Finale 

CAPÍTULO 17

- Ele estava blefando. Era uma armadilha. Ele está tentando nos fazer
entrar em pânico então vamos estar muito ocupados nos focando em qualquer doença
fictícia que ele colocou dentro de mim jogando dessa forma inteligente.” Eu saltei da
cama e passeei pelo meu quarto. “Ele bom. Muito bom. Eu digo que devemos chama-
lo e dizer-lhe que ele vai pegar a faca de pois que ele fiz um juramento de parar de
usar devilcraft. Essa uma troca que eu vou concordar.”
- “E se ele não estiver mentindo?” Patch perguntou quietamente.
Eu não queria pensar nisso. Se eu pensasse, eu estaria direto nas mãos de
Blakely. “Ele está,” Eu disse com mais convicção. “Ele era pupilo de Hank, e se Hank era
bom em uma coisa, era mentir. Tenho certeza de que a imoralidade o contagiou. Ligue
de volta para ele. Diga que não há nenhum acordo. Diga a ele que minha ferida estava
curada, e que se havia algo de errado comigo, nós queremos saber agora.”
- “Nós estamos falando de devilcraft. Isso não joga conforme as regras.” Havia
preocupação e frustração por trás das palavras de Patch. “Eu não acho que nós
devemos fazer suposições, e eu não acho que devemos nos arriscar subestimando ele.
Se ele fez alguma coisa que machucou você, Anjo...” Um músculo do maxilar de Patch
se contraiu com a emoção, e eu temi que ele estava fazendo exatamente o que Blakely
queria. Pensando com a raiva e não com a cabeça.
- “Vamos esperar isso. Se nós estivermos errados, e eu não acho que estamos, mas se
esse for o caso, Blakely ainda vai querer a faca de volta dois, quatro, seis dias a partir
de hoje. Estamos segurando as cartas. Se nós começarmos a suspeitar que ele
realmente me infectou com alguma coisa, nós vamos ligar pra ele. Ele ainda vai nos
encontrar, porque ele precisa da faca. Nós não temos nada a perder.”
Patch não parecia convencido. “Ele disse que você iria precisar do antídoto em breve.”
- “Observe o quão vago ‘em breve’ soa. Se ele estivesse dizendo a verdade, nós
teríamos um período de tempo mais específico. Minha coragem não era uma
representação. Nenhuma parte de mim acreditava que Blakely estava sendo honesto.
Minha ferida tinha curado, e eu nunca tinha me sentido melhor. Ele não tinha injetado
uma doença em mim. Eu não iria cair nessa. E me frustrava que Patch estava sendo tão
cauteloso, tão ingênuo. Eu queria me fixar no nosso plano original: arrastar Blakely e
cortar a produção de devilcraft. “Ele estabeleceu um lugar de encontro? Onde ele quer
fazer a troca?”
- “Eu não vou te dizer.” Patch falou num tom calmo e medido.
Eu vacilei confusa. “Desculpe. O que você disse?”
Patch caminhou e colocou suas mãos em volta do meu pescoço. Sua expressão
era imóvel. Ele estava sério – ele pretendia me segurar. Ele poderia muito bem ter me
dado um tapa, a traição era ruim assim. Eu não podia acreditar que ele estava contra
mim nisso. Eu comecei a me afastar, muito enfurecida para falar, mas ele me pegou
pelo pulso.
- “Eu respeito sua opinião, mas eu venho fazendo isso h muito mais tempo,” ele disse,
sua voz baixa, séria e cordial.
- “Não me proteja.”
- “Blakely não um cara legal.”
- “Obrigada pela dica.” Eu disse sarcasticamente.
- “Eu não deixaria passar ele infectar você com alguma coisa. Ele está bagunçando por
aí com o devilcraft muito tempo para ter qualquer resto de decência ou humanidade
sobrando. Isso tem endurecido seu coração e colocado ideias em sua cabeça – astúcia,
más intenções, ideias desonrosas. Eu não acho que ele esteja fazendo ameaças vazias.
Ele parecia sincero. Ele parecia determinado à realização de todas as ameaças que ele
falou. Se eu não me encontrar com ele hoje a noite, ele vai jogar o antídoto fora. Ele
não está com medo de nos mostrar que tipo de homem ele .”
- “Então vamos mostrar para ele quem nós somos. Me diga onde ele quer se encontrar.
Vamos arrastá-lo e trazê-lo para um interrogatório,” eu desafiei. Eu olhei para o
relógio. Cinco minutos tinham se passado desde que Patch encerrou a ligação. Blakely
não iria esperar a noite toda. Nós tínhamos que ir andando – estávamos perdendo
tempo.
- “Você não vai encontrar Blakely hoje noite. Fim de papo.” Patch disse.
- “Como você pode dizer isso? Você o está deixando chamar os tiros! O que aconteceu
com você?”
Os olhos dele prenderam os meus. “Eu pensei que fosse bastante óbvio, Anjo.
Sua saúde é mais importante do que obter respostas. Haverá outra chance de pegar
Blakely.”
Fiquei boquiaberta e sacudi minha cabe a de um lado para o outro. “Se você sair daqui
sem mim, eu nunca vou te perdoar.” Uma ameaça forte, mas eu acreditava que eu quis
dizer aquilo. Patch prometeu que nós éramos um time de agora em diante. Se ele me
tirasse agora, eu veria isso como uma traição. Nós tínhamos passado por muita coisa
para ele me mimar assim agora.
- “Blakely já está no limite. Se algo parecer desligado, ele corre, e lá se vai nosso
antídoto. Ele disse que queria me encontrar sozinho, e eu vou honrar esse pedido.”
Eu sacudi minha cabe a ferozmente. “Isso não sobre Blakely. Isso sobre eu e você.
Você disse que nós éramos um time de agora em diante. Isso se trata do que nós
queremos – não do que ele quer.”
Houve uma batida na porta do meu quarto, e eu retruquei, “O quê?”
Marcie abriu a porta e ficou parada na entrada, braços dobrados rentes sobre o
peito. Ela estava usando uma velha camiseta folgada e um bermudão. Não o que eu
imaginei que Marcie usasse para dormir. Eu esperava mais rosa, mais rendas, mais pele.



