nos finais de semana ela faz a Marcie e o resto das líderes de torcida modelaram em biquínis na janela de exposição encarando a rua da loja.
“Ela está tendo muita dificuldade em achar modelos de lingerie plus-size,” disse Marcie.
“Você tem comida presa nos seus dentes,” disse a Marcie. “Na fenda entre os seus dois dentes da frente. Parece com o chocolate Ex-Lax11...”

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9 Empresa americana de venda direta de cosméticos, fundada em 1963 em Dallas, Texas (EUA), por Mary Kay Ash.
10 Cadeia de lojas de departamento dos EUA.
11 Laxante em forma e com gosto de chocolate.
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Marcie lambeu seus dentes e deslizou da mesa. Enquanto ela ia embora gingando, enfiou seu dedo em sua boca e fez gestos de vômito para as costas da Marcie. “Ela tem sorte de estarmos na biblioteca,” me disse. “Ela tem sorte de não termos nos cruzado em um beco escuro. Última chance – quer chips?”
“Passo.”
vagou para descartar os chips. Alguns minutos depois ela retornou com um livro de romance. Ela tomou o assento ao meu lado e, mostrando a capa do livro, disse, “Algum dia seremos nós. Arrebatadas por cowboys parcialmente vestidos. Eu me pergunto como é beijar um par de lábios queimados pelo sol e com crostas de lama?”
“Sujo,” eu murmurei, digitando.
“Falando em sujo.” Houve um aumento inesperado em sua voz. “Lá está o nosso menino.”
Eu parei de digitar tempo o bastante para espiar sobre meu laptop, e meu coração pulou uma batida. Patch estava de pé do outro lado da sala na fila de empréstimo. Como se ele tivesse me sentido observando-o, ele se virou. Nossos olhos se trancaram por um, dois, três instantes. Eu quebrei-o primeiro, mas não antes de receber um sorriso vagaroso.
As batidas do meu coração ficaram erráticas, e eu disse a mim mesma para me controlar. Eu não ia ir por essa estrada. Não com o Patch. Não a não ser que eu estivesse louca.
“Vamos,” eu disse a . Fechando meu laptop, eu o fechei dentro de sua pasta. Eu empurrei meus livros dentro da minha mochila, derrubando alguns no chão enquanto o fazia.
disse, “Estou tentando ler o título que ele está segurando... espera aí… Como Ser um Perseguidor.”
“Ele não está emprestando um livro com esse título.” Mas eu não estava certa.
“É ou esse ou Como Irradiar Sensualidade Sem Tentar.”
“Shh!” Eu sibilei.
“Acalme-se, ele não consegue ouvir. Ele está falando com a bibliotecária. Ele está indo embora.”
Confirmando isso com uma rápida olhada, eu percebi que se fôssemos embora agora, provavelmente o encontraríamos na porta de saída. E então seria esperado que eu dissesse algo para ele. Eu me ordenei a voltar para a minha cadeira e procurei diligentemente nos meus bolsos por coisa alguma enquanto ele terminava de sair.
“Você acha que é sinistro ele estar aqui na mesma hora que nós?” perguntou.
“Você acha?”
“Eu acho que ele está te seguindo.”
“Eu acho que é uma coincidência.” Isso não era inteiramente verdade. Se eu tivesse que fazer uma lista dos dez lugares em que eu esperaria encontrar Patch em qualquer noite, a biblioteca pública não entraria. A biblioteca não entraria nos cem lugares. Então o que ele estava fazendo aqui?
A pergunta era particularmente perturbadora depois do que acontecera ontem a noite. Eu não tinha mencionado isso para porque eu esperava que isso encolhesse e murchasse na minha memória até parasse de ter acontecido. Ponto.
Patch!” fingiu sussurrar. “Você está perseguindo a ?”
Eu fixei minha mão sobre a boca dela. “Pára com isso. Falo sério.” Eu fiz uma cara severa.
“Aposto que ele está te seguindo,” disse , forçando a minha mão a sair. “Eu aposto que ele tem um histórico disso também. Eu aposto que ele tem medidas cautelares. Deveríamos entrar escondidas no escritório principal. Tudo deve estar na ficha estudantil dele.”
“Não vamos entrar escondidas no escritório principal.”
“Eu podia criar uma distração. Sou boa em distrações. Ninguém veria você entrar. Poderíamos ser como espiãs.”
Não somos espiãs.”
“Sabe o sobrenome dele?” perguntou.
“Não.”
“Sabe alguma coisa sobre ele?”
“Não. E eu gostaria de continuar desse jeito.”
“Ah, vamos lá. Você ama um bom mistério, e não fica melhor que isso.”
“Os melhores mistérios envolvem um corpo morto. Não temos um corpo morto.”
deu um gritinho. “Ainda não!”
Chocalhando duas pílulas de ferro da garrafa na minha mochila, eu as engoli juntas.
fez o Neon saltar em sua entrada logo depois das nove e meia. Ela desligou o motor e balançou as chaves na minha frente.
“Você não vai me levar para casa?” Eu perguntei. Um desperdício de fôlego, já que eu sabia a resposta dela.
“Tem névoa.”
“Uma névoa remendada12.”

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12 No original, ‘patchy’, que significa remendo e é um trocadilho com o nome do Patch.
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sorriu. “Ah, cara. Ele está tão na sua mente. Não que eu te culpe. Pessoalmente, estou esperando sonhar com ele hoje a noite.”
Argh.
“E a névoa sempre piora perto da sua casa,” continuou.
“Me assusta depois de escuro.”
Eu agarrei as chaves. “Muito obrigada.”
“Não me culpe. Diga a sua mãe para se mudar mais pra perto. Diga a ela que tem esse clube novo chamado civilização e que vocês deveriam se juntar.”
“Suponho que espera que eu te pegue antes da escola amanhã?”
“Às sete e meia seria bom. Café da manhã por minha conta.”
“É melhor que seja bom.”
“Seja boazinha com o meu bebê.” Ela deu um tapinha no pára-lamas do Neon. “Mas não boazinha demais. Não posso fazê-la pensar que tem melhor aí fora.”
Na viagem para casa eu permiti que meus pensamentos fizessem uma pequena viagem para Patch.
estava certa – algo sobre ele era incrivelmente sedutor. E incrivelmente sinistro. Quanto mais eu pensava sobre isso, mais eu estava convencida de que algo nele era... estranho. O fato dele gostar de me antagonizar não era exatamente digno de notícia, mas havia uma diferença entre me irritar durante a aula e possivelmente me seguir até a biblioteca para conseguir isso. Não são muitas as pessoas que se dariam a tanto trabalho... a não ser que tivessem uma boa razão.
Na metade do caminho para casa uma chuva incitou nuvens finas a cobrirem a estrada. Dividir minha atenção entre a estrada e os controles no volante, eu tentei localizar os limpadores.
As luzes da rua relinchavam acima e eu me perguntei se uma tempestade mais forte estava se aproximando. Tão perto assim do oceano o clima mudava constantemente, e uma pancada de chuva podia rapidamente se transformar em uma inundação.
Eu acelerei o Neon.
As luzes do lado de fora piscaram novamente. Um pressentimento gelado espetou a parte de trás do meu pescoço, e os pelos nos meus braços formigaram. Meu sexto sentido passou para um alerta máximo. Eu me perguntei se eu achava que estava sendo seguida. Não havia faróis no espelho retrovisor.
Nada de carros a frente, tampouco. Eu estava completamente sozinha. Não era um pensamento muito confortante. Eu acelerei o carro para setenta quilômetros.
Eu achei o limpador, mas mesmo na velocidade máxima eles não conseguiam manter o ritmo da chuva martelante. O sinaleiro a frente ficou amarelo.
Eu parei, chequei para ver se o tráfego estava vazio, então fui para o cruzamento.
Eu escutei o impacto antes de registar a silhueta negra derrapando pelo capô do carro.
Eu gritei e pisei fundo no freio. A silhueta golpeou contra o pára-brisas com uma explosão estilhaçante.
Em impulso, eu virei duramente o volante para a direita. O final do Neon desacelerou, mandando-me girando no cruzamento. A silhueta rolou e desapareceu pela beirada do capô.
Eu estava segurando minha respiração, apertando o volante entre minhas mãos de dobras brancas. Eu levantei meu pé dos pedais. O carro moveu-se rapidamente e parou.
Ele estava agachado a alguns metros, me observando. Ele não parecia nem um pouco... ferido.
Ele estava vestido totalmente de preto e misturava-se a noite, dificultando dizer como ele era. De primeira eu não consegui distinguir nenhum traço facial, e então eu percebi que ele estava usando uma máscara de esqui.
Ele ficou de pé, fechando a distância entre nós. Ele achatou suas palmas na janela do lado do motorista. Nossos olhos se conectaram através dos buracos na máscara. Um sorriso letal pareceu crescer nos dele.
Ele deu outro golpe, o vidro vibrando entre nós.
Eu dei partida no carro. Eu tentei sincronicamente colocá-lo na primeira marcha, empurrar o acelerador e soltar a embreagem. O motor entrou em movimento, mas o carro moveu-se rapidamente de novo e morreu.
Eu liguei o motor mais uma vez, mas fui distraída por um rosnado metálico desafinado. Eu observei com horror enquanto a porta começava a dobrar. Ele estava arrancando – ela – fora. Eu calquei o carro na primeira. Meus sapatos deslizaram por sobre os pedais.
O motor rugiu, a agulha de RPM13 no painel cravando na zona vermelha.

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13 Do inglês revolutions/rounds per minute, ou seja, giros por minuto.
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Seu punho passou pela janela numa explosão de vidro. Sua mão tateou meu ombro, fixando-se ao redor da minha mão. Eu dei um grito rouco, pisou com força no acelerador, e soltei a embreagem. O Neon guinchou em movimento. Ele segurou, apertando a minha mão, correndo ao lado do carro por diversos metros antes de soltar.
Eu acelerei para frente com a força da adrenalina. Eu chequei o espelho retrovisor para ter certeza de que ele não estava me perseguindo, então empurrei o espelho para encarar a distância. Eu tive que pressionar os meus lábios juntos para impedi-los de soluçar. 
Capítulo Quatro

Voando por Hawthorne, eu passei pela minha casa, dei a volta, cortei até Beech, e me dirigi de volta em direção ao centro de Coldwater. Eu disquei o número da através da agenda eletrônica.
“Algo aconteceu – eu – ele – a coisa – do nada – o Neon –”
“Está falhando. O quê?”
Eu limpei meu nariz com as costas da minha mão. Eu estava tremendo até meus dedos do pé. “Ele surgiu do nada.”
“Quem?”
“Ele –” eu tentei prender meus pensamentos e canalizá-los em palavras. “Ele pulou na frente do carro!”
“Ai, cara. Ai-cara-ai-cara-ai-cara. Você acertou um veado? Você está bem? E o Bambi?” Ela meio choramingou, meio gemeu. “O Neon?”
Eu abri minha boca, mas me cortou.
“Esquece. Eu tenho seguro. Só me diga que não tem pedaços de veado em todo o meu bebê... Nada de pedaços de veado, certo?”
Qualquer resposta que eu estive prestes a dar se dissipou no plano de fundo. Minha mente estava dois passos na frente. Um veado. Talvez eu conseguisse fazer o negócio todo parecer com uma batida em um veado. Eu queria me confidenciar na , mas eu não queria soar louca, tampouco. Como eu ia explicar assistir ao cara que eu tinha atingido se levantar e começar a arrancar a porta do carro? Eu estiquei meu colarinho para baixo do meu ombro. Nenhuma marca vermelha onde ele tinha me agarrado, que eu conseguisse ver...
Eu me dei conta de mim mesma com assombro. Eu realmente estava considerando negar o que tinha acontecido? Eu sabia o que eu tinha visto. Não foi a minha imaginação.
“Santa bizarrice,” disse. “Você não está respondendo. O veado está preso nos faróis, não está? Você está dirigindo por aí com ele travado na frente do carro como um trator para evacuar neve.”
“Posso dormir na sua casa?” Eu queria sair das ruas. Sair da escuridão. Com uma inspiração súbita de ar, eu percebi que para ir para a casa da , eu teria que dirigir de volta pelo cruzamento onde eu tinha atingido-o.
“Eu estou no meu quarto,” disse . “Pode entrar. Te vejo daqui a pouco.”
Com as minhas mãos apertadas no volante, eu empurrei o Neon pela chuva, rezando para que o sinal em Hawthorne estivesse verde em meu favor. Estava, e eu ladrilhei pelo cruzamento, mantendo meus olhos diretamente a frente, mas ao mesmo tempo, roubando olhadelas para as sombras ao lado da estrada. Não havia sinal do cara de máscara de esqui.
Dez minutos mais tarde eu estacionei o Neon na entrada da . O dano à porta era extensivo, e eu tive que colocar meu pé nela e chutar para conseguir sair. Então eu corri para a porta da frente, escapuli para dentro, e corri pela escada do porão.
estava sentada de pernas cruzadas em sua cama, o caderno apoiado em seus joelhos, os fones enfiados, o iPod ligado no máximo. “Eu quero ver o dano hoje a noite, ou devo esperar até ter pelo menos tido sete horas de sono?” ela disse por cima da música.
“Talvez a opção número dois.”
fechou o caderno e tirou os fones. “Vamos acabar com isso logo.”
Quando fomos para fora, eu encarei o Neon por um longo tempo. Não era uma noite quente, mas o tempo não era a causa dos arrepios ondulando nos meus braços. Nada de janela do lado do motorista quebrada. Nada de amasso na porta.
“Algo não está certo,” eu disse. Mas não estava escutando. Ela estava ocupada inspecionando cada centímetro quadrado do Neon.
Eu dei um passo para frente e cutuquei a janela do lado do motorista. Vidro sólido. Eu fechei meus olhos. Quando eu os reabri, a janela ainda estava intacta.
Eu dei uma volta pela traseira do carro. Eu tinha quase completado uma volta inteira quando eu parei de imediato.
Uma fina rachadura no pára-brisas.
a viu ao mesmo tempo. “Tem certeza de que não foi um esquilo?”
Minha mente relampejou de volta para os olhos letais atrás da máscara de esqui. Eles eram tão negros que eu não conseguia distinguir as pupilas das íris. Negros como... os de Patch.
“Olhe para mim, estou chorando lágrimas de alegria,” disse, esparramando-se sobre o capô do Neon em um abraço. “Uma rachadura minusculinha. Só isso!”
Eu fabriquei um sorriso, mas meu estômago azedou-se. Há cinco minutos, a janela estava quebrada e a porta estava curvada. Olhando para o carro agora, parecia impossível. Não, parecia loucura. Mas eu vi o punho dele dar um soco no vidro, e eu senti as unhas dele mordiscarem meu ombro.
Não tinha?
Quanto mais eu tentava relembrar da batida, mais eu não conseguia. Pequenas manchas de informação perdida cruzavam minha memória. Os detalhes estavam se dissipando. Ele era alto? Baixo? Magro? Grande? Ele tinha dito alguma coisa?
Eu não conseguia me lembrar. Essa era a parte mais assustadora.
e eu deixamos sua cama as sete e quinze na manhã seguinte e dirigimos até o Enzo’s Bistro para tomar de café da manhã leite fervido. Com minhas mãos encaixadas ao redor da minha xícara de porcelana, eu tentei aquecer o frio profundo dentro de mim. Eu tinha tomado banho, colocado uma veste de baixo e um cardigã emprestados do armário da , e posto um pouco de maquiagem, mas eu mal lembrava de ter feito isso.
“Não olhe agora,” disse. “mas o Sr. Suéter Verde fica olhando para cá, estimando suas longas pernas pela sua calça jeans... Ah! Ele acabou de me saudar. Não estou brincando. Uma saudaçãozinha militar de dois dedos. Que adorável.”
Eu não estava escutando. O acidente da noite passada tinha repassado inteiramente na minha cabeça a noite toda, perseguindo qualquer chance de sono. Meus pensamentos estavam embaralhados, meus olhos estavam secos e pesados, e eu não conseguia me concentrar.
“O Sr. Suéter Verde parece normal, mas o companheiro dele parece um bad boy da pesada,” disse . “Emite um certo sinal não-mexa-comigo. Diz que ele não parece com a cria do Drácula. Diz que eu estou imaginando coisas.”
Levantando meus olhos justamente o bastante para dar uma olhada nele sem parecer que eu estava, eu absorvi seu rosto lindo de ossos suaves. Cabelo loiro pairava em seus ombros. Olhos da cor de cromo. Barba por fazer. Impecavelmente vestido em uma jaqueta impecável e calça jeans escura de designer. Eu disse, “Você está imaginando coisas.”
“Você deixou passar os olhos inexpressivos? A linha capilar em V? O porte alto e esbelto? Ele talvez até seja alto o bastante para mim.”
tem quase 1,83 metros, mas ela tem uma quedinha por saltos. Saltos altos. Ela também tem uma regra sobre não namorar caras baixos.
“Está bem, qual o problema?” perguntou. “Você ficou toda incomunicável. Isso não é por causa da rachadura no pára-brisas, é? E daí que você atingiu um animal? Podia acontecer a qualquer um. Claro, as chances seriam muito menores se a sua mãe se mudasse do mato.”
Eu ia contar a a verdade sobre o que tinha acontecido. Em breve. Eu só precisava de um pouco de tempo para ordenar os detalhes. O problema era que eu não via como eu poderia. Os únicos detalhes sobrando eram assustadores, na melhor das hipóteses. Era como se uma borracha tivesse apagado a minha memória. Pensando de volta, eu me lembrava da chuva pesada caindo como cascata nas janelas do Neon, fazendo com que tudo ficasse borrado. Eu teria de fato atingido um veado?
“Hmm, dá uma olhada nisso,” disse . “O Sr. Suéter Verde está saindo do seu assento. Agora, esse é um corpo que frequenta a academia regularmente. Ele definitivamente está caminhando na nossa direção, seus olhos procurando a propriedade, a sua propriedade, isso é.”
Uma meia batida mais tarde, fomos cumprimentadas por um baixo e agradável, “Olá.”
e eu olhamos para cima ao mesmo tempo. O Sr. Suéter Verde estava atrás da nossa mesa, seus dedões presos nos bolsos de sua calça jeans. Ele tinha olhos azuis, com cabelo loiro estilosamente bagunçado arrastado em sua testa.
“Olá para você,” disse. “Eu sou . Esta é .”
Eu franzi para . Eu não apreciava ela anexando meu sobrenome, sentindo que isso violava um contrato não-verbal entre meninas, ainda mais melhores amigas, ao encontrar garotos desconhecidos. Eu dei um aceno indiferente e trouxe minha xícara aos meus lábios, imediatamente queimando minha língua.
Ele arrastou uma cadeira da mesa ao lado e se sentou de costas nela, seus braços descansando onde suas costas deveriam estar. Esticando uma mão para mim, ele disse, “Eu sou Elliot Saunders.” Sentindo-me formal demais, eu apertei-a. “E esse é Jules,” ele acrescentou, sacudindo seu queixo na direção de seu amigo, que tinha subestimado grosseiramente ao chamar de “alto”.
Jules abaixou todo o seu eu em um assento ao lado de , minimizando a cadeira.
Ela disse para ele, “Eu acho que você é o maior cara que eu já vi. Sério, quanto você mede?”
“Dois metros e oito,” Jules murmurou, tombando em seu assento e cruzando seus braços.
Elliot limpou sua garganta. “Posso pedir algo para as damas comerem?”
“Estou bem,” eu disse, levantando minha xícara. “Eu já pedi.”
me chutou por debaixo da mesa. “Ela vai querer um sonho recheado de creme de baunilha. Na verdade, dois.”
“Lá se foi a dieta, hein?” eu perguntei a .
“Hein para você. A fava de baunilha é uma fruta. Uma fruta marrom.”
“É um legume.”
“Você tem certeza disso?”
Eu não tinha.
Jules fechou seus olhos e apertou a ponte do seu nariz. Aparentemente ele estava tão animado de estar sentado connosco quanto eu estava de tê-los aqui.
Enquanto Elliot andava até o balcão frontal, eu deixei meus olhos arrastarem-se até ele. Ele definitivamente estava no ensino médio, mas eu não tinha visto ele na CHS antes. Eu me lembraria. Ele tinha uma personalidade charmosa e extrovertida que não se dissipava no plano de fundo. Se eu não estivesse me sentindo tão abalada, eu de fato poderia ter me interessado. Em amizade, talvez mais.
“Você mora por aqui?” perguntou a Jules.
“Hmm.”
“Vai para escola?”
“Kinghorn Prep.” Havia uma matiz de superioridade no jeito como ele disse isso.
“Nunca ouvi falar.”
“Escola particular. Portland. Começamos as nove.” Ele levantou sua manga e olhou para seu relógio.
mergulhou um dedo na espuma de seu leite e o lambeu. “É caro?”
Jules olhou para ela diretamente pela primeira vez. Seus olhos se esticaram, mostrando um pouco de branco ao redor das beiradas.
“Você é rico? Aposto que é,” ela disse.
Jules olhou como se ela tivesse acabado de matar uma mosca na testa dele. Ele recuou sua cadeira várias centímetros, se distanciando de nós.
Elliot retornou com uma caixa com meia dúzia de sonhos.
“Dois de creme de baunilha para as damas,” ele disse, empurrando a caixa na minha direção, “e quatro com confeitos para mim. Acho que é melhor eu me encher agora, já que eu não sei como é a lanchonete na Coldwater High.”
quase cuspiu seu leite. “Você frequenta a CHS?”
“A partir de hoje. Eu acabei de me transferir da Kinghorn Prep.”
e eu frequentamos a CHS,” disse. “Espero que aprecie sua boa sorte. Qualquer coisa que precise saber – incluindo quem deve convidar para o Baile da Primavera – é só perguntar. e eu não temos pares... ainda.”
Eu decidi que era hora de nos separarmos. Jules estava obviamente entediado e irritado, e ficar na companhia dele não estava ajudando o meu humor já impaciente. Eu fiz uma grande apresentação ao olhar no relógio do
meu celular e disse, “É melhor irmos para escola, . Temos uma teste de biologia para o qual estudar. Elliot e Jules, foi bom conhecê-los.”
“Nosso teste de biologia não é até a sexta,” disse .
Do lado de dentro, eu me contraio involuntariamente. Do lado de fora, eu sorrio descaradamente. “Certo. Eu quis dizer teste de inglês. As obras de... Geoffrey Chaucer.” Todos sabiam que eu estava mentindo.
De um jeito remoto minha grosseria me incomodava, especialmente já que Elliot não tinha feito nada para merecer isso. Mas eu não queria ficar mais sentada aqui. Eu queria continuar me movendo, me distanciando da noite passada. Talvez a memória diminuindo não fosse uma coisa tão ruim afinal. Quanto mais cedo eu esquecesse o acidente, mais cedo minha vida voltaria ao seu ritmo normal.
“Espero que tenha um ótimo primeiro dia, e talvez vejamos você no almoço,” eu disse a Elliot. Então eu arrastei por seu cotovelo e a dirigi porta afora.
O dia escolar estava quase acabando, somente biologia faltando, e após uma rápida parada no meu armário para trocar livros, eu me dirigi para aula. e eu chegamos antes de Patch; ela deslizou no assento vazio dele e cavou em sua mochila, puxando uma caixa de Hot Tamales14.
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14 Doce de canela, em formato de 'tubinho', com um gosto ardido e apimentado.
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“Um, a fruta vermelha saindo já,” ela disse, oferecendo-me a caixa.
“Deixe-me advinhar... canela é uma fruta?” eu empurrei a caixa para longe.
“Você não almoçou, tampouco,” disse, franzindo a testa.
“Não estou com fome.”
“Mentirosa. Você está sempre com fome. Isso tem a ver com Patch? Você não está preocupada que ele esteja realmente perseguindo você, está? Porque na noite passada, aquele negócio todo na biblioteca, eu estava brincando.”
Eu massageei círculos pequenos nas minhas têmporas. A dor maçante que tinha tomado residência atrás dos meus olhos resplandeceram na menção de Patch. “Patch é a última das minhas preocupações,” eu disse. Não era exatamente verdade.
“Meu assento, se não se importa.”
eu olhamos para cima simultaneamente ao som da voz de Patch.
Ele soava feliz o bastante, mas ele manteve seus olhos treinados na enquanto ela se levantava e atirava sua mochila por seu ombro. Parecia que ela
não conseguia se mover rápida o bastante; ele passou seu braço pelo corredor, convidando-a para fora.
“Bonita como sempre,” ele disse para mim, tomando sua cadeira. Ele se reclinou, esticando suas pernas na sua frente. Eu sempre soubera que ele era alto, mas eu nunca tinha medido. Olhando para a extensão das pernas dele agora, eu pressupus que ele tivesse 1,83. Talvez até 1,85.
“Obrigada,” eu respondi sem pensar. Imediatamente eu quis retirar o que dissera. Obrigada? De todas as coisas que eu poderia ter dito, “obrigada” era a pior. Eu não queria que Patch pensasse que eu tinha gostado do elogio dele. Porque eu não tinha... na maior parte. Não precisava de muita percepção para perceber que ele era encrenca, e eu já tinha tido encrenca o bastante na minha vida. Não havia necessidade de convidar mais. Talvez se eu o ignorasse, ele eventualmente desistiria de puxar conversa. E então poderíamos sentar lado a lado em uma silenciosa harmonia, como todas as outras parcerias na sala.
“Você está cheirando bem também,” disse Patch.
“Chama-se banho.” Eu estava encarando diretamente a frente. Quando ele não respondeu, eu me virei de lado. “Sabonete. Shampoo. Água quente.”
“Pelada. Conheço o esquema.”
Eu abri minha boca para mudar de assunto quando o sinal me cortou.
“Coloquem seus livros de lado,” o Treinador disse de trás da sua mesa. “Vou dar um teste de treinamento para aquecê-los para o verdadeiro dessa sexta.” Ele parou na minha frente, lambendo seu dedo enquanto tentava separar os testes. “Eu quero quinze minutos de silêncio enquanto respondem as perguntas. Então discutiremos o capítulo sete. Boa sorte.”
Eu trabalhei nas primeiras questões, respondendo-as com uma efusão rítmica de fatos memorizados. Ao menos, o teste roubou minha concentração, empurrando o acidente da noite passada e a voz nos fundos da minha mente questionando a minha sanidade de lado. Parando para me livrar de uma cãibra da mão que escrevia, eu senti Patch se inclinar na minha direção.
“Você parece cansada. Noite difícil?” ele sussurrou.
“Eu te vi na biblioteca.” Tomei cuidado em deixar meu lápis deslizando por sobre o meu teste, parecendo concentrada no trabalho.
“O ponto alto da minha noite.”
“Você estava me seguindo?”
Ele reclinou sua cabeça e riu suavemente.
Eu tentei uma abordagem diferente. “O que você estava fazendo lá?”
“Pegando um livro.”
Eu senti os olhos do Treinador em mim e me dediquei ao teste. Após responder mais diversas perguntas, eu roubei uma olhadela à minha esquerda. Eu fiquei surpresa ao encontrar Patch já me observando. Ele sorriu.
Meu coração deu um salto inesperado, assustado por esse sorriso bizarramente atraente. Para o meu horror, eu fiquei tão alarmada que derrubei meu lápis. Ele saltou pelo tampo da mesa algumas vezes antes de rolar pela beirada. Patch se inclinou para apanhá-lo. Ele o segurou na palma de sua mão, e eu tive que me concentrar para não tocar na pele dele enquanto eu o pegava.
“Depois da biblioteca,” eu sussurrei. “Para onde você foi?”
“Por quê?”
“Você me seguiu?” eu exigi baixinho.
“Você parece um tanto irritada, . O que aconteceu?” Suas sobrancelhas se levantaram em preocupação. Era tudo apresentação, porque havia uma faísca derrisória no centro de seus olhos negros.
“Você está me seguindo?”
“Por que eu iria querer te seguir?”
“Responda a pergunta.”
.” O aviso na voz do Treinador me chamou de volta para o teste. Mas eu não conseguia evitar especular sobre qual teria sido a resposta dele, e ela me fez querer deslizar para longe de Patch. Para o outro lado da sala. Para o outro lado do universo.
O Treinador gorjeou seu apito. “O tempo acabou. Passem seus testes para frente. Esperem perguntas similares nessa sexta. Agora” – ele juntou suas mãos, e o som seco dele me fez estremecer – “para a lição de hoje. Senhorita , quer declarar o nosso tópico?”
“S-e-x-o,” anunciou.
Precisamente após ela ter anunciado, eu desliguei. Patch estava me seguindo? Era ele o rosto por trás da máscara de esqui – se houvesse mesmo um rosto por trás da máscara? O que ele queria? Eu abracei meus cotovelos, de repente me sentindo muito gelada. Eu queria que a minha vida voltasse a ser do jeito que era antes de Patch entrasse de supetão na minha vida.
Ao final da aula, eu impedi Patch de ir embora. “Podemos conversar?”
Ele já estava de pé, então ele se sentou na beirada da mesa. “O que foi?”
“Eu sei que você não quer se sentar perto de mim mais do que eu quero me sentar perto de você. Eu acho que o Treinador pode considerar mudar os nossos assentos se você falar com ele. Se você explicar a situação –”
“A situação?”
“Nós não somos – compatíveis.”
Ele esfregou uma mão em sua mandíbula, um gesto calculado ao qual eu tinha me acostumado nos poucos dias que eu o conhecia. “Não somos?”
“Não estou anunciando notícias devastadoras aqui.”
“Quando o Treinador perguntou a minha lista de qualidades desejadas em uma companheira, eu dei você a ele.”
Minha boca caiu ligeiramente. “Retire o que disse.”
“Inteligente. Atraente. Vulnerável. Você discorda?”
Ele estava fazendo isso com o único propósito de me antagonizar, e isso só me irritava mais. “Você vai pedir ao Treinador para mudar os nossos assentos ou não?”
“Passo. Me afeiçoei a você.”
O que eu devia dizer a isso? Ele estava obviamente mirando para conseguir uma reação de mim. O que não era difícil, já que eu nunca conseguia dizer quando ele estava brincando, e quando ele estava sendo sincero.
Eu tentei injetar uma medida de equanimidade na minha voz. “Eu acho que você ficaria muito melhor sentado com outra pessoa. E acho que você sabe disso.” Eu sorri, tensa, mas educada.
“Acho que eu poderia acabar ao lado da .” O sorriso dele parecia tão educado quando. “Não vou forçar a minha sorte.”
apareceu do lado da nossa mesa, olhando entre mim e Patch. “Interrompendo algo?”
“Não,” eu disse, fechando a minha mochila com força. “Eu estava perguntando ao Patch sobre a leitura de hoje a noite. Eu não conseguia lembrar quais páginas o Treinador tinha passado.”
disse, “A lição está no quadro, como sempre. Como se você já não tivesse lido-a.”
Patch riu, parecendo dividir uma piada particular com ele mesmo. Não pela primeira vez, eu desejei saber o que ele estava pensando. Porque as vezes eu tinha certeza que essas piadas particulares tinham tudo a ver comigo. “Algo mais, ?” ele disse.
“Não,” eu disse. “Vejo você amanhã.”
“Vou ficar esperando.” Ele piscou. Realmente piscou.
Após Patch estar fora de alcance, agarrou meu braço. “Boas notícias. Cipriano. Esse é o sobrenome dele. Eu vi na lista de chamada do Treinador.”
“E isso é algo para se estar feliz porque...?”
“Todos sabem que os estudantes devem registar remédios na enfermaria.” Ela puxou o bolso fronteiro da minha mochila, onde eu mantinha minhas pílulas de ferro. “Igualmente, todos sabem que a enfermaria está convenientemente localizada no lado de dentro do escritório principal, onde, acontece, as fichas estudantis também são mantidas.”
Os olhos ardentes, travou seu braço no meu e puxou-me na direção da porta. “Hora de fazer uma investigação de verdade.” 
Capítulo Cinco

