Wild Heart







Parte XIII – Todos os movimentos certos [Letra e Tradução]


Assim que estacionei a picup perto da casa das irmãs Grissom, a porta foi aberta revelando Cassie com um largo sorriso no rosto. Meu peito se apertou. Eu prometera que voltaria com uma solução para salvar nosso casamento e na verdade só estava mais confuso quanto à minha decisão de manter esse casamento ou não.
Engoli em seco. Teria de lidar com isso de cabeça fria e tentar seguir os conselhos do velho Quil. Deixar tudo como está que tudo tomaria o seu curso natural.
Mas como isso seria possível se eu não conseguia parar de pensar em ? Se tudo o que eu mais queria era vê-la de novo. Olhar em seus lindos olhos e sentir o conforto de estar novamente perto dela, mesmo que me fosse proibido tê-la para mim.
Afastei esses pensamentos e respirei fundo, saindo do carro com a minha mala de viagem numa mão e encurtando o espaço que existia entre mim e minha esposa.

Cassie apressou o passo, quando eu estava mais perto dela, e por fim se jogou em meus braços, me apertando forte contra si. Não sabia como agir. Meus braços continuavam suspensos no ar sem saber se a abraçava de volta ou se a afastava. A primeira opção era a mais certa e foi o que fiz. A abracei. Não como eu a abraçava antes, apertado mas com carinho e cuidado, enterrando meu rosto na curvatura do seu pescoço, aspirando o seu perfume delicioso. Não. Nada disso. Eu mais parecia uma estátua. Mais parecia estar abraçando um inimigo. Cheio de restrições e alertas…

Cassie se apercebeu disso, mas fingiu que não. Desfez o nosso abraço e me sorriu desentendida, como se no mais profundo do seu ser ela não soubesse que era o nosso fim. Ela queria acreditar que não e era essa crença que prevalecia.

-Vem, vamos entrar! – Ela estendeu sua mão para que eu a pegasse.

Olhei relutante para a palidez e tremedeira de sua mão. Ela estava nervosa. Com certeza com receio que eu a rejeitasse e dissesse que não dava mais entre a gente. E por mais que fosse exatamente isso que eu quisesse dizer, eu sabia que não podia. Não era hora.
Lhe sorri curtamente e pousei minha mão sobre a dela, a fazendo suspirar de alívio e me sorrir mais abertamente, me puxando para dentro de casa com entusiasmo.

-Tessa! Tessa! Veja quem voltou! Prepare aquele almoço caprichado. – Cassie ordenava empolgada e eu vi a governanta sorrir fraco.

Ela não parecia muito feliz com a minha volta. Ou talvez fosse impressão minha.
Tessa assentiu à sua patroa e se retirou de imediato para a cozinha. Pousei a mala no chão e relutei em retirar minha mão debaixo da de Cassidy. Ela estava tão feliz que me custava terminar com essa felicidade.
Apesar de tudo ela ainda era minha esposa. Eu ainda gostava dela, não do jeito de antes, mas ainda lhe queria muito bem. Não a queria magoar. De todo. E era esse pensamento que me dava forças para continuar com essa farsa.

-Vamos subir um pouco. – Ela pediu com um olhar maroto e um sorriso malicioso no rosto.

Quis dizer que não, mas logo de seguida me lembrei que eu ainda era esposo dela. Teria de seguir à risca tudo o que o velho louco Ancião da minha tribo tinha dito. Por mais que me custasse.
Peguei a mala de novo e subi atrás de Cassidy.
Assim que chegamos no quarto ela atacou meus lábios, envolvendo seus braços possessivamente em torno do meu pescoço. Me custou devolver o beijo. O gosto da sua boca não parecia o mesmo. Nada nela parecia igual. Nada nela surtia qualquer efeito em mim. Eu continuava inerte, movimentando meus lábios feito um robô comandando para responder a incentivos…
Cassie notou isso e se afastou de mim. Sorriu fraco de novo e voltou costas para mim, pegando minha mala do chão e retirando toda a roupa de dentro.

-Você deve estar cansado. É isso. – Murmurou mais para si do que para mim, como se tentasse se convencer do que dizia. – Vá tomar um banho e trocar de roupa. Logo o almoço será servido. – Continuou falando displicente e eu assenti, caminhando até o banheiro. – Jake… - Ela me chamou quando eu já ia fechar a porta. – Eu te amo. – Declarou me olhando com intensidade, como se esperasse que eu devolvesse a declaração.

Mas eu não o fiz. Não podia. Seria a maior mentira que eu estaria dizendo. E eu odeio mentir. Odeio mentiras em geral. Então apenas lhe sorri e fechei a porta do banheiro.
Mesmo depois de ter ligado o chuveiro ainda pude escutar o choro de Cassie. Me doeu isso. Tudo o que eu menos queria era machucar alguém. Muito menos Cassidy. Com quem partilhei tantas coisas minhas. Tantos segredos, tanto amor e carinho.
Mas a verdade é que a Cassie com quem eu casei não é a mesma que está lá fora, no quarto. E isso era um facto para mim.

Terminei meu banho e saiu para o quarto, esperando a encontrar lá, de olhos vermelhos, esperando uma explicação. Mas o quarto estava frio e vazio.
Me vesti demoradamente e de seguida desci até o hall da casa.

-Ia agora mesmo chamar você, amor. – Cassie falou, do lado de Tessa, como se tudo estivesse normal.

Antes mesmo que eu respondesse a porta se abriu e o cheiro dela me atingiu de uma forma prazerosamente enlouquecedora. Queria correr para seus braços e a tomar nos meus para nunca mais a deixar partir, mas me controlei.
O que não aconteceu o mesmo com ela.
Assim que me voltei e a olhei nos olhos, correu até mim e enlaçou seus braços em torno do meu pescoço, deitando sua cabeça em meu peito.
Por mais que eu lutasse contra mim e contra meus impulsos, eu devolvi o abraço e cheirei seu cabelo, me inebriando. Meu coração batia tão forte e tão rápido quanto o rufo de um tambor e isso era bom. Bom demais.
Mas então me lembrei de quem estava nos observando e, numa batalha dura contra mim mesmo, afastei de mim.
Nesse instante senti como se tivesse arrancado a sangue frio um pedaço da minha carne. Foi doloroso, mas necessário.
me olhou de olhos arregalados e depois olhou para a irmã, baixando o olhar, envergonhada.

-Desculpe. – Ela pediu num sussurro, subindo as escadas da forma mais rápida possível e se afastando cada vez mais de mim.

Queria ir atrás dela. Meu corpo já me comandava a fazê-lo, mas consegui me controlar. Não o suficiente para disfarçar perante Cassie que eu queria ir atrás de sua irmã, visto que um de meus pés já pisava o primeiro degrau, meu rosto estava totalmente voltado para onde ela fora e minha mão apertava fortemente o corrimão da escada.
Olhei de novo para Cassie e lhe sorri forçosamente.

-Vamos almoçar. – Falei da forma mais inexpressiva possível, tentando esboçar um sorriso, sem qualquer sucesso.

Cassidy assentiu e ambos seguimos para a sala de jantar com os corações apertados.