-“Com quem você estava falando?” ela quis saber, esfregando o sono para fora dos
seus olhos. “D para ouvir você gritando por todo corredor.”
Eu voltei minha atenção para Patch, mas estávamos apenas eu e Marcie no meu quarto.
Patch tinha desaparecido.
Eu peguei um travesseiro da minha cama e atirei-o contra a parede.

Domingo eu acordei com uma estranha, insaciável fome arranhando minha
barriga. Eu me empurrei da cama, passei pelo banheiro, e fui direto para a cozinha. Abri
a geladeira, olhando as prateleiras avidamente. Leite, frutas, sobras de strogonoffe.
Salada, pedaços de queijo, salada de gelatina. Nada disso parecia remotamente
atraente, e ainda assim meu estômago revirou de fome. Com minha cabeça presa na
despensa, eu passei meus olhos para cima e para baixo nas estantes, mas cada item
que eu passava tinha o apelo de gosto de poliéster. Meus desejos inexplicáveis se
intensificaram com a falta de comida, e eu comecei a me sentir enjoada.
Ainda estava escuro lá fora, alguns minutos antes das 05:00 a.m. e eu me
arrastei de volta para cama. SE eu não poderia corroer minhas dores, eu iria dormir
com elas. O problema era, que minha cabeça se sentiu empoleirada com um turbilhão,
vertigens me cambaleando em sua loucura. Minha língua estava seca e inchada de
sede, mas o pensamento de beber algo tão suave como água fez as minhas entranhas
ameaçarem um refluxo em revolta. Eu brevemente me perguntei se isso poderia ser
algum efeito colateral da facada, mas eu estava muito desconfortável para pensar
demais.
Eu passei os próximos vários minutos rolando, tentando achar a parte mais
fresca dos meus lençóis para alívio, quando uma voz sedosa sussurrou no meu ouvido.
“Adivinha que horas são?”
Eu deixei sair um gemido autêntico. “Eu não posso treinar hoje, Dante. Estou
doente.”
- “A desculpa mais velha do mundo. Agora saia da cama,” ele disse, batendo na minha
perna.
Minha cabe a pendia para o lado do colchão e eu olhava os sapatos dele. “Se eu
vomitar nos seus pés, você vai acreditar em mim?”
- “Eu não sou tão rabugento. Quero você l fora em 5 minutos. Se você se atrasar, você
vai me compensar. Mais 8 quilômetros para cada minuto que você atrasar parece
justo.”
Ele saiu, e precisei de toda minha motivação e então algo para me arrastar para
fora da cama. Eu amarrei meus sapatos vagarosamente, presa numa batalha com a
fome furiosa me atacando de um lado, e a vertigem afiada de outro.
Quando eu consegui chegar entrada da garagem, Dante disse, “Eu tenho uma
atualização sobre seus esforços de treinamento. Um dos meus primeiros atos como
tenente era atribuir oficiais para nossas tropas. Espero que você aprove. O treinamento
dos Nephilins está indo bem,” ele continuou sem esperar por minha resposta. “Nós
temos nos focado em técnicas anti possessão, truques de mentes, ambas como
estratégias defensivas e ofensivas. E um rigoroso condicionamento físico. Nossa maior
fraqueza é recrutar espiões. Nós precisamos desenvolver boas fontes de informações.
Nós precisamos saber o que os anjos caídos estão planejando, mas nós não obtivemos
sucesso até este ponto.” Ele olhou para mim com expectativa.
- “Uh... ok. Bom saber. Vou pensar em umas ideias.”



- “Sugiro que você pergunte ao Patch.”
- “Para espionar para nós?”
- “Use seu relacionamento em sua vantagem. Ele deve ter informações dos pontos
fracos dos anjos caídos. Ele deve saber qual dos anjos caídos merece uma sacudida.”
- “Eu não estou usando Patch. E digo a você: Patch está fora dessa guerra. Ele não está
do lado dos anjos caídos. Eu não vou pedir para ele espiar para os Nephilins,” eu disse
quase friamente. “Ele não vai se envolver.”
Dante deu um breve aceno. “Entendido. Esqueça que eu pedi. Aquecimento padrão. 16
km. Empurre-se na metade do caminho – quero você suando.”
- “Dante – “ Eu protestei fracamente.
- “Esses quilômetros extras que eu te avisei? Eles valem para desculpas também.”
Apenas passe por isso, eu tentei me encorajar. Você tem o resto do dia para dormir. E
comer, e comer, e comer.
Dante trabalhou duro comigo; depois do aquecimento de 16 quilômetros, eu
pratiquei saltando sobre pedra do dobro da minha altura, corri pelas encostas
íngremes de um barranco, e repassei pelas lições que eu já havia aprendido,
particularmente os truques mentais.
Finalmente, no fim da segunda hora, ele disse, “Vamos chamar isso de um dia.
Você consegue achar seu caminho de volta pra casa?”
Nós tínhamos vindo bem longe dentro da floresta, mas eu podia dizer pelo nascer do
sol que era a leste, e eu me senti confiante de que poderia voltar sozinha. “Não se
preocupe comigo,” eu disse, e saí.
A meio caminho da casa da fazenda, eu encontrei uma pedra que havia sido
depositada em nossos pertences – o blusão que eu joguei depois do meu aquecimento
e a bolsa de ginástica da marinha de Dante. Ele a trazia todo dia, carregando vários
quilômetros dentro da floresta, que não deve ser apenas pesada e desajeitada, mas
também pouco prática. Até agora, ele nunca a havia aberto nenhuma vez. Pelo menos,
não na minha presença. A bolsa poderia estar abastecida com uma infinidade de
instrumentos de tortura que ele podia empregar em mim em nome do meu
treinamento. Mais provavelmente, guardava roupas para trocar e sapatos de reposição.
Possivelmente incluindo – eu ri com o pensamento – um par de cuecas apertadas ou
boxers com pinguins estampados e eu poderia atormentá-lo interminavelmente sobre
isso. Talvez até mesmo pendurar em uma árvore próxima. Não havia ninguém por
perto para ver, mas ele ficaria envergonhado o bastante sabendo que eu tinha visto.
Sorrindo secretamente, eu puxei o zíper alguns centímetros. Assim que eu vi
garrafas de vidro cheias de um líquido azul alinhadas dentro, a dor no meu estômago
revirou ferozmente. As garras de fome passaram por mim como algo vivo.
Uma necessidade insaciável ameaçava explodir dentro de mim. Um grito
estridente rugiu em meus ouvidos. Em uma onda avassaladora, lembrei-me do sabor
potente do devilcraft. Horrível, mas mesmo assim vale a pena. Eu lembrei do surto de
poder que ele tinha me dado. Eu mal conseguia manter meu equilíbrio, eu estava tão
consumida pela necessidade de sentir aquela grandeza incontrolável de novo. Os
saltos estratosféricos, a velocidade, a incomparável agilidade animalesca. Meu pulso
estava tonto, batendo e vibrando com preciso, preciso, preciso. Minha visão estava
embaçada e meus joelhos caíram. Eu quase podia saborear o alívio e a satisfação que
viria com um pequeno gole.