“Posso ajudá-la?”
Eu me forcei a sorrir para a secretária do escritório principal, esperando não parecer tão desonesta quanto eu me sentia. “Eu tenho uma receita que tomo diariamente na escola, e minha amiga –”
Minha voz ficou presa na palavra, e eu me perguntei se depois de hoje eu chamaria de minha amiga novamente.
“– minha amiga me informou que eu tenho que registá-la com a enfermeira. Você sabe se isso está correto?” Eu não conseguia acreditar que estava parada aqui, pretendendo fazer algo ilegal. Ultimamente, eu estava exibindo muitos comportamentos não-característicos. Primeiro eu tinha seguido Patch para uma arcada de má reputação tarde da noite. Agora eu estava a beira de bisbilhotar seu arquivo estudantil. Qual era o meu problema? Não – qual era o problema do Patch, que quando se tratava dele, eu não conseguia parar de exercer maus julgamentos.
“Ah, sim,” a secretaria disse solenemente. “Todos os remédios precisam ser registados. A enfermaria é aqui por trás, terceira porta à esquerda, do outro lado dos registos estudantis.” Ela gesticulou para o corredor atrás dela. “Se a enfermeira não estiver lá, você pode se sentar na cama portátil dentro do escritório dela. Ela deve voltar a qualquer minuto.”
Eu fabriquei outro sorriso. Eu realmente esperava que fosse ser tão fácil.
Dirigindo-me para o corredor, eu parei para diversas vezes para checar sobre meu ombro. Ninguém veio atrás de mim.
O telefone no escritório principal estava tocando, mas soava como um mundo distante do corredor turvo onde eu estava. Eu estava totalmente sozinha, livre para fazer o que eu desejava.
Eu parei com tudo na terceira porta à esquerda. Eu inspirei e bati, mas estava óbvio pela janela escura que a sala estava vazia. Eu empurrei a porta. Ela se moveu com relutância, abrindo com um rangido para uma sala compacta com azulejo branco desgastado. Eu fiquei de pé na entrada por um momento, quase desejando que a enfermeira aparecesse para que eu não tivesse escolha a não ser registar minhas pílulas de ferro e ir embora. Um rápido olhar para o outro lado do corredor revelou uma porta com uma janela escrita REGISTROS ESTUDANTIS. Ela também estava escura.
Eu foquei minha atenção em um pensamento importunador no fundo da minha mente. Patch alegava que ele não tinha ido para escola no ano passado. Eu estava bem certa de que ele estava mentindo, mas se ele não estivesse, ele ao menos teria um registo estudantil? Ele teria um endereço residencial pelo menos, eu deduzi. E uma ficha médica, e as notas do último semestre. Ainda assim. Uma possível suspensão parecia um preço grande para pagar para espiar a ficha médica de Patch.
Eu inclinei um ombro contra a parede e chequei meu relógio. me dissera para esperar pelo seu sinal. Ela disse que seria óbvio.
Ótimo.
O telefone no escritório principal tocou novamente, e a secretária atendeu.
Mastigando meu lábio, eu roubei uma segunda espiada na porta rotulada REGISTROS ESTUDANTIS. Havia uma boa chance dela estar trancada. Arquivos estudantis provavelmente com considerados de alta segurança. Não importava que tipo de distração criasse, se a porta estivesse trancada, eu não entraria.
Eu mudei a minha mochila para o ombro oposto. Outro minuto passou. Eu disse a mim mesma que talvez devesse ir embora...
Por outro lado, e se estivesse certa? E se Patch tivesse um passado criminal? Como sua parceira de biologia, contato regular com ele podia me colocar em perigo. Eu tinha uma responsabilidade de me proteger... não tinha?
Se a porta estivesse destrancada e os arquivos estivessem em ordem alfabética, eu não teria problema algum em localizar o arquivo de Patch rapidamente. Acrescente outros poucos segundos para folhear seu arquivo por algum sinal de perigo, e eu provavelmente poderia entrar e sair da sala em menos e um minuto. O que era tão breve que poderia parecer que eu não tinha entrado de modo algum.
As coisas tinham ficado estranhamente silenciosas no escritório principal. De repente circulou a esquina. Ela se esgueirou pela parede na minha direção, andando agachada, arrastando suas mãos pela parede, roubando olhares clandestinos por sobre o seu ombro. Era o tipo de andar que espiões elaboravam em filmes antigos.
“Tudo está sob controle,” ela sussurrou.
“O que aconteceu com a secretária?”
“Ela teve que sair do escritório por um minuto.”
“Teve que? Você não a incapacitou, foi?”
“Não dessa vez.”
Graças a Deus pelas pequenas misericórdias.
“Eu alertei uma amiga de bomba do telefone público lá fora,” disse. “A secretária ligou para a polícia, então correu para achar o diretor.”
!”
Ela bateu em seu pulso. “A hora está passando. Não queremos estar aqui quando os tiras chegarem.”
Nem me diga.
e eu medimos a porta para os registos estudantis.
“Mexa-se,” disse, batendo-me com seu quadril.
Ela abaixou sua manga sobre seu pulso e o bateu na janela.
Nada aconteceu.
“Isso foi só pra praticar,” ela disse. Ela recuou para dar outro soco e eu agarrei seu braço.
“Pode estar destrancada,” eu virei a maçaneta e a porta se abriu.
“Isso não foi tão divertido,” disse .
Uma questão de opinião.
“Entra você,” instruiu. “Eu vou ficar de vigilância. Se tudo correr bem, nós nos encontraremos em uma hora. Encontre-me no restaurante mexicano na esquina da Drake com a Beech.” Ela andou agachada pelo corredor.
Eu fiquei sozinha de pé parcialmente dentro e parcialmente fora da sala estreita alinhada à parede com armários. Antes que a minha consciência me convencesse, eu entrei e fechei a porta atrás de mim, pressionando as minhas costas contra ela.
Com um fôlego profundo, eu escorreguei a minha mochila e me apressei, arrastando meu dedo pela frente dos armários. Eu achei a gaveta marcada CAR-CUV. Com um puxão, a gaveta se abriu com uma pancada. As etiquetas nos arquivos estavam escritas a mão, e eu me perguntei se Coldwater High era a última escola no país não computadorizada.
Meus olhos passaram pelo nome “Cipriano.”
Eu puxei o arquivo da gaveta entupida com violência. Eu o segurei em minhas mãos por um momento, tentando me convencer que não havia nada de muito errado com o que eu estava prestes a fazer. E daí que havia informações confidenciais dentro? Como parceira de biologia do Patch, eu tinha o direito de saber dessas coisas.
Do lado de fora, vozes encheram o corredor.
Eu remexi no arquivo aberto e imediatamente recuei. Não fazia sentido algum.
As vozes avançaram.
Eu enfiei o arquivo ao acaso dentro da gaveta e dei um empurrão, fazendo-a agitar-se de volta no armário. Enquanto eu me virava, eu congelei. Do outro lado da janela, o diretor estava parado a meio caminho, seu olhar fechando-se sobre mim.
O que quer que ele estivera dizendo para o grupo, que consistia de todos os maiores membros do conselho da escola, dissipou-se. “Me dêem licença por um instante,” eu o ouvi dizer. O grupo continuou acotovelando-se para frente. Ele não.
Ele abriu a porta. “Essa área é fora dos limites para estudantes.”
Eu coloquei uma cara indefesa. “Eu sinto tanto. Estou tentando achar a enfermaria. A secretária disse que era a terceira porta a direita, mas eu acho que contei errado...” Eu joguei minhas mãos para cima. “Estou perdida.”
Antes que ele pudesse responder, eu puxei com violência o zíper da minha mochila. “Eu deveria registá-las. Pílulas de ferro,” eu expliquei. “Eu sou anêmica.”
Ele me estudou por um momento, sua testa enrugando. Eu achei que conseguia vê-lo pesando suas opções: ficar por aqui e lidar comigo, ou lidar com a ameaça de bomba. Ele sacudiu seu queixo porta afora. “Eu preciso que você saia do prédio imediatamente.”
Ele sustentou a porta aberta e eu me abaixei por debaixo do seu braço, meu sorriso sofrendo um colapso.
***
Uma hora mais tarde eu deslizei numa cabine de canto no restaurante mexicano na esquina do Drake com a Beech. Um cacto de cerâmica e um coiote empalhado estavam na parede acima de mim. Um homem usando um sombrero mais largo do que ele era alto passou vagueando. Dedilhando cordas em seu vidão, ele me fez uma serenata enquanto o hostess colocava cardápios na mesa. Eu franzi a testa para o símbolo no copo da frente. The Borderline. Eu não tinha comido aqui antes, mas ainda assim algo no nome me soava vagamente familiar.
surgiu atrás de mim e caiu no assento oposto. Nosso garçom seguia de perto.
“Quatro chimis15, creme de leite extra, uma porção de nachos, e uma porção de feijões pretos,” disse a ele sem consultar o cardápio.
 “Um red burrito16,” eu disse.
“Contas separadas?” ele perguntou.
“Eu não vou pagar por ela,” e eu dissemos ao mesmo tempo.
Após o nosso garçom ir embora, eu disse, “Quatro chimis. Estou ansiosa em ouvir a conexão com uma fruta.”
“Nem começa. Eu estou morrendo de fome. Não comi desde o almoço.” Ela pausou. “Se não contar os Hot Tamales, o que eu não conto.”
é voluptuosa, com complexo escandinavo, e de um jeito heterodoxo, incrivelmente sexy. Houvera dias onde a nossa amizade era a única coisa no caminho da minha inveja. Perto da , a única coisa que eu tenho a meu favor são as minhas pernas. E talvez meu metabolismo. Mas definitivamente não o meu cabelo.
“É melhor que ele traga chips logo,” disse . “Eu vou ficar com urticária se eu não comer algo salgado nos próximos quarenta e cinco segundos. E de qualquer jeito, as primeiras três letras na palavra dieta17 devem te informar o que eu quero que aconteça a ela.”
“Eles fazem salsa com tomate,” eu apontei. “É vermelho. E abacates são frutas. Eu acho.”
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15 Abreviação de chimichanga. É feito a partir de tortilhas, e tem ingredientes como feijão, arroz, queijo, carne moída, tiras de carne, carne em conserva ou tiras de frango. É então frito e servido com salsa, guacamole, creme de leite e/ou queijo.
16 Feito com carne moída, arroz mexicano, feijões re-fritos e salsa robusta – tudo enfiado em uma tortilha quente. Então é colocado um molho apimentado e queijo cheddar derretido.
17 Primeiras 3 letras = die, 'morra' em português.
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Seu rosto se iluminou. “E vamos pedir daiquiris de morango.”
estava certa. Essa dieta era fácil.
“Já volto,” ela disse, deslizando para fora da cabine. “Aquele período do mês. Depois disso, eu quero o furo.”
Enquanto esperava por ela, eu me encontrei concentrada no assistente de garçom há algumas mesas. Ele estava trabalhando arduamente esfregando um pano sobre o topo de uma mesa. Havia algo estranhamente familiar no jeito com que ele se movia, no jeito que sua camisa caia sobre o arco de suas costas bem definidas. Quase como se ele suspeitasse que estava sendo observado, ele se endireitou e se virou, seus olhos fixos nos meus no exato momento em que eu descobri o que era tão familiar nesse assistente de garçom em particular.
Patch.
Eu não conseguia acreditar nisso. Eu pensei em dar um tapa na minha testa quando eu me lembrei que ele tinha me contado que trabalhava na Borderline.
Enxugando suas mãos em seu avental, ele andou até aqui, aparentemente gostando do meu desconforto enquanto eu procurava ao redor por alguma maneira de escapar, descobrindo que eu não tinha lugar algum para ir a não ser para mais dentro da cabine.
“Ora, ora,” ele disse. “Cinco dias por semana não é o bastante de mim? Tinha que me ceder uma noite também?”
“Eu peço desculpas pela infeliz coincidência.”
Ele deslizou no assento da . Quando ele abaixou seus braços, eles eram tão longos que cruzavam na minha metade da mesa. Ele alcançou o meu copo, girando-o em suas mãos.
“Todos os assentos aqui estão tomados,” eu disse. Quando ele não respondeu, eu peguei meu copo de volta e tomei um gole d’água, engolindo acidentalmente um cubo de gelo. Queimou o caminho todo. “Você não deveria estar trabalhando, ao invés de fraternizando com os clientes?” eu engasguei.
Ele sorriu. “O que você vai fazer domingo a noite?”
Eu bufei. Por acidente. “Você está me chamando para sair?”
“Você está ficando metida. Eu gosto disso, Anjo.”
“Eu não ligo para o que você gosta. Eu não vou sair com você. Não em um encontro. Não sozinha.” Eu queria me chutar por ter sentido um tremor quente ao especular o que uma noite sozinha com Patch poderia trazer. Era mais provável que ele nem quisesse ter dito isso. Era mais provável que ele estivesse me sondando por razões conhecidas só por ele próprio. “Espera aí, você acabou de me chamar de Anjo?” eu perguntei.
“E se eu chamei?”
“Eu não gosto.”
Ele sorriu. “Vai ficar. Anjo.”
Ele se inclinou sobre a mesa, levantou sua mão para o meu rosto, e roçou seu dedão pelo canto da minha boca. Eu me afastei, tarde demais.
Ele esfregou gloss labial entre seu dedão e seu indicador. “Você ficaria melhor sem isso.”
Eu tentei lembrar do que estávamos falando, mas não tão arduamente quanto eu tentei parecer impassível ao seu toque. Eu joguei meu cabelo para trás sobre o meu ombro, pegando o fio da nossa conversa anterior. “De qualquer jeito, eu não posso sair em noites de escola.”
“Que pena. Tem uma festa na costa. Achei que pudéssemos ir.” Ele realmente soou sincero.
Eu não conseguia entendê-lo. Não mesmo. O tremor quente de antes ainda prolongava-se no meu sangue, e eu tomei um longo gole do meu canudo, tentando esfriar meus sentimentos com uma dose de água gelada. Tempo sozinha com Patch seria intrigante, e perigoso. Eu não tinha certeza de como exatamente, mas eu estava confiando nos meus instintos nessa.
Eu fingi um bocejo. “Bem, como eu disse, é uma noite de escola.” Na esperança de convencer a mim mesma mais do que ele, eu acrescentei, “Se essa festa é algo na qual você está interessado, eu posso quase garantir que eu não estarei.”
Pronto, eu pensei. Caso encerrado.
E então, sem nenhum aviso qualquer, eu disse, “Por que você está me chamando, de qualquer jeito?”
Até esse momento, eu fiquei dizendo a mim mesma que não ligava para o que Patch pensava de mim. Mas agora, eu sabia que era uma mentira. Mesmo que isso provavelmente voltasse para me assombrar, eu estava curiosa o bastante sobre Patch para ir a quase qualquer lugar com ele.
“Eu quero ficar com você a sós,” Patch disse. Bem dessa maneira, minhas defesas atacaram.
“Escuta, Patch, eu não quero ser rude, mas –”
“Claro que quer.”
“Bom, você começou!” Adorável. Muito maduro. “Eu não posso ir na festa. Fim de papo.”
“Por que você não pode sair em uma noite de escola, ou por que você tem medo de ficar sozinha comigo?”
“Ambos.” A confissão simplesmente escorregou de mim.
“Você tem medo de todos os caras... ou só de mim?”
Eu girei meus olhos, como se para dizer que não ia responder uma pergunta tão insana.
“Eu te deixo desconfortável?” Sua boca permaneceu uma linha neutra, mas eu detectei um sorriso de especulação preso atrás dela.
Sim, na verdade, ele tinha esse efeito em mim. Ele também tinha a tendência de apagar todos os pensamentos lógicos da minha mente.
“Me desculpe,” eu disse. “Sobre o que estávamos falando?”
“Você.”
“Eu?”
“A sua vida pessoal.”
Eu ri, incerta de que outra resposta dar. “Se isso for sobre mim... e o sexo oposto... já fez esse discurso. Não preciso ouvi-lo duas vezes.”
“E o que a velha e sábia disse?”
Eu estava brincando com as minhas mãos, e as deslizei para fora de visão. “Não consigo imaginar o por que de você estar tão interessado.”
Ele balançou suavemente sua cabeça. “Interessado? Estamos falando de você. Estou fascinado.” Ele sorriu, e foi um sorriso fantástico. O efeito foi uma pulsação avassaladora – a minha pulsação avassaladora.
“Eu acho que você deveria voltar ao trabalho,” eu disse.
“Se é que isso conta, eu gosto da ideia de que não haja um cara na escola que corresponda às suas expectativas.”
“Eu esqueci que você é a autoridade das minhas supostas expectativas,” eu fiz troça.
Ele me estudou de um jeito que me fez parecer transparente. “Você não é cautelosa, . Não é tímida, tampouco. Você só precisa de uma razão muito boa para sair do seu caminho para conhecer alguém.”
“Eu não quero mais falar de mim.”
“Você acha que desvendou tudo.”
“Não é verdade,” eu disse. “Por exemplo, bem, assim, eu não sei muito sobre... você.”
“Você não está pronta para me conhecer.”
Não havia nada de leve no jeito como ele disse isso. De fato, sua expressão era afiada como uma navalha.
“Eu olhei no seu arquivo estudantil.”
Minhas palavras pairaram no ar por um instante antes que os olhos de Patch se alinhassem com os meus. “Estou bastante certo de que isso é ilegal,” ele disse calmamente.
“Seu arquivo estava vazio. Nada. Nem mesmo uma ficha médica.”
Ele não fingiu parecer surpreso. Ele relaxou de volta em seu assento, os olhos brilhando obsidianamente. “E você está me contando isso porque tem medo que eu cause um surto? Sarampo, ou caxumba?”
“Estou te contando isso porque eu quero que você saiba que eu sei que algo sobre você não é certo. Você não enganou a todos. Eu vou descobrir o que você está aprontando. Eu vou te expor.”
“Estou ansioso por isso.”
Eu corei, captando a insinuação tarde demais. Por sobre a cabeça do Patch, eu consegui ver a tecendo seu caminho pelas mesas.
Eu disse, “ está vindo. Você tem que ir.”
Ele ficou no lugar, olhando-me, considerando.
“Por que está me olhando desse jeito?” eu desafiei.
Ele inclinou-se para frente, preparando-se para levantar. “Porque você não é nem um pouco como eu esperava.”
“Nem você,” eu reagi. “Você é pior.” 
Capítulo Seis

Na manhã seguinte fiquei surpresa por ver Elliot entrar no primeiro período de EF18 justo quando o sinal de atraso soou. Ele estava vestido com uma bermuda de basquete e um moletom branco da Nike. Seus tênis de cano alto pareciam novos e caros. Após dar um pedaço de papel para a Senhorita Sully, ele capturou o meu olhar. Ele deu um aceno baixo e se juntou a mim nas arquibancadas.
 “Eu estava me perguntando quando iríamos nos esbarrar novamente,” ele disse. “O escritório principal percebeu que eu não tive EF pelos últimos dois anos. Não é obrigatório em escolas particulares. Eles estão debatendo como vão encaixar quatro anos de EF nos próximos dois e meio. Então aqui estou eu. Eu tenho EF no primeiro e no quarto período.”
“Não fiquei sabendo por que você se transferiu para cá,” eu disse.
“A anuidade estava comendo toda a aposentadoria dos meus pais,”
A Senhorita Sully soprou seu apito.
“Suponho que o apito signifique algo,” Elliot disse para mim.
“Dez voltas ao redor do ginásio, nada de cortar caminho.” Eu me levantei das arquibancadas. “Você é atleta?”
Elliot deu um pulo, dançando na ponta dos pés. Ele lançou alguns ganchos e socos no ar. Ele terminou com um direto no queixo que parou bem perto do meu. Sorrindo, ele disse, “Um atleta? Até a alma.”
“Então você vai amar a idéia de diversão da Senhorita Sully.”
Elliot e eu corremos as dez voltas juntos, então nos dirigimos para fora, onde o ar estava atado com uma névoa fantasmagórica. Parecia obstruir os meus pulmões, me sufocando. Do céu vazava alguns pingos de chuva, tentando arduamente empurrar uma tempestade na cidade de Coldwater. Eu olhei as portas do prédio, mas sabia que não faria diferença alguma; a Senhorita Sully era durona.
“Eu preciso de dois capitães para softball19,” ela chamou. “Vamos, pareçam vivos – Vamos ver algumas mãos no ar! O melhor voluntário, ou eu escolherei os times, e eu nem sempre jogo limpo.”

