Olá Pais

Esta carta devia ser apenas destinada a ti, mãe, visto que foste a única a fazer parte de toda a minha vida. Mas escrevo a ambos. É um desafio a mim. O desafio de buscar por algo que ambos tenham em comum na influência à minha educação.
Irresponsabilidade seria uma palavra muito dura. Mas não encontro outra mais adequada. Ambos foram pais jovens demais e eu não quero cometer o mesmo erro de não estar preparada psicologicamente para colocar um filho ao mundo.
Ser pai e mãe é algo que se aprende com a escola da vida, mas vocês aprenderam tarde demais. Aprenderam quando eu já não precisava mais de ser ensinada por vocês. Afinal aprendi tudo sempre sozinha, por isso, cedo demais, entre na escola da vida.
Devia ser algo tardio, apenas quando já tivéssemos idade suficiente para não precisarmos mais de ninguém, ou para ninguém mais precisar de nós. Uma idade em que acabasse a nossa “infância” e começasse a nossa responsabilidade. Para mi – e para metade do mundo - isso só acontece por volta dos 30. Eu com 8 já estava no 2º ano dessa “Escola”.
Não vos culpo por isso. Foi a melhor coisa que me aconteceu. Não pelas provações que passei, nem pelas vezes em que fui destruída por dentro de tal forma que julguei nunca mais poder juntar os cacos, mas pelas lições que aprendi e que me tornaram sábia o suficiente para me guiar sozinha por este mundo marginal e bandido. Não digo que não preciso de ninguém. Ainda sou humana. Tenho um coração pulsante. Ferido mas que ainda bate. Sempre precisarei de alguém. Talvez seja por isso que depois de tudo eu ainda vos perdoei. Mais a ti, pai, do que a ti, mãe. Não importa o que faças, o quanto me destruas, se eu poder ter a oportunidade de te dar uma nova chance, por mais vezes que eu diga nunca, o ditado sempre prevalecerá. Nunca digas nunca. E eu digo nunca muitas vezes. E mais vezes o desdigo.
Não tenho mais palavras para dizer. Estas são do coração. O coração da cabeça, digo.