Eu rapidamente contei os vidros. Quinze. De modo algum Dante perceberia que
um estava faltando. Eu sabia que era errado roubar, como eu sabia que devilcraft não
era bum para mim. Mas esses pensamentos eram argumentos maçantes flutuando sem
rumo atrás da minha cabeça. Eu percebi que prescrição médica em doses erradas
também não era bom para mim. Mas eu precisava. Assim como eu precisava de um
pouco de devilcraft.
Devilcraft. Eu mal podia pensar. Eu estava tão ferida que essa era a ‘erva’ que eu
sabia que me daria poder. Um pensamento súbito me pegou – eu morreria se não
tomasse, a necessidade era potente assim. Eu faria qualquer coisa por isso. Eu precisava
me sentir daquele jeito de novo. Indestrutível. Intocável.
Antes de saber o que eu tinha feito, eu peguei um frasco. Senti fresco e
reconfortante em meu domínio. Eu ainda não tinha tomado um gole, e minha cabeça já
estava clareando. Sem mais vertigens, e em breve, sem mais desejos.
O frasco se encaixava perfeitamente na minha mão, como se devesse estar lá o
tempo todo. Dante queria que eu tivesse essa garrafa. Afinal, quantas vezes ele tentou
me dar devilcraft para beber? E ele não havia dito que a minha próxima dose era por
conta da casa?
Eu levaria um frasco e seria o suficiente. Eu sentiria a adrenalina e o poder só mais uma
vez e estaria satisfeita.
Só mais uma vez.



CAPÍTULO 18

Meus olhos se abriram diante de uma batida repentina na porta.
Sentei, desorientada. A luz do sol passava pela janela, indicando que já era tarde da
manhã. Minha pele estava úmida de suor, e meus lençóis estavam enrolados na minha
perna. Na minha mesa de cabeceira, uma garrafa vazia estava inclinada para o lado.
A lembrança veio de novo.
Apenas consegui chegar a minha casa antes de tirar a tampa, jogando ela
depressa para o lado, e acabar com o devilcraft em segundos. Me afogava, me sentindo
como se fosse sufocar enquanto o líquido obstruía minha garganta, mas sabia que
quanto mais rápido tomasse, mais rápido acabaria. Uma onda de adrenalina, como
nunca tinha sentido, se expandiu dentro de mim, levando os meus sentidos ao
estimulo máximo. Havia tido a urgência tentadora de correr e levar o meu corpo ao
limite, correndo, pulando e desviando de tudo no meu caminho. Como voar, só que
melhor.
E então, tão rápido quanto o impulso se alastrou dentro de mim, acabou. Nem
mesmo me lembro de ter caído na minha cama.
- Acorda dorminhoca! - Minha mãe chamou da porta. Sei que é fim de semana,
mas não vai dormir o dia todo. Já são mais de 11 horas.
<<11 4="" durante="" eu="" fiquei="" horas="" inconsciente="">>
- Já vou descer em um segundo. - respondi, todo o meu corpo estava tremendo
pelo que deveria ser um efeito secundário do devilcraft. Tinha tomado muito, muito
rápido. Isso explicava por que o meu corpo apagou durante horas, e a sensação
peculiar e nervosa pulsando dentro de mim.
Não podia acreditar que tinha roubado o devilcraft de Dante. Pior, não podia
acreditar que tinha tomado. Estava envergonhada. Tinha que achar uma maneira de
corrigir isso, mas não sabia por onde começar. Como poderia dizer a Dante? Ele já
pensava que eu era tão fraca como um humano, e se eu não podia controlar o meu
apetite, isso só provava que ele estava certo.
Deveria só ter pedido. Mas era horrível ele pensar que eu estava roubando.
Havia um pouco de emoção em fazer alguma coisa ruim. Do mesmo jeito que tinha
sido emocionante me exceder com o Devilcraft, bebendo tudo imediatamente me
recusando a guardar um pouco.



<
Essa não era eu.>>
Jurando que essa manhã seria a última vez que usaria o Devilcraft, enterrei a
garrafa no fundo do lixo, e tratei de tirar o acidente da minha cabeça.
Achei que por causa da hora tomaria o café da manhã sozinha, mas encontrei a
Marcie na mesa da cozinha, vendo uma lista de números telefónicos.
- Passei a manhã toda convidando o povo para a festa de Halloween. – explicou –
Fique a vontade para convidar quem você quiser.