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18 Educação Física.
19 Também conhecido como softbol, é uma variação mais leve do basebol, e, por isso, uma modalidade mais popular entre mulheres. As regras são praticamente as mesmas, sendo as diferenças o tamanho da bola (maior) e do campo (menor) e o tempo de jogo (sete entradas, ao invés de nove).
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Elliot levantou sua mão.
“Certo,” a Senhorita Sully disse para ele. “Aqui, na base do batedor. E que tal... Marcie Miller como capitã do time vermelho.”
Os olhos de Marcie varreram Elliot. “Manda ver.”
“Elliot, vá em frente e escolha primeiro,” a Senhorita Sully disse.
Precipitando seus dedos em seu queixo, Elliot examinou a sala, parecendo avaliar nossas habilidades de rebater e apanhar só pela nossa aparência. “,” ele disse.
Marcie jogou seu pescoço para trás e riu. “Obrigado,” ela disse a Elliot, mostrando-lhe um sorriso tóxico que, por razões que eu não conseguia entender, hipnotizava o sexo oposto.
“Pelo quê?” disse Elliot.
“Por nos entregar o jogo.” Marcie apontou um dedo pra mim. “Há uma centena de razões para eu ser uma líder de torcida e a não. Coordenação encabeça a lista”.
Eu estreitei meus olhos para Marcie, então caminhei até o lado do Elliot e enfiei um uniforme azul por sobre a minha cabeça.
e eu somos amigos,” Elliot disse a Marcie calmamente, quase friamente. Era um exagero, mas eu não ia corrigi-lo. Marcie pareceu como se um balde d’água fria tivesse sido jogado nela, e eu estava gostando disso.
“Isso é porque você não conheceu ninguém melhor. Como eu.” Marcie retorceu seu cabelo ao redor de seu dedo. “Marcie Miller. Você saberá tudo sobre mim muito em breve.” Ou seu olho teve um tique, ou ela piscou para ele.
Elliot não deu resposta alguma, e seu ranking de aprovação subiu alguns degraus. Um cara menor20 teria caído de joelhos e implorado a Marcie por qualquer atenção que ela desejasse dispor.
 “Queremos ficar aqui a manhã toda esperando a chuva vir, ou ir direto ao negócio?” a Senhorita Sully perguntou.
Após dividir os times, Elliot liderou o nosso até o abrigo cavado e determinou a ordem de rebatida. Dando-me um taco, ele empurrou um capacete na minha cabeça. “Você é a primeira, . Tudo o que precisamos é que chegue a base.”
Dando um giro de prática, e quase acertando-o com ele, eu disse. “Mas eu estava com vontade de fazer um home run21.”
“Vamos fazer um desses também.” Ele me direcionou na direção da base do batedor. “Vá para o campo e balance inteiramente.”
Eu equilibrei o taco no meu ombro, pensando que talvez eu devesse ter prestado mais atenção durante o World Series22. Está bem, talvez eu devesse ter assistido o World Series. Meu capacete deslizou sobre meus olhos, e eu o empurrei para cima, tentando analisar o campo interno, que estava perdido debaixo de punhados de neblina necrófagas.
Marcie Miller tomou seu lugar no monte do arremessador. Ela segurou a bola na frente de si, e eu notei que seu dedo do meio estava levantado para mim. Ela mostrou outro sorriso tóxico e jogou a bola de softball para mim.
Eu peguei um pedaço dela, mandando-a voando para a terra no lado errado da linha de falta.
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20 Aqui no sentido de ‘menos digno’.
21 home run é uma rebatida na qual o rebatedor é capaz de circular todas as bases, terminando na casa base e anotando uma corrida (junto com uma corrida anotada por cada corredor que já estava na base).
22 São as finais do campeonato de basebol da Major League Baseball. É disputada entre os campeões da National League e da American League numa série melhor de 7.
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“Foi um strike!” a Senhorita Sully chamou de sua posição entre a primeira e a segunda base.
Elliot gritou do abrigo cavado, “Essa tinha muito giro – mande uma limpa para ela!” Levei um momento para perceber que ele estava falando com a Marcie e não comigo.
Novamente a bola deixou a mão de Marcie, arqueando-se sobre o céu sombrio. Eu girei, um erro puro.
“Segundo Strike,” Anthony Amowitz disse pela máscara de receptor.
Eu lhe dei um olhar duro.
Afastando-me da base, eu dei mais alguns giros de prática. Eu quase não vi Elliot vindo atrás de mim. Ele esticou seus braços ao meu redor e posicionou suas mãos no taco, fluindo com as minhas.
“Deixe-me te mostrar,” ele disse no meu ouvido. “Assim. Sente isso? Relaxe. Agora gire seu quadril – está tudo no quadril.”
Eu conseguia sentir meu rosto esquentar com os olhos da classe em nós. “Acho que peguei o jeito, obrigada.”
“Arrumem um quarto!” Marcie disse para nós. O campo inteiro riu.
“Se você lhe jogasse um arremesso decente,” Elliot disse de volta, “ela acertaria a bola.”
“Meu arremesso está certeiro.”
“O giro dela está certeiro.” Elliot abaixou sua voz, falando só comigo. “Você perde contato visual no minuto que ela solta a bola. Os arremessos dela não são limpos, então você vai ter que trabalhar para acertá-los.”
“Estamos segurando o jogo aqui, gente!” a Senhorita Sully chamou.
Bem então, no estacionamento além do abrigo cavado algo chamou minha atenção. Eu pensei ter ouvido meu nome ser chamado. Eu me virei, mas mesmo quando o fazia, eu sabia que meu nome não fora dito em voz alta. Tinha sido dito silenciosamente na minha mente.
.
Patch usava um boné de basebol azul claro e estava com seus dedos presos na cerca com malha em forma de corrente, inclinando-se contra ela. Nada de casaco, apesar do clima. Só preto da cabeça aos pés. Seus olhos estavam opacos e inacessíveis enquanto ele me observava, mas eu suspeitava que havia muito acontecendo por trás deles.
Outra seqüencia de palavras arrastou-se pela minha mente.
Lições para rebater? Belo... toque.
Eu soltei uma respiração firme e disse a mim mesma que tinha imaginado as palavras. Porque a alternativa era considerar que Patch tinha o poder de enviar pensamentos para a minha mente. O que não podia ser. Simplesmente não podia. A não ser que eu estivesse delirando. Isso me assustava mais do que a ideia de que ele tivesse violado métodos normais de comunicação e pudesse, por vontade, falar comigo sem mesmo abrir sua boca.
! Fique atenta ao jogo!”
Eu pestanejei, voltando a vida bem a tempo de ver a bola rolando pelo ar na minha direção. Eu comecei a balançar, então ouvi outra corrente de palavras.
Ainda... não.
Eu segurei, esperando pela bola chegar até mim. Enquanto ela descia, eu dei um passo para frente na direção da frente da base. Eu girei com tudo que tinha.
Um grande estouro soou, e o taco vibrou nas minhas mãos. A bola viajou até Marcie, que caiu de costas. Apertando-se entre a interbase e a segunda base, a bola saltou pela grama do campo interno.
“Corre!” meu time gritou do abrigo cavado. “Corre, !”
Eu corri.
“Derruba o taco!” eles gritaram.
Eu o joguei de lado.
“Fica na primeira base!”
Eu não fiquei.
Pisando num canto da primeira base, eu a circulei, correndo a toda velocidade na direção da segunda. O campo esquerdo tinha a bola agora, em posição para me expulsar. Eu abaixei minha cabeça, movi meus braços a todo gás, e tentei me lembrar como os profissionais da ESPN deslizavam para a base. Primeiro com os pés? Primeiro com a cabeça? Parar, cair, e rolar?
A bola navegou na direção do jogador da segunda base, um branco girando em algum lugar da minha visão periférica. Uma entonação animada da palavra “Deslize!” veio do abrigo cavado, mas eu ainda não tinha me decidido qual acertaria a terra gelada antes – meus sapatos ou meu rosto.
O jogador da segunda base agarrou a bola do ar. Eu mergulhei primeiro de cabeça, os braços esticados. A luva saiu do nada, descendo sobre mim. Ela colidiu com o meu rosto, um cheiro forte de couro. Meu corpo machucou-se na terra, deixando-me com um bocado de brita e areia se dissolvendo debaixo da minha língua.
“Ela está fora!” gritou a Senhorita Sully.
Eu cambaleei de lado, me inspecionando por machucados. Minhas coxas queimavam em uma estranha mistura de quente e frio, e quando levantei minha roupa de malha, dizer que parecia que dois gatos tinham sido soltos nas minhas coxas seria uma atenuação. Mancando até o abrigo cavado, eu desmoronei no banco.
“Fofo,” Elliot disse.
“O truque que eu fiz ou minha perna machucada?” Dobrando meu joelho contra meu peito, eu gentilmente tirei o máximo de terra que eu consegui.
Elliot curvou-se de lado e soprou o meu joelho. Vários dos pedaços maiores de terra caíram no chão.
Um momento de silêncio estranho se seguiu.
“Consegue andar?” ele perguntou.
Ficando de pé, eu demonstrei que, enquanto minha perna estava uma zona de arranhões e terra, eu ainda conseguia usá-la.
“Posso te levar para a enfermaria se você quiser. Te colocar uns band-aids,” ele disse.
“Sério, eu estou bem.” Eu olhei para a cerca, onde tinha visto Patch por último. Ele não estava mais ali.
“Aquele era o seu namorado parado na cerca?” Elliot perguntou.
Eu fiquei surpresa por Elliot ter notado Patch. Ele estivera de costas para ele. “Não,” eu disse. “Só um amigo. Na verdade, nem isso. Ele é o meu parceiro de biologia.”
“Você está corando.”
“Provavelmente queimadura de vento.”
A voz do Patch ainda ecoava na minha cabeça. Meu coração bombeava mais rápido, mas na verdade, meu sangue correu mais gelado. Ele tinha falado diretamente com os meus pensamentos? Havia alguma ligação inexplicável entre nós que permitia que isso acontecesse? Ou eu estava ficando louca?
Elliot não pareceu inteiramente convencido. “Você tem certeza de que nada está acontecendo entre vocês dois? Eu não quero perseguir uma garota que não está disponível.”
“Nada.” Nada que eu fosse permitir, de qualquer jeito.
Espera. O que Elliot tinha dito?
Perdão?” eu disse.
Ele sorriu. “A Delphic Seaport reabre nesse sábado à noite, e Jules e eu estamos pensando em dirigir até lá. O clima não deve estar muito ruim. Talvez você e a Vickie queiram ir?”
Eu levei um momento para considerar essa oferta. Eu tinha bastante certeza de que se eu recusasse o Elliot, a me mataria. Além do mais, sair com Elliot parecia um jeito bom de escapar da minha desconfortável atração pelo Patch.
“Parece uma boa ideia,” eu disse. 
Capítulo Sete