- Pensei que os convites iam pelo correio.
-Não vai dar tempo. A festa é na quinta.
-Uma noite de escola? O que tem de errado com a sexta?
-O jogo de futebol americano. – minha expressão deve ter ficado confusa,
porque ela disse: - Todos os meus amigos vão estar no jogo, ainda por cima, é um jogo
fora de casa, então não podemos convidar eles para depois do jogo.
- E o sábado? – Perguntei, não acreditando que iriamos fazer uma festa durante a
semana. Minha mãe nunca concordaria. Mas, Marcie tinha um jeito de convencer ela de
qualquer coisa.
- No sábado seria o aniversario dos meus pais. Não faremos no sábado. – disse e
empurrou a lista de telefone para mim. – Estou fazendo todo o trabalho e realmente
está começando a me deixar irritada.
-Não quero ser responsável pela festa. - Lembrei a ela.
-Só está irritada por que não tem um par.
Era verdade. Não tinha um par. Já tinha falado sobre levar Patch, mas isso iria
pressupor que eu tinha perdoado ele por ter ido se encontrar com o Blakely na noite
anterior. A lembrança do que tinha acontecido veio rapidamente. Entre dormir a noite,
treinar com o Dante essa manhã e ficar inconsciente por várias horas, esqueci
completamente de verificar as mensagens no meu telefone.
A campainha tocou, e Marcie deu um pulo.
- Eu atendo.
Queria gritar: <>, mas ao invés disso,
passei por ela devagar e subi as escadas de 2 em 2 degraus até o meu quarto. Minha
bolsa estava pendurada atrás da porta do meu armário, procurei nela até encontrar o
meu celular.
Respirei fundo. Nenhuma mensagem. Não sabia o que isso significava, e não sabia se
deveria ficar preocupada. E se Blakely tivesse feito uma armadilha pro Patch? Ou o
silencio dele era por que a gente tinha brigado na noite passada? Quando eu estava
chateada, eu gostava de espaço e Patch sabia disso.
Enviei uma mensagem de texto rápida pra ele. <>
Lá embaixo, ouvi Marcie conversando nervosa.
- Disse que iria por ela. Tem que esperar aqui! Eii! Não pode entrar sem ser convidada.
- Quem disse? - respondeu a ela, e eu ouvi o barulho na escada.
Me juntei a elas no corredor do lado de fora do meu quarto.
- O que tá acontecendo?
- Sua amiga gorda, entrou sem ser convidada. - Reclamou Marcie.
- Essa vaca magrela está agindo como se fosse dona desse lugar. - me disse. - O
que ela tá fazendo aqui?
- Moro aqui agora! - disse Marcie.



soltou uma risada.
- Sempre engraçada. - Ela disse, negando com o dedo.
O queixo de Marcie se levantou.
- Eu moro aqui sim, vai, pergunta pra .
me olhou e eu suspirei.
- É temporário.
se sacudiu em seus calcanhares como se tivesse sido atingida por um punho
invisível.
- Marcie? Morando aqui? Eu sou a única que se dá conta de que toda a lógica foi
embora?
- Foi idéia da minha mãe. - Eu disse.
- Foi idéia minha e da minha mãe, mas a Sra. estava de acordo que isso era o
melhor a ser feito. - Corrigiu Marcie.
Antes que fizesse mais perguntas, peguei ela pelo cotovelo e arrastei até o
meu quarto. Marcie veio atrás, mas fechei a porta na cara dela. estava tentando com
todas as minhas forças ser civilizada, mas deixar ela entrar em uma conversa particular
com a era levar a idéia de ser amigável muito longe.
- Por que motivo realmente ela está aqui? - exigiu, sem se importar em falar baixo.
- É uma longa história. Encurtando... não sei o que ela está fazendo aqui. - Evasiva, sim,
mas honesta também. Não tinha idéia do que Marcie estava fazendo aqui. Minha mãe
tinha sido amante de Hank, e eu era fruto desse amor, e o racional seria que Marcie
nada com nenhuma de nós duas.
- Bom, tudo está claro agora! - Disse .
Era hora de dar a ela uma distração.
- Marcie vai fazer uma festa de Halloween aqui. É obrigatório vir com um par, do
mesmo jeito que é obrigatório vir fantasiada. O tema é "Casais famosos da história".
-E? - Disse , sem se importar.
- Marcie está de olho no Scott.
cerrou os olhos.
- Claro que está.
- Marcie já perguntou a ele, mas ele não parecia muito comprometido com ela. - falei
amavelmente.
juntou seus dedos.
- É hora de fazer a mágica da antes que seja tarde demais.
Meus celular vibrou com um texto. <
encontrar.>> Era uma mensagem de Patch.
Ele estava bem. A tensão nos meus ombros foi embora.
Discretamente, coloquei o telefone no bolso e disse a : - Minha mãe precisa
que eu coloque a roupa na lavanderia e que devolva alguns livros na biblioteca. Mas
posso passar na sua casa mais tarde.
- E então podemos planejar como roubar Scott da puta. - disse .
Dei a uma vantagem de 5 min. e logo levei o Volkswagem de volta pro caminho.
<< Deixando a fazenda agora. >> Escrevi pra ele. << Onde você tá? >>
<< Chegando em casa. >> Ele respondeu.
<< Te vejo aí. >>
Dirigi até Casco Bay. Muito ocupada formulando o que diria a Patch para poder
aproveitar a impressionante paisagem do entardecer. Era somente a água azul escura
brilhando com o sol e as ondas respingando e formando e as ondas respingando e
formando espuma quando se chocavam com os penhascos íngremes. Estacionei a
poucas ruas do lugar onde ia encontrar com Patch e entrei. Fui a primeira a chegar e fui
para a varanda organizar meus pensamentos uma última vez.
O ar era frio e pegajoso com sal, apenas o suficiente para deixar a pele
arrepiada, esperava que isso acalmasse a minha raiva, e a persistente sensação de
traição. Eu gostava do fato do Patch ter a minha segurança sempre em mente, me
comovia a sua preocupação e eu não queria parecer mal agradecida de ter um
namorado que faria qualquer coisa por mim, mas um acordo era um acordo.
Concordamos em trabalhar em equipe, e ele havia quebrado a minha confiança.
Ouvi a porta da garagem deslizar ao se abrir, seguido pelo barulho da moto de
Patch entrando. Um momento depois, ele apareceu na sala de estar. Ele manteve
distancia, mas os seus olhos estavam sobre mim. Seus cabelos estava sendo arrastado
pelo vento e uma barba escura salpicava a sua mandibula. Ele usava a mesma roupa
que usava quando eu o vi pela última vez, e sabia que ele tinha estado fora a noite
toda.
- Uma noite ocupada? - Perguntei.
- Tinha muitas coisas na cabeça.
- Como está Blakely? - Perguntei a Patch com a indignação necessária para que ele
soubesse que não tinha esquecido nem perdoado.
- Ele fez um juramento para deixar a nossa relação em paz. - Ele fez uma pausa. - E me
deu o antídoto.
- Assim dizia a mensagem.
Patch suspirou e passou a mão pelo cabelo.
- É assim que vai ser? Entendo que você está chateada, mas você pode voltar um
minuto e ver as coisas do meu ponto de vista? Blakely me disse pra ir sozinho, e eu não
confiava em como ele reagiria se eu fosse com você ao meu lado. Não me oponho a
me arriscar, mas não quando as possibilidades estão claramente contra mim. Mas ele
tinha vantagem dessa vez.
- Você prometeu que seríamos uma equipe.
- Também jurei fazer tudo que estivesse ao meu alcance para proteger você. Quero o
melhor pra você. Isso é tão simples, anjo.
- Não pode continuar querendo manter o controle, e depois dizer que é pra minha
segurança.
- Ter certeza de que você está segura é mais importante pra mim do que a sua boa
vontade. Não quero brigar, mas se você tá decidida a me ver como o malvado da
história, que assim seja. É melhor do que perder você. - Ele encolheu os ombros.
Dei um grito diante da arrogância dele e cerrei os olhos rapidamente.
- É isso o que você realmente sente?
- Alguma vez você me viu mentir, especialmente quando se trata dos meus
sentimentos por você?
Peguei a minha bolsa no sofá.
- Esquece isso. Estou indo embora.
- Faz o que você quiser. Mas você não vai dar um passo pra fora desse lugar antes de
tomar o antídoto. - Para provar que estava falando a verdade, ele se apoiou contra a
porta principal, cruzando os braços sobre o peito.
Olhando fixamente para ele , disse: - Pelo que sabemos, o antídoto poderia ser veneno.



Ele sacudiu a cabeça.
- Dabria analisou. Está limpo.
Apertei os dentes. Controlar meu temperamento estava oficialmente fora de questão.
- Você levou pra Dabria? Suponho que vocês dois são uma equipe agora. - Alfinetei.
- Ela se manteve suficientemente longe do radar de Blakely para não alertar ele, mas o
suficientemente perto para ler fragmentos do seu futuro. Nada ali indicou uma jogada
suja com respeito ao antídoto. Ele fez um trato justo. O antídoto é bom.
- Por que você não tenta ver as coisas do meu ponto de vista? - Eu estava furiosa. -
Tenho que suportar que o meu namorado escolha trabalhar perto da sua ex... ela
continua apaixonada por você, e você sabe disso!
Patch manteve o olhar fixo em mim.
- E eu estou apaixonado por você. Mesmo quando você é irracional, ciumenta e
intencional. Dabria tem uma pratica mais substancial nos truques mentais, as retiradas
e a luta dos Nephilins em geral. Cedo ou tarde vai ter que começar a confiar em mim.
Não temos uma grande quantidade de aliados e precisamos de toda a ajuda que
possamos conseguir. Enquanto Dabria estiver contribuindo, estou disposto a manter
ela a bordo.
Meus punhos estavam apertados tão fortes, que as minhas unhas estavam começando
a cortar a minha pele.
- Em outras palavras, não sou boa o suficiente para ser sua companheira de equipe.
Diferente de Dabria, não tenho nenhum poder especial.
- Não é isso. Já falamos sobre isso. Se algo acontecer a ela, não vou me considerar
infeliz, mas por outro lado, se acontecer alguma coisa com você...
- Sim, bom, suas ações já dizem tudo. - Estava ferida e chateada e decidida a mostrar
ao Patch que ele estava me subestimando, e tudo isso me levou a seguinte declaração:
- Levarei os Nephilins a guerra contra os anjos caídos. É o certo. Me encarregarei dos
arcanjos depois. Posso viver com medo deles, ou posso superar e fazer o que é melhor
para os Nephilins. Não quero outro Nephil jurando lealdade para sempre. Já tomei a
minha decisão, sendo assim, não se incomode em me dissuadir. - Disse
categoricamente.
Os olhos negros de Patch me observaram, mas ele não disse nada.
- Eu tenho me sentido assim por um tempo - disse impulsionada pelo silencio
incomodo e ansiosa para provar o meu ponto de vista. - Não permitirei que os anjos
caídos continuem intimidando os Nephilins.
- Estamos falando dos anjos caídos e dos Nephilins, ou de nós dois?- Finalmente Patch
perguntou em voz baixa.
- Estou cansada de jogar na defensiva. Ontem um grupo de anjos caídos veio até mim.
Isso foi a última gota. Os anjos caídos precisam saber que nós estamos cansados de
sermos irritados. Eles já nos assediaram tempo suficiente. E os arcanjos? Não acho que
eles se importem. Se fosse assim, já teriam feito um intervenção e teriam colocado um
ponto final ao devilcraft. Temos que assumir que eles sabem e estão procurando outra
saída.
- Dante tem alguma coisa a ver com a sua decisão? - Patch perguntou, sem abalar a
sua postura calma.
A pergunta dele me irritou.
- Sou a líder do exército dos Nephilins. Tomo as decisões.