Era sábado à noite, e Dorothea e eu estávamos na cozinha. Ela tinha acabado de colocar uma caçarola no forno e estava examinando uma lista de tarefas que minha mãe deixou pendurada por um imã na geladeira.
“Sua mãe ligou, Ela não vai chegar até segunda à noite,” Dorothea disse enquanto esfregava ajax na pia da nossa cozinha com um vigor que fez meu cotovelo doer. “Ela deixou uma mensagem na secretária. Ela quer que você ligue para ela. Você está ligando toda noite antes de dormir?”
Eu sentei no banquinho do bar, comendo um bagel amanteigado. Eu tinha acabado de dar uma grande mordida, e agora Dorothea estava me olhando como se quisesse uma resposta. “Hm-hmm,” eu disse, comendo.
“Uma carta da escola chegou hoje.” Ela mexeu seu queixo na direção da pilha de cartas no balcão. “Talvez saiba por quê?”
Eu dei a minha melhor encolhida de ombros inocente e disse, “Nem ideia.” Mentalmente, eu plantei a palma da minha mão firmemente contra minha testa. Há doze meses eu abrira a porta da frente para encontrar a polícia nos degraus. Temos más notícias, eles disseram. O funeral do meu pai foi uma semana depois. Toda segunda à tarde desde então eu aparecia no meu espaço de tempo marcado com o Dr. Hendrickson, o psicólogo da escola. Eu tinha perdido as duas últimas sessões, e se eu não comparecesse essa semana, eu ia ficar encrencada. Era bem provável que a carta fosse um aviso.
“Você tem planos hoje à noite? Você e a estão tomando algo? Talvez um filme aqui em casa?”
“Talvez. Honestamente, Doth, eu posso limpar a pia mais tarde. Venha se sentar e... comer a outra metade do meu bagel.”
O coque cinza de Dorothea estava se desfazendo a medida em que ela esfregava. “Eu vou para uma conferência amanhã,” ela disse. “Em Portland. Dra. Melissa Sandrez vai falar. Ela diz que você projeta um eu mais sexy. Hormônios são drogas poderosas. A não ser que digamos a eles o que queremos, eles dão um tiro pela culatra. Eles se voltam contra nós.” Dorothea se virou, apontando o ajax para mim para dar ênfase. “Agora eu acordo de manhã e levo batom vermelho para o meu espelho. `Eu sou sexy´, eu escrevo. `Os homens me querem. Sessenta e cinco é o novo vinte e cinco.´”
“Você acha que está funcionando?” eu perguntei, tentando arduamente não sorrir.
“Está funcionando,” Dorothea disse sobriamente.
Eu lambi manteiga dos meus dedos, enrolando por uma resposta cabível. “Então você vai passar o fim-de-semana reinventando seu lado sexy.”
“Toda mulher precisa reinventar seu lado sexy – eu gosto disso. Minha filha colocou implantes. Ela disse que fez isso por si mesma, mas que mulher faz implante para si mesma? Eles são um fado. Ela fez o implante para um homem. Eu espero que você não faça coisas idiotas por um garoto, .” Ela balançou seu dedo para mim.
“Confie em mim, Doth, não há garotos na minha vida.” Está bem, talvez haja dois espreitando na periferia, circulando de longe, mas já que eu não conheço nenhum dos dois muito bem, e um me assusta completamente, pareceu mais seguro fechar meus olhos e fingir que eles na estavam lá.
“Essa é uma coisa boa e uma coisa ruim,” Dorothea disse repreensivamente. “Você acha o garoto errado, e está pedindo por encrenca. Você acha o garoto certo, e achará o amor.” Sua voz se suavizou com as lembranças. “Quando eu era uma garotinha na Alemanha, eu tive que escolher entre dois garotos. Um era um garoto muito levado. O outro era o meu Henry. Estamos alegremente casados por quarenta e um anos.”
Era hora de mudar de assunto. “Como vai, hum, o seu afilhado... Lionel?”
Seus olhos se estreitaram. “Você tem uma queda pelo pequeno Lionel?
“Nãããão.”
“Eu posso bolar alguma coisa –”
“Não, Dorothea, sério. Obrigada, mas – estou realmente me concentrando nas minhas notas agora. Eu quero entrar numa faculdade prestigiada.”
“Se no futuro –”
“Eu te avisarei.”
Eu termino o meu bagel ao som do bate-papo monótono de Dorothea, interpondo alguns oceanos ou “ahams” sempre que ela parava de falar tempo o bastante para esperar pela minha resposta. Eu estava preocupada debatendo se eu realmente queria encontrar Elliot hoje à noite ou não. De primeira, se encontrar parecera uma ótima ideia. Mas quanto mais eu pensava sobre isso, mais dúvida se arrastava para dentro. Eu só conhecia o Elliot há alguns dias, por um lado. E eu não estava certa de como minha mãe se sentiria quanto a esse arranjo, por outro lado. Estava ficando tarde, e Delphic ficava a uma viagem de pelo menos meia hora. Mais objetivamente, nos finais de semana o Delphic tinha uma reputação de ser selvagem.
O telefone tocou, e o número de apareceu no identificador de chamada.
“Vamos fazer algo hoje à noite?” ela quis saber.
Eu abri minha boca, calculando minha resposta cuidadosamente. Uma vez que eu contasse a sobre a oferta de Elliot, não haveria volta.
gritou. “Ai, cara! Ai-cara-ai-cara-ai-cara. Eu acabei de derrubar esmalte no sofá. Espera aí, eu vou pegar papel-toalha. Esmalte é solúvel em água?” Um momento mais tarde ela retornou. “Acho que arruinei o sofá. Temos que sair hoje à noite. Eu não quero estar aqui quando o meu último trabalho de arte acidental for descoberto.”
Dorothea tinha se deslocado pelo corredor até o banheiro. Eu não tinha desejo algum de passar a noite toda escutando ela resmungar sobre o encanamento do banheiro enquanto ela limpava, então tomei minha decisão. “Que tal o Delphic Seaport. Elliot e Jules vão. Eles querem se encontrar.”
“Você escondeu a surpresa! Informação vital aqui, . Vou te pegar em quinze minutos.” Eu fui deixada ouvindo o barulho do telefone.
Eu fui para cima e coloquei um confortável suéter de casimira branco, calça jeans escura, e moccasins de mergulho azul-marinho. Eu modelei o cabelo enquadrando meu rosto com os meus cachos naturais, e... voilà! Espirais meio decentes. Eu dei um passo para trás do espelho para fazer uma dupla olhada e me denominei uma cruza entre despreocupada e quase sexy.
Quinze minutos mais tarde exatamente, saltou o Noon pela entrada e apertou a buzina de modo destacado. Geralmente eu levava dez minutos para percorrer o caminho entre as nossas casas, mas eu geralmente prestava atenção ao limite de velocidade. entendia a palavra velocidade, mas limite não fazia parte de seu vocabulário.
“Eu vou ao Delphic Seaport com a ,” eu gritei para Dorothea. “Se a mamãe ligar, você se importa de repassar a mensagem?”
Dorothea saiu bamboleando do banheiro. “Até Delphic? Tão tarde?”
“Divirta-se na sua conferência!” eu disse, escapando porta afora antes que ela conseguisse protestar ou colocar a minha mãe no telefone.
O cabelo loiro da estava puxado em um rabo-de-cavalo alto, grandes e gordos cachos caindo. Brincos de aro dourados pendiam das suas orelhas. Batom cereja. Rímel preto e alongador.
“Como você fez isso?” eu perguntei. “Você teve cinco minutos para se arrumar.”
“Sempre preparada.” me lançou um sorriso irônico. “Eu sou o sonho de um Escoteiro.”
Ela me deu uma rápida olhadela crítica.
“O quê?” eu disse.
“Vamos nos encontrar com garotos hoje à noite.”
“Da última vez que eu chequei, sim.”
“Garotos gostam de garotas que se parecem com... garotas.”
Eu arqueei minha sobrancelha. “E como eu me pareço?”
“Como se você tivesse saído do banho e decidido que só isso já era o bastante para parecer apresentável. Não me entenda mal as roupas são boas, e cabelo está legal, mas o resto... aqui.” Ela esticou sua mão para dentro de sua bolsa. “Sendo a amiga que eu sou, vou te emprestar meu batom. E meu rímel, mas só se você jurar que não tem uma doença ocular contagiosa.”
“Eu não tenho uma doença ocular.”
“Só estou me precavendo.”
“Eu passo.”
A boca de caiu, parcialmente de brincadeira, parcialmente séria. “Você se sentirá nua sem ele!”
“Soa bem com o tipo de aparência que você adotaria,” eu disse.
Bem honestamente eu estava indecisa sobre ir sem maquiagem. Não porque eu realmente me sentisse um pouco nua, mas porque Patch tinha colocado a sugestão de não usar maquiagem na minha mente. Em um esforço para me fazer sentir melhor, eu disse a mim mesma que a minha dignidade estava em questão. Tampouco o meu orgulho. Tinham me dado uma sugestão, e eu tinha a mente aberta o bastante para tentar isso. O que eu não queria reconhecer é que eu tinha escolhido especificamente uma noite que sabia que não veria o Patch para testar isso.
Uma meia hora mais tarde dirigiu sob os portões do Delphic Seaport. Fomos forçadas a estacionar na ponta mais longe do estacionamento, devido ao pesado tráfego do final de semana de abertura. Aconchegado bem na costa Delphic não é conhecido por seu tempo ameno. Um vento fraco tinha aumentado, varrendo sacos de pipoca e embalagens de doce ao redor dos nossos calcanhares enquanto e eu andávamos na direção do guichê de ingressos. As árvores tinham há muito perdido suas folhas, e seus galhos assomavam-se sobre nós como dedos deslocados. O Delphic Seaport bombava o verão todo com um parque de diversões, mascaradas, cabines de previsão do futuro, músicos ciganos e um show de horrores. Eu nunca tinha certeza se as deformidades humanas eram reais ou uma ilusão.
“Um adulto, por favor,” eu disse à mulher no guichê de ingressos. Ela tomou meu dinheiro deslizou uma pulseira sob a janela. Então ela sorriu, expondo dentes de vampiro brancos de plástico, borrados de vermelho com batom.
“Divirta-se,” ela disse em uma voz sem fôlego. “E não se esqueça de experimentar nossa montanha-russa recentemente remodelada.” Ela bateu em seu lado do vidro, apontando para uma pilha de mapas do parque e de folhetos.
Eu peguei um de cada a caminho dos portões giratórios. No folheto se lia:
PARQUE DE DIVERSÕES DELPHIC
MAIS NOVA SENSAÇÃO!
O ARCANJO
REMODELADO E RENOVADO!
CAIA EM DESGRAÇA NESSA
QUEDA VERTICAL DE 30 METROS
leu o folheto sobre o meu ombro. Suas unhas começaram a perfurar a pele do meu braço. “Temos de ir nesse!” ela berrou.
“Por último,” eu prometi, esperando que se fôssemos em todos os outros antes, ela se esqueceria desse. Eu não tinha tido medo de altura há anos, provavelmente porque eu as tinha evitado convenientemente por anos. Eu não tinha certeza se eu já estava pronta para descobrir se o tempo tinha dissipado meu medo delas.
Após termos ido na roda gigante, nos carrinhos de bate-bate, no Tapete Mágico, e em algumas das cabines de jogos, e eu decidimos que era hora de procurar o Elliot e o Jules.
“Hmm,” disse , olhando para ambos os lados do caminho curvante do parque. Dividimos um silêncio pensativo.
“A arcada,” eu disse por fim.
“Boa”
Nós tínhamos acabado de passar pelas portas para a arcada quando eu o vi. Não Elliot. Não Jules.
Patch.
Ele olhou por cima de seu vídeo-game. O mesmo boné de basebol que ele tinha usado quando eu o vi durante a EF encobriu a maior parte de seu rosto, mas eu tinha certeza de ter visto um relampejo de sorriso. De primeira pareceu amigável, mas então eu me lembrei de como ele tinha entrado nos meus pensamentos, e eu fiquei gelada até o osso.
Se eu tivesse sorte, não tinha visto-o. Eu a empurrei na direção da multidão, deixando o Patch sair do campo de visão. A última coisa que eu precisava era que ela sugerisse que fôssemos até lá e começássemos uma conversa.
“Lá estão eles!” disse, acenando seu braço por cima da cabeça. “Jules! Elliot! Aqui!”
“Boa noite, damas,” Elliot disse, abrindo caminho pela multidão. Jules moveu-se atrás dele, parecendo tão entusiasmado quanto um bolo de carne de três dias. “Posso comprar uma coca para ambas?”
“É uma boa,” disse . Ela estava olhando diretamente para Jules. “Vou querer uma Diet.”
Jules murmurou uma desculpa sobre precisar usar o banheiro e escorregou de volta para dentro da multidão.
Cinco minutos mais tarde Elliot retornou com as cocas. Após dividi-las entre nós, ele esfregou suas mãos e examinou o chão. “Por onde começamos?”
“E quanto ao Jules?” perguntou.
“Ele nos achará.”
“Air hockey23,” eu disse imediatamente air rockey ficava do outro lado da arcada. Quanto mais distante de Patch, melhor. Eu disse a mim mesma que era uma coincidência ele estar aqui, mas os meus instintos discordavam.
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“Aah, olha!” interpôs. “Pebolim!” Ela já estava ziguezagueando em direção a uma mesa livre. “Jules e eu contra vocês dois. Os perdedores pagam a pizza.”
“Justo,” disse Elliot.
O pebolim podia ter sido legal, se a mesa não ficasse a uma curta distância de onde Patch jogava seu jogo. Eu disse a mim mesma para ignorá-lo. Se eu ficasse de costas para ele, eu mal notaria que ele estava lá. Talvez não o notasse também.
“Ei, , aquele não é o Patch?” disse.
“Hmm?” eu disse inocentemente.
Ela apontou, “Lá. É ele, não é?”
“Eu duvido que seja. Elliot e eu somos o time branco, então?”
“Patch é o parceiro de biologia da ,” explicou para Elliot. Ela piscou astutamente para mim, mas ficou com uma cara de inocente no momento em que Elliot prestou atenção nela. Eu balancei minha cabeça sutil, mas firmemente, para ele transmitindo uma mensagem silenciosa – pare.
“Ele fica olhando para cá,” disse em voz mais baixa. Ela se debruçou pela mesa de pebolim, tentando parecer sua conversa comigo parecer privada, mas ela sussurrou alto o bastante que Elliot não teve escolha a não ser escutar. “Ele vai começar a se perguntar o que você está fazendo aqui com –” Ela balançou sua cabeça para Elliot.
Eu fechei meus olhos e visualizei bater a minha cabeça contra a parede.
“Patch deixou bem claro que gostaria de ser mais do que parceiro de biologia com a ,” continuou. “Não que alguém possa culpá-la.”
“É assim?” disse Elliot, olhando-me de um jeito que dizia que ele não estava surpreso. Ele suspeitava desde o começo. Eu notei que ele tinha dado um passo mais para perto.
me lançou um sorriso triunfante. Agradeça-me mais tarde, ele dizia.
“Não é assim,” eu corrigi. “É –”
“Duas vezes pior,” disse. “ suspeita que ele esteja perseguindo-a. A polícia está quase se envolvendo.”
“Vamos jogar?” eu disse audivelmente. Eu derrubei a bolinha no centro da mesa. Ninguém notou.
“Você quer que eu fale com ele?” Elliot me perguntou. “Eu vou explicar que não estamos procurando encrenca. Eu direi a ele que você está aqui comigo, e se ele tiver um problema com isso, pode discuti-lo comigo.”
Não era nessa direção que eu queria que a conversa fosse. Não mesmo. “O que aconteceu ao Jules?” eu disse. “Ele saiu faz um tempão.”
“É, talvez ele tenha caído na privada,” disse .
“Deixa que eu falo com o Patch,” Elliot disse.
Embora eu gostasse da preocupação, eu não gostava da ideia de Elliot tendo um combate direto com o Patch. Patch era desconhecido: intangível, assustador, e desconhecido. Quem sabia do que ele era capaz? Elliot era legal demais para enfrentar o Patch.
“Ele não me assusta,” Elliot disse, como se para refutar os meus pensamentos.
Obviamente, isso era algo que Elliot e eu discordávamos.
“Péssima ideia,” eu disse.
Ótima ideia,” disse. “De outro modo, Patch pode ficar... violento. Lembra da última vez?”
Última vez?!” Eu balbuciei para ela.
Eu não fazia ideia do porque da estar fazendo isso, outra que ela não tem tendência de tornar tudo o mais dramático possível. Sua ideia de drama era a minha ideia de humilhação mórbida.
“Sem ofensa, mas esse cara parece estranho,” disse Elliot. “Me dê dois minutos com ele.” Ele começou a andar até lá.
“Não!” eu disse, puxando as manga para pará-lo. “Ele, hm, pode ficar violento novamente. Deixe-me cuidar disso.” Eu estreitei um olhar para .
“Tem certeza?” Elliot disse. “Fico mais do que feliz em fazê-lo.”
“Eu acho que é melhor vindo de mim.”
Eu enxuguei minhas palmas na minha calça jeans, e após tomar um fôlego bastante estabilizante, eu comecei a apertar a distância entre o Patch e eu, que era só a largura de alguns consoles de jogos. Eu não fazia ideia do que diria quando o alcançasse. Com sorte só um breve olá. Então eu podia voltar e tranqüilizar. Elliot e que tudo estava sob controle.
Patch estava vestido como de costume: camisa preta, calça jeans preta, e um fino colar prata que relampejava contra sua pele escura. Suas mangas estavam empurradas em seus antebraços, e eu conseguia ver seus músculos trabalhando na medida em que apertava os botões. Ele era alto e magro e austero, e eu não teria ficado surpresa se debaixo de suas roupas ele possuísse diversas cicatrizes, lembranças de brigas de rua e outro comportamento imprudente. Não que eu quisesse olhar debaixo de suas roupas.
Quando eu cheguei no console do Patch, eu bati uma mão contra a lateral para chamar sua atenção. Na voz mais calma que consegui, eu disse, “Pac-Man? Ou é Donkey Kong?” Na verdade, parecia um pouco mais violento e militar.
Um sorriso irônico vagaroso espalhou-se pelo seu rosto. “Basebol. Acha que talvez possa ficar atrás de mim e me dar algumas dicas?”
Bombas incendiárias irromperam pela tela, e corpos gritando velejavam pelo ar. Obviamente, ele não estava jogando basebol.
“Qual o nome dele?” Patch perguntou, direcionando um aceno quase imperceptível para a mesa de pebolim.
“Elliot. Escuta, tenho que ser breve. Eles estão esperando.”
“Eu já o vi antes.”
“Ele é novo. Acabou de se transferir.”
“Primeira semana de escola e ele já fez amigos. Cara de sorte.” Ele deslizou um olhar sobre mim. “Pode ter um lado sombrio e perigoso que não conhecemos.”
“Parece ser a minha especialidade.”
Eu esperei que ele entendesse o que eu quis dizer, mas ele só disse, “Está a fim de jogar?” Ele inclinou sua cabeça na direção dos fundos da arcada. Através da multidão eu conseguia discernir as mesas de sinuca.
!” chamou. “Venha para cá. Elliot está enfiando uma derrota pela minha goela abaixo.”
“Não posso,” eu disse ao Patch.
“Se eu ganhar,” ele disse, como se não tivesse intenção de ser recusado, “você dirá ao Elliot que algo surgiu. Você dirá a ele que não está mais livre hoje à noite.”
Eu não consegui evitar; ele era arrogante demais. Eu disse, “E se eu ganhar?”
Seus olhos me vasculharam, da cabeça aos pés. “Eu não acho que temos que nos preocupar com isso.”
Antes que eu pudesse me impedir, eu soquei seu braço.
“Cuidado,” ele disse em uma voz baixa. “Eles podem achar que estamos flertando.”
Eu senti vontade de me chutar, porque isso era exatamente o que estávamos fazendo. Mas não era minha culpa – era do Patch. Em contato próximo a ele, eu experimentava uma polaridade confusa de desejos. Parte de mim queria fugir dele gritando, Fogo! Uma parte mais impulsiva estava tentada a ver o quanto eu conseguia chegar perto sem... entrar em combustão.
“Um jogo de sinuca,” ele tentou.
“Estou aqui com outra pessoa.”
“Se dirija às mesas de sinuca. Eu cuidarei disso.”
Eu cruzei meus braços, esperando parecer severa e um pouco exasperada, mas ao mesmo tempo, eu tive que morder meu lábio para me impedir de mostrar uma posição ligeiramente mais positiva. “O que você vai fazer? Lutar com o Elliot?”
“Se chegar a esse ponto.”
Eu tinha quase certeza de que ele estava brincando. Quase.
“Uma mesa de sinuca acabou de vagar. Vá pegá-la.” Eu... te... desafio.
Eu endureci. “Como fez isso?”
Quando ele não negou imediatamente, eu senti um aperto de pânico. Era real. Ele sabia exatamente o que estava fazendo. As palmas das minhas mãos ficaram suadas.
“Como fez isso?” eu repeti.
Ele me deu um sorriso dissimulado. “Fiz o quê?”
“Não,” eu avisei. “Não finja que não está fazendo isso.”
Ele inclinou um ombro contra o console e olhou para baixo para mim. “Diga-me o que eu devo estar fazendo.”
“Meus.... pensamentos.”
“O que tem eles?”
“Corta essa, Patch.”
Ele olhou ao redor teatralmente. “Você não quer dizer – falar com a sua mente? Você sabe o quanto isso soa doido, certo?”
Engolindo em seco, eu disse na voz mais calma que consegui, “Você me assusta, e não tenho certeza se você é bom para mim.”
“Eu podia mudar você de ideia.”
!” chamou por sobre o ruído de vozes e os bipes eletrônicos.
“Me encontre no Arcanjo,” Patch disse.
Eu dei um passo para trás. “Não,” eu disse impulsivamente.
Patch veio atrás de mim, e um arrepio içou pela minha espinha. “Estarei esperando,” ele disse na minha orelha. Então ele deslizou para fora da arcada. 

Capítulo Oito

Eu voltei para a mesa de pebolim com uma fria estupefação. Elliot estava inclinado sobre ele, seu rosto mostrando uma concentração competitiva. berrava e ria. Jules ainda estava desaparecido.
olhou por cima do jogo. “Bem? O que aconteceu? O que ele disse para você?”
“Nada. Eu disse a ele para não nos incomodar. Ele foi embora.” minha voz soava monótona.
“Ele não pareceu bravo quando foi embora,” Elliot disse. “O que quer que você tenha dito, funcionou.”
“Que pena,” disse. “Eu estava esperando alguma animação.”
“Prontas para jogar?” Elliot perguntou. “Estou faminto por algumas pizzas arduamente ganhas.”
“É, se o Jules voltar algum dia,” disse . “Estou começando a achar que talvez ele não goste da gente. Ele fica desaparecendo. Estou começando a achar que é uma deixa não-verbal.”
“Está brincando? Ele ama vocês.” Elliot disse com entusiasmo de mais. “Ele só é meio devagar em se acostumar com estranhos. Eu irei achá-lo. Não vão a lugar algum.”
Assim que e eu ficamos sozinhas, eu disse, “Sabe que eu vou te matar, certo?”
levantou suas palmas e deu um passo para trás. “Eu estava te fazendo um favor. Elliot é louquinho por você. Depois que você saiu, eu disse a ele que você tinha, tipo, dez caras te ligando toda noite. Você devia ter visto a cara dele. Mal continha a inveja.”
Eu resmunguei.
“É a lei da oferta e procura,” disse. “Quem pensaria que economia seria útil?”
Eu enfiei minha palma contra minha testa. “Eu preciso de algo.”
“Você precisa do Elliot.”
“Não, eu preciso de açúcar. Bastante. Eu preciso de algodão-doce.” O que eu precisava era de uma borracha grande o bastante para apagar toda a evidência do Patch da minha vida. Particularmente a parte de falar com a mente. Eu estremeci. Como ele estava fazendo isso? E por que eu? A não ser... que eu tivesse imaginado isso. Bem como eu tinha imaginado bater em alguém com o Neon.
“Eu também precisava de um pouco de açúcar,” disse. “Eu vi um vendedor perto da entrada do parque ao entrarmos. Eu fico aqui para que o Jules e o Elliot não achem que a gente fugiu, e você pode pegar o algodão-doce.”
Do lado de fora, eu retrocedi para a entrada, mas quando eu achei o vendedor de algodão-doce, eu fui distraída por uma visão distante no passadiço. O Arcanjo elevava-se sobre o alto das árvores. Um serpentear de canos fechados nos semáforos e que mergulhavam para fora de vista. Eu me perguntei por que Patch queria se encontrar. Eu senti um soco no meu estômago e provavelmente devia ter aceite isso como resposta, mas apesar das minhas melhores intenções, eu me encontrei continuando pelo passadiço em direção ao Arcanjo.
Eu fiquei com o fluxo do tráfego a pé, mantendo meus olhos no rumo distante do Arcanjo fazendo curvas no céu. O vento tinha mudado de frio para gelado, mas não era essa a razão de eu me sentir cada vez mais enjoada. A sensação estava de volta aquela sensação fria e de parar o coração de que alguém estava me observando.
Eu roubei um olhar para ambos os lados. Nada anormal na minha visão periférica. Eu girei 180º graus. Um pouco para trás, parado em um pequeno pátio de árvores, uma figura encapuzada se virou e desapareceu na escuridão.
Com o meu coração batendo mais rápido, eu passei por um comprido grupo de pedestres, colocando distância entre mim e a clareira. Diversas passadas adiante, eu olhei para trás novamente. Ninguém se sobressaia me seguindo.
Quando eu encarei à frente novamente, eu trombei em alguém. “Desculpe!” eu falei apressadamente, tentando ganhar novamente meu equilíbrio.
Patch sorriu maliciosamente para mim. “Sou difícil de resistir.”
Eu pestanejei para ele. “Deixe-me em paz.” Eu tentei dar um passo para o lado dele, mas ele me pegou pelo cotovelo.
“Qual o problema? Você parece prestes a vomitar.”
“Você tem esse efeito em mim,” eu retruquei.
Ele riu. Eu tive vontade de chutar suas canelas.
“Você precisa de uma bebida.” Ele ainda me pegava pelo cotovelo, e ele me empurrou na direção do carrinho de limonada.
Eu afundei em meus saltos. “Você quer ajudar? Fica longe de mim.”
Ele empurrou um cacho para longe do meu rosto. “Amo o cabelo. Amo quando está fora de controle. É como ver um lado de você que precisa sair mais freqüentemente.”
Eu alisei meu cabelo furiosamente. Assim que eu percebi que estava tentando me deixar mais apresentável para ele, eu disse, “Tenho que ir. A está esperando.” Uma pausa irritada. “Acho que te vejo na aula na segunda.”
“Ande no Arcanjo comigo.”
Eu estiquei meu pescoço, encarando-o. Gritos estridentes ecoaram enquanto os carros ressoavam nos trilhos.
“Duas pessoas por assento.” Seu sorriso mudou para um sorriso malicioso vagaroso e ousado.
“Não.” De jeito nenhum.
“Se continuar fugindo de mim, você nunca vai descobrir o que realmente está acontecendo.”
Aquele comentário deveria ter feito eu correr. Mas não fez. Era quase como se o Patch soubesse exatamente o que dizer para atiçar a minha curiosidade. Exatamente o que dizer, exatamente no momento certo.
“O que está acontecendo?”
“Só há uma maneira de descobrir.”
“Não posso. Tenho medo de altura. Além do mais, a está esperando.” Só que, de repente, pensar em subir tão alto no ar não me assustava. Não mais. De um jeito absurdo, sabendo que eu estaria com o Patch me fez sentir segura.
“Se você der uma volta completa sem gritar, eu direi ao Treinador para mudar nossos assentos.”
“Eu já tentei. Ele não cede.”
“Eu posso ser mais, convincente que você.”
Eu tomei seu comentário como insulto pessoal. “Eu não giro,” eu disse. “Não por causa de parques de diversão.” Não por sua causa.
No ritmo do Patch, eu caminhei até o final da linha levando para o Arcanjo. Um arrojo de gritos se levantou, então se dissipou, bem acima no céu noturno.
“Eu nunca te vi no Delphic antes,” Patch disse.
“Você vem muito aqui?” Eu fiz uma nota mental para não fazer mais viagens de final de semana para o Delphic.
“Eu tenho um histórico com o local.”
Nós fomos nos aproximando na linha a medida em que os carros se esvaziavam e um novo grupo de perseguidores de emoção embarcava no brinquedo.
“Deixe-me adivinhar,” eu disse. “Você matou aula aqui ao invés de ir para a escola no ano passado.”
Eu estava sendo sarcástica, mas Patch disse, “Responder isso significaria iluminar o meu passado. E eu gostaria de mantê-lo no escuro.”
“Por quê? Qual o problema com o seu passado?”
“Eu acho que agora é uma boa hora para falar sobre isso. Meu passado pode assustá-la.”
Tarde demais, eu pensei.
Ele deu um passo mais para perto e nossos braços se encontraram, uma conexão roçante que fez com que os pelos no meu braço se levantassem. “As coisas que eu tenho a confessar não são as coisas que você conta a sua petulante parceira de biologia,” ele disse.
O vento frigido se envolveu ao meu redor, e quando eu o respirei, ele me encheu com gelo. Mas não se comparou com a gelidez que as palavras de Patch mandaram por mim.
Patch sacudiu seu queixo para a rampa. “Parece que é a nossa vez.”
Eu empurrei o portão giratório. Na hora em que chegamos à plataforma de embarque, os únicos carros vazios eram os bem da frente e bem de trás da montanha-russa. Patch se dirigiu em direção do primeiro.
A construção da montanha-russa não inspirava confiança, remodelado ou não. Parecia ter mais de um século e era feito de madeira que tinha passado muito tempo exposto aos elementos desagradáveis do Maine. O desenho pintado nas laterais era ainda menos inspirador.
O carro que Patch tinha escolhido tinha um agrupamento de quatro desenhos. O primeiro representava uma aglomeração de demônios chifrudos arrancando as asas de um anjo gritando. O próximo desenho mostrava o anjo sem asas empoleirado em uma lápide, observando as crianças brincarem à distância. No terceiro desenho, o anjo sem asas estava perto de uma criança, entortando um dedo para uma pequena menina de olhos verdes. No desenho final, o anjo sem asas passava através do corpo da garota como um fantasma. Os olhos da garota estavam pretos, seu sorriso tinha sumido, e ela tinha brotado chifres como os demônios do primeiro desenho. Uma lua rachada estava pendurada sobre os desenhos.
Eu desviei meus olhos e assegurei a mim mesma que era o ar frigido que estava fazendo minhas pernas tremerem. Eu deslizei para o carro ao lado do Patch.
“Seu passado não me assustaria,” eu disse, ajustando meu cinto de segurança no meu colo. “Acho que eu ficaria mais horrorizada do que tudo.”
“Horrorizada,” ele repetiu. O tom da sua voz me fez acreditar que ele tinha aceito a acusação. Estranho, já que o Patch nunca se degradava.
Os carros rolaram para trás, então se lançaram para frente. Não de um jeito suave, nós nos dirigimos para longe da plataforma, subindo colina acima uniformemente. O cheiro de suor, ferrugem, e água salgada soprando do mar encheu o ar. Patch sentava-se perto o bastante para ser cheirado. Eu capturei o traço mais leve de sabonete de menta espesso.
“Você está pálida,” ele disse, inclinando-se para ser ouvido por sobre os trilhos estalando.
Eu me senti pálida, mas não admiti isso.
No cume da colina, houve um momento de hesitação. Eu conseguia enxergar por quilômetros, observando onde à região rural se misturava com o barulho dos subúrbios e gradualmente se tornava a grade dos lugares de Portland. O vento retinha-se, permitindo que o úmido assentasse na minha pele.
Sem querer, eu roubei uma olhada para o Patch. Eu encontrei um sentido de consolação em tê-lo ao meu lado. Então ele lançou um sorriso sarcástico.
“Assustado, Anjo?”
Eu apertei a barra de metal aparafusada na frente do carro enquanto senti meu peso insinuar-se para frente. Uma risada trêmula escapou de mim.
Nosso carro voou demoniacamente rápido, meu cabelo chicoteando atrás de mim. Inclinando-se para a esquerda, então para a direita, nós tremíamos sobre os trilhos. Dentro, eu senti meus órgãos flutuarem e caírem em resposta ao passeio. Eu olhei para baixo, tentando me concentrar em algo que não estivesse se movendo.
Foi então que eu notei que meu cinto de segurança tinha se soltado.
Eu tentei gritar para o Patch, mas minha voz foi engolida pelo movimento do ar. Eu senti meu estômago ficar oco, e eu soltei a barra de metal com uma mão, tentando colocar o cinto de segurança ao redor da minha cintura com a outra. O carro se lançou para a esquerda. Eu bati de ombros com o Patch, pressionando contra ele tão arduamente que doía. O carro levantou vôo, e eu senti se levantar dos trilhos, não totalmente fixo neles.
Nós estávamos submergindo. As luzes piscando nos trilhos me cegavam; eu não conseguia ver pra que lado o trilho se virava no final do mergulho.
Era tarde demais. O carro inclinou-se para a direita. Eu senti uma onda de pânico, e então aconteceu. Meu ombro esquerdo bateu contra a porta do carro. Ela se abriu, e eu fui arrancada do carro enquanto a montanha-russa acelerava sem mim. Eu rolei para os trilhos e lutei por algo para me ancorar. Minhas mãos não achavam nada, e eu desabei sobre a beirada, mergulhando diretamente para baixo pelo ar negro. O chão se acelerou até mim, e eu abri minha boca para gritar.
Quando dei por mim, o passeio acabou repentinamente na plataforma de desembarque.
Meus braços doíam de tão apertado que Patch me segurava. “Agora, isso é o que eu chamo de grito,” ele disse, sorrindo ironicamente para mim.
Estupefata, eu o observei colocar uma mão sobre sua orelha como se o meu grito ainda ecoasse lá. Nenhum pouco certo do que tinha acabado de acontecer, eu encarei o lugar em seu braço onde as minhas unhas tinham deixado semi-círculos tatuados em sua pele. Então os meus olhos se moveram para o meu cinto de segurança. Estava preso ao redor da minha cintura.
“Meu cinto de segurança...,” eu comecei. “Eu achei –”
“Achou o quê?” Patch perguntou, soando genuinamente interessado.
“Eu achei... eu voei para fora do carro. Eu literalmente achei... que eu ia morrer.”
“Eu acho que esse é o objetivo.”
Nas minhas laterais, meus braços tremeram. Meus joelhos cambaleavam ligeiramente sob o peso do meu corpo.
“Acho que estamos presos como parceiros,” disse Patch. Eu suspeitei de um leve grau de vitória em sua voz. Eu estava espantada demais para discutir.
“O Arcanjo,” eu murmurei, olhando por sobre o meu ombro para o passeio, que tinha começado sua próxima ascendência.
“Significa um anjo de alto nível.” Havia uma presunção definitiva em sua voz. “Quanto mais alto, mais dura é a queda.”
Eu comecei a abrir a minha boca, querendo dizer novamente como eu tinha certeza que tinha deixado o carro só um momento e que forças além da minha habilidade de explicar tinham me posto de volta em segurança atrás do meu cinto de segurança. Ao invés, eu disse, “Eu acho que sou uma garota mais do tipo anjo da guarda.”
Patch sorriu afetadamente de novo. Me guiando pelo caminho, ele disse, “Te levarei de volta para a Arcada.” 