Esperava que a próxima pergunta dele fosse: << E como nós ficamos? >>, mas
suas palavras me deixaram surpresa.
- Eu quero você do meu lado, . Estar com você é a minha prioridade. Tenho estado
em guerra com Nephilins por muito tempo. Isso tem me levado por um caminho que
eu gostaria de mudar. As enganações, os truques baratos, até mesmo a força bruta.
Tem dias que eu desejo poder voltar atrás e pegar caminhos diferentes. Não quero que
você se arrependa da mesma coisa que eu. Preciso saber que é suficientemente forte
fisicamente, mas também preciso saber que você se manterá forte aqui. - Ele tocou na
minha testa suavemente. Então acariciou minha bochecha, sustentando meu rosto na
palma da mão dele. - Você realmente estende no que está se metendo?
Me separei dele, mas não tão forte quanto pretendia.
- Se você deixar de se preocupar comigo, vai ver que eu sei.
Pensei em todo treinamento que já tinha feito com Dante. Pensei em como ele
pensava que eu era talentosa com os truques mentais. Patch não tinha nem idéia do
quão longe eu já havia chegado. Era mais forte, mais rápida e mais poderosa do que
nunca poderia ter me imaginado. Também tinha passado por coisas suficientes nos
últimos meses para saber que agora estava firmemente em seu mundo. Nosso mundo.
Sabia no que estava me metendo, mesmo se Patch não gostava da idéia.
- Você pode ter me impedido de me encontrar com Blakely, mas não pode deter a
guerra que se aproxima. - Assinalei.
Estávamos na ponta de um conflito mortal e poderoso. Não ia endossar, e não
estava disposta a olhar de outra forma. Estava pronta pra brigar. Pela liberdade dos
Nephilins. E pela minha.
- Uma coisa é pensar que está pronta. - Disse Patch em voz baixa. - Pular para uma
guerra e ver tudo na primeira fila é um jogo diferente. Admiro a sua valentia, anjo, mas
estou sendo honesto quando penso que você está se precipitando sem pesar as
consequências.
- Acha que não pensei nisso? Sou eu quem dirige o exército de Hank. Já passei muitas
noites sem dormir pensando nisso.
- Dirigir o exército, sim. Mas ninguém disse nada sobre brigar. Pode cumprir o seu
juramento e ao mesmo tempo se manter longe do perigo. Delegar as tarefas mais
poderosas. Para isso você tem o seu exército. Para isso eu tô aqui.
O argumento dele estava começando a me irritar.
- Não pode me proteger pra sempre, Patch. Gosto que você pense assim, mas eu sou
uma Nephilim agora. Sou imortal e preciso menos da sua proteção. Sou um alvo dos
anjos caídos, dos arcanjos e de outros Nephilins, e não tem nada que você possa fazer
a respeito. Exceto também aprender a brigar.
Seu olhar era sereno, seu tom nivelado, mas senti um pouco de tristeza por trás
da sua fachada.
- Você é uma garota forte, e é minha. Mas ser forte, nem sempre se refere a força bruta.
Não tem que chutar alguns traseiros para ser uma lutadora. A violência não é o
equivalente a força. Por exemplo: liderar o seu exército. Tem uma resposta melhor pra
tudo isso. A guerra não vai resolver nada, mas vai separar nossos mundos, e haverá
vítimas, incluindo humanos. Não tem nada de heroico nessa guerra. Isso vai levar a
uma destruição pior do que qualquer outra que já temos visto.
Engoli a saliva. Por que Patch sempre tem que fazer isso? Dizer coisas que só
me faziam entrar mais em conflito. Ele estava me dizendo isso por que honestamente acreditava nisso, ou estava tentando me tirar do campo de batalha? Queria confiar nas
intenções dele. A violência nem sempre era a saída. Na verdade, na maior parte do
tempo não era. Eu sabia disso. Mas via a coisa do ponto de vista de Dante também.
Tinha que lutar. Se passasse por tudo isso sendo fraca, só teria um alvo ainda maior nas
minhas costas. Tinha que demonstrar que era forte e que poderia fazer algumas
retalhações. Em futuro previsível, a força física era mais importante do que a força de
caráter.
Pressionei os dedos em minhas têmporas, tentando acabar com a preocupação
que soava como uma dor surda.
- Não quero falar sobre isso agora. Só preciso... de um pouco de tranquilidade, ok? Tive
uma manhã agitada, e vou lidar com isso quando eu me sentir melhor.
Patch não parecia convencido, mas não disse nada mais sobre o assunto.
- Te ligo mais tarde. - Disse com cansaço.
Ele tirou um frasco com um líquido branco, leitoso do bolso e estendeu para mim.
- O antídoto.
Estava tão absorta na nossa discussão, que tinha esquecido completamente
disso. Analisei o frasco com desconfiança.
- Eu consegui que Blakely me disse que a faca com a qual ele te acertou era o
protótipo mais poderoso que ele já criou. Isso colocou 20 vezes mais de Devilcraft no
seu sistema, do que aquele que o Dante te deu para beber. Essa é a razão por que
precisa do antídoto. Sem ele, você vai desenvolver um vício inquebrável pelo devilcraft.
Em doses suficientemente altas, alguns protótipos de devilcraft vão te apodrecendo de
dentro pra fora. Vai embaralhar seu cérebro como qualquer outra droga letal.
As palavras de Patch me deixaram surpresa. Eu tinha acordado essa manhã com um
apetite insaciável por Devilcraft, por que Blakely tinha feito que eu ansiasse isso mais
do que comer, beber e até mesmo respirar?
O pensamento de acordar todos os dias, movida pela fome, colocava uma
sensação queimante em minhas veias. Não tinha me dado conta do quanto estava em
jogo. Inesperadamente, me peguei agradecendo a Patch por ter conseguido o
antídoto. Faria qualquer coisa para não sentir essa necessidade invencível de novo.
Destapei o frasco.
- Algo que que eu deveria saber antes de tomar isso? - Passei o frasco por debaixo do
meu nariz. Sem odor.
- Não vai funcionar se você tiver o devilcraft em seu sistema pelas últimas 24 horas,
mas isso não deveria ser um problema. Já passou mais de um dia desde que Blakely te
apunhalou. - Ele disse.
Tinha o frasco a centímetros dos meus lábios, quando me detive. Só essa
manhã tinha tomado um frasco inteiro de Devilcraft. Se tomasse esse antídoto agora
não iria funcionar. Continuaria viciada.
- Tampa o nariz e toma. Não pode ser tão ruim quanto o devilcraft. - Disse Patch.
Queria contar a ele sobre o frasco que tinha roubado de Dante. Queria explicar.
Ele não ia me culpar. Isso era culpa de Blakely . Era o Devilcraft. Eu tinha bebido uma
garrafa inteira quando eu tive a oportunidade. Estava cega pela necessidade.
Abri minha boca para confessar tudo, mas alguma coisa me deteve. Uma voz
obscura, e estranha plantada no mais profundo de mim, que me murmurava que não
queria ser livre do devilcraft. Não. Não podia perder o poder a força que vinha com