Capítulo Nove

Eu cortei a multidão do lado de dentro da arcada, passando pelo quiosque e pelos banheiros. Quando as mesas de pebolim entraram no campo de visão, não estava em nenhuma delas. Tampouco Elliot ou Jules.
“Parece que eles foram embora,” Patch disse. Seus olhos talvez tenham tido uma fatia de divertimento. Mas também, com o Patch, poderia tão facilmente ter sido algo inteiramente diferente. “Parece que você precisa de uma carona.”
não me deixaria,” eu disse, ficando na ponta dos pés para ver por sobre o alto da multidão. “Eles provavelmente estão jogando tênis de mesa.”
Eu passei a multidão pela lateral enquanto Patch seguia atrás, entornando uma lata de refrigerante que tinha comprado no caminho. Ele tinha se oferecido para me comprar uma, mas no meu estado atual, eu não estava certa se conseguiria segurá-la.
Não havia rastros da ou do Elliot nas mesas de tênis.
“Talvez eles estejam nas máquinas de fliperama,” Patch sugeriu. Ele definitivamente estava caçoando de mim.
Eu me senti ficar um pouco vermelha no rosto. Onde estava a ?
Patch ofereceu seu refrigerante. “Certeza que não quer uma bebida?”
Eu olhei da lata para o Patch. Só porque o meu sangue esquentava ao pensar em colocar a minha boca onde a dele estivera não queria dizer que eu tinha que contar a ele.
Eu escavei a minha bolsa e puxei meu celular. A tela no meu telefone estava preta e se recusava a ligar. Eu não entendia como a bateria podia ter acabado quando eu a havia carregado logo antes de ir embora. Eu apertei o botão de ligar continuamente, mas nada aconteceu.
Patch disse, “Minha oferta ainda está de pé.”
Eu pensei que ficaria mais segura pegando carona de um estranho. Eu ainda estava balançada por causa do que tinha acontecido no Arcanjo, e não importava quantas vezes eu tentasse apagar isso, o imaginário de cair repetia-se na minha cabeça. Eu estava caindo... e então o passeio tinha acabado. Bem assim. Era a coisa mais aterrorizante pela qual eu já tinha passado. Quase tão aterrorizante era que eu era a única que parecera notar. Nem mesmo o Patch, que tinha estado bem ao meu lado.
Eu bati minha palma na minha testa. “O carro dela. Ela está provavelmente me esperando no estacionamento.”
Trinta minutos mais tarde eu já havia caçado o estacionamento todo. O Neon tinha ido embora. Eu não acreditava que a tinha ido embora sem mim. Talvez tivesse havido uma emergência. Eu não tinha como saber, já que não podia checar as mensagens no meu celular. Eu tentei conter as minhas emoções, mas se ela tivesse me deixado, eu tinha uma ampla quantidade de raiva fervendo sob a superfície, pronta para derramar.
“Já está sem opções?” perguntou o Patch.
Eu mordi meu lábio, pesando minhas outras opções. Eu não tinha outras opções. Infelizmente, eu não estava certa se estava pronta para aceitar a oferta do Patch. Em um dia normal, ele exalava perigo. Hoje havia uma mistura potente de perigo, ameaça, e mistério, todos juntos.
Finalmente eu soltei um suspiro e rezei para não estar prestes a cometer um erro.
“Você me levará diretamente para casa,” eu disse. Soava mais como uma pergunta do que uma ordem.
“Se é isso que você quer.”
Eu estava prestes a perguntar ao Patch se ele tinha notado algo de estranho no Arcanjo, quando eu me impedi. Eu estava assustada demais para perguntar. E se eu estava vendo coisas que não estavam realmente acontecendo? Primeiro o cara com a máscara de esqui. Agora isso. Eu tinha bastante certeza que o Patch falando com a minha mente era real, mas o resto? Não tinha tanta certeza.
Patch se aproximou algumas vagas. Uma moto preta brilhante descansava no estribo lateral. Ele subiu e inclinou sua cabeça para o assento atrás de si. “Sobe aí.”
“Uau. Bike legal,” eu disse. O que era uma mentira. Parecia como uma armadilha mortal preta brilhante. Eu nunca tinha subido numa moto, na minha vida, nunca. Eu não estava certa se queria mudar isso hoje à noite.
“Eu gosto da sensação do vento no meu rosto,” eu continuei, esperando que minha bravata mascarasse o meu terror de me deslocar em velocidade acima de 104 quilômetros por hora com nada entre mim e a estrada.
Havia um capacete – preto com um visor escuro – e ele o segurou para mim.
Tomando-o, eu passei a minha perna por cima da bike e percebi como me sentia insegura com nada além de uma tira de assento debaixo de mim. Eu deslizei o capacete por sobre os meus cachos e o prendi debaixo do meu queixo.
“É difícil dirigir?” eu perguntei. O que eu realmente quis dizer era, É seguro?
“Não,” Patch disse, respondendo tanto a minha pergunta proclamada quanto a não. Ele riu suavemente. “Você está tensa. Relaxe.”
Quando ele saiu do estacionamento, a explosão de movimento me assustou; eu estivera segurando a camiseta dele com justo o bastante de tecido entre os meus dedos para manter meu equilíbrio. Agora eu lacei meus braços ao redor dele em um abraço de urso ao contrário.
Patch acelerou na rodovia, e minhas coxas se apertaram ao redor dele. Eu esperei ter sido a única a notar.
Quando alcançamos a minha casa, Patch parou a bike na estrada ensopada de névoa, parou o motor, e pulou fora. Eu removi meu capacete, equilibrando-o cuidadosamente no assento na minha frente, e abri a minha boca para dizer algo do tipo Obrigada pela carona, te vejo segunda.
As palavras dissolveram a medida em que o Patch cruzava a entrada e se dirigia para os degraus da varanda.
Eu não conseguia começar a especular o que ele estava fazendo. Andando comigo até a porta? Altamente improvável. Então... o quê?
Eu subi na varanda atrás dele e encontrei-o na porta. Eu observei, dividida entre confusão e uma preocupação escalante, a medida em que ele retirava um molho de chaves familiares de seu bolso e inseria a chave da minha casa na fechadura.
“Devolve as minhas chaves,” eu disse, desconcertada por não saber como as minhas chaves tinham ido parar na posse dele.
“Você derrubou elas na arcada quando estava caçando o seu celular,” ele disse.
“Não ligo onde eu as derrubei. Devolva-as.”
Patch ergueu suas mãos, clamando inocência, e se afastou da porta. Ele inclinou um ombro contra os tijolos e me observou chegar até a fechadura. Eu tentei virar a chave. Eu dei um passo para trás. “Vá em frente. Tente. Está presa.”
Com um clique afiado, ele virou a chave. A mão postada na maçaneta, ele arqueou suas sobrancelhas como se para dizer Posso?
Eu engoli em seco, enterrando uma onda de fascínio mútuo e inquietação. “Vá em frente. Não vai esbarrar em ninguém. Estou sozinha em casa.”
“A noite toda?”
Imediatamente, eu percebi que podia não ter sido a coisa mais esperta a se dizer. “Dorothea virá logo.” Isso era mentira. Dorothea há muito tinha ido. Estava perto da meia-noite.
“Dorothea?”
“A empregada. Ela é velha – mas forte. Muito forte.” Eu tentei me espremer para passar por ele. Sem sucesso.
“Soa aterrorizante,” ele disse, retirando a chave da fechadura. Ele a segurou para mim.
“Ela consegue limpar uma privada dentro e fora em menos de um minuto. Está mais para assustador.” Tomando a chave, eu passei ao redor dele. Eu tinha plenas intenções de fechar a porta entre nós, mas enquanto me virava, Patch preencheu a entrada, seus braços apoiados em ambos os lados da moldura.
“Não vai me convidar para entrar?” ele perguntou, sorrindo.
Eu pestanejei. Convidá-lo a entrar? Na minha casa? Com ninguém mais em casa?
Patch disse, “É tarde.” Seus olhos seguiram os meus de perto, refletindo um brilho caprichoso. “Você deve estar com fome.”
“Não. Sim. Eu quero dizer, sim, mas –”
De repente ele estava do lado de dentro.
Eu dei três passos para trás; ele cutucou a porta com seu pé para fechá-la. “Gosta de mexicana?” ele perguntou.
“Eu –” Eu gostaria de saber o que você está fazendo dentro da minha casa!
“Tacos?”
“Tacos?” eu ecoei.
Isso pareceu diverti-lo. “Tomates, alface, queijo.”
“Eu sei o que é um taco!”
Antes que eu pudesse impedi-lo, ele passou cavalgando por mim para dentro da casa. No fim do corredor, ele dirigiu-se a esquerda. Para a cozinha.
Ele foi até a pia e abriu a torneira enquanto esfregava sabão até a metade de seus braços. Aparentemente tendo ficado à vontade, ele foi primeiro para a despensa, então pesquisou a geladeira, pegando itens aqui e ali – salsa, queijo, alface, um tomate. Então ele escavou as gavetas e achou uma faca.
Eu suspeitei que estava na metade de um ataque de pânico com a imagem do Patch segurando uma faca quando outra coisa capturou minha atenção. Eu dei dois passos para frente e olhei de soslaio para o meu reflexo em uma das frigideiras suspensas no pendura-panelas. Meu cabelo! Parecia um arbusto seco gigante que tinha rolado para o alto da minha cabeça. Eu bati uma mão na minha boca.
Patch sorriu. “Você tem cabelo ruivo natural?”
Eu o encarei. “Eu não tenho cabelo ruivo.”
“Odeio ter que te informar disso, mas é ruivo. Eu podia tocar fogo nele e ele não ficaria mais vermelho.”
“É castanho.” Então talvez eu tivesse a menor, mais minúscula, mais infinitesimal quantidade de castanho avermelhado no meu cabelo. Eu ainda era morena. “É a iluminação,” eu disse.
“É talvez sejam as lâmpadas incandescentes.” O sorriso dele levantou ambos os cantos de sua boca, e uma covinha surgiu.
“Eu volto logo,” eu disse, me apressando para fora da cozinha.
Eu subi as escadas e prendi meu cabelo em um rabo-de-cavalo. Com isso fora do caminho, eu juntei meus pensamentos. Eu não estava totalmente confortável com a ideia do Patch vagando livremente pela minha casa – armado com uma faca. E a minha mãe me mataria se descobrisse que eu tinha convidado Patch para entrar quando Dorothea não estava.
“Pode ficar para outro dia?” eu perguntei ao encontrá-lo ainda trabalhando arduamente na cozinha dois minutos mais tarde. Eu coloquei uma mão no meu estômago, sinalizando que ele estava me incomodando. “Enjoada,” eu disse. “Eu acho que foi a carona.”
Ele parou de cortar e olhou para cima. “Eu quase acabei.”
Eu notei que ele tinha trocado de faca por uma lâmina maior – e mais afiada.
Como se ele tivesse uma janela para os meus pensamentos, ele levantou a faca, examinando-a. A lâmina brilhou na luz. Meu estômago se apertou.
“Abaixa a faca,” eu instrui silenciosamente.
Patch olhou de mim para a faca e então novamente. Após um minuto ele a deitou na minha frente. “Não vou te machucar, .”
“Isso é... tranqüilizante,” eu consegui dizer, mas minha garganta estava apertada e seca.
Ele girou a faca, o cabo apontado na minha direção. “Vem aqui. Vou te ensinar a fazer tacos.”
Eu não me movi. Havia um brilho nos olhos dele que me fez pensar que eu devia estar com medo dele... e eu estava. Mas aquele medo era igualmente fascinante. Havia algo extremamente perturbador em estar perto dele. Na presença dele, eu não confiava em mim mesma.
“Que tal... um acordo?” Seu rosto estava curvado, enegrecido e ele olhou para mim através de seus cílios. O efeito era uma impressão de integridade. “Me ajude a fazer tacos, e eu responderei algumas de suas perguntas.”
“Minhas perguntas.”
“Eu acho que você sabe o que eu quero dizer.”
Eu sabia exatamente o que ele queria dizer. Ele estava me dando um vislumbre de seu mundo particular. Um mundo onde ele conseguia falar com a
minha mente. Novamente ele sabia exatamente o que dizer, exatamente no momento certo.
Sem uma palavra, eu me movi para seu lado. Ele deslizou a tábua de corte na minha frente.
“Primeiro,” ele disse, vindo por trás de mim e colocando suas mãos no balcão, bem do lado das minhas, “escolha o seu tomate.” Ele abaixou sua cabeça para que sua boca estivesse na minha orelha. Seu hálito estava quente, fazendo cócegas na minha pele. “Ótimo. Agora, pegue a faca.”
“O chefe sempre fica tão perto?” eu perguntei, não certa se eu gostava ou temia a palpitação que sua proximidade causava dentro de mim.
“Quando ele está revelando segredos culinários, sim. Segure a faca com vontade.”
“Eu estou segurando.”
“Ótimo.” Recuando, ele me deu uma olhada minuciosa, parecendo escrutinar cada imperfeição – seus olhos moviam-se para cima e para baixo, aqui e ali. Para cada momento enervante, eu pensei ter visto um sorriso secreto de aprovação. “Cozinhar não é algo que se ensina,” Patch disse. “É herdado. Ou você tem ou não tem. Como química. Você acha que está pronta para química?”
Eu pressionei a faca pelo tomate; ele foi dividido em dois, cada metade balançando gentilmente na tábua de corte. “Me diz você. Estou pronta para química?”
Patch fez um som profundo que eu não consegui decifrar e sorriu ironicamente.
Após o jantar, Patch levou nossos pratos para a pia. “Eu lavo, você seca.” Caçando nas gavetas na lateral da pia, ele achou um pano de prato e o tirou brincalhonamente para mim.
“Estou pronta para te fazer aquelas perguntas,” eu disse. “Começando com aquela noite na biblioteca. Você me seguiu...”
Eu dissipei. Patch se inclinou preguiçosamente contra a bancada. Cabelo negro saia debaixo de seu boné de basebol. Um sorriso repuxou as boca. Meus pensamentos dissolveram e bem assim, um pensamento novo penetrou a superfície da minha mente.
Eu quero beijá-lo. Agora.
Patch arqueou suas sobrancelhas. “O quê?”
“Hãn – nada. Nada mesmo. Você lava, eu seco.”
O que aconteceu com tratar Patch como seu pior hábito? Eu perguntei a mim mesma. O que aconteceu com jogar fora o velho, e ficar com o novo?
Não levou muito para terminar com os pratos, e quando terminamos, nos encontramos comprimidos no espaço próximo a pia. Patch se deslocou para pegar o pano de mim, e nossos corpos se tocaram. Nenhum de nós se moveu, segurando o elo frágil que nos unia.
Eu recuei primeiro.
“Assustada?” ele murmurou.
“Não.”
“Mentira.”
Meu pulso subiu um degrau. “Não tenho medo de você.”
“Não?”
Eu falei sem pensar. “Talvez seja só que eu tenha medo de –” eu me amaldiçoei por ter começado a frase. O que eu deveria dizer agora? Eu não estava prestes a admitir para o Patch que tudo nele me assustava. Isso lhe dava permissão para me provocar ainda mais. “Talvez seja só que eu tenha medo de... de –”
“Gostar de mim?”
Aliviada por não ter que terminar minha própria fase, eu automaticamente respondi, “Sim.” Eu percebi tarde demais o que havia confessado. “Quero dizer, não! Definitivamente não. Não era isso que eu estava tentando fazer!”
Patch riu suavemente.
“A verdade é que, parte de mim definitivamente não fica confortável ao seu redor,” eu disse.
Eu agarrei a bancada atrás de mim para me apoiar. “Mas ao mesmo tempo eu sinto uma atração assustadora por você.”
Patch sorriu ironicamente.
“Você é metido demais,” eu disse, usando minha mão para empurrá-lo um passo para longe.
Ele prendeu a minha mão contra seu peito e puxou minha manga pelo meu pulso, cobrindo minha mão com ela. Tão rapidamente quanto, ele fez a mesma coisa com minha outra manga. Ele segurou minha camiseta pelos punhos, minhas mãos capturadas. Minha boca se abriu em protesto.
Me puxando para mais perto, ele não parou até que eu estivesse diretamente na frente dele. De repente ele me levantou na bancada. Meu rosto estava no nível do dele. Ele me fixou com um sorriso negro e convidativo. E foi aí que eu percebi que esse momento estivera dançando nas beiradas das minhas fantasias por diversos dias já.
“Tire seu boné,” eu disse, as palavras saindo antes que eu pudesse impedi-las.
Ele o deslizou ao redor, a aba para trás.
Eu me movi para a beirada da bancada, minhas pernas balançando de cada lado das dele. Algo dentro de mim estava me dizendo para parar – mas eu varri essa voz para o fundo da minha mente.
Ele esparramou suas mãos na bancada, bem do lado de fora dos meus quadris. Inclinando sua cabeça para um lado, ele se moveu mais para perto. O cheiro dele, que era todo de terra escura úmida, me inundou.
Eu inalei duas respirações agudas. Não. Isso não estava certo. Isso não, não com o Patch. Ele era assustador. De um jeito bom, sim. Mas também de um jeito ruim. Um jeito muito ruim.
“Você deveria ir,” eu respirei. “Você definitivamente deveria ir.”
“Ir para cá?” Sua boca estava no meu ombro. “Ou para cá?” Ela se moveu para o meu pescoço.
Meu cérebro não conseguia processar um pensamento lógico. A boca do Patch estava perambulando para o norte, sobre a minha mandíbula, sugando gentilmente minha pele...
“Minhas pernas estão adormecendo,” eu soltei. Não era uma mentira total. Eu estava experimentando sensações de formigamento por todo o meu corpo, inclusive as pernas.
“Eu posso resolver isso.” As mãos do Patch se fecharam nos meus quadris.
De repente meu telefone celular tocou. Eu pulei ao som dele e tateie-o no meu bolso.
“Oi, docinho,” minha mãe disse alegremente.
“Posso te ligar de volta?”
“Claro. O que está acontecendo?”
Eu desliguei o telefone. “Você precisa ir embora,” eu disse ao Patch. “Agora.”
Ele deslizou seu boné de basebol de volta. Sua boca era o único traço que eu conseguia ver por debaixo dele, e ela se curvou em um sorriso travesso. “Você não está usando maquiagem.”
“Eu devo ter esquecido.”
“Bons sonhos essa noite.”
“Claro. Sem problema.” O que ele tinha dito?
“Sobre aquela festa amanhã à noite...”
“Eu pensarei nisso,” eu consegui dizer.
Patch enfiou um pedaço de papel dentro do meu bolso, seu toque mandando sensações quentes pelas minhas pernas. “Aqui está o endereço. Eu estarei te procurando. Venha sozinha.”
Um momento mais tarde eu escutei a porta da frente fechar atrás de mim. Um rubor feroz subiu até o meu rosto. Perto demais, eu pensei. Não havia nada de errado com fogo... contanto que você não chegasse muito perto. Algo para se ter em mente.
Eu me inclinei contra os armários, tomando fôlegos curtos e rasos. 
Capítulo Dez