ele... não quando estávamos perto de uma guerra. Tinha que manter esses poderes
perto, se caso precisasse. Não se tratava do devilcraft. Se tratava de me proteger.
A ansiedade começou a lamber minha pele, umedecendo a minha pele, me
fazendo tremer de fome. Coloquei os sentimentos de lado, orgulhosa de mim mesma
quando fiz isso. Não agiria da mesma forma que agi esta manhã. Roubaria e beberia
devilcraft quando realmente necessitasse fazer isso. E manteria o antídoto comigo
sempre , e assim poderia acabar com o habito quando quisesse. Faria do meu jeito.
Tinha uma opção. Estava no controle.
Então fiz uma coisa que nunca imaginei que pudesse fazer. O impulso se
incendiou na minha consciência, e agi sem pensar. Cravei meus olhos em Patch por um
breve instante, convocando toda a minha energia mental, sentindo ela se desprender
de mim como um grande poder, desencadeante e natural e enganei Patch
mentalmente o fazendo pensar que tinha bebido o antídoto.
<< bebeu. >>, sussurrei enganosamente na mente dele, plantando uma imagem
como suporte da minha mentira, << até a última gota. >>
Então, coloquei o frasco no meu bolso. Todo o assunto tinha terminado em
questão de segundos.



CAPÍTULO 19

Deixei a casa de Patch com a intenção de dirigir até a minha casa, o
tempo todo lutando com uma dor violenta no meu estomago que era metade culpa e
metade doença. Não conseguia me lembrar de nenhum outro momento na minha vida
que me senti tão envergonhada.
Ou mais faminta.
Meu estomago se contraiu, de fome. Era tão intenso que fazia com que eu me
contorcesse contra o volante. Era como se eu tivesse engolido pregos e eles estivessem
rasgando dentro de mim até deixar em carne viva. Tinha a estranha sensação de sentir
os meus órgãos murchando. E eu me perguntava se o meu corpo comeria ele mesmo
para se nutrir.
Mas não era comida que eu precisava. Parei no acostamento e liguei pra Scott.
- Preciso do endereço do Dante.
- Nunca foi a casa dele? Você não é namorada dele?
Me irritava que ele estivesse prolongando a conversa. Precisava do endereço de Dante
e não tinha tempo de conversar.
- Tem ou não?
- Vou te mandar por mensagem. Aconteceu alguma coisa? Você parece ansiosa. E tem
estado assim por alguns dias.
- Estou bem. - Disse a ele, voltei para o carro. Tinha gostas de suor nos meus lábios.
Segurei o volante tentando afastar o desejo que parecia me agarrar pelo pescoço e me
sacudir. Meus pensamentos estavam agarrados a uma única palavra: Devilcraft. Tratei
de acalmar a tentação. Tinha tomado o Devilcraft essa manhã. Uma garrafa inteira. Eu
podia vencer toda essa ânsia. Eu decidiria quando ia precisar do Devilcraft. Quando e
quanto.
O suor se estendeu pelas minhas costas, pequenas gotas correndo por baixo da
minha camiseta. A parte inferior das minhas coxas, quentes e úmidas, pareciam estar
grudadas a almofada do banco do motorista. Ainda era outubro, aumento no máximo
o ar condicionado.
Girei o volante para voltar para a estrada, mas o barulho ensurdecedor da
buzina de um carro que estava passando me frear. Uma van branca acelerou para
passar, o motorista olhou pela janela e fez um gesto obsceno pra mim.



Se controla, eu disse pra mim mesma, presta atenção!
Depois de algumas respirações para controlar a mente, conferi o endereço de
Dante no meu celular. Estudei o mapa, dei uma risadinha irónica e dei a volta em U.
Dante, ao que tudo indicava, morava a menos de 8 KM da casa do Patch.
Dez minutos depois, tinha passado por baixo de um arco de árvores que coroavam a
estrada, cruzei uma ponte e estacionei o carro em uma rua pitoresca e curvilínea cheia
de árvores.
As casas eram vitorianas e brancas, com detalhes de gengibre e telhados
íngremes. Tudo era extravagante e excessivo. Identifiquei a de Dante, número 12 na rua
Shore, que era tudo de parafuso, torres e empenas. A porta estava pintada de vermelho
com uma grande aldrava de bronze. Ignorei a aldrava e fui direto para a campainha,
apertando várias vezes. Se ele não se apressasse pra atender a porta...
Dante entreabriu a porta, demonstrando surpresa.
- Como encontrou esse lugar?
- Scott.
Ele franziu a testa.
- Não gosto que as pessoas apareçam na minha casa sem me comunicar antes. Muito
entra e sai soa como algo bem suspeitoso. E eu tenho vizinhos bem intrometidos.
- É importante.
Ele indicou a estrada com o queixo.
- Aquele monte de lixo que você dirige parece uma monstruosidade.
Não estava de bom humor para trocar insultos espirituosos. Se não conseguisse
colocar devilcraft pra dentro do meu sistema logo, pelo menos algumas gotas, o meu
coração ia sair do peito. Tanto que o meu pulso estava acelerado e estava ficando
difícil respirar. Estava tão sem ar que parecia que eu tinha passado a última hora
subindo uma montanha.
Disse a ele: - Mudei de opinião. Quero o devilcraft. como precaução. -
Acrescentei rapidamente. - Caso eu esteja em uma situação de inferioridade numérica
e precise.
Não conseguia me concentrar o suficiente para saber se meu raciocínio soava
meio lento. Manchas vermelhas centelhavam diante dos meus olhos. Desejava
desesperadamente secar o meu rosto, mas não queria atrair mais atenção pra minha
sudorese abundante.
Dante me deu uma olhada questionadora, que não consegui entender, por que
ele logo me levou para dentro de casa. Fiquei parada na entrada, olhando para as
paredes impecavelmente brancas e os exuberantes tapetes orientais. Um corredor
levava até a cozinha. A sala de jantar ficava a minha esquerda e a sala de estar, pintada
do mesmo vermelho que aparecia como manchas em frente aos meus olhos, a direita.
Pelo que podia ver, toda a mobília era antiga. Um lustre de gotas de cristal estava
pendurado em cima.
- Lindo. - Consegui dizer com uma voz engasgada, entre o meu pulso que batia
nervosamente e as minhas extremidades dormentes.
- A casa pertencia a alguns amigos. Eles me deixaram como testamento.
- Lamento que tenham morrido.
Entrou na sala de estar, e inclinou para o lado uma enorme pintura de um
celeiro revelando um cofre escondido na parede. Ele apertou o código e abriu a caixa.



- Aqui. É um novo protótipo. Incrivelmente concentrado, então tem que beber em
pequenas doses. - Ele advertiu. - Duas garrafas. Se decidir começar a tomar agora, deve
durar umas duas semanas.
Assegurei com a cabeça, tentando ocultar que a minha boca estava cheia de
água enquanto eu agarrava as garrafas com um azul intenso.
- Tem uma coisa que quero te dizer, Dante. Vou levar os Nephilins pra guerra. Então se
eu precisar de mais duas garrafas, eu posso usa-las. - Eu tinha toda a intenção de
contar a Dante sobre a minha intenção de ir para a guerra. Mas isso não significava que
eu fiz isso com a intenção de que ele me desse mais devilcraft, parecia uma manobra
arriscada, mas estava muito faminta para sentir algo mais do que uma pontada de
culpa.
- Guerra? - Repetiu Dante, parecendo surpreso. - Tem certeza?
- Pode dizer aos Nephilins superiores que eu estou elaborando alguns planos contra os
anjos caídos.
- Essa é... uma notícia genial. - Disse Dante ainda parecendo confuso, enquanto colocava
uma garrafa extra de devilcraft nas minhas mãos. - O que te fez mudar de opinião?
- Uma transformação do coração. - Disse a ele, por que pensei que soava bem. - Não
só estou liderando os Nephilins, como sou uma deles.
Dante me acompanhou até a porta, e caminhar calmamente até o volkswagem
tomou cada grama de controle que eu tinha dentro de mim. Fiz uma despedida curta, e
logo dei a volta na esquina, estacionei imediatamente e tirei a tampa da garrafa. Estava
quase tomando quando meu telefone tocou com o toque de Patch e me assustou,
espirrando o líquido azul no meu colo.
Se evaporou em um instante, subindo no ar como a fumaça de um fogo
apagado. O amaldiçoei em voz baixa, furiosa por perder algumas gotas preciosas.
- Oi? - Respondi, as manchas vermelhas beiravam a minha visão.
- Não gosto de te encontrar na casa de outro homem, anjo.
Imediatamente olhei para os dois lados da janela. Coloquei o devilcraft embaixo do
banco do carro.
- Onde você tá?
- Três carros atrás.
Meus olhos voaram para o espelho retrovisor. Patch se balançou para fora da
moto e veio na minha direção com o telefone na orelha. Limpei o rosto com a manga
da camisa.
Abaixei o vidro.
- Está me seguindo? - Perguntei pra ele.
- Dispositivo de rastreamento.
Estava começando a odiar essa coisa. Patch apoiou o braço no teto do carro, se
inclinando para frente.
- Quem mora na rua Shore?
- Esse dispositivo de rastreamento é bastante específico.
- Só compro as melhores coisas.
- Dante mora no numero 12 da rua Shore. - Não tinha sentido mentir quando parecia
que ele já tinha feito sua própria investigação.
- Não gosto de te encontrar na casa de outro homem, mas odeio te encontrar na sua
também. - Sua expressão era tranquila o suficiente, mas sabia que ele queria uma
explicação.



- Precisava confirmar nosso horário de treinamento para amanhã de manhã. Estava
perto e pensei que podia dar uma volta por aqui. - A mentira saiu fácil, fácil. Tudo o
que eu podia pensar agora era me livrar de Patch. Minha garganta se enchia com o
sabor do Devilcraft. Suspirei com impaciência.
Gentilmente, Patch empurrou meus óculos de sol por cima do meu nariz , se
inclinou pela janela e me beijou.
- Estou indo investigar mais algumas pistas daquele chantagista do Pepper. Precisa de
alguma coisa antes que eu vá embora? - Neguei com a cabeça. - Se precisar conversar,
sabe que eu tô aqui pra você. - Acrescentou em voz baixa.
- Falar sobre o que? - Perguntei na defensiva. Será que ele sabia sobre o devilcraft?
Não, não sabia.
Ele me estudou por um momento.
- De qualquer coisa.
Esperei até que Patch fosse embora para beber um ganancioso gole de cada
vez, até que estivesse satisfeita.


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