Eu fui puxada do sono pelo som do meu telefone tocando. Pega com um pé ainda no sonho, eu enfiei meu travesseiro por sobre a minha cabeça e tentei bloquear o som. Mas o telefone tocou. E tocou.
A ligação foi para a caixa postal. Cinco segundos mais tarde o toque começou novamente.
Eu estiquei um braço pelo lado da cama, apalpei até achar minha calça jeans, e tirei meu celular do bolso.
“Sim?” eu disse em um grande bocejo, deixando meus olhos fechados.
Alguém estava respirando nervosamente na outra linha. “O que aconteceu com você? O que houve com trazer algodão-doce? E enquanto estamos nesse assunto, que tal me dizer onde você está para que eu possa ir estrangulá-la – com minhas próprias mãos!”
Eu bati a palma da minha mão contra minha testa algumas vezes.
“Eu achei que você tivesse sido raptada!” continuou. “Eu achei que você tivesse sido raptada! Eu achei que você tivesse sido assassinada!”
Eu tentei achar o relógio no escuro. Eu esbarrei num porta-retrato na cabeceira, e todos os porta-retratos atrás dele caíram como dominós.
“Eu meio que fui atrasada,” eu disse. “Na hora em que eu voltei para a arcada, você tinha ido.”
“Atrasada? Que tipo de desculpa é 'atrasada'?”
Os números vermelhos no relógio flutuaram em foco. Era pouco depois das duas da manhã.
“Eu dirigi pelo estacionamento por uma hora,” disse. “Elliot andou pelo parque mostrando a única foto que eu tinha de você no meu celular. Eu tentei te ligar no celular um zilhão de vezes. Espera aí. Você está em casa? Como chegou em casa?”
Eu esfreguei os cantos dos meus olhos. “Patch.”
“Patch, o perseguidor?”
“Bem, não tive muita escolha, tive?” eu disse concisamente. “Você foi embora sem mim.”
“Você soa animada. Realmente animada. Não, não é isso. Você soa agitada... aturdida... excitada.” Eu conseguia sentir seus olhos se alargarem. “Ele te beijou, não foi?”
Nada de resposta.
“Ele beijou! Eu sabia! Eu vi o modo como ele olha para você. Eu sabia que isso ia acontecer. Eu vi há um quilômetro e meio de distância.”
Eu não queria pensar nisso.
“Como é que foi?” pressionou. “Um beijo de pêssego? Um beijo de ameixa? Ou foi um beijo de al-fa-fa?”
“O quê?”
“Foi um selinho, bocas se separaram, ou tinha linha? Esquece. Não tem que responder isso. Patch não é o tipo de cara que lida com preliminares. Tinha língua envolvida. Certeza.”
Eu cobri meu rosto com as minhas mãos, me escondendo atrás delas. Patch provavelmente achava que eu não tinha auto-controle algum. Eu tinha sucumbido em seus braços. Eu tinha derretido como manteiga. Logo antes de ter dito a ele que ele deveria ir, eu estava bem certa que tinha feito um som que era uma cruza entre um suspiro de pura felicidade e um gemido de êxtase.
Isso explicaria seu sorriso irônico arrogante.
“Podemos falar sobre isso mais tarde?” eu perguntei, apertando a ponte do meu nariz.
“De jeito algum.”
Eu suspirei. “Estou morta de cansaço.”
“Não acredito que está pensando em manter em suspense.”
“Estou esperando que você esqueça disso.”
“Zero de chance.”
Eu tentei visualizar os músculos no meu pescoço relaxando, prevenindo a dor de cabeça que eu sentia se arrastando. “Ainda vamos às compras?”
“Te pego às quatro.”
“Achei que não fôssemos nos encontrar até as cinco.”
“As circunstâncias mudaram. Eu estarei ainda mais cedo se conseguir escapar do tempo em família. Minha mãe está tendo um colapso nervoso. Ela culpa minhas notas ruins nas habilidades parentais dela. Aparentemente passar tempo juntas é a solução. Deseje-me boa sorte.”
Eu fechei meu celular com tudo e deslizei profundamente para a minha cama. Eu imaginei o sorriso irônico imortal do Patch e seus olhos negros brilhantes. Após me debater na cama por diversos minutos, eu desisti tentar ficar confortável. A verdade era que, enquanto Patch estivesse na minha mente, conforto estava fora de questão.
Quando eu era menor, o afilhado de Dorothea, Lionel, estilhaçou um dos copos da cozinha. Ele varreu todos os fragmentos de vidro exceto um, e ele me desafiou a lambê-lo. Eu imaginei que ficar caída pelo Patch era um pouco como
lamber aquele fragmento. Eu sabia que era estúpido. Eu sabia que iria me cortar. Após todos aqueles anos uma coisa não tinha mudado: eu ainda era atraída pelo perigo.
De repente eu me senti reta na cama e alcancei meu celular. Eu acendi o abajur.
A bateria mostrou estar totalmente carregada.
Minha espinha formigou ameaçadoramente. Meu celular deveria estar descarregado. Então como a minha mãe e tinham conseguido ligar?
***
Chuva batia nos toldos coloridos das lojas ao redor do cais e derramava na calçada abaixo. As lamparinas de gás antigas que estavam dispostas em ambos os lados da rua brilhando vivamente com nossas sombrinhas colidindo, e eu nos acotovelando pela calçada e sob o toldo listrado rosa e branco da Victorias's Secret. Nós chocalhamos nossas sombrinhas em uníssono e as apoiamos logo fora da entrada.
Um estrondo de trovão nos mandou voando para adentro.
Eu bati os pés para tirar chuva dos meus sapatos e estremeci do frio. Diversos difusores de óleo queimavam num display no canto da loja, nos cercamos com um cheiro exótico e robusto.
Uma mulher com calça preta e uma regata preta de stretch veio para frente. Ela tinha uma fita de medida enrolado ao redor do seu pescoço, e ela começou a pegá-la. “Meninas, vocês gostariam de uma medição grátis –”
“Guarde a maldita fita de medida,” ordenou. “Eu já conheço o meu tamanho. Eu não preciso ser lembrada.”
Eu dei um sorriso à mulher que era parcialmente apologético enquanto seguia a , que estava se dirigindo à dispensa de liquidação nos fundos.
“Um tamanho 42 não é nada de que se envergonhar,” eu disse à . Eu peguei um sutiã azul de cetim e cocei a etiqueta de preço.
“Quem disse algo sobre estar envergonhada?” disse. “Não estou envergonhada. Por que estaria? As únicas outras garotas de dezasseis anos com peitos tão grandes como os meus estão infiltradas de silicone – e todos sabem disso. Por que eu teria razão para ficar envergonhada. Ela vasculhou uma dispensa. “Acha que eles têm algum sutiã aqui que faça as minhas meninas ficarem retas?”
“Isso se chama sutiã esportivo, e eles têm um péssimo efeito colateral chamado mono peito,” eu disse, meus olhos escolhendo um sutiã preto rendado da pilha.
Eu não deveria estar olhando para lingeries. Elas naturalmente me faziam pensar em coisas sexy. Como beijar. Como o Patch.
Eu fechei meus olhos e repeti nossa noite juntos. O toque da mão do Patch na minha coxa, seus lábios provando o meu pescoço...
me pegou desprevenida com um par de calcinhas de estampa de leopardo turquesa arremessado no meu peito. “Essas ficariam boas em você,” ela disse. “Tudo que você precisa é uma bunda como a minha para enchê-las.”
O que eu estivera pensando? Eu tinha chego pertíssimo de beijar o Patch. O mesmo Patch que poderia estar invadindo a minha mente. O mesmo Patch que tinha me salvado de mergulhar a morte no Arcanjo – porque era isso que eu tinha certeza que tinha acontecido, apesar de eu não ter nenhuma explicação lógica. Eu me perguntei se ele tinha, de algum modo, interrompido o tempo e me capturado durante a queda. Se ele era capaz de falar com os meus pensamentos, talvez, ele fosse capaz de outras coisas.
Ou talvez, eu pensei com um arrepio, eu já não possa confiar na minha mente.
Eu ainda tinha o pedaço de papel que o Patch tinha enfiado dentro do meu bolso, mas de jeito nenhum eu ia à festa hoje à noite. Eu secretamente gostava da atração entre nós, mas o mistério e a lugubridade pesavam mais. Eu ia descartar o Patch do meu sistema – e dessa vez eu falava sério. Seria como uma dieta de limpeza. O problema era que, a única dieta que eu já fizera falhara. Uma vez eu tentara ficar um mês inteiro sem chocolate. Nenhuma mordida. No fim de duas semanas, eu sucumbi e me entupi de mais chocolate do que teria comido em três meses.
Eu esperava que a minha dieta nada-de-chocolate não fosse uma previsão do que aconteceria se eu evitasse o Patch.
“O que você está fazendo?” eu perguntei, minha atenção voltada para a .
“O que parece que estou fazendo? Estou tirando as etiquetas de preciso de liquidação desses sutiãs em liquidação e colocando nos sutiãs que não estão em promoção. Desse jeito eu consigo sutiãs sexy ao preço de sutiãs vagabundos.”
“Você não pode fazer isso. Ela vai escanear os códigos de barra quando você for ao caixa. Ela saberá o que você está aprontando.”
“Códigos de barra? Eles não escaneiam códigos de barra.” Ela não soava muito segura.
“Escaneiam sim. Eu juro. De coração.” Eu imaginei que mentir fosse melhor do que observar a ser arrastada para a cadeia.
“Bem, pareceu uma boa ideia...”
“Você tem que comprar essa,” eu disse à , jogando um fragmento de seda nela, esperando distrai-la.
Ela levantou a calcinha. Minúsculos caranguejos24 vermelhos ornavam o tecido. “Essa é a coisa mais nojenta que eu já vi. Eu gostei daquele sutiã preto que você está segurando, por outro lado. Eu gostei que você deveria comprá-lo. Vai pagar e eu continuarei olhando.”
Eu paguei. Então, pensando que seria mais fácil esquecer do Patch se eu estivesse olhando algo mais benigno, eu vaguei até a seção de loções.
Eu estava cheirando uma garrafa de Anjos dos Sonhos quando senti uma presença familiar próxima. Era como se alguém tivesse derrubado uma concha de sorvete pelas costas da minha camiseta. Era o mesmo solavanco trêmulo que eu experienciava sempre que o Patch se aproximava.
e eu ainda éramos as duas únicas clientes na loja, mas do outro lado da janela de vidro para espelho, eu vi uma figura encapuzada sair de um toldo sombreado do outro lado da rua. Recém transtornada, eu fiquei imóvel por um minuto inteiro antes que me recobrasse e fosse achar a .
“Hora de ir,” eu disse a ela.
Ela estava virando uma prateleira de camisolas. “Uau. Olha isso – pijamas de flanela, desconto de cinquenta por cento. Eu preciso de pijama de flanela.”
Eu mantive um olho grudado na janela. “Acho que estou sendo seguida.”
A cabeça de levantou-se. “Patch?”
“Não. Olhe pró outro lado da rua.”
espremeu os olhos. “Não vejo ninguém.”
Nem eu mais. Um carro tinha passado, interrompendo minha linha de visão. “Acho que entraram na loja.”
“Como sabe que estão te seguindo?”
“Uma sensação ruim.”
“Parecia com alguém que a gente conhece? Por exemplo... uma cruza entre a Pippi Meialonga25 e a Bruxa Má do Oeste obviamente seria a Marcie Millar.”
“Não era a Marcie,” eu disse, os olhos ainda fixos do outro lado da rua. “Quando eu deixei a arcada na noite passada para comprar algodão-doce, eu vi alguém me observando. Eu acho que a mesma pessoa está aqui agora.”
“Está falando sério? Por que só está me dizendo isso agora? Quem é?”

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24 No original, crabs, que é a mesma palavra usada para 'caranguejo' e 'piolho do púbis', também conhecido como chato ou piolho-caranguejo. Ele é o inseto parasita responsável pela pediculose pubiana.
25 Pippi Meialonga é uma personagem fictícia de uma série de livros para crianças da sueca Astrid Lindgren, que foi adaptado para diversos filmes e séries de TV. Pippi tem nove anos é extraordinariamente forte, sendo capaz de levantar seu cavalo com uma só mão sem dificuldade alguma.
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Eu não sabia. E isso me assustava mais do que tudo.
Eu direcionei minha voz para a vendedora. “Tem uma porta traseira na loja?”
Ela levantou seu olhar de organizar uma gaveta. “Somente funcionários.”
“A pessoa é homem ou mulher?” queria saber.
“Não sei dizer.”
“Bem porque acha que estão te seguindo? O que querem?”
“Me assustar.” Parece razoável o bastante.
“Por que iriam querer te assustar?”
Eu quis dizer, Quem não está tentando me assustar?
“Precisamos de uma distração,” eu disse a .
“Exatamente o que eu estava pensando,” ela disse. “E sabemos que sou realmente boa em distrações. Me dê sua jaqueta jeans.”
Eu encarei-a. “De jeito nenhum. Não sabemos nada sobre essa pessoa. Não vou deixar você sair vestida como eu. E se estiverem armados?”
“Às vezes a sua imaginação me assusta,” disse.
Eu tinha que admitir, a ideia que eles estivessem armados e prontos para matar era um pouco forçado. Mas com todas essas coisas sinistras acontecendo ultimamente, eu não me culpava por me sentir tensa e presumir o pior.
“Eu saberei primeiro,” disse a . “Se me seguirem, você os segue. Eu me dirigirei colina acima na direção do cemitério, e então os encurralaremos e teremos algumas respostas.”
Um minuto mais tarde deixou a loja usando a minha jaqueta jeans. Ela pegou minha sombrinha vermelha, segurando-a baixo em sua cabeça. Fora o fato dela ser alguns centímetros mais altas, e alguns quilos mais voluptuosa, ela se passava por mim. De onde eu estava agachada atrás da prateleira de camisolas, eu observei a figura encapuzada sair da loja do outro lado da rua e seguiu atrás da . Eu arrastei perto da janela apesar do moletom e do jeans largos da figura terem como objetivo parecer andrógenos, o andar era feminino. Definitivamente feminino.
e a garota viraram a esquina e desapareceram, e eu corri até a porta. Do lado de fora, a chuva tinha virado um aguaceiro.
Agarrando a sombrinha da , eu acelerei o passo, ficando debaixo da minha calça jeans umedecendo. Desejei ter usado botas.
Atrás de mim o cais se estendia para o oceano cinza-cimento. Na minha frente, a faixa de lojas acabava na base de uma colina íngreme e capinada. No topo da colina, eu conseguia distinguir a cerca alta de ferro do cemitério local.
Eu destranquei o Neon, acionei o degelador no máximo, e coloquei os limpadores de pára-brisas a todo poder. Eu dirigi para fora do estacionamento e virei à esquerda, acelerando pela colina sinuosa. As árvores no cemitério agigantavam-se a frente, seus galhos enganosamente ganhando vida pelos loucos golpes dos limpadores. As lápides de mármore branco parecia ser golpeada pela escuridão. As lápides cinza dissolviam-se na atmosfera.
Do nada um objeto vermelho foi arremessado no pára-brisas. Ela bateu contra o vidro diretamente na minha linha de visão, então voou por sobre o carro. Eu pisei nos freios e o Neon deslizou para parar na espádua da estrada.
Eu abri a porta e saí. Eu corri para frente do carro, procurando pelo que tinha me atingido.
Houve um instante de confusão enquanto a minha mente processava o que eu estava vendo. Minha sombrinha vermelha estava emaranhada nas ervas daninhas. Estava quebrada; um lado tinha colapsado do jeito exato que eu esperava que tivesse se tivesse sido atirado contra outro objeto mais pesado.
Através do ataque furioso da chuva eu ouvi um soluço abafado.
?” eu disse. Eu corri pela estrada, protegendo meus olhos da chuva enquanto passei meu olhar pela paisagem. Um corpo estava deitado amarrotado logo a frente. Eu comecei a correr.
!” eu caí de joelhos ao lado dela. Ela estava do lado dela, suas pernas juntas de seu peito. Ela resmungou.
“O que aconteceu? Você está bem? Consegue se mexer?” Eu joguei minha cabeça para trás, piscando a chuva. Pensa! Eu disse a mim mesma. Meu celular. Lá no carro. Eu tinha que ligar para 190.
“Vou chamar ajuda,” eu disse à .
Ela gemeu e apertou a minha mão.
Eu me abaixei sobre ela, segurando-a apertadamente. Lágrimas queimaram atrás dos meus olhos. “O que aconteceu? Foi a pessoa que eu segui? Fizeram isso com você? O que fizeram?
murmurou algo ininteligível que poderia ter sido “bolsa de mão.” Como visto, sua bolsa de mão estava sumida.
“Você vai ficar bem,” eu me esforcei para manter a minha voz firme. Eu tinha uma sensação ruim agitando dentro de mim, e eu estava tentando mantê-lo no vão. Eu estava certa de que a mesma pessoa que tinha me observado no Delphic e me seguido às compras hoje era o responsável, mas eu me culpava
por colocar a no caminho do perigo. Eu apertei 190 no meu celular, e um operador atendeu.
Tentando manter a histeria fora da minha voz, eu disse, “Preciso de uma ambulância. Minha amiga foi atacada e roubada.” 

Capítulo Onze

Segunda-feira passou confusamente. Eu fui de aula para aula esperando pelo sino final do dia. Eu liguei para o hospital antes da escola e fui informada que estava indo para a Sala Cirúrgica. Seu braço esquerdo fora quebrado durante o ataque e já que o osso não estava alinhado, ela precisava de cirurgia. Eu queria vê-la, mas não podia até o entardecer, quando a anestesia passasse e os funcionários do hospital movessem-na para seu próprio quarto. Era especialmente importante que eu ouvisse sua versão do ataque antes que esquecesse dos detalhes ou enfeitasse-os. Qualquer coisa que ela lembrasse que pudesse preencher a imagem e me ajudar a descobrir quem havia feito isso.
A medida que as horas se esticavam pela tarde, meu foco mudou da para a garota do lado de fora da Victoria’s Secret. Quem era ela? O que ela queria? Talvez fosse uma coincidência pertubadora ter sido atacada minutos após eu observar a garota segui-la, mas meus instintos discordavam. Eu desejava ter uma imagem melhor de como ela era. O moletom largo com capuz e a calça jeans, junto com a chuva, fizeram um bom trabalho em disfarçá-la. Pelo que eu sabia, podia ter sido a Marcie Millar. Mas no fundo não parecia a pessoa certa.
Eu passei no meu armário para pegar meu livro de texto, então me dirigi para minha última aula. Eu entrei para encontrar a cadeira do Patch vazia. Tipicamente, ele chegava no último momento possível, empatado com o sinal de atraso, mas o sinal tocou e o treinador tomou seu lugar no quadro negro e começou a lecionar sobre equilíbrio.
Eu ponderei sobre a cadeira vazia do Patch. Uma minúscula voz no fundo da minha cabeça especulava que sua falta pudesse estar conectada ao ataque da . Era um pouco estranho ele faltar na manhã seguinte. E eu não conseguia esquecer o frio gelado que tinha sentido momentos antes de olhar para fora da Victoria’s Secret e perceber que estava sendo observada. Em todas as outras vezes que me sentia dessa maneira, era porque Patch estava próximo.
A voz da razão rapidamente extinguiu o envolvimento do Patch. Ele podia ter pego um resfriado. Ou ele podia ter ficado sem gasolina a caminho da escola e estava encalhado a quilômetros de distância. Ou talvez houvesse um jogo de sinuca com apostas altas acontecendo na Bo’s Arcade e ele achava que era mais lucrativo que uma tarde passada aprendendo as complexidades do corpo humano.
No fim da aula, o Treinador me parou a caminho da porta.
“Espere um minuto, .”
Eu me virei e puxei minha mochila sobre meu ombro. “Sim?”
Ele estendeu um pedaço dobrado de papel. “A Senhorita Greene deu uma passada antes da aula e me pediu para te dar isso,” ele disse.
Eu aceitei o bilhete. “Senhorita Greene?” Eu não tinha nenhuma professora com esse nome.
“A nova psicóloga da escola. Ela acabou de substituir o Dr. Hendrickson.”
Eu desdobrei o bilhete e li a mensagem rabiscada.
Querida ,
Eu tomarei o papel do Dr. Hendrickson como sua psicóloga escolar. Eu notei que você faltou nas suas duas últimas consultas com o Dr. H. Por favor, venha logo, para que possamos nos conhecer. Eu enviei uma carta para sua mãe para deixá-la ciente da mudança.
Tudo de bom,
Senhorita Greene.
“Obrigada,” eu disse ao Treinador, dobrando o bilhete até ficar pequeno o bastante para enfiar dentro do meu bolso.
No corredor eu me misturei com o fluxo da multidão. Não tinha mais como evitar agora – eu tinha que ir. Eu guiei pelos corredores até que conseguisse ver a porta fechada do escritório do Dr. Hendrickson. Como previsto, havia uma placa com um novo nome na porta. O latão polido brilhava contra a porta de carvalho acastanhado: SENHORITA D. GREENE, PSICÓLOGA ESCOLAR.
Eu bati na porta, e um momento mais tarde ela se abriu de dentro. Senhorita Greene tinha uma pele pálida perfeita, olhos azuis marítimos, uma boca luxuriante, e um cabelo loiro fino e liso que caia abaixo de seus cotovelos. Estava partido no meio de seu rosto oval. Uns óculos turquesa de olho de gato26 estava na ponta de seu nariz, e ela estava vestida formalmente com uma saia-lápis com um padrão ziguezague cinza. Ela não devia ter mais que cinco anos a mais que eu.

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26 Olho-de-gato – Efeito óptico de reflexão da luz causado por um conjunto de múltiplas inclusões tubulares/aciculares paralelas (e.g crisoberilo, turmalina, silimanite e opala).
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“Você deve ser . Você parece exatamente como na foto em seu arquivo.” Ela disse, dando um firme estímulo em minha mão. Sua voz era abrupta, mas não rude. De negócios.
Recuando, ela sinalizou para que eu entrasse no escritório.
“Posso te servir suco, água?” ela perguntou.
“O que aconteceu com o Dr. Hendrickson?”
“Ele se aposentou mais cedo. Eu estava de olho nesse trabalho por um tempo, então aceitei a oportunidade. Eu freqüentei a Florida State, mas cresci em Portland, e meus pais ainda moram lá. É bom estar perto da família novamente.”
Eu vasculhei o pequeno escritório. Tinha mudado drasticamente desde a última vez que estive aqui, há algumas semanas. As estantes de livro de parede a parede estavam agora cheias de livros de capa dura acadêmicos, mas genéricos, todos encadernados em cores neutras com letras douradas. O Dr. Hendrickson tinha usado as estantes para mostrar fotos da família, mas não havia fotos instantâneas da vida partículas da Senhorita Greene. A mesma samambaia pendia da janela, mas sob os cuidados do Dr. Hendrickson, ela fora bem mais marrom do que verde. Alguns dias com a Senhorita Greene e já parecia alegre e viva. Havia uma cadeira rosa de paislei exposta à mesa, e diversas caixas de mudança empilhadas no canto distante.
“Sexta foi meu primeiro dia,” ela explicou, vendo meus olhos caindo nas caixas de mudança. “Ainda estou desempacotando. Sente-se.”
Eu abaixei minha mochila pelo meu braço e me sentei na cadeira de paislei. Nada no pequeno cômodo dava pistas sobre a personalidade da Srta. Greene. Ela tinha uma pilha de pastas de arquivos em sua mesa – não organizada, mas não bagunçada, tampouco – e uma caneca branca do que parecia ser chá. Não havia um traço de perfume ou de perfurmador de ar. O monitor de seu computador estava desligado.
A Senhorita Greene se agachou atrás de um gabinete de arquivos atrás de sua mesa, enfiou um arquivo de papel manilha claro, e escreveu na aba em letra de imprensa com uma caneta esferográfica preta. Ela o colocou em sua mesa próximo ao meu antigo arquivo, que levava algumas manchas da caneca de café do Dr. Hendrickson.
“Eu passei o final de semana inteiro vendo os arquivos do Dr. Hendrickson,” ela disse. “Entre nós, a caligrafia dele me dá enxaqueca, então estou copiando todos os arquivos. Fiquei surpresa ao descobrir eu ele não usava o computador para digitar suas notas. Quem ainda usa letra cursiva atualmente?”
Ela se assentou de volta em sua cadeira de rotação, cruzou suas pernas, e sorriu educadamente para mim. “Bom. Por que não me conta um pouco sobre a história das suas consultas com o Dr. Hendrickson. Eu mal consegui decifrar suas notas. Parece que vocês dois estavam discutindo como você se sente sobre o novo trabalho da sua mãe.”
“Não é tão novo assim. Ela está trabalhando faz um ano.”
“Ela costumava ser dona de casa, correto? E após a morte do seu pai, ela pegou um trabalho de tempo integral.” Ela espreitou os olhos para uma folha de papel no meu arquivo. “Ela trabalha para uma companhia de leilões, correto? Parece que ela coordena leilões imobiliários por toda a costa.” Ela me espiou por cima do óculos. “Isso deve requerer bastante tempo longe de casa.”
“Nós queríamos ficar na nossa casa da fazenda,” eu disse, meu tom beirando o defensivo. “Não podíamos bancar a hipoteca se ela pegasse um trabalho local.” Eu não tinha exatamente amado minhas sessões com o Dr. Hendrickson, mas eu me encontrei sentindo ressentimento por ele ter se aposentado e me abandonado com a Senhorita Greene. Eu estava começando perceber a dela, e ela parecia atenta a detalhes. Eu a senti se coçando para escavar cada canto obscuro da minha vida.
“Sim, mas você deve ficar bem solitária sozinha na casa da fazenda.”
“Nós temos uma governanta que fica comigo todas as tardes até as nove ou dez da noite.”
“Mas uma governanta não é o mesmo que uma mãe.”
Eu espio a porta. Eu nem tentei ser discreta.
“Você tem uma melhor amiga? Um namorado? Alguém com quem possa falar quando sua governanta não é bem... apropriada para a questão?” Ela afundou um saquinho de chá na caneca, então a levantou para tomar um gole.
Suas sobrancelhas levantaram-se perpendicularmente. “Namorado?”
“Não.”
“Você é uma garota atraente. Eu imagino que deve haver algum interesse do sexo oposto.”
“É o seguinte,” eu disse tão pacientemente quanto possível. “Eu realmente aprecio você estar tentando me ajudar, mas eu tive essa mesma conversa com o Dr. Hendrickson há um ano quando meu pai morreu. Reprocessá-la com você não irá ajudar. É como voltar no tempo e viver tudo de novo. Sim, foi trágico e horrível, e ainda estou lidando com isso todos os dias, mas o que eu realmente preciso é seguir em frente.”
O relógio na parede tiquetaqueou entre nós.
“Bem,” a Senhorita Greene disse por fim, empastando um sorriso. “É muito prestativo conhecer o seu ponto de vista, . Que era o que eu estava tentando entender o tempo todo. Eu anotarei os seus sentimentos no seu arquivo. Algo mais sobre o que gostaria de falar?”
“Nada.” Eu sorri para confirmar que, realmente, eu estava bem.
Ela folheou mais algumas páginas do meu arquivo. Eu não fazia ideia de que observações o Dr. Hendrickson tinha imortalizado ali, e eu não queria esperar tempo o bastante para descobrir.
Eu levantei minha mochila do chão e movi para a beirada da cadeira. “Eu não quero encurtar as coisas, mas eu preciso estar em um lugar as quatro.”
“Ah?”
Eu não tinha vontade alguma de entrar no assunto do ataque da com a Senhorita Greene. “Pesquisa na biblioteca,” eu menti.
“Para que aula?”
Eu disse a primeira resposta que apareceu na minha mente. “Biologia.”
“Falando em aulas, como as suas estão? Alguma preocupação nesse departamento?”
“Não.”
Ela folheou mais algumas páginas no meu arquivo. “Notas excelentes,” ela observou. “Diz aqui que você está dando aulas particulares para o seu parceiro de biologia, Patch Cipriano.” Ela olhou para cima, aparentemente querendo a minha confirmação.
Eu fiquei surpresa da minha tarefa de dar aulas particulares ser importante o bastante para ir parar no arquivo da psicóloga escolar. “Até então não conseguimos nos encontrar. Horários conflituantes.” Eu dei de ombros, do tipo O que se pode fazer?
Ela deu um tapinha em meu arquivo na sua mesa, arrumando todas as folhas soltas de papel em uma pilha arrumada, então inseriu-o no novo arquivo que ela tinha etiquetado a mão. “Para te avisar de antemão, vou falar com o Sr. McConaughy e ajustar alguns parâmetros para as suas sessões de aula particular. Eu gostaria que todos os encontros fossem feitos aqui na escola, sob a supervisão direta de um professor ou membro da escola. Eu não quero você dando aulas particulares para o Patch fora da propriedade da escola. Eu especialmente não quero que vocês dois se encontrem sozinhos.”
Um calafrio andou na ponta dos pés pela minha pele. “Por quê? O que está acontecendo?”
“Não posso discutir isso.”
A única razão que eu conseguia pensar no por que dela não me querer sozinha com o Patch era porque ele era perigoso. Meu passado pode assustá-la, ele tinha dito na plataforma de embarque do Arcanjo.
“Obrigada por seu tempo. Não vou te segurar mais.” A Senhorita Greene disse. Ela caminhou até a porta, segurando-a aberta com seu delgado quadril. Ela deu um sorriso de despedida, mas parecia perfunctório.
Após deixar o escritório da Senhorita Greene, eu liguei para o hospital. A cirurgia da tinha acabado, mas ela ainda estava na sala de recuperação e não podia ter visitas até as sete da noite. Eu consultei o relógio no meu celular. Três horas. Eu achei o Fiat no estacionamento dos estudantes e entrei nele, esperando que uma tarde fazendo tarefa de casa na biblioteca mantivesse minha mente longe da longa espera.
Eu fiquei na biblioteca pela tarde toda, e antes que eu percebesse, o relógio na parede tinha passado silenciosamente para a noite. Meu estômago retumbou contra a quietude da biblioteca, e meus pensamentos foram para a máquina de comida bem do lado de dentro da entrada.
A última parte da minha tarefa de casa podia esperar até mais tarde, mas havia ainda um projeto que requeria a ajuda de recursos da biblioteca. Eu tinha um computador IBM vintage em casa com uma conexão de internet discada, e eu tipicamente tentando me poupar de um monte de gritaria e puxação de cabelo usando o computador do laboratório da biblioteca. Eu tinha uma resenha teatral de Otelo com prazo para estar na mesa do editor do eZine às nove da noite, e eu fiz um trato comigo mesma, prometendo caçar comida assim que terminasse com ela.
Empacotando meus pertences, eu andei até o elevador. Dentro da caixa eu apertei o botão para fechar as portas, mas não requisitei imediatamente um andar. Eu puxei meu celular e liguei para o hospital novamente.
“Oi,” eu disse à enfermeira que atendeu. “Minha amiga está se recuperando de uma cirurgia, e quando eu chequei mais cedo essa tarde, foi-me dito que ela sairia hoje à noite. Seu nome é .”
Houve uma pausa e o clique de teclas do computador. “Parece que vão levá-la para um quarto particular dentro dessa hora.”
“Que horas o tempo de visita acaba?”
“Oito.”
“Obrigada.” Eu desliguei e pressionei o botão do terceiro andar, mandando-me para cima.
No terceiro andar, eu segui as placas para as coleções, esperando que se lesse diversas resenhas de teatro no jornal local, isso estimularia minha fonte de inspiração.
“Com licença,” eu disse para a bibliotecária atrás da mesa de coleções. “Estou tentando achar cópias do Portland Press Herald do ano passado. Particularmente o guia de teatro.”
“Não temos nada tão atual nas coleções,” ela disse, “mas se procurar na internet, eu acredito que o Portland Press Herald mantenha arquivos em seu site. Dirija-se direto pelo corredor atrás de você e verá o laboratório de mídia à sua esquerda.”
Dentro do laboratório, eu acessei um computador. Eu estava prestes a mergulhar na minha tarefa, quando uma ideia me atingiu. Eu não conseguia acreditar que não tinha pensado nisso antes. Após confirmar que ninguém estava observando sobre o meu ombro, eu digitei “Patch Cipriano” no Google. Talvez eu encontrasse um artigo que iluminasse seu passado. Ou talvez ele mantivesse um blog.
Eu franzi a testa para os resultados de busca. Nada. Nada de Facebook, nada de MySpace, nada de blog. Era como se ele nem existisse.
“Qual a sua história, Patch?” eu murmurei. “Quem é você – de verdade?”
Meia hora mais tarde, eu tinha lido diversas resenhas e meus olhos estavam vidrados. Eu ampliei minha pesquisa online para todos os jornais de Maine. Um link para o jornal escolar da Kinghorn Prep apareceu. Alguns segundos se passaram antes que eu identificasse o nome familiar. Por um capricho, eu decidi checar. Se a escola era de elite como Elliot clamava ser, provavelmente tinha um jornal respeitável.
Eu cliquei no link, voltei até a página de arquivos, e escolhi randomicamente 10 de Fevereiro desse ano. Um instante depois eu tinha uma manchete.
ESTUDANTE QUESTIONADO POR ASSASSINATO NA KINGHORN PREP
Eu puxei minha cadeira mais para perto, atraída pela ideia de ler algo mais excitante que resenhas teatrais.
Um estudante de dezasseis anos da Kinghorn Prep, que foi questionado pela polícia no que foi batizado de “O Cingido da Kinghorn” foi liberado sem acusações. Após o corpo de Kjirsten Halverson, de dezoito anos, ter sido encontrado pendurada de uma árvore no bosque do campus da Kinghorn Prep, a polícia questionou Elliot Saunders, do segundo ano, que foi visto com a vítima na noite de sua morte.
Minha mente foi devagar em processar a informação. Elliot foi investigado como parte de uma investigação de assassinato?
Halverson trabalhava como garçonete no Blind Joe’s. A polícia confirmou que Halverson e Saunders foram vistos andando pelo campus juntos tarde de sábado a noite. O corpo de Halverson foi descoberto na manhã de domingo, e Saunders foi liberado na tarde de domingo após um bilhete de suicídio ter sido descoberto no apartamento de Halverton.
“Achou alguma coisa interessante?”
Eu pulei ao som da voz de Elliot atrás de mim. Eu girei, encontrando-o reclinado contra a ombreira da porta. Seus olhos estavam estreitados ligeiramente, sua boca ajustada em uma linha. Algo frio fluiu por mim, como um rubor, só que ao contrário.
Eu virei minha cadeira ligeiramente para a direita, tentando me posicionar na frente do monitor do computador. “Eu só – eu só estou terminando a lição de casa. E quanto a você? O que você está fazendo? Eu não te escutei entrar. Há quanto tempo você está parado aí?” Meu tom estava descontrolado.
Elliot se afastou da ombreira da porta e entrou no laboratório. Eu apalpei cegamente atrás de mim o botão de ligar/desligar do monitor.
Eu disse, “Estou tentando acelerar minha inspiração numa resenha de teatro que devo entregar para o meu editor mais tarde hoje à noite.” Eu ainda estava falando rápido demais. Onde estava o botão?
Elliot espiou ao meu redor. “Resenhas teatrais?”
Meus dedos apertaram um botão, eu ouvi o monitor ficar preto. “Perdão, o que você disse que estava fazendo aqui?”
“Eu estava andando quando te vi. Algo errado? Você parece... nervosa.”
“Hãn – glicose baixa.” Eu varri meus papéis e livros em uma pilha e joguei-os dentro da minha mochila. “Eu não comi desde o almoço.”
Elliot fisgou uma cadeira próxima e a girou para perto da minha. Ele sentou-se de costas nela e se aproximou, invadindo meu espaço pessoal. “Talvez eu possa ajudar com a resenha.”
Eu me inclinei para longe. “Uau, isso é muita bondade sua, mas eu vou encerrar por hoje. Eu preciso pegar algo para comer. É uma boa hora para dar um tempo.”
“Deixe-me te levar para jantar,” ele disse. “Não tem uma lanchonete bem na esquina?”
“Obrigada, mas minha mãe ficará me esperando. Ela esteve fora da cidade a semana toda e volta hoje à noite.” Eu me levantei e tentei contorná-lo. Ele estendeu seu celular, e ele me acertou no umbigo.
“Liga para ela.”
Eu abaixei meu olhar para o telefone e lutei por uma desculpa. “Não posso sair em noites de semana.”
“Isso se chama mentir, . Diga à ela que sua lição de casa está demorando mais que o esperado. Diga à ela que você precisa de mais uma hora na biblioteca. Ela não vai saber a diferença.”
A voz do Elliot tinha assumido um tom que eu nunca ouvira antes. Seus olhos azuis tinham a energia de uma frieza recém-descoberta, sua boca parecia mais fina.
“Minha mãe não gosta que eu saia com caras que ela não conheceu,” eu disse.
Elliot sorriu, mas não havia calor. “Nós dois sabemos que você não se preocupa muito com as regras da sua mãe, já que sábado a noite você estava comigo no Delphic.”
Eu estava com a minha mochila tombada em um ombro, e eu estava agarrando a alça. Eu não disse nada. Eu passei encostando no Elliot e saí do laboratório apressada, percebendo que se ele ligasse o monitor, ele veria o artigo. Mas não havia nada que eu pudesse fazer agora.
Na metade do caminho até a mesa das coleções, eu ousei olhar sobre o meu ombro. As paredes de vidro mostravam que o laboratório estava vazio. Elliot não estava em lugar algum. Eu refiz meus passos até o computador, mantendo meus olhos atentos no caso dele reaparecer. Eu liguei o monitor; o artigo de investigação de assassinato ainda estava aberto. Enviando uma cópia para a impressora mais próxima, eu a enfiei dentro do meu encadernador, fiz logoff, e me apressei em sair. 

Capítulo Doze

Meu celular tocou no meu bolso, e, após confirmar que eu não estava sendo olhada de cara feia pela bibliotecária, eu atendi. “Mãe?”
“Boas notícias,” ela disse. “O leilão acabou cedo. Eu entrei na estrada uma hora mais cedo que o planejado e devo chegar logo em casa. Onde você está?”
“Oi! Eu não estava te esperando até mais tarde. Eu estou saindo da biblioteca. Como estava o norte de Nova York?”
“O norte de Nova York estava... comprido.” Ela riu, mas pareceu esgotada. “Mal posso esperar para te ver.”
Eu procurei ao redor por um relógio. Eu queria parar no hospital e ver a antes de me dirigir para casa.
“É o seguinte,” eu disse à minha mãe. “Eu preciso visitar a . Eu talvez me atrase alguns minutos. Eu irei me apressar – eu prometo.”
“É claro.” Eu detectei uma pequenina decepção. “Alguma novidade? Eu recebi sua mensagem essa manhã sobre a cirurgia dela.”
“A cirurgia acabou. Eles vão levá-la para um quarto particular a qualquer minuto agora.”
.” Eu ouvi a inflamação de emoção em sua voz. “Estou tão feliz por não ter sido você. Eu não poderia viver comigo mesma se algo acontecesse com você. Especialmente depois que o seu pai –” Ela dissipou. “Só estou feliz por ambas estarmos seguras. Diga oi para a por mim. Te vejo logo. Beijinhos e abraços.”
“Te amo, mãe.”
O Centro Médico Regional de Coldwater é uma estrutura de tijolos vermelhos de três andares com um passadiço coberto que leva à entrada principal. Eu passei pelas portas giratórias de vidro e parei na bancada principal para indagar sobre a . Foi-me dito que ela foi deslocada para um quarto a meia hora, e que o horário de visita acabava em quinze minutos. Eu localizei os elevadores e apertei os botões para me mandar para um andar.
No quarto 207, eu empurrei a porta. “?” eu atraí para dentro um buquê de balões atrás de mim, cruzei o pequeno vestíbulo, e encontrei a reclinada na cama, seu braço esquerdo com gesso e erguido sobre seu corpo.
“Oi!” eu disse quando eu vi que ela estava acordada.
expeliu um suspiro luxurioso. “Eu amo remédios. Sério. Eles são demais. Até melhores que um cappuccino Enzo. Ei, isso rimou. Cappuccino Enzo. É um
sinal. Estou destinada a ser uma poetisa. Quer ouvir outro poema? Sou boa de improviso.”
“Hãn –”
Uma enfermeira assobiou e arrumou o intra-venoso da . “Está se sentindo bem?” ela perguntou à .
“Esqueça ser uma poetisa,” disse. “Estou destinada à comédia de stand-up. Toc, toc.”
“O quê?” eu disse.
A enfermeira rolou os olhos. “Quem é?”
“Garra,” disse a .
“Garra quem?”
“Garra sua toalha, nós vamos para a praia.”
“Talvez um pouco menos de analgésicos,” eu disse à enfermeira.
“Tarde demais. Eu acabei de lhe dar outra dose. Espere até vê-la daqui a dez minutos.” Ela saiu pela porta assobiando.
“Então?” eu perguntei a . “Qual o veredicto?”
“O veredicto? Meu médico é um bundão. Lembra muito um Oompa-Loompa. Não me olhe severamente. Da última vez que ele veio, ele começou a cantar Funky Chicken. E ele está sempre comendo chocolate. Na maior parte animais de chocolate. Você sabe os coelhinhos sólidos de chocolate que eles vendem na Páscoa? Foi isso que o Oompa-Loompa comeu de janta. Comeu um pato de chocolate no almoço com Peeps27 amarelo.”

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27 Peeps são marshmallows pequenos no formato de filhotes de frango, coelhos e outros animais.
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“Eu quis dizer o veredicto…” eu apontei para a parafernália médica enfeitando-a.
“Ah. Um braço quebrado, uma concussão, e cortes, arranhões, e contusões sortidas. Felizmente, por causa dos meus reflexos rápidos, eu pulei para fora do caminho antes que algum dano maior fosse feito. Quando se trata de reflexos, eu sou como um gato. Eu sou a mulher gato. Eu sou invulnerável. A única razão por ele ter me acertado foi por causa da chuva. Gatos não gostam de água. Nos enfraquece. É a nossa kriptonita.”
“Eu sinto tanto,” eu disse à sinceramente. “Devia ser eu na cama do hospital.”
“E ficar com todos os remédios? Uh-uh. De jeito nenhum.”
“A polícia achou alguma pista?” eu perguntei.
“Nada, necas, zero.”
“Nenhuma testemunha?”
“Nós estávamos em um cemitério no meio de uma tempestade,” apontou.
“A maioria das pessoas normais estavam dentro de casa.”
Ela estava certa. A maioria das pessoas normais tinha estado dentro de casa. É claro, e eu estávamos fora... junto com a garota misteriosa que seguiu para fora da Victoria's Secret.
“Como aconteceu?” eu perguntei.
“Eu estava andando até o cemitério, como planejamos, quando de repente eu ouço passos chegando perto por trás de mim,” explicou. “Foi quando eu olhei para trás, e foi tudo muito rápido. Houve o relampejo de uma arma, e ele dando o bote em mim. Como eu disse aos policias, meu cérebro não estava exatamente transmitindo, ‘Consiga uma identificação visual.’ Estava mais para, ‘Santa bizarrice, estou prestes a virar papinha!’ Ele rosnou, me bateu três ou quatro vezes com a arma, agarrou minha bolsa de mão, e correu.”
Eu estava mais confusa do que nunca. “Espera. Foi um cara? Você viu o rosto dele?”
“É claro que era um cara. Ele tinha olhos escuros... olhos de carvão. Mas foi tudo o que eu vi. Ele estava usando uma máscara de esqui.”
Na menção da máscara de esqui, meu coração agitou-se por diversas batidas. Era o mesmo cara que tinha pulado na frente do Neon, eu tinha certeza disso. Eu não tinha imaginado ele – era a prova. Eu me lembrava de como toda a evidência da batida desaparecera. Talvez eu não tivesse imaginado essa parte tampouco. Esse cara, quem quer que fosse, era real. E ele estava por aí. Mas se eu não tinha imaginado o dano no Neon, o que realmente aconteceu naquela noite? A minha visão, ou minha memória, de algum jeito... tinha sido alterada? Após um momento, uma enorme quantidade de perguntas secundárias surgiu em mente. O que ele queria dessa vez? Ele estava conectado à garota do lado de fora da Victoria's Secret? Ele soubera que eu estava fazendo compras no pier? Usar uma máscara de esqui constituía em planejamento avançado, então ele deve ter sabido de antemão onde eu estaria. E ele não queria que eu reconhecesse seu rosto.
“Para quem você disse que iríamos fazer compras?” eu perguntei à de repente.
Ela amassou um travesseiro atrás de seu pescoço, tentando ficar confortável. “Minha mãe.”
“Foi só? Ninguém mais?”
“Eu talvez tenha falado para o Elliot.”
Meu sangue pareceu parar de fluir repentinamente. “Você contou ao Elliot?”
“Qual o problema?”
“Tem algo que eu preciso de contar,” eu disse sobriamente. “Lembra da noite que eu levei o Neon para casa e acertei um veado?”
“Sim?” ela disse, franzindo a testa.
“Não foi um veado. Foi um cara. Um cara com máscara de esqui.”
“Cala a boca,” ela sussurrou. “Você está me dizendo que o ataque não foi aleatório? Você está dizendo que esse cara quer algo de mim? Não, espera. Ele quer algo de você. Eu estava usando a sua jaqueta. Ele achou que eu fosse você.”
Meu corpo todo pareceu chumbo.
Após uma contagem de silêncio, ela disse, “Você tem certeza de que não contou ao Patch sobre as compras? Porque, refletindo mais, eu acho que o cara tinha o complexo do Patch. Mais ou menos alto. Mais ou menos magro. Meio sexy, tirando a parte do ataque.”
“Os olhos do Patch não são da cor do carvão, eles são pretos,” eu apontei, mas eu estava desconfortavelmente ciente de que tinha dito ao Patch que faríamos compras no pier.
levantou um ombro indecisa. “Talvez seus olhos fossem pretos. Eu não consigo me lembrar. Aconteceu realmente rápido. Eu posso ser específica quanto à arma,” ela disse auxiliadoramente. “Estava apontada para mim. Tipo, diretamente para mim.”
Eu empurrei algumas peças confusas pela minha mente. Se Patch tinha atacado a , ele deve tê-la visto deixar a loja com o meu casaco e achou que fosse eu. Quando ele percebeu que estava seguindo a garota errada, ele acertou a com a arma de raiva e desapareceu. O único problema era que eu não conseguia imaginar o Patch sendo bruto com a . Não parecia certo. Além do mais, ele supostamente estava numa festa na costa à noite toda.
“O seu atacante parecia com o Elliot?” eu perguntei.
Eu observei a absorver a pergunta. Qualquer remédio que lhe fora dado parecia diminuir seu processo de pensamento, e eu podia praticamente ouvir cada marcha em seu cérebro entrar em ação.
“Ele era cerca de nove quilos mais leve e dez centímetros mais alto para ser o Elliot.”
“Isso é culpa minha,” eu disse. “Eu nunca deveria ter deixado você sair daquela loja usando o meu casaco.”
“Eu sei que você não quer escutar isso,” disse a , parecendo estar lutando contra um bocejo induzido por remédio. “Mas quanto mais eu penso nisso, mais similaridades eu vejo entre o Patch e o meu atacante. Mesmo complexo. Mesma passada longa. Pena o arquivo escolar dele estar vazio. Nós precisamos de um endereço. Nós precisamos achar uma avózinha crédula vizinha que pode ser persuadida a instalar uma webcam em sua janela e direcioná-la na casa dele. Porque algo no Patch simplesmente não é certo.”
“Você honestamente acha que o Patch poderia ter feito isso com você?” eu perguntei, ainda não convencida.
mastigou seu lábio. “Eu acho que ele está escondendo algo. Algo grande.”
Eu não ia discordar disso.
se afundou mais em sua cama. “Meu corpo está formigando. Eu me sinto bem por toda parte.”
“Nós não temos um endereço,” eu disse. “Mas nós sabemos onde ele trabalha.”
“Você está pensando o que eu estou pensando?” perguntou, os olhos brilhando brevemente através da névoa de sedação química.
“Baseada em experiências passadas, eu espero que não.”
“A verdade é que você nós precisamos reciclar nossa habilidade de investigação,” disse a . “Ou nós a usamos ou a perdemos, foi o que o Treinador disse. Nós precisamos descobrir mais sobre o passado do Patch. Ei, aposto que se a gente documentar, o Treinador até mesmo nos dará pontos extras.”
Altamente duvidoso, já que se a estava envolvida, a investigação mais provavelmente daria uma guinada ilegal. Para não mencionar que esse trabalho particular de investigação não tinha nada a ver com biologia. Nem remotamente.
O leve sorriso que tinha tirado de mim se dissipou. Por mais divertido que fosse ficar despreocupado quanto à situação, eu estava apavorada. O cara com a máscara de esqui estava lá fora, planejando seu próximo ataque. Meio que fazia sentido que o Patch pudesse saber o que estava acontecendo. O cara com a máscara de esqui pulou na frente do Neon no dia em que o Patch se tornou meu parceiro de biologia. Talvez isso não fosse uma coincidência.
Bem então uma enfermeira enfiou sua cabeça dentro da porta. “São oito horas,” ela me disse, batendo em seu relógio. “O horário de visita acabou.”
“Eu já sairei,” eu disse.
Assim que seus passos se dissiparam no corredor, eu fechei a porta do quarto da . Eu queria privacidade antes de contar a ela sobre a investigação de assassinato cercando o Elliot. Contudo, quando eu voltei para a cama da , estava aparente que sua medicação tinha surtido efeito.
“Aqui vem,” ela disse com uma expressão de pura alegria. “Corrente de remédios... a qualquer momento agora... a onda de calor... tchauzinho, Sr. Dor...”
–”
“Toc, toc.”
“Isso é realmente importante –”
“Toc, toc.”
“É sobre o Elliot –”
“Toc, tooooc,” ela disse numa voz cantante.
Eu suspirei. “Quem é?”
“Bu.”
“Bu quem?”
“Buá, alguém está chorando, e não sou eu!” Ela caiu numa risada histérica.
Percebendo que era inútil forçar o assunto, eu disse, “Me liga amanhã após ser liberada.” Eu abri a minha mochila. “Antes que eu esqueça, eu trouxe a sua lição de casa. Onde quer que eu a coloque?”
Ela apontou para a lata de lixo. “Bem ali estará bom.”
Eu coloquei o Fiat na garagem e guardei as chaves no bolso. No céu faltaram estrelas na viagem para a casa, e como previsto, uma chuva leve começou a cair. Eu puxei a porta da garagem, abaixando-a ao chão e trancando. Eu entrei na cozinha. Uma luz estava acesa em algum lugar do andar de cima, e um instante mais tarde minha mãe veio correndo pelas escadas e jogou seus braços ao meu redor.
Minha mãe tinha cabelos pretos ondulados e olhos verdes. Ela é dois centímetros menor que eu, mas compartilhamos a mesma estrutura dos ossos. Ela sempre cheira a Love, do Ralph Lauren.
“Estou tão feliz por você estar salva,” ela disse, apertando-me forte.
Mais ou menos salva, eu pensei. 
Capítulo Treze

Na noite seguinte, às sete, o estacionamento do Borderline estava apinhado. Após aproximadamente uma hora implorando, e eu havíamos convencido seus pais que nós precisávamos celebrar sua primeira noite fora do hospital com chiles rellenos28 e virgin strawberry daiquiris29. Afinal, era isso o que estávamos planejando. Mas também tínhamos um outro motivo por trás.

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28 Chilles rellenos: prato feito com chilis, ovos, pimenta, queijo e leite.
29 Virgin Strambery Daiquiris: sobremesa de morango com suco de limão e rum.
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Eu guiei o Neon até uma vaga estreita no estacionamento e desliguei o motor.
“Ew,” disse quando eu a devolvi as chaves e toquei em sua mão. “Acha que poderia suar mais?”
“Eu estou nervosa.”
“Uh, eu não tenho dúvidas.”
Eu olhei descuidadamente para a porta.
“Eu sei o que você está pensando,” disse, pressionando seus lábios. “E a resposta é não. Não, ou seja, sem chance.”
“Você não sabe o que eu estou pensando,” eu disse.
lançou um olhar incrédulo para o meu braço. “A merda que eu não sei.”
“Eu não ia fugir,” eu disse. “Eu, não.”
“Mentirosa.”
Terça-feira era a noite de folga de Patch, e havia enfiado na minha cabeça que aquela era a oportunidade perfeita para interrogar seus colegas de trabalho. Eu me imaginei desfilando até o bar, dando ao barman o sorriso exótico de Marcie Millar, e então seguindo para o tópico Patch. Eu precisava do endereço dele. Eu precisava de qualquer informação sobre antecedentes criminais. Eu precisava saber se ele tinha alguma conexão com o cara na máscara de ski, não importa o quanto mínima fosse. E eu precisava descobrir por que o cara na máscara de ski e a garota misteriosa estavam na minha vida.
Eu vasculhei minha bolsa, checando novamente se a lista de interrogação que eu havia preparado ainda estava comigo. Uma parte da lista era preenchida com questões sobre a vida particular do Patch. O outro lado da folha continha alguns truques de flerte. Só no caso de precisar.
“Whoa, whoa, whoa,” disse. “O que é isso?”
“Nada,” eu disse, escondendo a lista.
tentou pegar a lista, mas eu fui mais rápida e já a tinha no fundo da minha bolsa antes que pudesse alcançá-la.
“Regra número um,” disse. “Não existe essa história de truques de flerte”.
“Toda regra tem sua exceção.”
“E você não é uma!” Ela puxou dois sacos plásticos da lanchonete 7-Eleven do banco de trás e saiu do carro. Assim que eu saí também, ela utilizou seu braço bom para lançar os dois sacos sobre o teto do Neon, na minha direção.
“O que é isso?” eu perguntei, pegando os sacos. Eles estavam atados e eu não podia ver o que tinha dentro, mas o contorno inconfundível de um salto stiletto30 ameaçou aparecer através do plástico.

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“Tamanho 36,” disse. “Pele de tubarão. É mais fácil interpretar um personagem quando se está usando as roupas certas.”
“Eu não consigo andar em saltos altos.”
“Ainda bem que não são altos, então.”
“Parecem altos,” eu disse, examinando o salto do sapato.
“Quase cinco polegadas. Só começa a ser alto a partir das cinco polegadas completas.”
Perfeito. Se eu não quebrasse o pescoço, eu só teria que me humilhar tentando seduzir garçons em troca dos segredos do Patch.
“Olha aqui,” disse quando paramos na calçada em frente às portas de entrada. “Eu meio que convidei algumas pessoas. Quanto mais, melhor, certo?”
“Quem?” eu perguntei, sentindo o terrível pressentimento de algo ruim a caminho na boca do estômago.
“Jules e Elliot.”
Antes de eu ter tido tempo de dizer a o quão ruim eu achava aquela ideia, ela disse, “Momento da verdade: eu meio que andei encontrando o Jules. Escondido.”
“O quê?”
“Você tinha que ver a casa dele. Bruce Wayne não pode competir. Os pais dele ou são traficantes na América do Sul ou são da máfia. Já que eu ainda não os conheci, eu não posso dizer qual das opções.”
Eu não conseguia encontrar palavras. Minha boca abria e fechava, mas nada saía. “Quando aconteceu?”, eu finalmente consegui perguntar.
“Um pouco depois daquela agradável manhã no Enzo’s.”
“Agradável? , você não tem ideia –“
“Eu espero que eles tenham chegado antes e reservado uma mesa,” disse, esticando o pescoço enquanto olhava a multidão acumulada ao redor das portas. “Eu não quero esperar. Eu estou seriamente a dois curtos minutos de morrer de fome.”
Eu segurei por seu cotovelo bom, puxando-a para o lado. “Há algo que eu preciso lhe contar –“
“Eu sei, eu sei,” ela disse. “Você acha que há uma pequena chance de Elliot ter me atacado domingo à noite. Bom, eu acho que você confundiu o Elliot com o Patch. E depois que você fizer a sua parte hoje à noite, você vai ver como eu estou certa. Acredite, eu quero saber quem me atacou tanto quanto você. Provavelmente até mais. É pessoal agora. E enquanto estamos nessa troca de conselhos, aqui vai o meu. Fique longe do Patch. Só para se manter viva.”
“Fico feliz que esteja tentando me manter viva,” eu disse sobriamente, “mas olha só. Eu achei um artigo –“
As portas do Borderline se abriram. Uma brisa refrescante e quente, carregando o cheiro de limão e cilantro, veio até nós, ainda com o som de uma banda mexicana tocando através dos auto-falantes.
“Bem-vindas ao Borderline,” a hostess nos recebeu. “Mesa para duas esta noite?”
Elliot estava de pé atrás dela, dentro do hall esmaecido. Nós nos vimos ao mesmo tempo. Sua boca sorriu, mas seus olhos não.
“Ladies,” ele disse, juntando as mãos enquanto se aproximava. “Maravilhosas, como sempre.”
Minha pele se arrepiou.
“Onde está seu parceiro de crime?” perguntou, entrando no hall. Lanternas de papel pendiam do teto, e um mural de uma cidade mexicana ocupava o espaço de duas paredes. Os bancos de espera estavam lotados. Não havia sinal de Jules.
“Más notícias”, disse Elliot. “O homem está doente. Vocês terão que se contentar apenas comigo.”
“Doente?” demandou. “Como assim, ‘doente’? Que tipo de desculpa é doente?”
“O tipo em que a comida sai pelos dois lados”.
torceu o nariz. “Informação demais.”
Eu ainda estava tendo dificuldade tentando digerir a ideia de haver algo acontecendo entre e Jules. Jules pareceu mal-humorado, carrancudo, e completamente desinteressado quanto estar à companhia de ou de
qualquer outra pessoa. Nenhuma parte de mim se sentia confortável com a ideia de estar passando tempo com Jules. Não necessariamente por causa do quão desagradável ele era ou o quão pouco eu sabia sobre ele, mas por causa da única coisa que eu tinha certeza: ele era um amigo muito próximo de Elliot.
A hostess tirou três menus do alto de um cubículo encaixado à parede e nos guiou a uma mesa tão próxima à cozinha que eu podia sentir o calor dos fornos através das paredes. À nossa esquerda estava o bar de salsa. À nossa direita portas de vidro úmidas com água condensada mostravam um pátio externo. Minha blusa social já estava grudando nas minhas costas com o suor. Meu suor deve ter aumentado mais provavelmente por causa da notícia da aproximação exagerada de e Jules do que com o aumento de calor, no entanto.
“Está boa?”, a hostess perguntou, indicando a mesa.
“Ótima,” Elliot disse, tirando a jaqueta. “Eu adoro este lugar. Se a sala não manter você aquecido, a comida certamente irá.”
O sorriso da hostess aumentou. “Você já esteve aqui antes. Podemos começar com batatas e a nossa mais nova salsa de jalapeño? É a mais apimentada.”
“Eu gosto das coisas apimentadas,” disse Elliot.
Eu tinha completa certeza de que ele estava insinuando algo mais. Eu tinha sido muito generosa em pensar que ele não era tão humilde quanto Marcie. Eu tinha sido muito generosa quanto ao seu caráter, ponto. Especialmente agora que eu sabia que ele tinha toda uma investigação policial sendo escondida com sei lá quantos outros esqueletos em seu armário.
A hostess fez uma avaliação de olhar rápida sobre ele. “Eu volto logo com as batatas e a salsa. A sua garçonete estará aqui logo, logo para anotar os pedidos.”
sentou-se à mesa primeiro. Eu deslizei ao seu lado, e Elliot pegou o assento em minha frente. Nossos olhos se conectaram, e houve um flash de algo sombrio nos dele. Algo mais ou menos como ressentimento. Talvez até hostilidade. Eu me perguntei se ele sabia que eu tinha visto o artigo.
“Roxo é a sua cor, ,” ele disse, assentindo para o meu cachecol enquanto eu o desenrolava do meu pescoço e o amarrava na alça da minha bolsa. “Destaca os seus olhos.”
chutou os meus pés. Ela realmente pensava que aquilo vindo dele era um elogio.
“Então,” eu disse a Elliot com um sorriso falso, “por que você não nos conta mais sobre Kinghorn Prep?”
“É,” entrou na conversa. “Há alguma sociedade secreta lá? Como nos filmes?”
“O que há para contar?”, Elliot disse. “Grande escola. Fim da história.” Ele pegou seu menu e o analisou. “Alguém interessado em um aperitivo? Eu estou.”
“Se é uma escola tão boa, por que você se transferiu?” Eu encontrei seus olhos e os segurei. Fracamente, eu arqueei as sobrancelhas, desafiando-o.
Um músculo na mandíbula de Elliot saltou um pouco antes de ele abrir um sorriso. “As garotas. Eu ouvi dizer que elas eram muito desinteressantes nessas partes. O rumor era verdadeiro.” Ele piscou para mim, e um sentimento frio como gelo desceu da minha cabeça para os meus pés.
“Por que Jules não se transferiu também?” perguntou . “Nós poderíamos ter sido o quarteto fabuloso, só que um pouco melhor. O quarteto fenomenal.”
“Os pais de Jules são obcecados pela sua educação. Intensidade nem sequer cobre parte disso. Eu juro pela minha vida, ele está indo direto para o topo. O cara não pode ser parado. Quer dizer, eu confesso, eu sou bom na escola. Melhor que a maioria. Mas ninguém ultrapassa Jules. Ele é um deus acadêmico.”
O olhar sonhador retornou aos olhos de . “Eu nunca conheci os pais dele,” ela disse. “Nas vezes em que eu fui lá, eles estavam sempre fora da cidade ou trabalhando.”
“Eles trabalham muito,” Elliot concordou, voltando seus olhos para o menu, dificultando para mim ler qualquer coisa neles.
“Onde eles trabalham?” Eu perguntei.
Elliot tomou um longo gole da sua água. Pareceu-me que ele estava apenas ganhando tempo enquanto pensava numa resposta. “Diamantes. Eles passam muito tempo na África e na Austrália.”
“Eu não sabia que a Austrália era grande no comércio de diamantes,” eu disse.
“É, nem eu,” disse .
Na verdade, eu tinha muita certeza de que a Austrália não tinha nenhum diamante. Ponto.
“Por que eles estão morando no Maine?”, eu perguntei. “Por que não na África?”
Elliot estudou seu menu com mais intensidade. “O que vocês vão pedir? Eu acho que a steak fajita31 parece boa.”

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“Se os pais de Jules estão no negócio de diamantes, eu aposto que eles sabem muito sobre escolher o anel de noivado perfeito,” disse. “Eu sempre quis uma esmeralda com corte solitaire32.”

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32 Solitaire: anel com um só diamante.
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Eu chutei sob a mesa. Ela me espetou com o seu garfo.
“Oww!”, eu disse.
Nossa garçonete parou ao lado da mesa em tempo suficiente para perguntar, “Algo para beber?”
Elliot olhou sobre o topo do seu menu, primeiro para mim, depois para .
“Diet Coke,” disse.
“Água com pedaços de limão, por favor,” eu disse.
A garçonete retornou rapidamente com nossas bebidas. Seu retorno foi a minha chance para sair da mesa e iniciar o primeiro passo do plano, e me lembrou com uma segunda espetada de sob-a-mesa.
,” eu disse entre dentes. “Você gostaria de me acompanhar até o banheiro feminino?” Eu de repente não quis mais continuar com o plano. Eu não queria deixar sozinha com Elliot. O que eu realmente queria era tirá-la dali, contar a ela sobre a investigação de assassinato, e então achar algum jeito de fazer Elliot e Jules desapareceram das nossas vidas.
“Por que você não vai sozinha?”, disse . “Eu acho que seria um plano melhor.” Ela balançou a cabeça na direção do bar e murmurou ‘Vai!’ em linguagem labial, enquanto balançava os pés sob a mesa.
“Eu estava planejando ir sozinha, mas eu realmente gostaria que você se juntasse a mim.”
“O que há com as garotas?”, Elliot disse, sorrindo. “Eu juro, eu nunca vou conhecer uma só garota que vá sozinha ao banheiro.” Ele balançou a cabeça e sorriu conspiratoriamente. “Contem-me o segredo. Sério. Eu pago cinco dólares para cada uma.” Ele levou sua mão até o bolso traseiro. “Dez, se eu for junto para ver qual o grande lance lá dentro.”
sorriu. “Pervertido. Não esqueça isso,” ela me disse, entregando-me os sacos da 7-Eleven.
As sobrancelhas de Elliot se arquearam.
“Lixo,” explicou a ele. “A lixeira do lado da minha casa estava cheia. Minha mãe perguntou se eu podia jogar fora quando saísse.”
Elliot não parecia ter acreditado nela, e não parecia se importar. Eu me levantei, meus braços suando loucamente, e engoli minha frustração.
Andando entre as mesas, eu entrei no hall e fui em direção aos banheiros. O hall era decorado no estilo “terra-cotta”, com maracas, sombreiros e bonecos
de madeira. Estava mais quente aqui, e eu limpei a testa com as costas da mão. O plano agora era ir embora o mais rápido possível. Assim que eu estivesse de volta à mesa, eu formularia uma desculpa sobre ter que ir embora, e arrastaria comigo. Com ou sem o consentimento dela.
Depois de espreitar abaixo das três cabines do banheiro feminino e confirmar que eu estava sozinha, eu tranquei a porta do banheiro e despejei todo o conteúdo dos sacos 7-Eleven sobre a pia. Uma peruca dourada plantinum, um sutiã roxo, um top tubinho preto, uma minissaia com lantejoulas, uma meia-calça arrastão rosa, e um par de saltos stiletto de pele de tubarão tamanho 36.
Eu enfiei o sutiã, o top tubinho e as meia-calças dentro dos sacos. Depois de tirar minhas jeans, eu vesti a minissaia. Escondi meu cabelo sob a peruca dourada e apliquei o batom. Eu finalizei tudo com um generoso aplique do gloss labial de alto brilho.
“Você consegue,” eu disse ao meu reflexo, tampando o brilho labial e esfregando os lábios um no outro. “Você consegue dar uma de Marcie Millar. Seduzir homens em troca de segredos. Quão difícil isso pode ser?”
Chutei os meus sapatos para longe, enfiando-os dentro de um saco junto com as jeans, então escondi os sacos sob a pia, escondidos. “Além disso,” eu continuei, “não há nada de errado em sacrificar um pouco de orgulho pela inteligência. E se você quiser olhar isso por um lado mais mórbido, você pode até dizer que se você não conseguir respostas, você pode acabar morta. Porque goste ou não, alguém lá fora quer você morta.”
Eu localizei os saltos de pele de tubarão dentro da minha visão periférica. Eles não eram as coisas mais feias que eu já havia visto, poderiam até ser considerados sensuais. Eu enfiei o pé dentro deles e comecei a treinar, desfilando pelo banheiro várias vezes.
Dois minutos depois eu me sentei em um banco em frente ao bar.
O barman me olhou. “Dezasseis?”, ele chutou. “Dezassete?”
Ele parecia ser uns dez anos mais velho do que eu e tinha um cabelo castanho-escuro raspado. Uma argola de prata pendia de sua orelha direita. Camiseta branca e calças Levi’s. Nada mal... mas não muito bom, também.
“Eu não sou uma bebedeira de menor idade,” eu disse alto o bastante para ele me ouvir sobre a música. “Eu estou esperando por um amigo. Eu tenho uma boa visão das portas de entrada daqui.” Eu retirei a lista de perguntas da minha bolsa e disfarçadamente posicionei a folha de papel sob um saleiro de vidro.
“O que é isso?”, o barman perguntou, enxugando suas mãos em uma toalha e apontando com a cabeça para a lista.
Eu empurrei a lista mais para baixo do saleiro. “Nada,” eu disse, toda inocente.
Ele arqueou uma sobrancelha.
Eu decidi falhar com a verdade. “É uma... lista de compras. Eu tenho que comprar algumas coisas para a minha mãe quando for para casa.” O que aconteceu com o flerte? Eu perguntei a mim mesma. O que aconteceu com Marcie Millar?
Ele me mandou um olhar de avaliação que eu decidi que não era completamente negativo. “Depois de trabalhar neste negócio por cinco anos, eu me tornei muito boa em localizar mentirosos.”
“Eu não sou uma mentirosa,” eu disse. “Talvez eu estivesse mentindo um segundo atrás, mas foi apenas uma mentira. Uma mentirinha boba não faz de alguém um mentiroso”.
“Você parece uma repórter,” ele disse.
“Eu trabalho para o eZine da minha escola.” Eu queria me chutar. Repórteres não inspiravam confiança nas pessoas. As pessoas normalmente suspeitavam de repórteres. “Mas eu não estou trabalhando hoje à noite,” eu emendei rapidamente. “Estritamente diversão esta noite. Sem trabalho. Sem anotações. Sem nada demais.”
Depois de um momento de silêncio eu decidi que o melhor movimento agora era ir em frente. Eu pigarreei e disse, “O Borderline é um lugar popular para empregar estudantes do colegial?”
“Nós temos muitos estudantes trabalhando em meio período, é. Hostesses e entregadores e tal.”
“Sério?” Eu disse, fingindo surpresa. “Talvez eu conheça alguns deles. Cite alguns.”
O barman virou os olhos para o teto e coçou a barba por fazer em seu queixo. O seu olhar vazio não estava inspiravam confiança em mim. Sem mencionar que eu não tinha muito tempo. Elliot podia estar colocando algum tipo de drogas letais na bebida da .
“E que tal Patch Cipriano?” Eu perguntei. “Ele trabalha aqui?”
“Patch? Yeah. Ele trabalha aqui. Em algumas noites, e nos fins de semanas.”
“Ele estava trabalhando no domingo?” Eu tentei não soar muito curiosa. Mas eu precisava saber se era possível Patch ter estado no píer. Ele disse que havia uma festa na costa, mas talvez seus planos haviam mudado. Se alguém verificasse que ele estava trabalhando no domingo à noite, eu poderia descartar seu envolvimento no ataque de .
“Domingo?” Mais coça, coça. “As noites se misturam. Tente alguma hostess. Qualquer uma irá lembrar. Todas elas dão risadinhas e ficam um pouco esquisitas quando ele está por perto.” Ele sorriu como se eu de alguma forma simpatizasse com elas.
Eu disse, “Você não poderia acessar algum histórico de trabalho dele?” Com o seu endereço escrito.
“Isso seria um não.”
“Só por curiosidade,” eu disse, “você sabe se é possível ser empregado aqui se tiver um assassinato na ficha?”
“Um assassinato?” Ele fez um barulho que parecia uma risada. “Você está me zoando?”
“Ok, talvez não um assassinato, mas que tal um pequeno delito?”
Ele pousou suas mãos no balcão e se inclinou para mais perto. “Não.” Seu tom havia mudado de humorado para insultado.
“Bom. É muito bom saber.” Eu me reposicionei no banco de bar, e senti a pele das minhas coxas escorregarem pelo banco. Eu estava suando. Se a regra número um do flerte era ‘sem listas sobre flerte’, eu tinha completa certeza que a número dois era ‘não sue’.
Eu consultei minha lista.
“Você sabe se o Patch já teve alguma injunção? Ele tem um histórico de crime?” Eu suspeitava que o barman estava sentindo uma vibração ruim por minha parte, e decidi fazer todas as minhas perguntas rapidamente antes que ele me expulsasse do bar – ou pior, me despejasse do restaurante por assédio a informações restritas e comportamento suspeito. “Ele tem uma namorada?” Eu soltei.
“Vá perguntar a ele,” ele disse.
Eu pisquei. “Ele não está trabalhando esta noite.”
Ao sorriso do barman, meu estômago pareceu se revirar.
“Ele não está trabalhando hoje... está?” Eu perguntei, minha voz pulando uma oitava. “Ele deveria estar de folga nas terças!”
“Normalmente, sim. Mas ele está cobrindo por Benji. Benji está no hospital. Ruptura no apêndice.”
“Você quer dizer que o Patch está aqui? Agora?” Eu lancei um olhar por sobre meu ombro, passando a mão pela peruca para cobrir meu perfil enquanto escaneava a área de jantar atrás dele.
“Ele foi para a cozinha há alguns minutos.”
Eu já estava me atirando do banco do bar. “Eu acho que deixei o carro ligado. Mas foi bom falar com você!” Eu corri o mais rápido que pude até os banheiros.
Dentro do banheiro feminino eu fechei a porta atrás de mim, respirei profundamente algumas vezes com as minhas costas pressionadas na porta, e então andei até a pia e joguei água gelada no meu rosto. Patch descobriria que eu o havia espionado. Minha performance memorável garantia isso. Por um lado, isso era uma coisa ruim porque, bem, era humilhante. Mas quando eu pensava nisso, eu tinha que admitir o fato de que Patch era bem misterioso. Pessoas misteriosas não gostavam que sua vida pessoal fosse espionada e descoberta. Como ele reagiria quando descobrisse que eu estava o analisando com uma lupa de laboratório?
E agora eu me perguntava por que eu tinha vindo até aqui, afinal, já que bem no fundo eu não acreditava que Patch era o cara com a máscara de ski. Talvez ele guardasse segredos sombrios e perturbadores, mas correr por aí com uma máscara de ski não era um deles.
Eu fechei a torneira, e quando olhei para cima, o rosto de Patch estava refletido no espelho. Eu gritei e me virei.
Ele não estava sorrindo, e não parecia particularmente divertido.
“O que você está fazendo aqui?”, arfei.
“Eu trabalho aqui.”
“Eu quero dizer aqui. Não sabe ler? A placa na porta diz –”
“Eu estou começando a pensar que você está me seguindo. Toda vez que eu me viro, aí está você.”
“Eu queria levar a para jantar,” eu expliquei. “Ela está no hospital.” Eu soava na defensiva. Eu tinha certeza que aquilo apenas me fazia parecer mais culpada. “Eu nunca sonhei que iria acabar me esbarrando em você. Hoje tinha que ser a sua noite de folga. E do que você está falando? Toda vez que eu me viro, aí está você.”
Os olhos de Patch eram afiados, intimidadores, extratores. Eles calculavam cada palavra minha, cada movimento meu.
“Quer explicar o cabelo horrível?”, ele disse.
Eu arranquei a peruca da minha cabeça e a coloquei sobre a pia. “Quer explicar onde você estava? Você faltou os últimos dois dias de aula.”
Eu tinha quase certeza de que Patch não iria revelar por onde ele tinha andado, mas ele disse, “Jogando paintball. O que você estava fazendo no bar?”
“Conversando com o barman. Isso é um crime?” Apoiando uma mão contra o balcão, eu levantei um pé para desafivelar os saltos altos. Eu me inclinei para
o lado, e a lista de interrogação flutuou para fora do meu decote e pousou no chão.
Eu me joguei sobre os joelhos para pegá-la, mas Patch foi mais rápido. Ele segurou a lista acima da cabeça enquanto eu pulava para alcançá-la.
“Devolva-me isso!”, eu disse.
“Patch tem alguma ordem de restrição contra ele?”, ele leu. “Patch é um assassino?”
“Me – devolva – isso!” Eu assobiei furiosamente.
Patch soltou uma risada suave, e eu soube que ele havia passado para a próxima pergunta. “Patch tem uma namorada?”
Ele enfiou a lista em seu bolso traseiro. Eu estava seriamente tentada a pegá-la, igndo sua localização.
Ele se inclinou sobre o balcão, nivelando nossos olhos. “Se você pretende sair por aí perguntando coisas sobre mim, eu preferiria que você me perguntasse.”
“Essas perguntas” – eu apontei com a cabeça para onde ele havia escondido a lista – “eram uma brincadeira. as escreveu,” eu adicionei em um flash de inspiração. “É tudo culpa dela.”
“Eu conheço a sua caligrafia, .”
“Bem, ok, ótimo,” eu comecei, procurando alguma resposta inteligente, mas eu demorei muito e perdi minha chance.
“Sem injunções,” ele disse. “Sem assassinatos.”
Eu levantei meu queixo. “Namorada?” Eu disse a mim mesma que eu não me importava com aquela resposta. Qualquer coisa estava ótimo para mim.
“Não é da sua conta.”
“Você tentou me beijar,” eu o lembrei. “Isso é da minha conta agora.”
A sombra de um pirata sorrindo surgiu em sua boca. Eu tive a impressão que ele estava repassando todo o pequeno detalhe daquele quase-beijo, incluindo meu suspiro-gemido-suspiro.
“Ex-namorada,” ele disse após um momento.
Meu estômago deu um salto quando de repente um pensamento surgiu em minha mente. E se a garota de Delphic e Victoria’s Secret fosse a ex de Patch? E se ela me viu falando com ele na arcada e – enganadamente – achou que havia muito mais coisa no nosso relacionamento? Se ela ainda fosse apaixonada por ele, fazia sentido que ela ficasse com ciúme suficiente para começar a me seguir. Algumas peças do quebra-cabeça começaram a se encaixar...
E então Patch disse, “Mas ela não está mais por perto.”
“O que você quer dizer com isso?”
“Ela se foi. E não vai mais voltar.”
“Você quer dizer... que ela está morta?” Eu perguntei.
Patch não negou.
Meu estômago de repente ficou pesado e nauseado. Eu não esperava por isso. Patch teve uma namorada, e agora ela estava morta.
Alguém forçou a porta do banheiro, querendo abri-la. Eu tinha me esquecido que eu tinha trancado. O que me fez me perguntar como Patch conseguiu entrar ali. Ou ele tinha uma chave, ou havia outra explicação. Uma explicação na qual eu provavelmente não iria querer pensar, como passando sob a porta como ar. Como fumaça.
“Eu preciso voltar ao trabalho,” Patch disse. Ele me lançou um olhar de cima a baixo, demorando-se um pouco no meu quadril. “Saia de matar. Pernas perfeitas.”
Antes que eu pudesse formular qualquer pensamento coerente, ele estava passando pela porta.
A mulher esperando para entrar no banheiro me olhou, então olhou para Patch por sobre seus ombros, que estava desaparecendo pelo hall. “Querida,” ela me disse, “ele parece escorregadio como sabão.”
“Boa descrição,” eu murmurei.
Ela passou a mão por seu cabelo prateado curto. “Uma garota poderia escorregar em um sabão daqueles.”
Depois de recolocar as minhas próprias roupas, eu voltei à mesa e escorreguei no banco ao lado de . Elliot checou o seu relógio e arqueou as sobrancelhas para mim.
“Desculpe ter demorado tanto,” eu disse. “Eu perdi alguma coisa?”
“Nada,” disse . “Sempre a mesma coisa, sempre a mesma coisa.” Ela chutou o meu joelho, e a pergunta estava implícita. E então?
Antes que eu pudesse retornar o chute, Elliot disse, “Você perdeu a garçonete. Eu pedi burritos para você.” Um sorriso assustador surgiu nos cantos da sua boca.
Eu vi minha chance.
“Na verdade, eu não tenho certeza se eu estou a fim de comer.” Eu fiz uma expressão nauseada que não era completamente forçada. “Eu acho que peguei o que Jules tem.”
“Oh, cara,” disse. “Você está bem?”
Eu balancei a cabeça.
“Eu vou procurar a nossa garçonete e pedir para embalar para a viagem,” sugeriu, caçando as chaves do carro na bolsa.
“E quanto a mim?”, disse Elliot, parecendo apenas um pouco brincalhão.
“Fica pra próxima?”
Bingo, eu pensei.